A W. H. Auden

Já não descontarei o cheque

que certo dia me mandaste:

“A João Cabral de Melo Neto,

com dez mil amizades, Auden.”

Como a morte encerrou tuas contas

de libras, dólares, amizade,

hoje só resta a conta aberta

de teus livros de onde sacar-se.

E de onde há muito que sacar:

como botar prosa no verso,

como transmudá-la em poesia,

como devolver-lhe o universo

de que falou; como livrá-la

de falar em poesia, língua

que se estreitou na cantilena

e é estreita de coisas e rimas.