Imitação da água

De flanco sôbre o lençol,

paisagem já tão marinha,

a uma onda deitada,

na praia, te parecias.

Uma onda que parava

ou melhor: que se continha;

que contivesse um momento

seu rumor de fôlhas líquidas.

Uma onda que parava

naquela hora precisa

em que a pálpebra da onda

cai sôbre a própria pupila.

Uma onda que parara

ao dobrar-se, interrompida,

que imóvel se interrompesse

no alto de sua crista

e se fizesse montanha

(por horizontal e fixa),

mas que ao se fazer montanha

continuasse água ainda.

Uma onda que guardasse

na praia cama, finita,

a natureza sem fim

do mar de que participa,

e em sua imobilidade,

que precária se adivinha,