62
No armazém, Charlotte estava a verificar as informações mais recentes do Departamento de Informática da Ladyform que resumiam a utilização da Internet nos computadores da empresa. A lista mensal notificava-a de todos os acessos efetuados na Ladyform, com os sites mais acedidos no topo da lista. Como era habitual, o site da própria empresa e as plataformas das redes sociais dominavam o topo da lista. Ela clicou em «control+F» no seu teclado, para aceder à função «pesquisar». Escreveu a palavra «Falatório» e clicou na tecla «Enter».
Lembrou-se de Laurie se ter queixado da velocidade com que o blogue Falatório tinha dado a notícia da libertação de Casey, e numa perspetiva muito negativa.
Dezassete acessos no último mês, todos a partir do mesmo computador. Os utilizadores estavam listados pelo número do computador e não pelos seus nomes.
Pegou no telemóvel para ligar para o Departamento de Informática, mas não tinha rede. Finalmente, apanhou duas barras de sinal na parte da frente do armazém, do lado de dentro da porta giratória de aço. Jamie, da Informática, não demorou muito a confirmar que o computador em causa era o de Angela. Ele também lhe confirmou que ela não se tinha limitado a ler o blogue. Angela tinha usado o seu computador para publicar comentários na página, como «falador anónimo». Charlotte tinha a sensação de que as datas daquelas publicações seriam as mesmas dos comentários que Laurie andava a pesquisar.
Charlotte enviou uma mensagem rápida a Laurie.
«Acho que sei quem está por trás dos comentários “e também”, acerca dos quais estavas curiosa. É complicado. Falamos hoje à noite.»
Era de compreender que Laurie não cancelasse o programa dela, mas talvez Charlotte conseguisse convencê-la a deixar Angela de fora. Charlotte nem conseguia imaginar como aquela decisão devia ter sido difícil para Angela. Ela adorava a prima, a tia e o tio, mas Casey era uma assassina. Aqueles comentários na Internet acerca da culpa de Casey deviam ter sido a maneira que ela encontrara de tentar que se fizesse justiça, sem perder por completo a única família que lhe restava.
Quando Charlotte voltou para o cenário do ginásio, Angela estava de pé, de mãos nas ancas, perto do monte de equipamento de exercício que tinha trazido da empresa. Pegou num par de halteres cor-de-rosa, de um quilo e meio cada, fez alguns exercícios e fingiu-se cansada.
— Que achas? Pomos isto tudo numa secção ou espalhamo-los à volta das máquinas maiores?
— As mentes brilhantes pensam da mesma maneira — disse Charlotte, pegando nos dois esboços alternativos que tinha andado a contemplar. — Eu também não me consegui decidir. Se calhar devíamos atirar uma moeda ao ar. Entretanto, podemos falar de uma coisa?
— Claro.
— Bom, isto é constrangedor, mas tu sabes que me podes contar tudo, não sabes?
— Claro. Que se passa?
— Eu sei do Falatório. E do RIP_Hunter. Sei que foi a maneira que tu arranjaste de tentar dizer ao mundo que a Casey era culpada.
— Mas como é que tu…
— Nós vigiamos o acesso à Internet no escritório. Reparei num padrão no mês passado. — Ela não viu necessidade de dizer a Angela que tinha andado especificamente à procura de um determinado padrão. — Só fiquei confusa com uma coisa. Tu sempre me disseste que vocês as duas eram muito próximas. Disseste-me que ela era inocente.
— Eu posso explicar, mas, sinceramente, hoje só quero deixar finalmente de pensar na Casey. Vamos decidir-nos em relação ao cenário e a seguir digo-te muito mais do que aquilo que tu queres saber acerca de mim e da minha prima. Combinado?
— Combinado.
— Passas-me aquele tapete ali?
Charlotte virou-se e inclinou-se para apanhar o tapete de ioga azul. O embate do peso de quilo e meio na sua cabeça fê-la cair no chão, onde foi envolvida por um manto de escuridão.