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O front na França

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Imediatamente após a eclosão da guerra, a Força Expedicionária Britânica, a BEF, começou a se deslocar para a França. Em meados de outubro, quatro divisões inglesas, formadas em dois corpos de exército de categoria profis­sional, estavam em posição ao longo da fronteira da França com a Bélgica e, em março de 1940, mais seis divisões haviam-se juntado a elas, somando um total de dez. À medida que nosso efetivo aumentava, assumíamos uma extensão maior da fronteira. Evidentemente, não estávamos em contato com o inimigo em nenhum ponto.

Quando a BEF chegou às posições indicadas, já encontrou preparado um fosso antitanque artificial, razoavelmente concluído ao longo da fronteira, e, aproximadamente a cada mil jardas, uma grande e visível casamata com campo de tiro para metralhadoras e canhões antitanque. Havia também uma cerca de arame contínua. Boa parte do trabalho de nossas tropas durante esse estranho outono e inverno foi aperfeiçoar as defesas construídas pelos franceses e organizar uma espécie de Linha Siegfried. Apesar das geadas, o progresso foi rápido. As fotografias aéreas mostravam a velocidade com que os alemães estavam estendendo sua própria Linha Siegfried em direção ao norte, partindo do Mosela. Malgrado as muitas vantagens de que eles desfrutavam em termos de recursos internos e mão de obra forçada, pa­recíamos estar mantendo o mesmo ritmo deles. Criaram-se instalações de grandes bases, as estradas foram melhoradas e uma linha férrea de cem milhas em bitola larga foi assentada. Quase cinquenta novos aeródromos e bases-satélites foram criados ou melhorados. Atrás de nossa frente de combate, imensas massas de provisões e munição acumulavam-se nos depósitos, ao longo de todas as linhas de comunicação. Havia suprimentos para dez dias entre o Sena e o Somme e provisões para mais sete dias ao norte do Somme. Estas últimas salvaram o exército depois do rompimento alemão. Pouco a pouco, em vista da tranquilidade vigente, muitos portos ao norte do Havre começaram a ser sucessivamente utilizados e, no fim, estávamos usando, ao todo, 13 portos franceses.

Em 1914, o espírito do exército francês, que ardia de pai para filho desde 1870, era veementemente ofensivo. Sua doutrina era que a nação numerica­mente mais fraca só poderia enfrentar a invasão através da contraofensiva, não apenas estratégica, mas também tática, em todos os pontos. Agora, via-se uma França muito diferente da que se havia atirado sobre seu antigo inimigo em agosto de 1914. O espírito de revanche tinha esgotado sua missão e havia-se extinguido na vitória. Fazia muito tempo que estavam mortos os líderes que o haviam alimentado. O povo francês passara pela assustadora carnificina de 1,5 milhão de seus homens. A ação ofensiva associava-se, na grande maioria das mentes francesas, com os fracassos iniciais da ofensiva francesa de 1914, com o rechaço do general Nivelle em 1917, com as longas agonias do Somme e de Passchendaele e, acima de tudo, com o sentimento de que o poder de fogo das armas modernas era devastador para o atacante. Nem na França nem na Inglaterra tinha havido uma compreensão clara das consequências da nova realidade, de que era possível capacitar os blindados para suportar o fogo de artilharia e avançar cem milhas por dia. Um livro esclarecedor sobre esse assunto, publicado alguns anos antes por um certo oficial chamado de Gaulle, não despertara nenhuma reação. A autoridade do idoso marechal Pétain no Conseil Supérieur de la Guerre tivera um grande peso no pensamento militar francês, fechando as portas às ideias novas e, em especial, desestimulando o que era curiosamente chamado de “armas ofensivas”.

À luz da posteridade, a política da Linha Maginot tem sido condenada. Ela certamente gerou uma mentalidade defensiva. Mas é sempre uma pre­caução sensata, quando se defende uma fronteira de centenas de milhas, barrar a entrada tanto quanto possível através de fortificações e, com isso, diminuir o emprego de tropas em trechos fixos da frente e “canalizar” as invasões potenciais. Adequadamente utilizada no esquema de guerra francês, a Linha Maginot poderia ter prestado imensos serviços à França. Poderia ser encarada como uma longa sucessão de “portões de romper cerco”, coisa de valor inestimável, saídas por onde investir contra o inimigo, e, acima de tudo, como um bloqueio à entrada em amplos setores do front, de maneira a acumular uma reserva geral ou “massa de manobra”. Considerando-se a disparidade de tamanho entre a população da França e a da Alemanha, a Linha Maginot deve ser encarada como uma medida sensata e prudente. Na verdade, é incrível que não tenha sido estendida, pelo menos, ao longo do rio Meuse. Nesse caso, ela poderia ter servido de abrigo seguro, libe­rando a pesada e afiada espada ofensiva francesa. Mas o marechal Pétain opusera-se a essa extensão. Sustentara firmemente que as Ardenas poderiam ser excluídas como rota de invasão, em virtude da natureza do terreno. E elas foram consoantemente excluídas. As concepções ofensivas da Linha Maginot tinham-me sido explicadas pelo general Giraud quando eu visi­tara Metz, em 1937. Mas elas não foram postas em prática, e a Linha não apenas absorveu um grande número de soldados profissionais e técnicos altamente treinados, como surtiu um efeito debilitante na estratégia militar e na vigilância nacional.

O novo poder aéreo foi corretamente avaliado como um fator revolu­cionário em todas as operações. Considerando-se o número pequeno de aeronaves disponíveis em qualquer dos dois lados nessa época, seus efeitos foram até exagerados e, em geral, foram considerados a favor da defensiva, por neutralizarem as concentrações e as comunicações de grandes exércitos depois de lançados ao ataque. Até mesmo o período de mobilização francesa foi considerado sumamente crítico pelo alto comando francês, em virtude da possível destruição dos centros ferroviários, embora o número de aviões alemães, tal como de aviões aliados, fosse pequeno demais para uma tarefa dessa monta. Essas ideias, expressas pelos comandantes da força aérea, esta­riam no caminho certo e seriam justificáveis em anos posteriores da guerra, depois de o poderio aéreo haver-se multiplicado dez ou vinte vezes. Mas, na eclosão do conflito, eram prematuras.

Uma piada na Inglaterra diz que o Ministério da Guerra está sempre se preparando para a guerra passada. Mas é provável que isso se aplique a outros órgãos e a outros países, e certamente se aplicou ao exército francês. Eu também tinha a impressão de que o poder da defensiva seria superior, desde que ela fosse ativamente conduzida. Mas eu não tinha nem a respon­sabilidade nem informações sistemáticas para fazer uma nova avaliação. Sabia que a carnificina da guerra anterior ficara gravada a fundo na alma do povo francês. Os alemães tinham tido tempo de construir a Linha Siegfried. Como seria terrível atirar o que restava dos homens da França contra aquela parede de fogo e concreto! Na visão que guardo dos primeiros meses desta Segunda Guerra Mundial, eu não discordava da visão geral a respeito da defensiva e acreditava que os obstáculos antitanque e as peças de campanha, posicionados com inteligência e providos de munição adequada, poderiam conter os tanques ou destruí-los, exceto na escuridão ou na neblina, real ou artificial.

Nos problemas que o Todo-Poderoso coloca diante de seus humildes servos, as coisas raramente acontecem duas vezes do mesmo modo, ou, quando parecem fazê-lo, há alguma variação que anula a generalização indevida. A mente humana, salvo quando guiada por uma genialidade ex­traordinária, não consegue superar as conclusões aceitas em meio às quais é criada. Mas, após oito meses de inatividade de ambos os lados, estávamos prestes a assistir a uma vasta ofensiva hitlerista, liderada por massas com pontas de lança de carros à prova de canhões ou fortemente blindados, rompendo qualquer oposição defensiva e, pela primeira vez em séculos, ou talvez até desde a invenção da pólvora, tornando a artilharia, por algum tempo, quase impotente no campo de batalha. Também estávamos prestes a ver que o aumento do poder de fogo tornava a batalha propriamente dita, o combate, menos sangrento, por permitir guardar-se o terreno necessário com um número mais reduzido de homens e, com isso, oferecer um alvo humano muito menor.

Seja como for, a primeira data em que os franceses poderiam ter mon­tado um grande ataque talvez fosse o final da terceira semana de setembro. Mas, a essa altura, a campanha polonesa estava encerrada. Em meados de outubro, os alemães tinham setenta divisões na frente ocidental. A ligeira superioridade numérica francesa no Ocidente estava acabando. Uma ofen­siva francesa, partindo de sua frente oriental, teria deixado a descoberto a fronteira norte, que era muito mais vital. Mesmo que os exércitos franceses obtivessem um sucesso inicial, em um mês teriam extrema dificuldade para manter suas conquistas no leste e ficariam expostos a toda a força do contra-ataque alemão ao norte.

É essa a resposta à pergunta “por que continuar passivos até a Polônia ser destruída?”. A batalha já fora perdida alguns anos antes. Em 1938, teria havido uma boa probabilidade de vitória, enquanto a Tchecoslováquia ain­da existia. Em 1936, não teria havido nenhuma possibilidade de oposição efetiva. Em 1933, um édito de Genebra teria garantido a obediência sem derramamento de sangue. O general Gamelin não pode ser a única pessoa a ser responsabilizada pelo fato de, em 1939, não ter corrido os riscos que haviam aumentado enormemente desde a crise anterior, da qual tanto o governo francês quanto o inglês haviam recuado.

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Quais eram, pois, as probabilidades de uma ofensiva alemã contra a França? Havia, é claro, três métodos possíveis. Primeiro, uma invasão pela Suíça. Ela poderia contornar o flanco sul da Linha Maginot, mas teria muitas dificuldades geográficas e estratégicas. Segundo, uma invasão da França cruzando a fronteira comum. Isso parecia improvável, já que não se acreditava que o exército alemão estivesse plenamente equipado ou armado para um ataque maciço à Linha Maginot. E, terceiro, uma invasão da França através da Holanda e da Bélgica. Ela contornaria a Linha Maginot e não acarretaria as perdas que tenderiam a ocorrer num ataque frontal contra fortificações permanentes. Não poderíamos enfrentar uma investida pelos Países Baixos num ponto tão avançado como a Holanda, mas era de interesse dos aliados detê-la, se possível, na Bélgica. Havia, nesse período, duas linhas pelas quais os aliados poderiam avançar, se resolvessem ir em socorro desse país, ou que poderiam ocupar através de um esquema secreto, repentino e bem planejado, se fossem convidados. A primeira dessas linhas era o que podemos chamar linha Schelde.1 Não ficava a uma grande distância da fronteira francesa e implicava poucos riscos sérios. Na pior das hipóteses, não faria mal mantê-la como um “falso front”. Na melhor, ela poderia ser construída conforme os acontecimentos. A segunda linha era muito mais ambiciosa. Seguia o Meuse, atravessando Givet, Dinat e Namur e passando por Louvain, em direção a Antuérpia. Se essa linha arriscada fosse ocupada pelos aliados e preservada nas batalhas difíceis, o braço direito da invasão alemã ficaria seriamente comprometido; e, se seus exércitos se revelassem inferiores, isso seria um prelúdio admirável para a entrada e o controle do centro vital de produção de material bélico da Alemanha, no vale do Ruhr.

“Entendemos”, escreveram os chefes de estado-maior, “que a ideia francesa [conhecida como Plano D] é que, desde que os belgas continuem a resistir no Meuse, os exércitos franceses e ingleses devem ocupar a linha Givet-Namur, com a Força Expedicionária Britânica operando à esquerda. Consideramos que não seria sensato adotar esse plano, a menos que haja planos conjuntos com os belgas para a ocupação dessa linha, com tempo suficiente antes do avanço dos alemães. (...) A menos que a atual atitude belga se altere e que se possam elaborar planos para a ocupação precoce da linha Givet-Namur [também chamada Meuse-Antuérpia], somos da forte opinião de que o avanço alemão deve ser enfrentado nas posições preparadas na fronteira francesa.

O Conselho Supremo Aliado reuniu-se em Paris em 17 de novembro. Mr. Chamberlain levou consigo Lord Halifax, Lord Chatfield e Sir Kingsley Wood. A decisão foi tomada: “Dada a importância de conter as forças alemãs o mais a leste possível, é essencial envidar todos os esforços para preservar a linha Meuse-Antuérpia, na eventualidade de uma invasão alemã da Bélgica.” Nessa reunião, Mr. Chamberlain e M. Daladier insistiram na importância que atribuíam a essa resolução e, a partir daí, ela regeu todas as providências. Com essa postura, portanto, passamos o inverno e esperamos a primavera. Nenhuma nova decisão sobre princípios estratégicos foi tomada pelo estado-maior francês, inglês ou por seus governos nos seis meses que nos separavam da avalanche alemã.

Durante o inverno e a primavera, a BEF esteve extremamente ocupada, instalando-se, fortificando sua fronteira e se preparando para a guerra, fosse ofensiva ou defensiva. Do posto mais alto ao mais baixo, todos estavam di­ligentemente empenhados nisso, e o bom rendimento que acabaram tendo deveu-se essencialmente à plena utilização das oportunidades surgidas du­rante o inverno. O exército inglês estava muito melhor no final da “Guerra Imperceptível”. Também estava maior. Mas a lacuna terrível, que refletia nossas providências de antes da guerra, era a ausência até mesmo de uma única divisão blindada na Força Expedicionária Britânica. A Inglaterra, berço do tanque em todas as suas variações, havia, no entreguerras, negligenciado a tal ponto o desenvolvimento dessa arma que logo dominaria os campos de batalha, que, oito meses depois da declaração de guerra, nosso pequeno mas eficiente exército só tinha, quando chegou a hora da provação, a 1a Brigada de Tanques, que compreendia 17 tanques leves com canhões de duas libras e cem tanques “de infantaria”. Apenas 23 destes últimos tinham o canhão de duas libras, enquanto o restante tinha apenas metralhadoras. Havia também sete regimentos de cavalaria e da Guarda Real, equipados com veículos de transporte e tanques leves, que estavam em processo de formação de duas brigadas de blindados ligeiros.

Os progressos na frente francesa eram menos satisfatórios. Numa grande força nacional de recrutas, o estado de espírito do povo reflete-se intima­mente em seu exército, ainda mais quando esse exército fica aquartelado na própria pátria e os contatos são estreitos. Não se pode dizer que, em 1939-1940, a França encarasse a guerra com ânimo, ou sequer com muita confiança. A tumultuada política interna da década anterior havia semeado desunião e insatisfação. Elementos importantes, em reação ao comunismo crescente, haviam pendido para o fascismo, ouvindo de bom grado a hábil propaganda de Goebbels e passando-a adiante sob a forma de mexericos e boatos. Assim, também no exército a influência desintegradora do comu­nismo e do fascismo entraram em ação; os longos meses hibernais de espera deram tempo e oportunidade para que os venenos se instalassem.

Inúmeros fatores contribuem para a instauração de um moral elevado em qualquer exército, mas um dos principais é que os homens estejam plenamente empenhados em trabalhos úteis e interessantes. O ócio é um perigoso campo de cultura. Durante todo o inverno, havia muitas tarefas que precisavam ser cumpridas: o treinamento exigia atenção contínua; as defesas estavam longe de ser satisfatórias ou de estar concluídas — até na Linha Maginot faltavam muitos trabalhos suplementares de campo; e a boa forma física requer exercício. No entanto, os visitantes da frente de com­bate francesa costumavam surpreender-se com o clima vigente de sereno alheamento, com a qualidade aparentemente precária do trabalho que era executado e com a falta de qualquer tipo de atividade visível. O vazio das estradas atrás da fronteira fazia um enorme contraste com o vaivém contínuo que se estendia por milhas atrás do setor inglês.

Sem a menor dúvida, permitiu-se que a qualidade do exército francês se deteriorasse durante o inverno, e ele teria lutado melhor no outono do que na primavera. Em pouco tempo, seria surpreendido pela rapidez e pela violência do ataque alemão. Somente nas últimas fases dessa breve campanha é que as verdadeiras qualidades de luta do soldado francês elevaram-se ao máximo em defesa da pátria contra o inimigo de séculos. Mas, a essa altura, já era tarde demais.

Em 10 de janeiro de 1940, as inquietações relativas à frente ocidental receberam uma confirmação. Um major alemão do estado-maior da 7ª Divisão Aeroterrestre havia recebido ordens de levar alguns documentos ao QG em Colônia. Perdeu o trem e decidiu voar. Seu avião errou o local de pouso e fez uma aterrissagem forçada na Bélgica, onde as tropas belgas o prenderam e confiscaram seus papéis, que ele tentou desesperadamente destruir. Os papéis continham o esquema completo e efetivo da invasão da Bélgica, Holanda e França pelo qual Hitler se havia decidido. Pouco depois, o major alemão foi libertado, para explicar o assunto a seus superiores. Fui informado de tudo isso na época e me pareceu incrível que os belgas não fizessem um plano para nos convidar a entrar no país. Mas eles não tomaram nenhuma providência. Afirmou-se, nos três países implicados, que aquilo provavelmente constituía uma pista falsa. Mas isso não podia ser verdade. Não haveria nenhum sentido em os alemães tentarem fazer os belgas acre­ditarem que iriam ser atacados num futuro próximo. Isso poderia levá-los a realmente fazer a última coisa que os alemães desejavam, ou seja, traçar um plano com os exércitos franceses e ingleses para que eles avançassem, em surdina e rapidamente, numa bela noite. Por conseguinte, acreditei no ataque iminente.

Apelamos para a Bélgica, mas o rei belga e o estado-maior de seu exército simplesmente aguardaram, na esperança de que tudo acabasse bem. Apesar dos papéis do major alemão, nenhuma outra medida de qualquer tipo foi tomada pelos aliados ou pelos países ameaçados. Hitler, por outro lado, como sabemos, convocou Göring a sua presença e, ao ser informado de que os papéis capturados tinham sido, de fato, os planos completos da invasão, ordenou, depois de dar vazão à sua raiva, que se preparassem alternativas. Naturalmente, se a política inglesa e francesa nos cinco anos anteriores à guerra tivesse sido de caráter viril e resoluto, dentro da santidade dos tra­tados e da aprovação da Liga das Nações, a Bélgica poderia ter aderido aos seus antigos aliados e permitido que se formasse uma frente comum. Uma aliança como essa, adequadamente organizada, teria erguido um escudo ao longo da fronteira belga, até o mar, contra o terrível envolvimento que quase selara nossa destruição em 1914 e que teria um papel a desempenhar no destroçamento da França em 1940. Na pior das hipóteses, a Bélgica não poderia sofrer um destino pior do que o que efetivamente lhe coube. Quando nos recordamos da indiferença americana, da campanha de Mr. Ramsay MacDonald em prol do desarmamento da França, dos rechaços e humilhações reiterados que aceitamos por ocasião dos vários descumprimentos alemães das cláusulas de desarmamento do Tratado, de nossa submissão à violação alemã da Renânia, de nossa aquiescência na absorção da Áustria, de nosso pacto em Munique e da aceitação da ocupação alemã de Praga — quando nos lembramos de tudo isso, nenhum cavalheiro da Inglaterra ou da França que tenha sido responsável pela administração pública naqueles anos tem o direito de recriminar a Bélgica. Num período de hesitação e apaziguamento, os belgas agarraram-se à neutralidade e se consolaram em vão com a crença de que seriam capazes de deter o invasor alemão em suas fronteiras fortificadas, até que os exércitos ingleses e franceses pudessem acudir em seu socorro.

1 O rio Escalda. (N.T.)