Capítulo 28

Sexta-feira, 11 de julho de 2014

7h20

A detetive Baxter não teve escolha senão deixar seu Audi no terreno de uma obra abandonada, repleto de entulho, transformado num estacionamento com a simples adição de uma máquina de tíquetes na entrada. Chegou a recear que tivesse estragado os pneus do carro e não gostou nem um pouco disso, pois era sempre muito cuidadosa e tinha a si mesma na conta de uma excelente motorista.

Estava a caminho do apartamento de Ashley com a missão de orientá-la para a transferência que aconteceria no fim daquele mesmo dia. Por instrução de Vanita o envolvimento deles deveria se reduzir ao mínimo possível: ela e Edmunds buscariam a garçonete num carro comum para depois seguir ao encontro de Simmons nos subúrbios da cidade, onde ela mudaria de carro para ser levada até o barco do Serviço de Proteção Civil na costa sul do país. Como das outras vezes, o destino final não havia sido revelado a ninguém.

Emily subiu para o terceiro andar do prédio e os dois policiais sonolentos ficaram de pé para recebê-la à porta do apartamento. Ela sacou seu distintivo e se apresentou.

– Acho melhor você esperar um pouquinho antes de entrar – recomendou a mulher com um sorriso irônico.

O colega dela parecia bravo. A sargento Baxter ignorou o conselho e fincou o dedo na campainha.

– Estou com pressa – disse e viu os dois sentinelas trocarem um olhar de irritação.

– Eu avisei. Eles não devem ter levantado ainda.

– Eles? – perguntou Baxter.

Nesse mesmo instante a porta se abriu. Wolf ainda terminava de abotoar a camisa quando congelou de tensão ao deparar com Emily à sua frente.

– Oi – balbuciou ele.

A expressão no rosto de Emily passou de uma coisa a outra numa questão de segundos: primeiro surpresa, depois mágoa e então fúria. Sem dizer palavra, ela fechou a mão em punho e jogou todo o peso do corpo num murro contra Wolf, acertando-o no olho esquerdo, fazendo-o cambalear para trás. Os sentinelas arregalaram os olhos, perplexos, mas nenhum dos dois se adiantou para intervir.

Emily sacudiu a mão no ar para espantar a dor, achando que tivesse quebrado um osso qualquer. Calada como antes, deu as costas para Wolf e irrompeu de volta para o corredor.

– Emily! Espera aí, porra! – Wolf descera atrás dela e tentava alcançá-la no chão esburacado do estacionamento. – Detesto ter de apelar pra isso, mas em três dias eu posso estar morto! Por favor, vamos conversar!

Muito a contragosto Emily parou onde estava e se virou, cruzando os braços, bufando de impaciência.

– Não somos um casal – soltou Wolf. – Nunca fomos.

Ela revirou os olhos e saiu caminhando na direção do Audi.

– Somos outra coisa – disse ele com sinceridade. – Outra coisa confusa, irritante, bagunçada e especial. Mas não um casal. Você não pode ficar puta comigo por causa disso.

– Vai, Wolf, continua sendo você mesmo e fazendo só aquilo que te dá na telha.

– E vou mesmo. É exatamente isso que estou querendo dizer. Não tenho nenhuma vocação pra casal. A Andrea é testemunha disso.

Ela ameaçou correr de novo, mas Wolf a segurou delicadamente pelo braço.

– Me larga! – gritou ela.

E ele obedeceu.

– Olha, eu só queria que você soubesse que... – começou, mas precisou pensar um instante para encontrar as palavras certas. – A despeito do que eu tenha feito... nunca foi minha intenção magoar você.

Emily descruzou os braços e fincou os olhos nele por um bom tempo.

– Vá se foder, Wolf – disparou ela, e saiu marchando na direção do prédio de Ashley.

Apesar de triste, Wolf não a seguiu. Mas gritou:

– Baxter! Proteja a menina! Se ele não conseguir pegar a Ashley, acho que irá atrás dela!

A detetive Baxter saiu para a avenida e sumiu de vista sem ao menos virar o rosto.

Após a ausência de quórum do dia anterior, Vanita remarcou a reunião de follow-up para as nove e meia. Emily Baxter entrou no salão e correu apressadamente para sua mesa. Estava atrasada. Graças a Wolf, demorara mais que o previsto no seu gélido encontro com Ashley Lochlan, depois tivera de enfrentar o trânsito infernal da manhã para voltar ao centro da cidade. ­Edmunds surgiu à sua frente antes mesmo que ela pudesse largar a bolsa na mesa engordurada, lembrança deixada pelo jantar de alguém do turno da noite. Ele tinha um aspecto cansado e, ao contrário do seu costume, desleixado.

– Caramba, este lugar está cada vez mais imundo – disse ela, preferindo largar a bolsa no chão.

– Preciso falar com você – avisou Edmunds.

– Agora não. Minha manhã não começou muito boa.

– Acho que encontrei uma coisa aí, mas ainda não sei direito o que fazer com ela.

– Então fala com todo mundo na reunião – disse sua antiga supervisora, percebendo que Vanita os observava da sala. – Anda, vem.

Edmunds se interpôs no caminho dela.

– Esse é o problema. Preciso falar com você primeiro.

– Porra, Edmunds, depois! – explodiu ela e correu para a reunião com o novato logo atrás.

Na sala, as anotações do bloco já estavam bem mais completas:

1. CABEÇA: Naguib Khalid, o Cremador

2. TORSO: ? Madeline Ayers (advogada de defesa de Khalid)

3. BRAÇO ESQUERDO: anel de platina, escritório de advocacia? – ­Michael Gable-Collins – por quê? falou com Ashley Lochlan

4. BRAÇO DIREITO: esmalte de unha? – Michelle Gailey (inspetora da condicional de Khalid)

5. PERNA ESQUERDA: ? Ronald Everett – jurado – vazou inf. p/ Jarred Garland

6. PERNA DIREITA: Detetive Benjamin Chambers – por quê?

A. Raymond Turnble (prefeito)

B. Vijay Rana/Khalid (irmão de Naguib Khalid, contador) – não estava no julgamento

C. Jarred Garland (jornalista) – comprou inf. de Ronald Everett

D. Andrew Ford (segurança, alcoólatra, chato de galocha) – segurança do tribunal

E. Ashley Lochlan (garçonete ou menina de 9 anos) – falso teste­munho

F. Wolf

Vanita deu início à reunião, repassando o plano para a entrega de Ashley Lochlan à custódia do Serviço de Proteção Civil. Finlay esperou que a detetive Baxter lesse as informações adicionais no bloco, depois contou a todos sobre sua conversa com Samantha Boyd e a venda de informações do jurado Ronald Everett para o jornalista Jarred Garland. Em seguida distribuiu uma seleção de artigos escritos por Garland à época, todos com críticas duras a Wolf, à Polícia Metropolitana e ao jurado neonazista e hostil a muçulmanos.

Edmunds mal conseguia ouvir o que era dito à sua volta. Excetuando-se as poucas horas de sono involuntário no subsolo escuro dos arquivos, ele havia passado quatro dias inteiros sem dormir e já começava a sofrer os efeitos colaterais da sua obsessão. Não conseguia focar nada por muito tempo, volta e meia desligava a cabeça por cinco ou dez minutos, o olhar parado no nada à sua frente. O olho esquerdo agora apresentava um ligeiro tremor e a boca era uma canteiro de aftas.

Ele já havia terminado o longo exame de todas as caixas de arquivo retiradas por Wolf nos últimos anos e descobrira algo de fato preocupante nas investigações dele. Entre 2012 e 2013, Wolf havia estudado sete crimes que envolviam métodos bastante semelhantes ao do Bonequeiro. Uma das necropsias, inclusive, citava o ácido tríflico como causa da “horrenda avaria às entranhas da vítima”.

Claro estava que Wolf estava na cola de um assassino em série, mas não havia nenhum inquérito formal registrado que unisse os sete crimes em questão, tampouco havia naquelas caixas um único papel que documentasse a investigação dele. Ele vinha fazendo sua caçada em segredo. Mas por quê?

Ocorrera a Edmunds que tudo isso havia acontecido pouco depois da reintegração de Wolf na polícia. À revelia de normas e protocolos, talvez ele tivesse tentado resolver sozinho aquele mistério para provar sua competência aos colegas e superiores, talvez até a si mesmo. Afinal, sua reputação havia sido reduzida a pó com aquela torrente de alegações e controvérsias à época do julgamento de Khalid. Mas nada disso explicava por que ele não havia compartilhado essas informações após a descoberta do Boneco de Pano. Impossível que ele não tivesse notado a semelhança do modus operandi.

Edmunds já não via a hora de dividir tudo isso com Emily.

– Ainda não fazemos a menor ideia de quem seja essa pessoa, muito menos dos motivos dela pra matar tantas outras – disse Vanita, dando a impressão de que estava criticando a incompetência geral do departamento mais do que constatando o óbvio. – Nenhum dos parentes das vítimas de Naguib Khalid se encaixa nos moldes de um vingador furioso.

Simmons entregou a Edmunds um maço de artigos escritos por Jarred Garland, e o novato folheou as páginas.

– Ainda não há nenhum vínculo entre Chambers e Khalid – observou Emily. Só agora ela se sentia capaz de falar no colega e amigo sem perder o controle das emoções.

Um dos artigos chamou a atenção de Edmunds. Garland havia entrevistado o prefeito Turnble e, em termos de calúnia e difamação, tinha ido até o limite que o separava de um belo processo judicial. O prefeito vinha promovendo com alarde as suas novas diretrizes de segurança pública e havia convidado o “injustiçado” Naguib Khalid para ajudar nos arremates finais da sua plataforma: A polícia e as políticas de segurança pública. Garland deliberadamente fizera todas as perguntas capazes de insuflar o prefeito nos seus ataques cada vez mais contundentes ao famigerado detetive da Polícia Metropolitana.

– É como se fosse a lista de arqui-inimigos do Will – brincou Finlay. – Se ele próprio não fizesse parte dela, claro.

– Faustiano, eu diria – riu Simmons.

Finlay riu também, e Edmunds virou-se lentamente para ele, deixando de lado o artigo que vinha lendo. Uma ideia incoerente começou a se formar em algum lugar do seu maldormido cérebro. Ele olhou rapidamente para o artigo, depois para o bloco de cavalete, e de um segundo a outro a ficha caiu. Tudo agora se encaixava.

– É o Wolf! – exclamou ele, e pressionou as têmporas na esperança de concatenar melhor os pensamentos.

– Eu só estava brincado – disse Finlay, meio sem jeito.

Os outros olharam preocupados para Edmunds quando ele começou a recitar nomes para si mesmo. De repente ele saltou da cadeira e gargalhou, dizendo:

– Como foi que eu não enxerguei isso antes? – Ele agora andava de um lado para outro na sala. – Eu estava enganado o tempo todo. A chave do mistério nunca foi o Khalid, mas sim o Wolf!

– Ficou maluco, garoto? – interveio Emily. – O Wolf é um de nós, esqueceu?

Finlay assentiu, depois fez uma careta de censura para Edmunds. Alheio a ambos, Edmunds foi em direção ao cavalete e arrancou a primeira página do bloco. Em seguida, amassou-a e jogou-a no chão.

– Ei! – gritou Simmons, mas Vanita sinalizou para que ele não o interrompesse.

Agitado, Edmunds pegou o marcador e foi rabiscando na página em branco:

  1. O Cremador – obsessão do Wolf – já tentou matar uma vez
  2. O advogado de defesa – invalidou as provas do Wolf – inocentou Khalid
  3. O chefe da banca de advocacia – sabia que o depoimento da testemunha era falso
  4. A inspetora da condicional – inexperiente – permitiu que Khalid matasse de novo
  5. O jurado – vazou informações confidenciais para Garland
  6. Chambers –
  7. O prefeito – usou Wolf antes e depois de Khalid fazer sua última vítima
  8. O irmão de Khalid – pagou Lochlan para fazer o depoimento falso
  9. O jornalista – difamou Wolf, usou informações para influenciar público/júri
  10. O segurança – salvou a vida de Khalid, quebrou o pulso de Wolf.
  11. A testemunha – mentiu por dinheiro, contradisse as provas de Wolf
  12. Wolf – apenas um despiste

– Você não está falando sério, está? – disse Emily, que depois olhou para os colegas em busca de apoio. – Vocês não estão acreditando numa bobagem dessas, estão?

– E o Chambers? – perguntou Edmunds a ela. – Qual é o vínculo com o Chambers?

– Tudo bem, sei que o Wolf lhe deu uma dura ontem – disse ela –, mas isso não justifica o que você está fazendo. Que você acuse ele de... sei lá o quê.

– E o Chambers? – insistiu Edmunds.

– Não tem vínculo nenhum! – rebateu ela, ríspida.

– Qual é o vínculo com o Chambers? – gritou ele de volta, assustando os demais.

– Já disse! Vínculo nenhum!

Finlay limpou a garganta e se virou para Emily, que o fulminou com o olhar.

– Também não acredito em nada disso – falou ele –, mas por enquanto não podemos descartar nenhuma hipótese, por mais absurda que seja.

A detetive Baxter se recusou a falar.

– Will sempre achou que foi o Ben quem mandou aquela carta – prosseguiu Finlay.

– Que carta?

– A tal carta pra corregedoria, dizendo que o Wolf estava obcecado e emocionalmente instável, recomendando o afastamento dele.

Finlay ainda encarava Emily, mas ela insistia em fitar as próprias mãos sobre a mesa.

– Foi a pá de cal do Wolf quando essa carta foi lida no julgamento – lembrou Simmons, cada vez mais desconcertado. – Foi ela que salvou o pescoço do Khalid.

– Esta é uma acusação muito grave, inspetor Edmunds – disse Vanita, afirmando o óbvio. – Acusações graves exigem provas concretas.

Lembrando-se de algo, Edmunds pegou seu caderno e o folheou até encontrar o que queria.

– Dia 28 de junho, conversa entre o prefeito e o detetive Fawkes, en­treouvida no meu plantão à porta da Sala de Interrogatório: “Todo mundo estava fazendo seu trabalho: a imprensa, os advogados, o herói que triturou meu pulso antes que eu pudesse acabar com o Khalid... Pois é, eu entendo.”

– Fawkes disse isso? – perguntou Simmons, preocupado.

– Palavra por palavra. Nomeou três das nossas vítimas antes mesmo que começássemos a procurar por elas.

– Isso é muito pouco – disse Vanita. – Sobretudo diante das cobras e lagartos que vão chover nas nossas cabeças se seguirmos por esse caminho.

Edmunds saiu da sala e voltou dali a pouco com a primeira das caixas de arquivo. Pegou os documentos relevantes ao caso, junto com o protocolo de retirada que incriminava Wolf, e os distribuiu para que todos pudessem ver.

– Lembram-se da reação de Wolf ontem? Quando soube que descobri essas caixas? – disse ele. – Pois bem. Tenho mais seis debaixo da minha mesa. Da nossa mesa.

– Isso explica tudo – revelou Emily. – Wolf deixou esse psicopata assustado e agora o cara está agindo em autodefesa.

– Também pensei nessa hipótese, mas... por que o Wolf não falou sobre nada disso com ninguém? – perguntou Edmunds. – Sobre o material importantíssimo dessas caixas, coisas que poderiam ter salvado a vida de outras pessoas? Que poderiam salvar a dele também?

Ninguém respondeu.

Edmunds deixou a cabeça cair entre as mãos como se sofresse de alguma dor e foi balançando o corpo em movimentos pendulares, equilibrando-se nos calcanhares enquanto murmurava coisas desconexas para si mesmo:

– Wolf identifica o cara... procura por ele... vaza detalhes do caso... Não, não, mas o cara não faria isso só porque essas pessoas são inimigas do Wolf... Não, isso é ele, o Wolf, recrutando os serviços do cara...

– Pra mim já deu – disse Emily, levantando-se para sair. – Não vou ficar aqui ouvindo esses absurdos.

Edmunds retomou a palavra:

– Wolf quis se vingar, ou “fazer justiça” se vocês preferirem, depois que Khalid matou a menina Annabelle Adams. Em nome da família dela. Ou só pra si mesmo, sei lá. – Ele ia falando ao mesmo tempo que juntava as peças do quebra-cabeça. – Nenhuma daquelas pessoas pagou pelo que fez, ao passo que ele foi trancafiado num hospital psiquiátrico e a menina foi morta. Depois ele é reintegrado na Força e, por iniciativa própria, começa a investigar casos não solucionados. Afinal de contas, um caso sem solução significa que ainda tem um criminoso solto por aí, na rua. Na sua investigação secreta ele tropeça nestes sete casos antigos e de algum modo acaba descobrindo a identidade do assassino. Mas aí, em vez de prender o cara, usa-o pra castigar todas aquelas pessoas que a seu ver ficaram impunes. O golpe de mestre foi incluir seu próprio nome na lista. Wolf sabia que ninguém suspeitaria dele se a sua própria vida estivesse ameaçada também. Quer dizer, pensa bem: se o nome do Wolf não estivesse naquela lista, ele seria o principal suspeito desde o início.

Alguém bateu à porta da sala.

– Agora não! – berraram os cinco em uníssono para a mulher que viam do outro lado do vidro, fazendo com que ela corresse timidamente de volta para sua mesa.

Se, e este é um grande “se”, Fawkes realmente descobriu a identidade do assassino – disse Simmons, ignorando a cara feia de Emily –, isso significa que ela está em algum lugar nestas sete caixas.

– Exatamente – disse Edmunds.

– Isso é ridículo – resmungou Emily.

– Se você estiver correto – disse Vanita –, podemos dar por certo que Fawkes vem passando informações pro assassino durante todo esse tempo.

– Isso explicaria muita coisa – falou Edmunds. – Não é de hoje que estou com essa pulga atrás da orelha, a de que havia um informante entre nós. – Olhou para sua antiga chefe em busca de uma confirmação por parte dela, mas foi solenemente ignorado.

Vanita suspirou e disse:

– Então ainda temos uma ótima chance de salvar a vida de Ashley ­Lochlan, pois tiramos o Fawkes da operação.

Finlay e Emily se entreolharam.

– Alguma coisa que eu ainda não saiba? – perguntou Vanita.

– Wolf estava com ela hoje de manhã – disse a detetive Baxter, impassível. – Parece que eles passaram a noite juntos.

– Será que existe alguma regra que esse sujeito ainda não quebrou? – explodiu Vanita, fulminando Simmons com o olhar. – Precisamos avisar a Srta. Lochlan sobre tudo isso. Inspetor Edmunds, supondo que sua tese está correta, você acha que o assassino sabe que Fawkes está por trás de tudo isso?

– Uma pergunta difícil de responder...

– Tente.

– Só posso especular.

– Especule.

– Não. Está claro que o Wolf se considera mais inteligente que todo mundo, inclusive mais que o próprio assassino. Acho difícil que ele deixasse alguma ponta solta. Também acho difícil que o assassino se dispusesse a poupar uma das suas vítimas depois de anunciar pro mundo inteiro a morte de todas elas. Pra ele é uma questão de orgulho próprio. Não cumprir o prometido seria um vexame.

– O que significa que o Wolf precisa matá-lo antes que ele o mate – concluiu Vanita.

Ouvindo isso, Emily arremessou uma papelada contra a divisória ­rachada da sala e levantou-se novamente.

– Isso tudo é um grande absurdo! É do Wolf que estamos falando! – Ela se virou para Finlay. – Seu amigo, lembra?

– Eu sei, Emily – disse ele, desolado. – Mas os fatos falam por si.

Ela apontou sua mira para Edmunds.

– Realmente faz dias que você vem desconfiando de um informante e de uma hora pra outra você aparece com essa história ridícula só pra confirmar as suas suspeitas, não é? Se tem alguém que se acha mais inteligente que os outros, Edmunds, esse alguém é você! – Com um olhar de súplica, ela disse aos demais: – E se tudo isso não passar de uma armadilha pro Wolf? Alguém já pensou nessa hipótese?

– Pode até ser – disse Simmons tranquilamente. – De todo modo vamos ter de tirá-lo de circulação.

– Concordo – falou Vanita antes de fazer uma ligação pelo telefone fixo da sala. – Aqui é a comandante Vanita. Preciso de uma Unidade Armada de prontidão no endereço residencial do detetive William Fawkes agora mesmo.

A inspetora Baxter balançou a cabeça, sem conseguir acreditar no que acabara de ouvir. Discretamente tirou o celular do bolso, mas Finlay viu o que ela estava fazendo.

– Emily – disse ele com firmeza e ela, visivelmente contrariada, guardou o aparelho de volta.

– Fiquem atentos, porque o suspeito pode ser perigoso – dizia Vanita ao telefone. – Isso mesmo: suspeito. Correto. Isto é uma ordem de prisão contra o detetive Fawkes.