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Estará Casey Louca a brincar com o fogo?
«Olá, companheiros de falatório. Têm seguido os passos da Katherine “Casey” Carter, desde que ela se escapou da prisa? Bom, eu tenho. A Casey tem andado tremendamente ocupada. Não é qualquer ex-condenado que vai diretamente da porta da prisão para o centro comercial mais próximo passar um dia inteiro a fazer compras. Estaria ela a planear vestir o seu novo guarda-roupa? Todos nos perguntamos o mesmo.
Mas, em vez de regressar à cena social, a Casey parece andar novamente às compras. Desta feita, anda a ver se compra alguém que acredite nas mesmas alegações inconsistentes de inocência que ela tem vindo a tecer desde a noite em que foi encontrada com o sangue do Hunter Raleigh nas mãos.
Inicialmente, ela parecia ter encontrado uma totó, a Laurie Moran, a produtora do Sob Suspeita. A série televisiva que investiga casos antigos não tem parado de resolver casos há muito dados como insolúveis. O Falatório pode informar-vos que a Casey já se encontrou pessoalmente com a Moran três vezes desde que foi libertada da prisão. Uma vez na sua casa e duas no escritório da produtora, em Rockefeller Center. Se a Casey conseguisse ser patrocinada por uma marca tão respeitável, isso, sim, seria um verdadeiro golpe de mestre.
Mas, esperem, vamos mais devagar! A Moran pode andar a fazer-se passar por simpática à frente da Casey, mas ela parece ter outros truques escondidos na manga.»
Laurie sentia os olhos do pai a lerem por cima dos ombros dela.
— Só o uso destas metáforas dúbias já devia ser crime — murmurou ela.
— Chiu — incitou Leo. — Continua a ler.
«A Casey pode ter pensado que a produtora de televisão planeia apresentar o seu lado da história, mas é capaz de ser melhor ela pensar duas vezes. Afinal, a sua nova amiga Moran tem andado a encontrar-se com algumas afamadas personalidades anti-Casey, tais como Gabrielle Lawson e Jason Gardner. Os seguidores mais sagazes do Falatório recordar-se-ão de que estes conhecedores da história forneceram depoimentos condenatórios durante o julgamento da Casey.
A Lawson é a atraente senhora que estava prestes a substituir a Casey ao lado do Hunter, no altar. O rejeitado Jason foi o ex-namorado da Casey que pôs a boca no trombone acerca dos problemas de controlo de raiva dela.
Com amigos assim, quem precisa de inimigos? Doze jurados decidiram, unanimemente, que a Casey matou o Hunter num acesso de raiva, quando ele rompeu o noivado de ambos. Sem um advogado de defesa ao lado da Casey, a Laurie Moran é bem capaz de convencer o resto do país de que ela é uma assassina implacável que se escapou facilmente.
Casey, se estás a ler isto, tu podes achar que um programa de televisão te vai ajudar a virar a página, mas é melhor pensares duas vezes. Achas mesmo que a Gabrielle e o Jason vão alterar as suas histórias? Podes estar a brincar com o fogo.
O Falatório sugere-te que fiques em casa e caladinha.»
Laurie pressionou o botão por baixo do tablet que apagava o ecrã e devolveu o aparelho ao filho.
— Mãe, como é que este site sabe tantas coisas sobre o teu programa? Estas informações são todas verdadeiras?
«Palavra por palavra», pensou Laurie. Ela já sabia, ou desconfiava seriamente, que Gabrielle tinha o hábito de fornecer informações a Mindy Sampson. No entanto, aquela página continha mais informações do que as que Gabrielle teria capacidade de fornecer sozinha. Gabrielle sabia que Laurie tencionava fazer a cobertura do caso de Casey no seu próximo programa e até podia intuir que qualquer produtor de televisão responsável iria falar com o ex-namorado que tinha escrito um escandaloso livro difamatório. Mas saber quantas vezes Laurie se tinha encontrado com Casey e onde? Se alguém tivesse a capacidade de adivinhar esse género de coisas, devia dedicar-se às apostas.
Reviu o texto completo na sua mente, a pensar que não fazia ideia de quem poderia ter fornecido pormenores internos da sua produção a Mindy Sampson. E, de repente, lembrou-se de um momento que tinha acontecido há algumas horas. «Você até poderá ser um bom advogado no tribunal, mas atualmente escolheu uma profissão na qual demonstra pouco interesse em aprender.»
Ryan Nichols. Estaria ele a querer ensinar-lhe uma lição? Ela tentou imediatamente afastar aquela possibilidade, dizendo a si mesma que estava a ser paranoica. Mas a Grace, o Jerry ou o Ryan eram as únicas pessoas que podiam ter fornecido aquele género de informações. Ela confiava a sua vida a Grace e Jerry, mas nada sabia em relação ao seu novo apresentador, a não ser que ele estava sedento por tempo de antena e que estava disposto a deixar para trás uma promissora carreira como advogado para trabalhar em televisão a tempo inteiro. Estaria ele a fornecer informações internas para gerar rumores que iriam certamente aumentar o interesse pelo programa? Será este o primeiro passo dele, numa tentativa de me passar uma rasteira e me tirar de cena? O melhor amigo do tio dele, o Brett, premeia quem tem as ideias que lhe garantem mais audiências.
É como se costuma dizer: lá por se estar paranoico, isso não significa que não ande mesmo alguém atrás de ti.
Ainda estava a questionar-se sobre se deveria confiar em Ryan, quando o telemóvel tocou em cima da bancada. Era Alex. Pela primeira vez desde que o conhecia, hesitou antes de atender a chamada.
Por fim, ao cabo de três toques e meio, ela atendeu com um:
— Então, que tal?
— Então, que tal, para ti também.
— Como correu a palestra na Universidade de Nova Iorque?
Ela não falava com ele desde o dia em que tinha aparecido no escritório dele a fazer perguntas sobre o seu conhecimento prévio da família Raleigh.
— Muito bem. O meu amigo tinha um sorriso de orelha a orelha por causa da agregação e por lhe ter sido entregue a regência. A mim parece-me tratar-se apenas de um título, mas foi bom vê-lo ser reconhecido. Tu terias ficado mais impressionada com a comida, parece-me. Tinham lá daqueles queques em miniatura da marca Baked by Melissa, que tu adoras.
— São deliciosos e adoráveis. Como poderia não adorar? — Ela ouviu o sorriso dele do outro lado da linha. Sem que tivesse dado por isso, passaram-se vinte minutos, à medida que eles entravam num ritmo confortável de conversa, em que falaram de uma história da política local que tinha saído no Post desse dia, de um cliente novo que tinha retido Alex na véspera e de nada em particular.
No preciso momento em que ela começava a sentir-se patética por estar a ser paranoica — em relação a Ryan e a Alex —, ele perguntou-lhe por Casey.
— Então decidiste mesmo fazer a cobertura do caso dela.
O comentário dele soou mais como uma afirmação do que como uma pergunta. Tanto quanto ela sabia, apenas o blogue Falatório tinha dado a notícia. E ela não estava a ver Alex a seguir as publicações de Mindy Sampson. Sabia que Timmy tinha criado um alerta no Google com o nome dela, mas teria Alex feito o mesmo? Ou teria ele feito um esforço particular para se manter atualizado em relação a quaisquer notícias que envolvessem Casey? Ou seria tudo aquilo fruto da sua imaginação?
Só havia uma maneira de descobrir.
— Imagino que tenhas lido o artigo?
Ele fez uma pausa; ou, pelo menos, foi o que lhe pareceu que tinha acontecido.
— Que artigo?
— Num site chamado Falatório — respondeu ela. Só depois de ter respondido é que se deu conta de que aquela era a resposta à sua pergunta. Tal como quando ela lhe tinha perguntado, há algumas noites, se ele tinha algum motivo para não querer que ela trabalhasse naquele caso. — Não sei como é que a Mindy soube do programa — explicou Laurie. — E ela também sabia quem são duas das minhas testemunhas.
Do outro lado da linha fez-se silêncio.
— Estás aí, Alex?
— Desculpa, estava a pensar.
— Suponho que, com um caso tão mediático, não seja de estranhar que se comente por aí que eu tenho andado a fazer perguntas — disse ela, a pensar em voz alta. — E as testemunhas cujos nomes ela mencionou eram palpites óbvios.
— Ou então alguém da produção anda a passar-lhe as informações — afirmou Alex. O tom dele era grave.
— Passou-me pela cabeça que o Ryan Nichols pudesse ter segundas intenções.
— Ou alguém quer que tu passes um mau bocado a tentar mudar a opinião do público em relação à Casey. A tua decisão é mesmo definitiva, Laurie? Talvez eu consiga ajudar-te a encontrar outro caso que satisfaça o Brett.
Ela não conseguia deixar de sentir que ele estava a esconder alguma coisa, alguma coisa de importância vital.
— Alex, por favor, se tens informações…
— Não tenho.
— Não tens ou não podes falar? — Ele remeteu-se novamente ao silêncio. — Alex, o que é que tu não me estás a dizer?
— Tu és inteligente, Laurie. Sabes que estás a lidar com pessoas muito poderosas.
— Alex…
— Promete-me que vais ter cuidado.
Ele desligou antes que ela pudesse perguntar-lhe porquê.
Seis horas mais tarde, Laurie acordou a meio da noite, com os pensamentos a mil. Pegou no telemóvel em cima da mesa de cabeceira e abriu o email. Tinha uma nova mensagem de Jason Gardner a dizer que ia contar a sua história no Sob Suspeita. «Quanto mais se souber da verdade, melhor», dizia ele. Mas Laurie desconfiava que o seu primeiro telefonema tinha sido para a editora. Imaginou uma segunda edição do seu livro num futuro muito próximo.
Mas não foi por causa do ex-namorado de Casey que ela abriu a sua conta de correio eletrónico. Escreveu um email dirigido ao responsável do departamento informático dos estúdios Fisher Blake.
«Lembras-te das mensagens antigas da Internet sobre as quais te fiz perguntas, relacionadas com o caso do Hunter Raleigh? Publicadas por RIP_Hunter? Por favor, envia-mas, ASAP.»
As publicações de RIP_Hunter, a informação privilegiada de Mindy Sampson, a discrição de Alex. Algures, nos seus sonhos, tudo aquilo parecia relacionar-se. «Amanhã», pensou. «Amanhã, pode ser que tudo faça sentido.»