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Estavam no apartamento de Alex à espera do início do jogo. O jogo de futebol ainda não tinha começado, mas os aperitivos já estavam ao rubro. Em cima de um aparador na sala de estar de Alex, encontrava-se um sortido de batatas fritas, molhos e bolachas de água e sal.

— Presumo que o Timmy seja o responsável pela tigela quase vazia de pipocas de queijo — comentou Laurie.

— Eu também comi algumas — respondeu Alex. Estava sentado no sofá, com o braço à volta dela.

— Ramon, se dependesse do Timmy, ele só comia macarrão com queijo e pipocas de queijo — disse Laurie.

O título oficial (e escolhido pelo próprio) de Ramon era mordomo, mas ele também era o assistente de Alex, o seu chef e um amigo de confiança. E, para sorte de Alex e das pessoas que ele convidava para a sua casa, tinha um talento natural para organizar festas e conseguia sempre compor a ementa perfeita para cada evento.

— Não se preocupe, não há só comida de plástico — retorquiu Ramon, com um sorriso. — Eu preparei um saudável chili de peru para o jantar. Posso servir-lhe um copo de Chardonnay?

Alex tinha cumprimentado Laurie com um beijo afetuoso.

— Eu diria que o Ramon te conhece bastante bem, Laurie — comentou agora, num tom casual. — Ainda bem que conseguiste chegar a tempo. Sei que ias ficar muito desiludida se perdesses um único jogo.

Laurie gostava de ver futebol americano, mas não era uma fã incondicional. No entanto, adorava ver o filho e o pai a apreciarem desportos juntos, por isso torcia pelas equipas preferidas dos dois. E quando Alex se sentou ao seu lado no sofá, para assistirem ao início da partida, ela também gostou disso.

No intervalo, Timmy seguiu Ramon até à cozinha, excitado, para fazer o seu próprio gelado para a sobremesa. O pai de Laurie perguntou imediatamente como tinham corrido as coisas no Connecticut.

— Pelo menos, a Casey não voltou a ir às compras — comentou ele num tom reprovador. — Ir ao centro comercial mal saiu da prisão? Não é o melhor golpe de relações públicas se ela quer que as pessoas tenham pena dela.

— Não foi nada disso, pai. Ela literalmente não tinha roupa.

Laurie começou a pôr Alex a par do caso, mas ele interrompeu-a.

— O teu pai comentou que ela tinha ido à tua procura. — Havia algo de estranho no tom de voz dele.

— A julgar pela tua reação, imagino que o meu pai também te tenha deixado bem claro que não quer que eu toque neste caso, nem à distância. E suspeito que tu também não queiras.

— Desculpa — disse Alex. — Não quis parecer assim tão negativo.

— Então e agora que já passaste algum tempo com ela, qual é a tua opinião? — perguntou Leo. — Ela é louca como se diz?

— De maneira nenhuma. — Laurie fez uma pausa, à procura dos adjetivos certos. — Ela é direta. Muito pragmática. Falou do caso com grande clareza e abertura, sem emoção. Quase como se fosse uma jornalista ou uma advogada.

— Isso é porque está a mentir — retorquiu Leo.

— Não tenho assim tanta certeza, pai. A descrição que ela fez do seu estado mental naquela noite pareceu-me bastante credível. E há provas de que um dos objetos mais queridos do Hunter desapareceu da casa. Tanto quanto percebi, a polícia nunca explorou esse facto.

— Estás a ver? Ela já te pôs a culpar a polícia, como fez durante o julgamento.

— Não foi isso que eu quis dizer. Nunca ninguém se apercebeu do desaparecimento. Foi ela mesma que deu por isso, ao analisar fotografias antigas do local do crime. Eu confirmei com a antiga governanta do Hunter. Foi com ela que fui falar hoje, quando saí do trabalho. Tu estás muito calado, Alex. Seguiste o caso durante o julgamento?

— Desculpa, mas agora que já não faço parte do programa…

— Não é nada oficial. Só estou curiosa em relação à tua perspetiva — incitou-o ela.

Leo sacudiu a cabeça.

— Por favor, mete-lhe algum juízo na cabeça.

— Olha, as provas contra ela são muito fortes — sublinhou Alex. — Tenho a certeza de que estás ciente disso. Depois do julgamento, alguns dos jurados declararam que a esmagadora maioria deles queria condená-la por homicídio premeditado. Houve dois elementos que tiveram pena dela e que convenceram o resto do grupo a optar por homicídio involuntário, para evitar um empate.

— Sabes alguma coisa a respeito da advogada dela, Janice Marwood? A maneira como a Casey e a mãe falam dela fazem-na parecer um desastre.

— Eu não a conheço pessoalmente, mas na época não a achei grande profissional. A defesa dela estava completamente desorganizada. Por um lado, tentou sugerir que a polícia podia ter adulterado provas para conseguir uma detenção rápida num caso tão mediático. Mas, perto do final do caso, sugeriu que, mesmo que a Casey fosse culpada, ela teria matado o Hunter num ataque de fúria. Entretanto, a Casey não testemunhou e o júri não tinha uma narrativa clara em que se basear. Basicamente, eu dava-lhe um «Satisfaz menos».

— Pai, já agora, se eu investigar as alegações da Casey, isso não significa que lhe estou a dar carta-branca. Tu sabes como o nosso programa funciona. Nós vemos tudo à lupa. Ela pode sair disto ainda em pior situação.

— Mas não vai presa — respondeu ele. — Ela já cumpriu a pena dela. E, se se provar que o matou a sangue-frio, eles não podem voltar a condená-la por homicídio. Ela foi absolvida. Seria uma dupla condenação, não seria, Alex?

— Exatamente. Laurie, ela poderia vir a ser a primeira pessoa a aparecer no teu programa sem recear ser acusada e condenada no caso de encontrares mais provas contra ela.

Era um bom argumento, mas Laurie não estava certa de que fosse o suficiente para abandonar o caso.

— Tenho de tomar uma decisão rapidamente. O Brett anda em cima de mim.

Alex parecia perturbado.

— Pareces ter alguma coisa a dizer.

Ele sacudiu a cabeça, mas continuava a parecer distante.

— Eu só não me precipitava apenas por o Brett estar a pressionar-te.

— Já para não falar do chato que ele contratou para meu apresentador sem me consultar.

Leo começou imediatamente a protestar, em defesa dela, ameaçando que ia telefonar a Brett para lhe ensinar umas coisas sobre liderança.

— Pai, eu sou uma mulher adulta. Não me posso dar ao luxo de ter o meu pai a telefonar ao meu chefe.

— Há alguma hipótese de eu conhecer este tipo em particular? — perguntou Alex.

— Talvez. Ele chama-se Ryan Nichols.

Alex assobiou.

— Um tipo muito promissor. Tenho de te dizer que podias ter arranjado bem pior.

— Eu sei. No papel, ele é perfeito sob todos os ângulos. Tem uma grande reputação, mas também tem um ego a condizer. Parece-me ser o tipo de pessoa que beija o seu reflexo no espelho todas as manhãs e não tenho a certeza se não terá algum podre. Para além disso, é sobrinho do melhor amigo do Brett, por isso, há ali muito nepotismo. Devias ter visto a maneira como o Brett olhava para o Ryan, para ouvir a opinião dele. Parece que estou a perder o meu próprio programa.

Ela reparou que Alex desviou o olhar para contemplar a sua vista sobre o rio East. Uma coisa era falar de Casey, mas ela não devia ter começado a reclamar acerca de Ryan.

Timmy entrou na sala com um banana split.

— Mãe, o Ramon comprou cinco sabores diferentes de gelado. Não é fixe?

Ao longo do resto da noite, ela não voltou a falar mais de trabalho, porque não queria que Alex se sentisse responsável pelos problemas que ela estava a ter. Mas apercebeu-se das saudades que já tinha dele.