56
Zuzana foi acordada por alguém a sacudindo. Ergueu o corpo e se sentou na cama, desorientada. Estava escuro; o ar era pesado, e os cheiros, pungentes: terra, um forte odor animal e algo que lembrava decomposição. Então sentiu um toque delicado no ombro e ouviu a voz de Karou.
— Acorde — dizia a amiga suavemente.
Então seus músculos doloridos deram sinal de vida e ela se lembrou de tudo.
Ah, claro. O castelo de monstros.
Piscou repetidas vezes até Karou entrar em foco sob a luz bruxuleante das velas.
— Caramba, que horas são? — resmungou.
Sua boca estava tão seca que parecia que o próprio deserto tinha se enroscado e passado a noite lá dentro. Karou colocou uma garrafa de água nas mãos dela.
— Está cedo. Ainda nem amanheceu.
— Cedo idiota — gemeu Zuzana. Ao seu lado, Mik ainda dormia. Ela tomou um gole d’água e bochechou. Bem melhor. Piscou, tentando ver algo naquela luz fraca, e focou seu olhar em Karou. Ela se assustou, e a letargia desapareceu. — Você está chorando.
Os olhos de Karou estavam úmidos, brilhando quase sem piscar, e seu maxilar estava tenso. Zuzana tentou decifrar sua expressão, mas não conseguiu. Não sabia dizer se a amiga estava feliz ou triste, só que parecia resoluta.
— Eu estou bem — disse Karou. — Mas preciso da sua ajuda de novo.
— Ok. — Ela só esperava que aquilo não implicasse ter que limpar feridas horríveis. — Ajuda em quê?
— Uma ressurreição. Preciso terminá-la antes que Thiago ou Ten apareçam. — Karou sorriu, mas novamente foi impossível interpretar: nem feliz nem triste, mas firme. — Quero que seja uma surpresa.