27
Três dias depois, Laurie, Grace e Jerry estavam reunidos no gabinete de Laurie para fazerem o ponto da situação em relação à recolha dos contratos de participação de todas as pessoas que queriam que entrassem na próxima emissão.
Grace folheou um dossier onde tinha os documentos arquivados.
— Das pessoas que estavam na gala naquela noite, temos o pai e o irmão do Hunter, sendo que ambos deixaram bem claro que acreditam que a Casey é culpada. A assistente, Mary Jane, assinou. A Casey obviamente vai participar, assim como a prima dela, a Angela. Temos a governanta, que vai apoiar a alegação da Casey de que a fotografia com o presidente se encontrava na mesa de cabeceira. E temos a mãe da Casey.
Jerry soltou um gemido.
— Não sei se devíamos ir por aí. A Paula parece ser boa pessoa, mas tem ligado pelo menos três vezes por dia, a fazer perguntas sobre tudo e mais alguma coisa. «Têm a certeza de que a Casey não pode ser presa outra vez? A Casey precisa de um advogado? Podem distorcer as nossas caras?» Ela não tem muito a dizer sobre as novas provas e receio que, se a pusermos em frente às câmaras, ela pareça um animal assustado.
— Vou pensar nisso — disse Laurie. — És capaz de ter razão.
Os espectadores iriam ver o programa para ouvirem Casey, porque ela nunca tinha chegado a testemunhar durante o julgamento. Mas precisavam de mais alguma coisa para além de uma moldura com uma foto desaparecida.
— Estou dividida em relação a se devo ou não pressionar mais o Mark Templeton a entrar — disse Laurie.
Grace folheou os seus apontamentos, tentando lembrar-se de todos os nomes.
— Esse é o tipo do dinheiro, certo?
Laurie anuiu.
— O diretor financeiro da Fundação Raleigh, para ser mais precisa. Ele disse ao Jerry que queria evitar ser associado ao nome da Casey por causa do cargo que atualmente ocupa como diretor de uma associação sem fins lucrativos. Mas ele pode ter outros motivos para estar a mentir. Como o facto de a Fundação Raleigh estar com problemas financeiros quando ele saiu, especialmente se o associarmos às preocupações do Hunter com as contas e ao facto de o Mark ter demorado quase um ano a arranjar um novo emprego, depois de ter deixado a fundação.
Jerry tamborilou a caneta contra o seu caderno.
— Tens mais alguma prova, além da palavra da Casey, de que o Hunter estava preocupado com a fundação?
Laurie ergueu a mão e desenhou um zero com os dedos.
— Se tivéssemos, teríamos com que pressionar o Mark a esse respeito. Sem provas, parece que estamos a deitar-nos a adivinhar.
Laurie já sentia saudades das conversas que costumava ter com Alex. Juntos, debruçavam-se sobre as provas e analisavam cada peça sob todos os ângulos possíveis.
— É mais a Casey que se está a deitar a adivinhar — enfatizou Grace. — Se o Hunter andasse mesmo a investigar as finanças e de repente fosse morto, não iria aparecer alguém a queixar-se à polícia? Um daqueles contabilistas forenses que ele ia contratar?
— A não ser que ele nunca tenha chegado a telefonar-lhes — disse Laurie. — De acordo com a Casey, ele disse que tinha reparado nalguma coisa estranha nas contas e que ia contratar alguém para inspecioná-las. Mas isso é o que a Casey diz. Sinto-me tentada a pressionar o Mark Templeton a esse propósito, mas tenho medo que ele telefone aos Raleighs e os afugente. Tenho a certeza de que eles não querem a mínima hipótese de escândalo a rondar a fundação. Enquanto eu não tiver provas concretas que liguem o Mark ao caso, acho que estamos num beco sem saída.
— As boas notícias — relatou Jerry, alegremente — são que temos os nossos dois principais locais de filmagem assegurados. A casa do Hunter no Connecticut ficou para o irmão dele, o Andrew. A impressão com que eu fiquei foi que o homem quase se tinha esquecido que é o proprietário. A resposta exata que me deu quando lhe liguei para combinar foi: Mi casa es su casa. E apesar de o salão do Cipriani estar reservado durante meses, a Fundação Raleigh autorizou-nos a usá-lo durante o evento que vai organizar para os seus beneméritos, mas é já no domingo da outra semana. Só faltam dez dias, mas acho que conseguimos preparar-nos. Filmaríamos antes do evento deles, em troca de um donativo simpático, claro. Já visitei o local e vai dar um cenário lindo.
— Eu também tenho uma ideia para um local de filmagens — disse Grace. — O Tiro A Segno, em Greenwich Village. É, simultaneamente, um clube de armas privado e um restaurante. Em que outro lugar se pode comer vitela com parmesão e praticar tiro ao alvo? Era o sítio preferido do Hunter para praticar tiro. És capaz de encontrar lá pessoas que se lembrem dele e da Casey.
— Muito bem, Grace. Boa ideia — disse Laurie. — Se encontrar locais de filmagem fosse sempre assim tão fácil…
O julgamento também tinha facilitado as coisas. Os anteriores episódios tinham feito a cobertura de casos que nunca tinham levado a detenções, muito menos a julgamentos. Ela tinha de dar sentido a provas constantes em registos públicos, artigos de jornal e na memória enviesada de diversas testemunhas. Desta vez não era assim. Laurie tinha passado os últimos dias a rever transcrições do julgamento de Casey e tinha composto um resumo pormenorizado de todos os aspetos relacionados com as provas.
— Será possível que vamos mesmo conseguir cumprir o prazo lunático do Brett?
Laurie ouviu alguém bater à porta e gritou para que a pessoa entrasse. Era Ryan Nichols.
— Peço desculpa pelo atraso.
Não parecia sincero.