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Ela podia ter dito a Jerry e a Ryan que dessem o dia por terminado, mas Laurie não conseguia convencer-se a sair dali. Uma hora depois, estava a rever todos os documentos que se encontravam nas caixas que fora buscar à advogada de defesa de Laurie, Janice Marwood. Naquele momento, estava a ler aquelas folhas apenas para se manter ocupada. Sabia que quando estivesse em casa, sozinha no seu quarto, a conversa que tivera com Alex atingi-la-ia com todo o impacto.

Ao longo de todos aqueles meses, ela tinha tentado arranjar espaço no seu coração para Alex, na esperança de que ele ainda estivesse à espera dela, quando se sentisse preparada. Mas agora era possível que ele tivesse mesmo saído da sua vida. Ela podia ter deitado a perder qualquer hipótese de um futuro a dois, tudo por causa daquele caso.

«Não pode ser em vão», disse a si mesma, virando mais depressa as folhas dos dossiers da advogada de defesa. «Tem de haver aqui alguma coisa que me conduza até à verdade.»

À medida que remexia nos documentos das caixas, deu-se conta de que os dossiers de Janice Marwood continham muito mais documentos do que os registos que Casey lhe tinha entregado.

Casey não tinha a certeza se Marwood teria investigado os comentários negativos publicados na Internet, mas os ficheiros da advogada mostravam que ela o fizera. Na verdade, uma das pastas exibia explicitamente uma etiqueta onde se lia «RIP_Hunter». Laurie folheou-a e encontrou impressões de muitos dos comentários que ela própria descobrira durante a sua pesquisa. Havia também cartas que Marwood tinha enviado para vários sites, procurando obter, sem sucesso, informações acerca do autor das publicações.

Um outro caderno tinha uma etiqueta que dizia «Moções Pré-Julgamento». Nos seus conteúdos tornava-se evidente que Marwood tinha contestado muitas das provas que a acusação quisera apresentar contra Casey e que por vezes tivera sucesso. Além de ter conseguido anular o «testemunho de carácter» de Jason Gardner, Marwood também tinha impedido uma colega de faculdade de Casey de testemunhar que Casey lhe dissera que a maneira mais fácil para uma mulher ter poder era casando-se bem. Também tinha barrado o depoimento de uma antiga colega da Sotheby’s que alegava que Casey tinha ficado de olho em Hunter no momento em que ele entrara no leilão de arte.

Aquele não era o trabalho de uma advogada que destruíra o julgamento. E, o que era mais perturbador, Laurie tinha de se interrogar por que motivo Casey não lhe tinha fornecido informações mais completas acerca da sua defesa.

Laurie precisava de uma segunda opinião. Para sua surpresa, o seu primeiro instinto foi pegar no telefone e ligar a Ryan. Ficou ainda mais surpreendida quando ele atendeu.

— Ainda cá está — disse ela.

— De onde eu venho, nunca se sai do trabalho antes do chefe.

Laurie ficou impressionada com a velocidade com que Ryan processava as transcrições dos tribunais. Era como assistir à versão legal de ver um chef de topo na sua cozinha.

Ele fez uma pausa e ergueu os olhos depois de ter revisto o caderno das moções anteriores ao julgamento.

— Isto não parece o trabalho de uma advogada que afundou o julgamento — comentou ele.

— Disseram-me que ela tinha feito um trabalho digno de um «Satisfaz menos» — disse Laurie.

— Eu teria dito o mesmo há três semanas. Ela não chamou a Casey a depor, apesar de ela não ter cadastro anterior e poder ter ficado bem vista diante do júri. Depois, ela mudou de estratégia nas alegações finais, passando subitamente de «não foi ela» para uma teoria de homicídio em segundo grau. Mas agora que vejo todo o trabalho de bastidores que ela fez dava-lhe um «Satisfaz mais», ou talvez mesmo um «Bom menos».

— Então, porque é que ela não pediu a anulação do julgamento quando um dos jurados reportou que tinha lido comentários do RIP_Hunter acerca da Casey na Internet? Será possível que ela estivesse a tentar ajudar a Casey inicialmente, mas que depois o general Raleigh tenha chegado até ela, de alguma maneira?

— Não sei — respondeu Ryan, enquanto pegava em mais um molho de documentos dos dossiers. — O general Raleigh puxar uns cordelinhos para arranjar um contrato de publicação para o livro do ex-namorado da Casey é uma coisa. Mas subornar uma advogada de defesa? E é difícil imaginar um advogado decente disposto a arriscar a carreira. Imagino que seja possível, mas…

Ele parou a meio do que estava a dizer e voltou à página que tinha acabado de ler.

— Espere um minuto. Acho que temos um problema. Uma das moções a suprimir tem um anexo. Dê uma vista de olhos nisto.

A folha que ele lhe entregou fazia parte do inventário de provas que a polícia tinha registado depois de ter conduzido uma busca na casa de Hunter. Laurie só precisou de ler o texto por alto para se aperceber do significado daquilo que estava a ver.

— O registo do inventário não estava em nenhum dos documentos que a Casey me entregou — disse ela. — Deixe-me só fazer dois telefonemas para confirmar as nossas suspeitas.

Quinze minutos mais tarde, eles tinham uma nova leitura da razão pela qual Janice Marwood se tinha recusado a falar com Laurie. Tal como Alex, ela tinha um dever de lealdade para com a sua cliente, mesmo passados quinze anos sobre a condenação de Casey. Ela não queria responder a perguntas a respeito de Casey porque sabia que a sua cliente era culpada.

— Foi por isso que ela não pediu a anulação do julgamento — disse Laurie. — Ela percebeu que tinha sido a Casey a cometer o crime. Se o Estado voltasse a julgá-la com um novo júri, havia a possibilidade de encontrarem mais provas contra ela.

Ela suprimiu tantas provas de carácter, que percebeu que era melhor avançar com a hipótese de homicídio involuntário.

Pela primeira vez desde que ela o conhecera, Ryan estava entusiasmado com o caso.

— A boa notícia é que agora nós temos um plano. Vou fazer uma cópia disto para amanhã. A Casey não vai estar à espera do que lhe vai aparecer pela frente.