29

Com os técnicos a trabalhar, Mitch dispensou a maioria dos outros agentes, colocando dois membros da sua equipa a guardar o local e outros dois no estacionamento para controlar os jornalistas que sem dúvida estariam desesperados por descobrir o que se passava, agora que o helicóptero tinha aparecido.

Chandler aproximou-se de Mitch e acenou na direção de Gabriel, ainda algemado.

— O que fazemos com ele?

— Pediu para ser libertado?

Chandler abanou a cabeça. Esperara queixas por ter sido mantido em cativeiro e depois arrastado até ali para reviver a sua experiência, mas Gabriel apenas observava como se estivesse realmente chocado com a descoberta dos corpos.

— Não, mas há de pedir com certeza, dado que sabemos que é o Heath.

Em resposta, Mitch mordeu o lábio inferior, estranhamente azul. A teoria de Mitch de que os dois trabalhavam em conjunto parecia não ter pernas para andar, mas Chandler reconheceu a relutância em admitir que estava errado. Não que ele próprio estivesse em posição de se vangloriar.

A pergunta seguinte apanhou Chandler desprevenido.

— O que acha?

Chandler hesitou. Esperou por alguma rasteira, mas parecia não haver nenhuma.

— Acho que não há mal nenhum em mantê-lo por perto, a pretexto de amarrar as pontas soltas. Se o deixássemos ir, ele poderia desaparecer. Não tem morada fixa e não há razão para ficar por estas bandas depois do que lhe aconteceu. Fugiu uma vez e foi difícil de encontrar. Se lhe dermos um dia de vantagem, talvez nunca mais o encontremos.

O aceno de Mitch sugeriu que concordava. Parecia estranho trabalhar de novo numa verdadeira parceria, e Chandler sentiu um calor que era apenas parcialmente devido ao clima.

— Há a possibilidade de ele nos agradecer por o termos salvado — observou Mitch.

— Uma possibilidade remota — retorquiu Chandler.

— Se ele começar a dizer que quer um advogado, ou a ameaçar processar-nos, solte-o — disse Mitch. — Mas veja se consegue alguma morada onde o possamos contactar.

Aquela era a resposta que Chandler queria. Heath podia ser o assassino, mas ainda havia algumas perguntas por responder a incomodá-lo.

Chandler preparou-se para guiar Gabriel de volta pela floresta.

— Obrigado pela sua ajuda, senhor Johnson — disse Mitch, retirando as algemas dos pulsos de Gabriel.

— Tive muito gosto em ajudar, mas ainda bem que isto acabou. Recordei-me de tudo aqui fora. — Olhou para Mitch, depois para Chandler. — Esperemos que consigam acusá-lo. Agora encontraram a camisa dele.

— Faremos o melhor que pudermos, senhor Johnson — disse Mitch, antes de se afastar para retomar o comando.

Chandler notou que Gabriel estava aliviado, todo o nervosismo e medo desaparecidos agora que era, na sua mente, um homem livre, agora que tinham descoberto as provas que incriminavam Heath. Mas, até ao momento, o fragmento de tecido era a única ligação que tinham, importante, mas circunstancial.

Foram na direção do estacionamento. Em breve ele e Gabriel ficaram sozinhos, tendo apenas as árvores, o mato e a conversa como companhia.

— É um sítio muito vasto — disse Gabriel, ao chegar a uma pequena elevação.

— Pois é — concordou Chandler. — O que tenciona fazer agora?

Chandler esperou por uma resposta, mas recebeu outra pergunta em troca.

— Vem aqui muitas vezes? — perguntou Gabriel. Antes que Chandler tivesse a possibilidade de responder, Gabriel continuou: — Provavelmente não, suponho. É muito fácil uma pessoa perder-se aqui. Digamos que eu me perdia; quanto tempo o senhor, a polícia, passaria à minha procura?

Chandler sabia muito bem a resposta, mas não disse nada. Gabriel não se perdera, encontrara a saída. Um dos sortudos.

— Até o encontrarmos.

— A sério? Perdeu alguém aqui no passado? — Depois de fazer a pergunta, parou de forma tão abrupta que Chandler quase esbarrou nele. — Este sítio… não sei, provoca-me arrepios. Como se houvesse fantasmas a assombrar esta colina. Um deles podia facilmente ter sido o meu se eu não tivesse escapado. Mas suponho que também tenha fantasmas, sargento.

— O que quer dizer?’

— Que seja assombrado por pessoas que prendeu sem razão ou não ajudou?

Chandler perguntou-se onde quereria o outro chegar. Estaria a referir-se à detenção ilegal? Fosse o que fosse, a conversa tornara-se demasiado mórbida para um homem agora livre.

— Tento. É o melhor que posso fazer.

— Isso não é uma resposta, sargento.

— As coisas acontecem e tentamos corrigi-las.

— E se falhar…?

— Tento não falhar.

— Que nobre — comentou Gabriel num tom sarcástico apesar do sorriso.

Chandler decidiu procurar as suas próprias respostas.

— Porque acha que o Heath o escolheu?

O jovem encolheu os ombros.

— Podia ter sido qualquer pessoa que andasse à boleia.

— Mas não foi. Foi você.

— Sim — suspirou Gabriel.

— Antes mencionou Deus. Acha que ele o ajudou a fugir? Porque acha que ele o escolheu para ser apanhado?

— Suponho que ele tenha um plano para mim.

— E qual é esse plano?

— Não tenho a certeza. Algo que tenho de fazer, de continuar. Ou algo que preciso de parar.

— Você parou o Heath.

Gabriel fez uma pausa como se considerasse aquilo.

— Ainda não.

— O que quer dizer?

Gabriel olhou o cemitério agora longe da vista.

— Suponho que preciso de testemunhar, não é? Metê-lo atrás das grades para sempre.

— Não, se nos perdermos aqui — respondeu Chandler, conduzindo-o à cabana incendiada e depois ao estacionamento.

Um telefonema rápido para Jim permitiu a Chandler ir ao encontro do carro mais adiante na estrada da floresta, fora de vista.

Chandler levou Gabriel para a esquadra e inventou a história de que precisavam de processar a sua libertação e, com tão poucos agentes disponíveis, poderia demorar um pouco. Embora Gabriel parecesse um pouco desconfiado, não protestou. Confiava na sua inocência.

Mitch entrou quinze minutos depois com um novo vigor, pronto para confrontar Heath com a prova da sua culpa.

— Algeme o senhor Barwell à cadeira na sala de interrogatórios — disse ele, entrando no gabinete.

Chandler fez sinal a Tanya e Jim para tratarem disso antes de se virar para Gabriel.

— Vamos tirá-lo daqui antes de trazê-lo.

— Tudo bem, posso encará-lo — respondeu Gabriel. — Vou ter de o fazer em tribunal.

— Talvez, mas, como diz, ele já tentou matá-lo uma vez, então porquê sujeitar-se a mais stresse?

— Volto para a cela?

— É tudo o que temos, receio bem.

Gabriel pareceu considerar aquilo durante um segundo antes de acenar com relutância. Então foi em direção às celas, tão obediente no papel de homem inocente como fora no de prisioneiro.

— Vamos ser o mais rápidos que pudermos — disse Chandler atrás dele, mas teve a nítida impressão de que o seu prisioneiro não estava com pressa, exausto depois de tudo aquilo por que tinha passado.

Ainda pensava naquilo quando entrou na sala de gravação. Por insistência de Mitch, Luka estava na mesa de controlos e, do outro lado do vidro, o homem em pessoa já começara o interrogatório, agitando diante do rosto de Heath um saco de provas que continha o bocado que faltava à sua camisa.

— Onde encontrou isso? — perguntou Heath.

Chandler apercebeu-se da culpa na sua voz.

— Numa das campas, senhor Barwell.

— Certo — disse Heath. — Perdi-o algures, talvez quando caí.

— Não creio que esteja a entender, senhor Barwell. Isto foi enrolado em torno do cabo de uma picareta.

Heath pareceu confuso e um pouco agitado.

— Uma picareta? Como foi lá parar?

— Diga-nos o senhor.

— Não sei — respondeu Heath em pânico, talvez percebendo o rumo que o interrogatório estava a tomar. — Não a pus lá. Não tinha uma picareta.

— Isso explica o estado das suas mãos, não é verdade? — perguntou Mitch, mantendo a calma.

— O que quer dizer? — Heath olhou para as mãos.

— As bolhas. Não é fácil cavar uma campa, sem dúvida.

Heath levantou as mãos.

— Isto é de tentar escapar, fugir dele — declarou, apontando para a porta e para as celas do outro lado.

Para frisar o que dissera, Mitch encostou o pedaço de pano ao saco de provas maior que continha a camisa de Heath. O bolso rasgado combinava na perfeição.

— Como chegou ele à sua camisa, senhor Barwell?

— Pode tê-la rasgado quando eu estava inconsciente. Não me lembro de quando perdi o bolso.

— E porque faria ele isso?

— Para me incriminar.

— A sério, senhor Barwell? Parece um grande esforço por causa de alguém que ele tencionava matar de qualquer maneira, não acha? — Heath foi incapaz de responder, então Mitch continuou: — E agora que as coisas se compuseram, pode ter a certeza de que iremos reunir mais provas. Alguém há de tê-lo visto apanhar as outras pessoas na lista.

— Não tinha visto essa lista até ma ter mostrado — declarou Heath num tom inflexível. — Não sei nada sobre as campas, além de as ter visto. E não sei nada sobre as mortes, além de ir ser mais uma vítima.

— Como sabe que houve mais de uma morte? — atacou Mitch.

Estava a correr um risco com aquele tipo de perguntas, mas Chandler podia ver que Heath estava encurralado.

Heath hesitou.

— O Gabriel disse que eu seria o número cinquenta e cinco.

— Como os matou?

Heath abanou a cabeça.

— Não matei!

— Vamos lá, senhor Barwell.

— Eu sou a vítima aqui. Não sei como eles morreram. E se é assim tão inteligente, peça ao Gabriel para lhe dizer!

Houve um tom algo desdenhoso no último comentário que pareceu apanhar Mitch de surpresa. Ficou calado durante um momento, andando de um lado para o outro na sala antes de se virar para encarar Heath, pousar as mãos na mesa e olhar para o seu principal suspeito.

— Precisamos da verdade, senhor Barwell.

Heath permaneceu obstinado.

— Estou a dizer-lhe a verdade. Não pode culpar-me. E quero um advogado… agora! Não respondo a mais perguntas até ter um.

— Só mais uma última pergunta — disse Mitch, levantando-se da mesa. — Qual foi a sensação de estrangulá-los?

Mitch não esperou por uma resposta, mas saiu da sala, deixando Flo a terminar oficialmente o interrogatório. Chandler foi ter com ele. O ex-colega tentou manter a aura de calma, mas parecia alvoroçado com o calor, o fardo de encontrar provas.

— Vou arrancar-lhe a confissão. — Mitch franziu o sobrolho, alargando o nó da gravata.

— Assim que ele conseguir um advogado, não se se podemos arrancar-lhe mais alguma coisa.

— Vamos arranjar-lhe um advogado — disse Mitch com um sorriso —, mas, como sabe, pode levar algum tempo aqui por estas bandas. — Olhou para Chandler. — O senhor Johnson já foi libertado?

— Não.

— Pediu um advogado?

— Ele acha que está safo.

Okay, vamos buscá-lo.

— Tem a certeza? — perguntou Chandler.

— Porque não? Tentamos arrancar-lhe alguma coisa que possamos usar contra o senhor Barwell. Além disso, uma parte de mim ainda acha que estão ambos a esconder alguma coisa. Uma amizade, um passado, o que for. — Havia uma fúria calma nos olhos de Mitch que Chandler temeu. Uma expressão que sugeria que ele era capaz de qualquer coisa.

Gabriel concordou com a entrevista, parecendo pensar que agora estava a ajudar a polícia. Só quando Mitch lhe perguntou como as vítimas tinham morrido é que a sua atitude mudou.

— O que vem a ser isto? — perguntou Gabriel, olhando para o vidro espelhado.

— Apenas algumas perguntas, senhor Johnson.

— Soam mais a acusações. Pensei que já tinha o seu homem.

— Precisamos de reunir o máximo possível de informações — interrompeu Mitch.

Gabriel ficou em silêncio.

— Então? — perguntou Mitch.

— Então…

— Como morreram?

— Não sei. Pergunte ao outro tipo. Encontrou a camisa dele lá, o que mais quer? Se eu não tivesse fugido, ele continuaria em liberdade. E eu estaria numa daquelas campas. Vocês, a polícia, não saberiam nada. — Como com Heath, a tentativa de acusação tinha feito surgir uma expressão de desafio em Gabriel, embora misturada com uma certa arrogância. — Quer que ele assine uma confissão? Se vá abaixo e conte tudo? Ele é um assassino, inspetor, um assassino de sangue frio. Alguém do mesmo calibre deve ser capaz de ver que ele não vai desistir facilmente.

Gabriel olhou para Mitch. Era uma resposta fria, com a intenção de magoar.

Funcionou. Mitch mordeu o isco e dirigiu a Gabriel um sorriso arrogante.

— Já fiz isto antes, senhor Johnson.

— E ele também. Se não consegue uma confissão, traga alguém que consiga.

O sorriso de Mitch desapareceu e ele semicerrou os olhos. Chandler via que o seu antigo colega começava a enfurecer-se.

Gabriel colocou as mãos sem algemas na mesa.

— Se continuar a manter-me aqui e a fazer-me esse tipo de perguntas, provavelmente está na altura de eu falar com um advogado. Deteve-me bastante tempo sem me acusar de nada e, sejamos realistas, fiz tudo o que pude para ajudá-lo. Se realmente quisesse, acho que conseguiria processá-lo por detenção ilegal, e a esta esquadra também.

Chandler sabia que qualquer ameaça ao estatuto e à carreira de Mitch o enfureceria. As veias latejaram nas suas têmporas, os lábios tão azuis que brilhavam, cinzento-escuros, com a luz. Tinha o sangue a ferver, mas Gabriel ainda não terminara.

— Parece que a polícia quer forçar a minha boa vontade. E se eu não puder processá-los, posso pelo menos vender toda esta palhaçada aos jornais. — Gabriel inclinou-se para a frente e olhou para Mitch. — Com o seu nome em cima, inspetor.

Mitch devolveu o olhar antes de se afastar da mesa e sair da sala.

Chandler aproximou-se.

— Acredita nesta porra? — rosnou Mitch. — A fazer-nos parecer idiotas.

A fazer-te parecer idiota, pensou Chandler.

— Vamos ter de chamar os advogados.

Mitch abanou a cabeça.

— Vou tentar outra vez argumentar com ele.

— Está a forçar a sua sorte.

Mitch resmungou qualquer coisa em resposta quando Nick gritou do outro lado da sala.

— Zero-zero-um, sargento!

Zero-zero-um: uma chamada de casa. Chandler dirigiu-se ao telefone para dizer à mãe que, fosse o que fosse, ele trataria do assunto mais tarde. Quando encostou o auscultador ao ouvido, a mãe estava a falar, como se tivesse continuado sem se ralar se alguém estava a ouvi-la do outro lado ou não.

— … ele está a insistir em pintar a casa sozinho.

Chandler interveio.

— Eu resolvo isso mais tarde, mãe.

Ela não se deixou apaziguar assim tão facilmente.

— Não gosto de vê-lo empoleirado na escada.

— Não posso sair agora, mãe.

— A coisa importante ainda está a acontecer?

— Sim, mãe. Diz ao pai para não se pôr em cima da escada. Eu pinto a casa esta semana. Adeus.

Chandler desligou o telefone. Praguejou baixinho, irritado pelo facto de a sua vida pessoal estar a atrapalhar de novo o trabalho. Então fechou os olhos. Estava a fazer aquilo de novo, a pôr o trabalho antes da família. Prometeu corrigir isso em breve.

Voltou para a sala de gravação. Luka ainda lá estava, mas os monitores e o equipamento de gravação tinham sido desligados.

— Ele já terminou a entrevista? — perguntou Chandler, contente por Mitch não ter continuado a insistir.

A resposta de Luka foi olhar para qualquer lugar, menos para Chandler, fingindo mexer nos comandos.

— Luka?

— O inspetor está a ter uma conversa privada com o senhor Johnson.

Chandler olhou para os ecrãs negros. Uma conversa que ele não queria que fosse gravada. Não era propriamente legal.

Saindo da sala de gravação, dirigiu-se à de interrogatórios. Yohan e Roper formaram uma barreira formidável diante da porta.

— Deixem-me entrar.

— Não podemos fazer isso — respondeu Roper entre dentes, as pernas abertas para se equilibrar. À espera de problemas.

— O que vão fazer? — perguntou Chandler.

— O que for preciso — respondeu Yohan.

Chandler preparou-se para um confronto. Jim apareceu ao lado dele.

— O que se passa? — perguntou ele.

— É o que tenciono descobrir.

Com a batalha anunciada e os limites estabelecidos, Nick juntou-se à festa. Três contra dois agora. Aquilo não iria ser bonito, mas Chandler precisava de entrar. Os três agentes locais avançaram. Corpos colidiram no estreito corredor. Houve gritos amargurados enquanto os empurrões continuavam, Chandler a levar um soco de lado no crânio, o corredor demasiado acanhado para permitir um golpe significativo. Em resposta, Chandler ergueu a mão e encontrou um rosto suado, forçando a cabeça para trás, arranjando um espaço para se enfiar e entrar da sala de interrogatórios.

Ali foi presenteado com a visão de Mitch ajoelhado sobre os braços de Gabriel, prendendo-o ao chão. Gabriel gritava de dores.

— Saia daqui, Mitch — ordenou Chandler, puxando o seu superior, os dedos com dificuldade em fixarem-se no fato de seda.

— Ele atacou-me — disse Mitch, tentando manter a sua posição em cima de Gabriel.

— Não ataquei nada! — gritou Gabriel, tentando libertar-se.

Chandler sabia que Gabriel não atacara Mitch, o seu instinto dizia-lhe que era um esforço de Mitch para ver se maltratar o suspeito conseguiria maiores resultados. Ou simplesmente para se vingar pela ameaça de o processar.

— Tire-o de cima de mim!

Chandler agarrou no colarinho de Mitch e fê-lo levantar-se. Enfrentaram-se enquanto Gabriel corria para o outro lado da sala.

— Que diabo está a tentar fazer, Mitch?

— A arranjar algumas respostas — respondeu Mitch com os dentes cerrados.

— Fazendo esta merda?

— Compete-me obter resultados.

— E o que conseguiu?

O tom corado no rosto de Mitch indicou-lhe que só conseguira ficar a transpirar.

Chandler empurrou-o para o fundo da sala antes de ajudar Gabriel a voltar para a cadeira.

— Você está bem?

— Claro que está, eu não lhe toquei — declarou Mitch, andando de um lado para o outro ao longo da parede como um animal enjaulado.

— Isto é uma daquelas rotinas do bom polícia, mau polícia? — perguntou Gabriel. — Se for, é muito evidente.

Chandler abanou a cabeça.

— Não, não é, e peço desculpa pelo comportamento do inspetor.

— Não se desculpe por mim — resmungou Mitch.

Gabriel respirou fundo algumas vezes. Parecia ter recuperado um pouco da sua calma.

— Acho que quero esse advogado agora. Tenho muito a dizer.