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Laurie devia ter uma expressão satisfeita quando saiu do gabinete de Brett Young.
— O chefe está feliz? — perguntou Dana, a secretária dele, quando Laurie passou por ela.
— Alguma vez está? Mas sim, comparativamente com o estado habitual dele, está radiante.
A sua maior esperança durante a produção era que conseguissem desbloquear factos novos, que depois pudessem encaixar, de forma a lançarem uma nova luz sobre um caso não resolvido. A ideia de alguém confessar em frente às câmaras estava para lá dos seus sonhos mais ambiciosos. Casey não admitira diretamente ter matado Hunter, mas admitira que tinha sentido ciúmes de Gabrielle Lawson e que tinha mentido à produção do programa para que eles acreditassem nas suas alegações de inocência. As suas últimas palavras, dizendo «lamento» enquanto soluçava, estavam recheadas de arrependimento. Um simples clipe da filmagem daquele momento seria o bastante para convencer os espectadores de que ela era culpada. Não era de admirar que a advogada de defesa dela a tivesse aconselhado a não depor.
Como era de prever, Brett insistiu para que Laurie lhe indicasse já a data de emissão. Ela respondeu-lhe que queria encontrar uma ou duas pessoas que tinham conhecido Casey no passado, mas acreditava que em breve terminariam a produção.
Estava a pensar nos potenciais sujeitos que queria entrevistar quando ouviu alguém a falar alto, na direção do seu gabinete. Quando dobrou a esquina viu Grace, em cima dos seus saltos de dez centímetros, a tentar acalmar uma Paula Carter muito estridente. Ouviu Paula dizer:
— Se for preciso, gasto até ao meu último tostão para contratar uma equipa de advogados que vão arrastar este estúdio em tribunal durante anos. Vocês estão a destruir as nossas vidas!
— Senhora Carter, porque é que não falamos no meu gabinete? — perguntou Laurie.
Laurie deixou a senhora Carter exprimir a sua raiva ao longo de vários minutos. Quando ela finalmente fez uma pausa para respirar, Laurie entregou-lhe uma cópia da autorização de participação que a filha tinha assinado.
— É uma fotocópia, no caso de estar a considerar rasgá-la. A linguagem é clara. A Casey concordou com uma entrevista sem restrições e deu-nos plenos poderes para a transmitirmos. Ela não tem poder de edição, nem autoridade para nos impedir. E lembre-se, por favor, que foi a sua filha que me abordou a pedir-me ajuda. Eu não me intrometi na sua família.
Paula estava a ler a autorização. Laurie percebeu que estava a acalmar-se.
— A senhora é mãe? — perguntou-lhe ela, calmamente.
— Sou — respondeu Laurie, com ar feliz. — Tenho um filho com nove anos.
— Deus queira que ele nunca lhe dê um desgosto. Não consigo pensar em nada mais doloroso do que isso, à exceção de perdê-la completamente.
Finalmente, a confirmação de que até mesmo a mãe de Casey acreditava que ela era culpada. Era a isso que se referia quando disse que Casey lhe tinha dado um desgosto. Fizera-o quando cometera um crime hediondo.
— Há quanto tempo sabe? — perguntou Laurie.
Paula abanou a cabeça e comprimiu os lábios.
— Não está a ser filmada, Paula. Eu não vou repetir o que me disser aqui.
— Nós tentámos acreditar nela. Eu e o Frank até rezámos para não perdermos a fé na nossa filha. Mas as provas eram impossíveis de ignorar. Vestígios de pólvora nas mãos. A droga na mala dela. E nós sabíamos bem como ela era intempestiva. Quando o Hunter começou a ensiná-la a atirar, o Frank até disse, a brincar, que a Casey era capaz de não ser a pessoa ideal a quem confiar uma arma. Ela queria, acima de tudo, vir a ser a senhora Hunter Raleigh III. Se ela achasse que ia perder isso… — A voz de Paula falhou. — Era por isso que o Frank queria que ela se declarasse culpada. Ele achava que a prisão até podia ser-lhe benéfica. Mas quinze anos? Ele não voltou a vê-la em liberdade. Laurie, a minha filha está profundamente perturbada. Há alguma maneira de eu a conseguir convencer, de mãe para mãe, a mudar para outro caso?
Laurie abanou a cabeça. O mínimo que podia fazer era ser honesta com aquela mulher.
— Eu sei que foi um erro fazer este programa — disse Paula, calmamente. — Depois de ter ido à minha casa pela primeira vez, até a Angela me perguntou se havia alguma maneira de demover a Casey de fazer isto. Ela sentia que a Casey se ia descair e acabaria por ficar com uma imagem ainda pior do que aquela que adquirira no julgamento.
— Está a dizer-me que a Angela acha que a Casey é culpada? Ela deu-me a entender precisamente o oposto.
— Ela dá essa impressão a toda a gente. Eu tento não me ressentir com o facto de a Casey atribuir à Angela os créditos pela sua lealdade inquestionável. Mas a Angela também tem as suas dúvidas. Ela diz sempre: «Se a Casey diz que não foi ela, é porque não foi», mas isso não significa que ela acredite mesmo nisso. Mas eu já me conformei há muito tempo. Eu achava que a Casey não conseguiria suportar todo aquele tempo na prisão se não acreditasse que havia pelo menos uma pessoa que estava indubitavelmente do seu lado. Por isso permito que a Angela continue a desempenhar esse papel.
— Paula, não é da minha conta, mas o que vai fazer quando o programa for para o ar? Vai permanecer em silêncio a ouvir a Casey culpar toda a gente pela morte do Hunter, a não ser ela própria? Ela já cumpriu a sentença dela. Talvez ela consiga encontrar paz se admitir o que fez, pelo menos perante a sua própria família.
— Eu já lhe disse que espero que o seu filho nunca lhe dê um desgosto. Tive o maior desgosto da minha vida quando percebi que a minha filha não confiava em mim o suficiente para me contar a verdade. E se alguma vez repetir aquilo que eu lhe disse hoje, eu irei negar, tal como a minha filha faz.