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Laurie estava à porta da casa de Sean Murray, à espera do automóvel da Uber que devia ter chegado há três minutos, quando lhe surgiu no ecrã do telemóvel uma mensagem.
«Acho que sei quem está por trás dos comentários “e também”, acerca dos quais estavas curiosa. É complicado. Falamos hoje à noite.»
Tentou imediatamente telefonar para Charlotte, mas a chamada foi mais uma vez para o correio de voz. Procurou outros contactos de Charlotte e ligou para o escritório dela. Foi a secretária que atendeu.
— Lamento, Laurie, ela está no armazém com a Angela. Mas deve ter o telemóvel ligado. Acabou de me pedir que lhe passasse uma chamada para o Departamento de Informática.
Aquele telefonema devia ter ocorrido mais ou menos ao mesmo tempo que Charlotte tinha enviado a mensagem acerca de RIP_Hunter.
— Sabe porque é que ela lhes estava a telefonar? — perguntou Laurie.
— Ela tinha uma pergunta acerca da utilização da Internet, quem estava a aceder ao quê nos computadores da empresa. Não iria acreditar no lixo que as pessoas consomem no horário de trabalho. É uma falta de bom senso.
Laurie pediu-lhe a morada do armazém, agradeceu-lhe pela informação e desligou. Charlotte tinha estado a ver os comentários de RIP_Hunter no escritório de Laurie. Alguma coisa naqueles comentários despertara a sua curiosidade. Se ela tivesse descoberto que era Angela quem se encontrava por detrás das publicações, corria perigo.
Estava a ligar para o 112 quando viu um monovolume preto com um autocolante da Uber na janela. Quase saltou para a frente do veículo, para garantir que o condutor a via.
— Cento e doze, qual é a emergência? — perguntou a técnica.
Laurie deu a morada do armazém apressadamente, ao mesmo tempo que subia para o banco de trás do monovolume.
— Rápido, por favor! — disse para o condutor.
— A senhora está no local? Preciso que me diga o que se está a passar.
— Desculpe, eu não estou lá. Ainda não. Mas está a minha amiga. Ela está em perigo.
A técnica falava de uma maneira muito profissional.
— Foi a sua amiga que lhe ligou? De que tipo de perigo estamos a falar?
— Ela está num armazém com uma mulher que suspeitamos ter cometido um homicídio. Ela enviou-me um SMS porque descobriu uma coisa fundamental e agora não me atende o telefone.
— Minha senhora, eu estou verdadeiramente a tentar compreendê-la, mas a senhora não está a fazer sentido.
Laurie viu o condutor a olhar pelo retrovisor com um ar desconfiado. Deu-se conta de que parecia louca. Obrigou-se a acalmar e explicou à técnica de emergência que era a produtora do programa Sob Suspeita e que uma mulher chamada Angela Hart era muito provavelmente culpada de um homicídio pelo qual alguém já tinha sido condenado.
— Ela sabe que nós desconfiamos dela. Estou muito preocupada com a minha amiga. Ela chama-se Charlotte Pierce. Por favor, é uma questão de vida ou de morte.
Viu o condutor revirar os olhos e abanar a cabeça. Para ele, ela era apenas mais uma nova-iorquina louca.
— Muito bem, minha senhora. Eu entendo a sua preocupação, mas não me relatou nenhum ato de violência, ameaças ou outro perigo concreto para a sua amiga. Vou fazer um pedido de verificação de segurança, mas pode demorar. Nós temos duas chamadas importantes naquela zona.
Como filha de um agente da polícia, Laurie sabia que uma verificação de segurança tinha um grau de prioridade mínima. Ela podia ficar horas à espera. Tentou mais uma vez, mas percebeu que as suas súplicas estavam a cair em orelhas moucas. O tempo estava a passar. Desligou e telefonou para o telemóvel do pai. Ao quarto toque, ouviu a mensagem do correio de voz a convidá-la para deixar uma mensagem.
— Pai, é uma emergência! — Ela não tinha tempo para explicar a história toda. — A prima da Casey, a Angela, é a assassina. E agora eu acho que a Charlotte está em perigo num armazém em DUMBO. A morada é Fulton Street, número cento e um, em Brooklyn. Liguei para o cento e doze, mas a técnica de emergência deu entrada com um pedido de verificação de segurança. A Charlotte não está a atender o telemóvel. Estou a ir para lá.
Quando desligou, percebeu, aflita, porque é que Leo não tinha atendido. Tinham-lhe pedido que fizesse um trabalho de consultoria para uma nova equipa de intervenção antiterrorismo. A primeira reunião decorria nessa mesma tarde, no gabinete do presidente da câmara.
«Ele é capaz de reparar numa mensagem escrita», pensou ela, e começou a escrever no teclado do telefone: «EMERGÊNCIA. VÊ MENSAGENS VOZ. LIGA-ME.»