A corrida aos despojos
A amizade entre os povos inglês e italiano vinha da época de Garibaldi e Cavour. Todas as etapas da libertação do norte da Itália do jugo da Áustria e todos os passos em direção à unidade e à independência italianas haviam conquistado as simpatias do liberalismo vitoriano. A influência inglesa contribuíra de forma poderosa para a adesão dos italianos à causa aliada na Primeira Guerra Mundial. A ascensão de Mussolini e o estabelecimento do fascismo em oposição ao bolchevismo haviam, em suas fases iniciais, dividido a opinião pública inglesa, conforme as diferentes orientações partidárias, mas não haviam afetado as amplas bases da boa vontade entre os povos. Vimos que Mussolini se havia alinhado com a Inglaterra na oposição ao hitlerismo e às ambições alemãs, até que seus projetos contra a Abissínia criaram graves problemas. Narrei a triste história de como a política de Baldwin-Chamberlain em relação à Abissínia nos trouxe o pior de dois mundos, do como alienamos o ditador italiano sem quebrar-lhe o poder e de como a Liga das Nações ficara prejudicada sem que a Abissínia fosse salva. Também testemunhamos os esforços diligentes, mas inúteis, de Mr. Chamberlain, de Sir Samuel Hoare e de Lord Halifax para reconquistar a amizade perdida de Mussolini durante o período do apaziguamento. E, por último, houve o aumento da convicção de Mussolini de que o sol inglês chegara ao ocaso e de que o futuro da Itália, com a ajuda da Alemanha, poderia alicerçar-se nos destroços do nosso Império. Isso foi seguido pela criação do Eixo Berlim-Roma, segundo o qual era perfeitamente possível esperar que a Itália entrasse na guerra contra a Inglaterra e a França desde o primeiro dia do conflito.
Certamente, para Mussolini, foi apenas um ato comum de prudência ver como a guerra transcorreria, antes de se comprometer, e comprometer seu país, de forma irreversível. O processo de espera não foi nada improfícuo. A Itália foi cortejada pelos dois lados e granjeou muita consideração por seus interesses, muitos contratos lucrativos e tempo para aperfeiçoar seus armamentos. Assim transcorreram os meses da Guerra Imperceptível. É uma especulação interessante indagar qual teria sido o destino italiano se essa política se houvesse mantido. Os Estados Unidos, com seu grande eleitorado italiano, bem poderiam ter deixado claro a Hitler que qualquer tentativa de arregimentar a Itália para seu lado pela força provocaria as mais graves consequências. A paz, a prosperidade e um poderio crescente poderiam ter constituído o prêmio por uma neutralidade continuada. Depois de Hitler se enredar na Rússia, essa situação favorável poderia ter-se prolongado por tempo quase indefinido, com benefícios cada vez maiores, e Mussolini poderia ter-se destacado, na paz ou no último ano da guerra, como o mais sábio estadista já conhecido pela ensolarada península e por seu povo trabalhador e inventivo. Teria sido uma situação mais agradável do que a que de fato o esperava.
Nas duas ocasiões em que eu havia encontrado Mussolini, em 1927, nossas relações pessoais tinham sido íntimas e afáveis. Eu nunca teria incentivado a Inglaterra a se afastar dele por causa da Abissínia ou levantado a Liga das Nações contra ele, a menos que estivéssemos dispostos a guerrear até as últimas consequências. Como Hitler, ele compreendia e, de certa maneira, respeitava minha campanha pelo rearmamento inglês, embora ficasse muito satisfeito com o fato de a opinião pública inglesa não apoiar minha posição.
Na crise a que então chegamos, com a desastrosa Batalha da França, era claramente meu dever, na condição de primeiro-ministro, fazer o máximo possível para manter a Itália fora da guerra. Embora eu não me entregasse a esperanças ilusórias, usei prontamente todos os recursos e influência que possuía. Seis dias depois de me tornar chefe do governo, redigi, por desejo do Gabinete, o apelo a Mussolini que, juntamente com sua resposta, foi publicado dois anos depois, em circunstâncias muito diferentes. Era datado de 16 de maio de 1940.
Agora que assumi o cargo de primeiro-ministro e ministro da Defesa, relembro nossos encontros em Roma e sinto o desejo de lhe expressar palavras de boa vontade, em sua condição de Chefe da nação italiana, transpondo o que se afigura um abismo cada vez maior. Acaso será tarde demais para impedirmos que um rio de sangue venha a fluir entre os povos inglês e italiano? Está fora de dúvida que podemos infligir-nos danos mútuos deploráveis e machucar cruelmente uns aos outros, enegrecendo o Mediterrâneo com nossa luta. Se essa for sua determinação, assim terá que ser; mas declaro que nunca fui inimigo da grandeza italiana, nem jamais abriguei no coração uma inimizade contra o Legislador italiano. É especulativo prever o curso das grandes batalhas que hoje se travam na Europa, mas estou certo de que, haja o que houver no continente, a Inglaterra prosseguirá até o fim, ainda que inteiramente só, como fizemos antes, e creio, com alguma certeza, que seremos ajudados em medida cada vez maior pelos Estados Unidos e, a rigor, por todas as Américas.
Rogo-lhe acreditar que não é movido pela fraqueza ou pelo medo que faço este apelo solene, que ficará registrado. Desde as mais remotas eras, acima de todos os outros pleitos, eleva-se o apelo de que os herdeiros comuns da civilização latina e cristã não se alinhem uns contra os outros em combate mortal. Atenda-o, é o que lhe rogo, com toda a honra e respeito, antes que seja dado o terrível sinal. Ele nunca será dado por nós.
A resposta foi áspera. Mas teve ao menos o mérito da franqueza.
Respondo à mensagem que o senhor me enviou para lhe dizer que, certamente, o senhor está a par das graves razões de caráter histórico e circunstancial que alinharam nossos dois países em campos opostos. Sem remontar muito no tempo, recordo-lhe a iniciativa tomada por seu governo, em 1935, de organizar em Genebra sanções contra a Itália, empenhada em conquistar para si um pequenino espaço sob o sol africano, sem causar o menor prejuízo a seus interesses e territórios ou aos de terceiros. Relembro-lhe também a situação real e atual de servidão em que se encontra a Itália em seu próprio mar. Se foi para honrar sua assinatura que seu governo declarou guerra à Alemanha, o senhor há de compreender que o mesmo sentimento de honra e respeito pelos compromissos assumidos no Tratado Ítalo-Germânico norteia a política italiana, hoje e no futuro, ante qualquer acontecimento.
Desse momento em diante, não podíamos ter em dúvida a intenção de Mussolini de entrar em guerra quando a oportunidade lhe fosse mais favorável. Sua decisão fora tomada, na verdade, tão logo a derrota dos exércitos franceses se evidenciara. Em 13 de maio, ele dissera a Ciano que declararia guerra à França e à Inglaterra dentro de um mês. Sua decisão oficial de declarar guerra em qualquer data apropriada, depois de 5 de junho, foi comunicada aos chefes de estado-maior italianos em 29 de maio. A pedido de Hitler, essa data foi adiada para 10 de junho.
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Em 26 de maio, enquanto o destino dos exércitos do norte estava em suspenso e ninguém podia ter certeza de que alguém escaparia, Reynaud voou até a Inglaterra para conversar conosco sobre esse tema, que não estivera ausente dos nossos pensamentos. A declaração de guerra italiana era esperada para qualquer momento. Assim, a França teria nova frente e um novo inimigo avançaria vorazmente sobre ela pelo sul. Seria possível fazer alguma oferta a Mussolini para nos livrar dele? Foi essa a pergunta formulada. Não me parecia que houvesse a mínima chance, e cada fato usado pelo premier francês como argumento favorável a uma tentativa só fez aumentar minha certeza de que não havia esperança. Entretanto, Reynaud estava sofrendo intensas pressões internas e nós, por nosso lado, queríamos dar toda a consideração à nossa aliada, cuja única arma vital, seu exército, estava se esfacelando em suas mãos. Embora não houvesse necessidade de enumerar os graves fatos, M. Reynaud discorreu de maneira nada obscura sobre uma possível retirada francesa da guerra. Pessoalmente, ele continuaria na luta, mas sempre havia a possibilidade de que logo fosse substituído por outros, de ânimo diferente.
Em 25 de maio, a pedido do governo francês, já havíamos feito uma solicitação conjunta ao presidente Roosevelt para que ele interviesse. Nessa mensagem, a Inglaterra e a França haviam-no autorizado a declarar que entendíamos que a Itália tinha queixas territoriais contra nós no Mediterrâneo, que estávamos dispostos a considerar prontamente qualquer reivindicação razoável, que os aliados aceitariam a Itália na Conferência de Paz, com status idêntico ao de qualquer nação beligerante, e que solicitaríamos ao presidente que se certificasse do cumprimento de qualquer acordo então firmado. O presidente tomara providências nesse sentido, mas suas declarações tinham sido repelidas pelo ditador italiano da maneira mais brusca. Em nossa reunião com Reynaud, já dispúnhamos dessa resposta. O premier francês sugeriu então algumas propostas mais precisas. Obviamente, se elas se destinavam a remediar o “estado de servidão [da Itália] em seu próprio mar”, deveriam afetar tanto a situação de Gibraltar quanto a de Suez. A França estava disposta a fazer concessões similares quanto a Túnis.
Não pudemos demonstrar nenhum apoio a essas ideias. Não que fosse errado examiná-las, ou que não parecesse valer a pena, naquele momento, pagar um preço elevado para manter a Itália fora da guerra. Meu sentimento pessoal era que, no ponto em que estavam nossas negociações, não tínhamos nada a oferecer que Mussolini não pudesse tomar sozinho ou que não lhe fosse concedido por Hitler, caso fôssemos derrotados. Não é fácil fazer uma barganha no último suspiro. Uma vez que começássemos a negociar, através da mediação amistosa do Duce, destruiríamos nosso poder de continuar na luta. Meus colegas mostraram-se muito firmes e inflexíveis. Todos estávamos muito mais concentrados na ideia de bombardear Milão e Turim, no momento em que Mussolini declarasse guerra, para ver se ele gostava. Reynaud, que no fundo não discordava disso, pareceu convencido ou, pelo menos, satisfeito. Mas isso não impediu o governo francês, alguns dias depois, de fazer sua própria oferta direta de concessões territoriais à Itália, que Mussolini tratou com desdém. “Ele não está interessado”, disse Ciano ao embaixador francês em 3 de junho, “em recuperar nenhum território francês através da negociação pacífica. Está decidido a guerrear com a França.” Era exatamente o que havíamos esperado.
Apesar do extremo empenho americano, nada conseguiu desviar Mussolini de seu rumo. No dia 10 de junho, às 16h45, o ministro italiano do Exterior informou ao embaixador inglês que a Itália se consideraria em guerra com o Reino Unido a partir da meia-noite daquele dia. Um comunicado semelhante foi feito ao governo francês. Quando Ciano entregou sua nota ao embaixador francês, M. François-Poncet comentou, da porta: “Vocês também vão descobrir que os alemães são dominadores implacáveis.” De sua sacada em Roma, Mussolini anunciou à multidão bem-organizada que a Itália estava em guerra com a França e a Inglaterra. Ao que parece, Ciano teria comentado mais tarde, em tom apologético, que aquela era “uma oportunidade que só aparece uma vez em cada cinco mil anos”. Essas oportunidades, conquanto raras, não são necessariamente boas.
Os italianos atacaram imediatamente as tropas francesas na frente alpina e, retribuindo esse gesto, a Inglaterra declarou guerra à Itália. Cinco navios italianos detidos em Gibraltar foram tomados e a marinha recebeu ordens de interceptar e levar para portos controlados todas as embarcações italianas que estivessem no mar. Na noite do dia 12, nossas esquadrilhas de bombardeiros, após um longo voo iniciado na Inglaterra — o que significava cargas leves — lançaram suas primeiras bombas sobre Turim e Milão. Ansiávamos, no entanto, por um ataque muito mais intenso, tão logo pudéssemos usar os aeroportos franceses em Marselha.
Os franceses só conseguiram juntar três divisões, com tropas de apoio equivalentes a mais três, para enfrentar a invasão nos desfiladeiros alpinos e ao longo da costa da Riviera pelo grupo ocidental de exércitos italianos. Estes abrangiam 32 divisões, sob o comando do príncipe Umberto. Além disso, uma poderosa massa de blindados alemães, descendo rapidamente pelo vale do Ródano, logo começou a penetrar na retaguarda francesa. Ainda assim, os italianos continuaram a ser enfrentados e até imobilizados pelas unidades alpinas francesas em todos os pontos do novo front, mesmo depois da queda de Paris e da tomada de Lyon pelos alemães. Quando, em 18 de junho, Hitler e Mussolini encontraram-se em Munique, o Duce tinha pouca coisa de que se gabar. Uma nova ofensiva italiana foi lançada em 21 de junho. As posições francesas nos Alpes, entretanto, revelaram-se inexpugnáveis, e o grande ataque italiano em direção a Nice foi barrado nos arredores de Mentone. Embora o exército francês na fronteira sudeste salvasse sua honra, a marcha alemã para o sul, pela sua retaguarda, impossibilitou a continuação da luta, e a conclusão do armistício com a Alemanha foi vinculada a um pedido francês de cessação das hostilidades por parte da Itália.
Um discurso do presidente Roosevelt fora anunciado para a noite de 10 de junho. Por volta da meia-noite, escutei-o na companhia de um grupo de oficiais na sala de guerra do almirantado, onde eu ainda trabalhava. Quando ele proferiu suas palavras contundentes sobre a Itália — “Neste 10 de junho de 1940, a mão que tinha o punhal cravou-o nas costas do seu vizinho” —, houve um intenso murmúrio de satisfação. Fiquei pensando nos votos ítalo-americanos na eleição presidencial que se aproximava; mas eu sabia que Roosevelt era um político americano sumamente experiente, embora nunca temesse correr riscos por suas decisões. Foi um discurso magnífico, impregnado de paixão, que nos transmitiu uma mensagem de esperança. Enquanto essa impressão se mantinha viva em mim, e antes de me deitar, expressei minha gratidão.
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Começara a corrida pelos despojos. Mas Mussolini não foi o único animal faminto atrás dos restos. Ao Chacal veio juntar-se o Urso.
Já relatei o curso das relações anglo-soviéticas até a eclosão da guerra, bem como a hostilidade, beirando um efetivo rompimento com a Inglaterra e a França, que surgira durante a invasão russa da Finlândia. A essa altura, a Alemanha e a Rússia trabalhavam juntas, tão estreitamente quanto o permitiam suas profundas divergências de interesses. Hitler e Stalin tinham muito em comum, como governantes totalitários, e seus sistemas de governo eram afins. Molotov esbanjava sorrisos com o embaixador alemão, o conde Schulenburg, em todas as ocasiões importantes, e era solícito e fastidiosamente lisonjeiro em sua aprovação à política alemã e em seus elogios às medidas militares de Hitler. Desferido o ataque alemão contra a Noruega, ele afirmara que o governo soviético compreendia as medidas que se haviam imposto à Alemanha. Os ingleses, com certeza, tinham ido longe demais. Haviam desconsiderado por completo os direitos das nações neutras. “Desejamos à Alemanha pleno sucesso em suas medidas defensivas.” Hitler se empenhara em informar Stalin, na manhã de 10 de maio, sobre o ataque que havia iniciado contra a França e os Países Baixos, neutros. “Fiz uma visita a Molotov”, escreveu Schulenburg. “Ele gostou da notícia e acrescentou compreender que a Alemanha tinha de se proteger contra um ataque anglo-francês. Não manifestou nenhuma dúvida quanto ao nosso sucesso.”
Embora, naturalmente, essas expressões de sua opinião fossem desconhecidas até depois da guerra, não tínhamos ilusões sobre a atitude russa. Mesmo assim, mantivemos uma paciente política de tentar restabelecer relações de caráter confidencial com a Rússia, confiando no desenrolar dos acontecimentos e nos antagonismos fundamentais daquele país com a Alemanha. Julgou-se aconselhável empregar as habilidades de Sir Stafford Cripps como embaixador em Moscou. Ele aceitou de bom grado essa tarefa triste e pouco promissora. Naquele momento, não nos apercebêramos suficientemente de que os comunistas soviéticos odeiam mais os políticos de extrema esquerda do que os conservadores ou liberais. Quanto mais um homem se aproxima do comunismo em seus sentimentos, mais ele é detestado pelos soviéticos, a menos que se junte ao partido. O governo soviético concordou em receber Cripps como embaixador e explicou essa medida a seus confederados nazistas. Escreveu Schulenburg a Berlim em 29 de maio:
A União Soviética está interessada em obter borracha e estanho da Inglaterra, em troca de madeira. Não há motivo para apreensão no que concerne à missão de Cripps, já que não há razão para duvidarmos da atitude leal da União Soviética para conosco, e já que o rumo inalterado da política soviética em relação à Inglaterra previne prejuízos para a Alemanha ou para os interesses vitais alemães. Não há aqui nenhum tipo de indício que leve a crer que os recentes sucessos alemães provoquem sobressalto ou medo da Alemanha no governo soviético.
A queda da França e a destruição dos exércitos franceses e de qualquer elemento de contrapeso no Ocidente deveriam ter produzido alguma reação na mente de Stalin, mas nada pareceu advertir os líderes soviéticos da gravidade de seu próprio perigo. Em 18 de junho, quando se consumou a derrota francesa, Schulenburg relatou: “Molotov chamou-me a seu gabinete esta noite e expressou as mais calorosas congratulações do governo soviético pelo esplêndido sucesso das forças armadas alemãs.” Isso ocorreu quase exatamente um ano antes da data em que essas mesmas forças armadas, tomando o governo soviético inteiramente de surpresa, desabaram sobre a Rússia em cascatas de fogo e aço. Sabemos agora que, apenas quatro meses depois, em 1940, Hitler decidiu-se definitivamente por uma guerra de extermínio contra os soviéticos e iniciou a longa, vasta e sub-reptícia movimentação desses tão congratulados exércitos alemães em direção ao Leste. Nenhuma lembrança de seus erros de avaliação e de sua conduta anterior jamais impediu o governo soviético, bem como seus agentes e associados comunistas no mundo inteiro, de bradarem por uma “segunda frente”, na qual a Inglaterra, que eles haviam condenado à ruína e à servidão, viria a desempenhar um papel preponderante. Nós, entretanto, compreendíamos o futuro com mais realismo do que esses frios calculistas. Compreendíamos seus perigos e seus interesses melhor do que eles mesmos.
Em 14 de junho, dia da queda de Paris, Moscou enviou um ultimato à Lituânia, acusando essa nação e os outros países bálticos de conspiração militar contra a URSS e exigindo mudanças radicais de governo, além de concessões militares. Em 15 de junho, soldados do Exército Vermelho invadiram o país. A Letônia e a Estônia foram submetidas ao mesmo tratamento. Urgia instaurar imediatamente governos pró-soviéticos e instalar guarnições soviéticas nesses pequenos países. A resistência estava fora de questão. O presidente da Letônia foi deportado para a Rússia e Mr. Vyshinsky chegou ao país para nomear um governo provisório, encarregado de promover as eleições seguintes. Na Estônia, o padrão foi idêntico. Em 19 de junho, Zhdanov chegou para instaurar um regime semelhante. Em 3-6 de agosto, o simulacro de governos pró-soviéticos amistosos e democráticos foi varrido por completo e o Kremlin anexou as nações do Báltico à União Soviética.
Um ultimato russo à Romênia foi entregue ao embaixador romeno em Moscou às 22 horas de 26 de junho. A cessão da Bessarábia e da região norte da província de Bukovina foi exigida, solicitando-se uma resposta imediata no dia seguinte. A Alemanha, embora aborrecida com essa ação precipitada da Rússia, que ameaçava seus interesses econômicos na Romênia, estava comprometida nos termos do pacto Ribbentrop-Molotov de agosto de 1939, que reconhecia o interesse político exclusivo da Rússia nessas áreas do sudeste Europeu. Assim, o governo alemão aconselhou a Romênia a ceder. Em 27 de junho, as tropas romenas foram retiradas das duas províncias em questão e os territórios passaram para as mãos dos russos. As forças armadas da União Soviética, a partir de então, ficaram solidamente plantadas nas praias do Báltico e no estuário do Danúbio.