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Dois dias depois, Laurie estava a olhar-se ao espelho da cómoda do seu quarto. Podia jurar que a ruga que via entre as suas sobrancelhas não estava ali na véspera. Seria possível? Poderiam as rugas aparecer literalmente da noite para o dia? Começou a procurar um corretor, mas deteve-se. Preferia parecer-se consigo mesma e, se isso significasse ter mais algumas rugas, iria aceitá-las — não ficaria feliz por isso, mas aceitá-las-ia ainda assim.
Pelo espelho, viu Timmy irromper pelo quarto dela, de iPad na mão.
— Mãe, vais ficar presa no trânsito em ambos os sentidos. Tens de sair do Connecticut, no máximo, às três horas, para estares na casa do Alex a tempo do início do jogo. Vais estar no «para-arranca» o caminho todo, na Bruckner.
Ela não acreditava que o filho estava a crescer tão depressa. Tinha começado a dominar todas as aplicações do trânsito enquanto fazia de «copiloto» no banco de trás do automóvel, no mês anterior, na viagem pela Florida.
Não viu necessidade em dizer-lhe que na verdade precisava de se fazer à estrada ainda mais cedo. Tinha uma reunião com Brett e com quem ele tinha escolhido para ser o novo apresentador às quatro horas.
Deu um breve abraço a Timmy e conduziu-o à sala de estar.
— Fui eu que te ensinei a nunca chegar atrasado, incluindo à escola — recordou-lhe. — Calça os sapatos e pega na mochila. E não te esqueças do trabalho de Matemática. Estava na mesa de centro ontem à noite.
Enquanto Timmy se arrastava de volta ao seu quarto, o pai dela entrou e entregou-lhe uma caneca de café.
— Até me lembrei de usar aquele leite de amêndoas horrível que tu adoras.
Na verdade, ela tinha-o comprado na esperança de que o pai o bebesse. Depois de lhe terem introduzido dois stents no ventrículo direito no ano anterior, ele estava a seguir uma dieta saudável para o seu coração, mas ainda assim insistia em pôr natas no café. «Ora», pensou ela, «se alguém merece ter um pequeno vício é o meu pai.» Seis anos antes, o pai de Laurie era o comissário-adjunto Leo Farley, da polícia de Nova Iorque, um potencial candidato ao cargo de comissário. Até que, ao final de uma certa tarde, enquanto empurrava Timmy no baloiço, Greg, o marido de Laurie, tinha sido morto com um tiro na testa. De repente, Laurie era mãe solteira e não fazia ideia de quem tinha assassinado o seu marido. Leo abandonara o emprego que adorava, por ela e por Timmy.
Naquele momento, estava prestes a levar Timmy à escola, como fazia todos os dias, depois de ter percorrido a pé os poucos quarteirões que distavam entre a casa dele e a dela, para vir buscar o neto. Se ele queria natas no café, tinha direito a elas.
— Estou a ver que o Timmy está excitado por ir ver o Alex hoje à noite.
— Claro que está — respondeu ela. — Ele adora o Alex.
— Todos adoramos — respondeu o pai dela. — Desculpa — apressou-se a acrescentar. — Não estava a tentar defender nada.
— Eu sei, pai, não há problema.
Era sabido que Leo queria que Laurie encontrasse a felicidade junto de Alex. Uma parte dela também desejava o mesmo, desesperadamente. Mas, sempre que achava que estava pronta, pensava em Greg e sentia-se a afastar de Alex. O marido dela ainda ocupava um lugar tão grande no seu coração que ela perguntava-se se alguma vez poderia haver espaço para mais alguém.
Desde que tinha abandonado o programa dela, Alex mantivera uma agenda preenchida, com muitas viagens por causa de um caso importante, mas ela sabia porque é que ele não atendia o telefone. Ele tinha-se apaixonado por ela e estava a manter a distância até ela estar pronta para lhe retribuir o sentimento. Ela tinha de lhe dar algum espaço e ter esperança de que ele ainda a quisesse se e quando ela estivesse pronta para se comprometer.
— O Timmy disse qualquer coisa acerca de ires a uma prisão? — perguntou Leo. — Do que se trata?
Timmy tinha uma inclinação para ouvir apenas as palavras mais excitantes que a mãe dizia.
— Não vou literalmente a uma prisão, mas vou estar com alguém que foi libertada na terça-feira. Pai, do que é que te lembras da Bela Adormecida Assassina?
— Lembro-me que ela matou um homem bom e que depois tentou culpar a polícia por tê-la acusado injustamente. Devia ter ido presa para o resto da vida, mas o júri deixou-se enredar em sentimentos de pena por ela. — O rosto dele foi perpassado por uma expressão de preocupação. — Oh, Laurie, por favor, diz-me que não é com ela que te vais encontrar.