Posfácio,

por Bruno Levinson

Tudo começou há mais de quatro anos, quando me encontrei pela primeira vez com o Yuka e dei a ideia deste livro que agora está aqui, pronto. Cheguei à casa dele e ele estava entretido com um caiaque e dois amigos. Fiquei quieto no meu canto, só assistindo ao Yuka enquanto ele planejava uma travessia – que ainda segue querendo fazer – do Rio a Niterói, contando apenas com seu remo.

Na hora, me veio a ideia de que eu também estava lá para lhe propor uma espécie de travessia. Já tinha adiantado o assunto por telefone e, enquanto ele fazia desenhos e mostrava como achava que o caiaque especial para ele tinha que ser, ia fazendo um certo terrorismo. Falava em tom de ameaça: “Bruno, você vai aguentar? Vou falar de coisas terríveis.” Salientou, mais de uma vez, que não teria volta. E não teve mesmo. O tempo todo o deixei à vontade para desistir, para parar. Mas que nada. Foram mais de trinta longas entrevistas. Mais de uma vez voltamos aos mesmos assuntos, e ele não deixou nenhuma pergunta sem resposta.

Yuka foi se abrindo sem meias palavras, e escrever em primeira pessoa foi o melhor caminho que poderíamos seguir. É, literalmente, ele exposto. No próprio título, que surgiu antes de chegarmos ao fim das entrevistas, já veio a primeira pessoa do singular: Não se preocupe comigo. É a vida dele, são as ideias, os pontos de vista dele e de ninguém mais. Um fato ou outro fui checar, mas, até nesses momentos, achei válido, de alguma forma, deixar implícitas no texto as dúvidas que o Yuka tinha. Tantas vezes as dúvidas dizem muito mais de nós que as nossas próprias certezas...

A vida de ninguém se esgota em si mesmo. A do Yuka não é diferente. Pela sua trajetória passaram muitos personagens; houve muitas pessoas transformadoras e transformadas: a todas devemos sempre respeito e um olhar de afeto. Situações e personagens adversos sempre existem, fazem parte. Não cabe a este livro julgamentos definitivos. Trata-se da vida sob a ótica do próprio Yuka.

Eu o conheço há 20 anos. Sabia perfeitamente que não seria nada fácil. Tinha certeza de que passaríamos por momentos dolorosos. Mas, se ele estava disposto e confiante, eu iria junto. Nós fomos. Passamos por várias horas difíceis, delicadas, e o Yuka sempre verbalizando suas ideias, seus sentimentos. Diversas vezes, me fez sentir totalmente à flor da pele. Era ele se expondo, e quem ficava em carne viva era eu.

Em muitas ocasiões, tive o ímpeto e me deixei levar por uma vontade sufocante de abraçar meu amigo. Em tantas outras, me senti sem chão, sem pernas. Balancei em vários momentos. Houve dias em que desci a ladeira da casa dele, o espaço das entrevistas, chorando; lembrava-me de seu alerta inicial. O livro é sobre a vida do Yuka, mas, com certeza, a minha nunca mais será a mesma. E, se me cabe um desejo neste momento, espero que a de vocês também sofra profundas transformações ao conhecer as ideias, os motivos, os pensamentos desse cara que está aqui tão perto, tão vivo e com tanto para dizer.

Desde o início, achava que o processo do livro não deveria ser rápido. O tempo de sua feitura deveria ser um filtro, um agente, parte do processo. Durante todo esse período, pensei no Yuka diariamente. E fiquei dias para escrever estas últimas linhas. Sinto uma dificuldade de me desapegar, de colocar o ponto final. Vem-me um sentimento de despedida, uma saudade. Foi sempre muito enriquecedor estar com ele, um privilégio enorme ter escutado todas as suas razões e tantos dos seus sentimentos.

Termino este livro e já espero ansioso que o tempo passe, para me ver obrigado a fazer uma nova edição, com outros capítulos da trajetória do Yuka. Quando escrevia este posfácio, seu novo disco – o melhor que ele já fez – estava quase pronto. Há a espera pela volta aos palcos, um programa de televisão e até a possibilidade de caminhos nas artes plásticas. Também nos desenhos, mais uma forma de expressão, toda sua intensidade e seu talento aparecem. Ele tem uma entrega de corpo e alma em tudo o que faz, e isso é inspirador e poético. Yuka se joga sem rede de proteção. Dedica todo o seu tempo e faz disso sua vida: é um homem-arte. Por tudo isso, por toda a minha amizade, por todos os meus mais sinceros desejos positivos em relação a ele, creio, com este livro, ter feito a minha parte. As pessoas precisam ver, escutar, ler e, assim, de alguma forma, conviver. Desejo, profundamente, um pouco mais de Yuka na vida de nós todos.

Para finalmente virar esta última página, não poderia deixar de agradecer enormemente à confiança que ele me depositou. Obrigado, amigo! Espero ter sido um bom caminho para tantas das suas histórias e buscas. Para o que der e vier, é só chamar. Estou junto e não pretendo me afastar jamais. Positivamente, eu me preocupo muito contigo!