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Charlotte e Angela tinham optado por uma abordagem do tipo «dividir para reinar». Charlotte deixou a amiga continuar a trabalhar no cenário «casa» do andar de cima, enquanto ela voltava para o andar de baixo, para decidir a disposição exata do cenário da sala de ginásio situado no primeiro andar.
Retirou os colchões de ioga e os halteres dos contentores onde Angela os trouxera do escritório. Ficava sempre impressionada com a capacidade de Angela para poupar dinheiro. Tinham alugado as máquinas maiores, como as passadeiras e as máquinas de Pilates para o desfile, mas Angela tinha recolhido os objetos mais pequenos no ginásio da empresa.
Charlotte estava a tentar optar entre duas disposições diferentes que tinha esboçado, mas, quando olhou para o seu bloco de desenhos, a sua mente vagueou. Parou para ler todas as notas que Angela tinha colado à volta do primeiro andar, dirigidas aos construtores do cenário. Encontrou mais uma utilização da expressão «e também».
Retirou o iPad da pasta, abriu o email e procurou mensagens arquivadas de Angela. Quando começou a lê-las, algumas frases saltaram-lhe à vista, agora numa perspetiva diferente: «Confirmei com a empresa de eletricidade. E também temos de falar sobre a música. Vamos ao Lupa esta noite. Eles têm a melhor massa! E também há uma loja a dois quarteirões de lá que quero espreitar.»
«E também». Aquela era a expressão que Laurie tinha sublinhado em muitos dos comentários negativos publicados a respeito de Casey na Internet. Charlotte nunca se tinha apercebido, mas Angela também parecia usar muito aquela mesma expressão. «Talvez fosse comum», pensou. Por outro lado, ela não conseguia deixar de recordar os comentários de Laurie nessa tarde. «A Angela podia já ter suspeitas. Nenhuma de nós estaria nesta situação se ela nos tivesse dito desde o início que tinha dúvidas.»
Talvez Angela sempre tivesse sabido que Casey era culpada, mas não tivesse querido dizer à polícia. Casey e os pais dela tinham sido a única família de Angela desde que a mãe dela tinha morrido. Conseguia imaginar Angela, dividida entre entregar ou não a prima, se isso significasse perdê-la não só a ela, mas também à tia e ao tio. Mas publicar comentários negativos anónimos, ao mesmo tempo que se fazia passar pela sua mais leal defensora? Deixar que Charlotte defendesse a inocência de Casey perante Laurie, quando ela própria tinha dúvidas?
Charlotte não conseguia acreditar que Angela fosse tão falsa. Sentia-se tentada a confrontá-la, mas, na eventualidade de estar errada, estaria a acrescentar mais stresse à vida atual da amiga.
Foi então que se apercebeu de que podia haver outra maneira de dar descanso às suas preocupações.