NOTA DA TRADUTORA 
 
O leitor português de Ver: Amor , de David Grossman, poderá estranhar a presença de palavras do iídiche e do polaco, bem como uma linguagem por vezes arcaica e amaneirada. Essa estranheza é voluntária e caracteriza o original hebraico, no qual se cruzam vários níveis de língua, que denotam o discurso das diferentes personagens: assim, por exemplo, Momik, o narrador de nove anos e um quarto, filho de sobreviventes do Holocausto oriundos da Polónia e falantes de iídiche, fala um hebraico que é uma tradução do iídiche falado em casa; quanto ao tio-avô de Momik, o escritor da diáspora judaica Anshel Wasserman, exprime-se num hebraico literário e arcaico, característico dos primórdios do renascimento da língua hebraica, nos finais do século XIX , início do século XX . De facto, o hebraico moderno, ao contrário das outras línguas, renasceu a partir da língua sagrada escrita e sofreu, desde que em 1922 foi reconhecido pelas autoridades britânicas como língua oficial dos judeus na Palestina, um desenvolvimento extremamente rápido. 
Manteve-se, na tradução portuguesa, a utilização de termos e expressões do iídiche e do polaco e acrescentou-se, no final do livro, um glossário intitulado «A língua de Lá».