O vento no canavial

Não se vê no canavial

nenhuma planta com nome,

nenhuma planta maria,

planta com nome de homem.

É anônimo o canavial,

sem feiçōes, como a campina;

é como um mar sem navios,

papel em branco de escrita.

É como um grande lençol

sem dobras e sem bainha;

penugem de môça ao sol,

roupa lavada estendida.

Contudo há no canavial

oculta fisionomia:

como em pulso de relógio

há possível melodia,

ou como de um avião

a paisagem se organiza,

ou há finos desenhos nas

pedras da praça vazia.

Se venta no canavial

estendido sob o sol

seu tecido inanimado

faz-se sensível lençol,

se muda em bandeira viva,

de côr verde sôbre verde,