Encontro com um poeta

Em certo lugar da Mancha

onde mais dura é Castela,

sob as espécies de um vento

soprando armado de areia,

vim supreender a presença,

mais do que pensei, severa,

de certo Miguel Hernández,

hortelão de Orihuela.

A voz dêsse tal Miguel,

entre palavras e terra

indecisa, como em Fraga

as casas o estão da terra,

foi um dia arquitetura,

foi voz métrica de pedra,

tal como, cristalizada,

surge Madrid a quem chega.

Mas a voz que percebi

no vento da parameira

era de terra sofrida

e batida, terra de eira.

Não era a voz expurgada

de suas obras seletas:

era uma edição do vento,

que não vai às bibliotecas,

era uma edição incômoda,

a que se fecha a janela,

incômoda porque o vento

não censura mas libera.

A voz que então percebi

no vento da parameira

era aquela voz final

de Miguel, rouca de guerra

(talvez ainda mais aguda