A ALMA NA BOCA DOS ANIMAIS
Não olhem para trás a vida igual à morte.
A digestão dos sonhos é mais lenta do que
o destino final. Em qualquer língua o verbo ser
acaba sempre no matadouro. Vem depressa
beber o cálice sagrado. Escolhi um vinho e tanto
para a noite. Depois dispo-te a pele enquanto dizes:
toma-me, este é o meu corpo: eu sou
o meu corpo a caminho do teu. Não há enterro
que a carne e útil e a alma apodreceu na boca
dos animais. A substância imaculada da história
transmuta-se em matéria para gozo dos eleitos.