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Laurie quase tropeçou numa bola de futebol quando abriu a porta do seu apartamento. Ia apanhá-la quando viu todos os outros sinais da presença de Timmy espalhados pelo corredor: o estojo do trompete, cartões de jogos de consola e um repertório de equipamento desportivo que era suficiente para dar uma aula de Educação Física. Até os prédios de Manhattan começarem a incluir garagens, esta decoração fazia parte do apartamento, e por ela tudo bem.

— Como é que estão os meus rapazes?

Leo e Timmy estavam sentados ao lado um do outro, no sofá, a ver o programa de detetives preferido da família, Bosch. Uma caixa vazia de piza estava ensanduichada entre dois pratos cheios de migalhas, na mesa de centro. Aquela era a versão de paraíso de Timmy.

— Começaram sem mim? — Tinham combinado verem vários episódios seguidos todos juntos.

Timmy carregou na tecla de pausa.

— Nós tentámos esperar, mas a piza cheirava tão bem…

— Começámos agora mesmo — disse Leo. — Vai trocar de roupa. Eu aqueço a piza enquanto o Timmy anda para trás.

Ela estava a comer a segunda fatia, embrenhada na série, quando o seu telemóvel tocou na mesa do canto. Olhou de relance para o ecrã, na esperança de que fosse Alex. Era Casey. Decidiu deixar ir para as mensagens. Podia devolver-lhe a chamada no dia seguinte, quando estivesse na casa de campo dos Raleighs, onde iam entrevistar James e Andrew Raleigh. Casey e a família iam ser filmadas em último lugar.

Em vez de receber uma notificação de mensagem no ecrã, o telemóvel de Casey tocou mais uma vez e ainda uma terceira. Casey estava a insistir.

— Desliga isso — disse-lhe o pai. — Já passa muito das horas de expediente.

— Eu lembro-me de a mãe te ter tentado dizer a mesma coisa durante anos — respondeu Laurie, enquanto levava o telemóvel para a cozinha.

Casey estava muito entusiasmada do outro lado da linha e nem sequer a cumprimentou.

— Eu estava aqui a falar com a Angela e com a minha mãe acerca do programa. Nós achamos que não é sensato falar da moldura desaparecida.

Laurie suspirou baixinho. Era só o que lhe faltava, notas editoriais dadas pelos participantes.

— Estou um bocado baralhada, Casey. Achei que acreditava que a moldura que desapareceu com a fotografia do Hunter com o presidente fosse a prova mais contundente de que tinha estado mais alguém na casa, naquela noite.

— E é. Por isso mesmo é que não deve descrever a fotografia com pormenor. Pensámos que podia dizer que tinha desaparecido uma coisa, ou que tinha desaparecido uma fotografia, mas sem mencionar que se tratava de uma fotografia do Hunter com o presidente.

Okay, e porque faria eu isso? — Laurie arrependeu-se imediatamente de ter feito aquela pergunta, mas a curiosidade levara-lhe a melhor.

— É como quando a polícia oculta um facto para testar se alguém avança com essa informação. Parto do princípio de que o seu programa vai fazer com que apareçam potenciais pistas. Para pormos de lado as falsas, podíamos ver se alguém sabe alguma coisa em relação à fotografia. Entende o meu raciocínio?

O que Laurie entendia era que Casey e a família andavam a ver muitas séries policiais.

— Deixe-me pensar. É provável que lhe perguntemos durante as filmagens, mas, para que saiba, nós editamos sempre as entrevistas. Olhe, já que estamos a falar, conte-me mais sobre o Mark Templeton. Há quanto tempo é que ele conhecia o Hunter?

— Desde que eram caloiros em Yale. Eles viviam na mesma residência universitária. O Hunter era muito conhecido no campus, graças ao seu nome de família. O Mark era bolseiro e estava um bocado fora do seu meio numa universidade de prestígio. O Hunter fez dele o seu protegido. Ele era esse tipo de pessoa.

— E a amizade deles baseou-se sempre nessa mesma dinâmica?

— É correto dizer que sim. O Hunter era muito conhecido. O Mark vivia de alguma maneira à sombra dele. Foi isso que me levou a pensar que havia alguma possibilidade, ainda que remota, de o Mark andar a roubar dinheiro da fundação. Talvez ele tivesse desenvolvido algum rancor ao longo dos anos e achasse que também merecia alguma coisa.

Laurie tinha pensado o mesmo.

— Quando o presidente decidiu homenagear a Fundação Raleigh, o Mark também foi convidado para a Casa Branca?

— Não. O Hunter só podia levar uma pessoa.

Laurie perguntou quem tinha ele escolhido como acompanhante, apesar de estar certa de qual seria a resposta.

— Ele levou-me a mim. — Casey parou de falar quando se apercebeu do motivo da pergunta de Laurie. — Oh, meu Deus. Foi o Mark? Encontrou mais provas?

Laurie não sabia o que devia pensar naquele momento, mas de uma coisa ela estava certa: já tinha saudades de discutir aqueles assuntos com Alex.