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Dois dias depois, Laurie encontrava-se no salão de festas do Cipriani. Lembrava-se de ali ter ido com Greg, quando andavam à procura de um local para o seu copo de água. Apesar dos preços astronómicos que ali se praticavam, os pais dela tinham insistido que eles fossem visitar a sala.

— Eles estão doidos, Greg? — perguntara ela, enquanto se deixava encantar com a dimensão e a beleza daquele local. — Mesmo que nós convidássemos todas as pessoas que conhecemos, mesmo assim não conseguíamos encher nem metade do salão. Este lugar é para a realeza e os preços são a condizer.

Apesar dos protestos de Leo, que lhe dissera «Tu és a minha única filha e este é o único casamento que eu irei pagar», o casal tinha insistido em escolher um local com um preço mais razoável. E fora perfeito.

Lembrou-se do sorriso de Greg quando Leo a conduzia até ao altar.

Uma voz trouxe-a de volta ao presente.

— É muito festivo, não é?

— É lindo — ecoou Laurie. Na verdade, a única coisa que não era festiva naquele espaço era a pessoa que tinha ao seu lado, a assistente do general Raleigh, Mary Jane. A expressão da mulher era tal que parecia que o seu rosto se desmancharia se ela sorrisse.

— Seguindo as instruções do general, pedi que decorassem as mesas mais cedo, para vocês poderem filmar antes do nosso evento desta noite. Tal como pediu, usámos uma decoração parecida com a da gala que aqui se realizou na noite em que o Hunter morreu. — O sobrolho franzido de Mary Jane revelava a sua reprovação.

Laurie não lhe relembrou que o estúdio tinha acedido a fazer um generoso donativo à fundação, que era mais do que suficiente para cobrir as despesas.

— A família estava sentada naquela mesa — disse Mary Jane, apontando para a mesa redonda que ficava mais perto do palco.

— E, por família, refere-se a…? — Laurie já sabia quem ali estivera sentado, mas queria ouvir o que Mary Jane tinha para dizer.

Ela pareceu ficar incomodada com a pergunta, mas começou a nomear os elementos da família.

— O Andrew e o Hunter, a Casey e a prima, o general e eu.

Laurie reparou na maneira como Mary Jane se nomeou juntamente com o general, como se fossem um casal.

— Eram só seis pessoas? — perguntou Laurie. — Parece uma mesa para oito.

— É claro que a outra pessoa era o diretor financeiro da empresa. A mulher dele não veio, porque a ama deles cancelou à última da hora.

— Pois — respondeu Laurie, como se lhe estivessem a vir as coisas à memória. — Como é que ele se chamava mesmo?

A expressão de Mary Jane era imperscrutável e ela não respondeu.

— Deve querer começar o quanto antes. Tem de tirar estas câmaras daqui, impreterivelmente, dentro de três horas. Pouco depois disso começam a chegar os convidados.

— A propósito, a Mary Jane agendou a entrevista do general Raleigh connosco para amanhã, no Connecticut. — O plano era interrogarem James e Andrew Raleigh na casa de campo onde Hunter tinha sido morto. — Mas eu espero que a minha assistente tenha deixado claro que gostaríamos de filmá-la, a si, hoje.

— Vamos ver como o dia corre. Neste momento, a angariação de fundos é a minha prioridade.

— Mas já concordou em participar. Nós temos de cumprir o calendário.

— E vão cumprir. Atenção, as suas horas estão a passar depressa. Na pior das hipóteses, têm-me à vossa disposição amanhã. Eu irei acompanhar o general até New Canaan.

«Claro que vais», pensou Laurie. O homem tinha servido o seu país por esse mundo fora, mas, a acreditar em Mary Jane, ele não fazia nada sem a ter ao seu lado.

Outras pessoas podiam ficar embasbacadas com os tetos altos, as colunas de mármore e os centros de mesa perfeitos daquele salão, mas Laurie estava entusiasmada por outros motivos que em nada se relacionavam com a festa que ali ia ter início dentro de algumas horas. Laurie estava excitada porque adorava estar no local das filmagens. Adorava a sensação que acompanhava o seu conhecimento de que estava prestes a começar a contar uma história, não só com palavras, mas também com imagens, pausas dramáticas e efeitos sonoros. Independentemente daquilo que viesse a acontecer, ela sabia que ia produzir um programa de alta qualidade. E, com um pouco de sorte, eram capazes de conseguir que se fizesse alguma justiça.

Encontrou Ryan às voltas no corredor, ao lado das cabinas telefónicas.

— Está preparado para a sua estreia no Sob Suspeita?

Ele ergueu um dedo enquanto acabava de dizer para si mesmo as palavras que estava a ler num cartão com apontamentos.

— Estou bem.

Ele não parecia bem. Parecia nervoso e ainda tinha o lenço de papel que a maquilhadora lhe colocara no colarinho. Laurie receara que isto viesse a acontecer. Alex constituía o raro caso de um advogado que se sentia bem a fazer o seu trabalho diante de uma câmara de televisão. Em contraste, alguns dos mais hábeis advogados de barra ficavam petrificados quando as câmaras começavam a filmar. Por outro lado, os «tagarelas» podiam ficar bem nas filmagens, mas apenas com a ajuda de um teleponto ou com sons pré-gravados. Ela não fazia ideia se Ryan conseguiria combinar os dois talentos.

— Está a lançar uma nova moda? — perguntou-lhe ela, apontando para o seu próprio pescoço.

Ele olhou para baixo, aparentemente confuso.

— Pois — disse, e puxou o toalhete.

— Descobriu mais alguma coisa em relação ao facto de o Mark Templeton ter contratado um advogado de defesa?

— Estou a trabalhar nisso.

Ele continuava a dar mais atenção aos seus apontamentos do que a ela.

— Quando ligou para o gabinete do procurador-geral, que lhe disseram?

— Como lhe disse, Laurie, estou a trabalhar nisso. Dê-me mais algum tempo.

Na perspetiva dela, «estou a trabalhar nisso» podia ser um código para «esqueci-me completamente do assunto». Mas aquele não era o momento para ela lhe dar um sermão acerca de comunicação no local de trabalho. Eles estavam prestes a começar a filmar e tinham de se concentrar.

A primeira testemunha, Jason Gardner, tinha chegado.