Numa manhã, enquanto ela descia do ônibus, Jenny notou alguém rondando o lado de fora do seu flat. Ela chamava aquilo de flat, mas na realidade não era mais que uma quitinete. Rob decidiu manter o flat que eles compartilharam durante o casamento, apesar do fato de que foi ele quem teve um caso extraconjugal. Olhando para trás, Jenny sabia que fora burra por deixa-lo sair dessa fácil. Ela deveria ter lutado mais por sua parte. Mas por estar tão chateada por ele tê-la traído, ainda, de novo, ela queria que ele simplesmente sumisse de sua vida o mais rápido possível.
Com a cabeça cabisbaixa, ela aproximou-se de sua casa. A intenção era ignorar o homem até que pudesse ver quem ele era. Nos dias de hoje, todo cuidado era pouco. Muita gente estava sendo roubada na porta de casa por umas míseras moedas. Mas quando o homem chamou seu nome, ela reconheceu sua voz. Era Rob, seu ex-marido.
— O que você está fazendo aqui? — Ela perguntou, procurando sua chave na bolsa.
— Quero falar com você. Posso entrar? — Rob perguntou, trocando de pé enquanto falava. — Por favor, Jenny. Preciso falar com você, posso entrar? — Ele implorou.
— Tudo bem, mas só por alguns minutos, estou de saída. — Na verdade ela não estava, mas ele não precisava saber disso. Deixe que ele pense que a vida dela era uma grande festa desde a separação.
Já lá em cima na sua sala apertada, ela jogou sua bolsa sobre a mesa. — Okay, sobre o que você quer conversar?
— Podemos nos sentar e conversar apropriadamente?
— Por quê? Além do mais, como eu disse, estou de saída. Não tenho tempo de ser uma boa anfitriã. — Jenny observou-o sentar sobre uma cadeira. Esse não era o Rob que ela conhecia. A barba dele estava sem fazer há dias e seu cabelo dava a ele a aparência de quem acabara de sair da cama. Seu terno estava amassado e sua camisa suja. Quando estavam juntos, ele sempre esteve imaculadamente impecável. Pode ser que não tivessem muito dinheiro, mas Rob sempre se vestia o seu melhor quando ia para o escritório. Ele acreditava em dar uma boa impressão.
— Desculpa, preciso me sentar. — Ele apoiou a cabeça sobre as mãos — Eu cometi um erro, um erro terrível. Eu nunca deveria tê-la deixado pela Angela. — Ele olhou para ela. — Você pode me dar outra chance?
Jenny sentou-se na única outra cadeira da sala, totalmente sem palavras. Essa era a última coisa que ela esperava que ele dissesse.
— Você não vai dizer nada, Jenny?
— Não sei o que dizer, Rob. Você disse que era ela quem você amava. Você disse que não havia mais nada entre nós e que eu deveria sair do seu caminho e te dar espaço. Eu não tive muita escolha já que sua mulherzinha estava na calçada com todo guarda-roupa dela. Você ficou com nosso dinheiro e com quase todas as coisas que nós construímos juntos, me deixando com quase nada e agora você está me dizendo que cometeu um erro e quer que eu te dê uma chance. Só para saber, o que você esperava que eu dissesse?
— Eu sei que não parece nada bom, mas eu pensei...
— Que não parece nada bom! Nada bom! Parece horrível de onde eu estou. A propósito, onde está a adorável Angela?
— Está no apartamento. Ela recusa a sair. — Rob olhou para o chão. — Você e eu... Pensei que pudéssemos começar de novo.
— Seu traidor de merda, pensou errado! — Jenny levantou. — É melhor você ir embora agora.
Rob permaneceu sentado. — Nós éramos bons juntos, Jenny. Podemos fazer dar certo de novo.
— Se você se lembra bem, não fui eu quem fez errado. Agora, vá. — Ela apontou em direção à porta. Sua mão estava tremendo de raiva. — Eu vou sair e preciso me trocar.
— Não tenho para onde ir.
— Meu coração chora por você. Mas agora você sabe como é ser jogado na rua.
Rob se levantou. — Pare um pouco e ao menos pense sobre o assunto.
Jenny desviou o olhar um instante e depois voltou o olhar para ele. — Okay, Rob, já pensei no assunto e a resposta ainda é não. — Ela abriu a porta. — Se você não se importa, preciso me trocar.
Jenny bateu a porta assim que ele saiu. Ela não queria dá-lo a oportunidade de virar e segurar a porta. Ela estava furiosa. A audácia do homem! Ele realmente rastejou até aqui pensando que ela voltaria com ele de braços abertos?
Angela não foi o primeiro caso que ele teve. Ele já tivera três outros casos com três mulheres diferentes antes dela aparecer e Jenny o perdoara todas as vezes e o aceitara de volta. Mas quando Angela entrou em cena, ela precisava apenas estalar os dedos que Rob começava a implorar como um cachorrinho esperando sua recompensa. Agora parecia que Angela se cansara dele e estava solta novamente, a procura de algum lugar para ficar.
— Ora, Rob, você caiu bem dessa vez, — Jenny murmurou. — Bem feito para você. — Ela caminhou até a janela e olhou para a rua esperando vê-lo. Mas, em vez disso, ela o viu caminhando para lá e para cá na calçada. Ainda bem que o flat dela era no segundo andar, assim ele não conseguiria entrar pela janela, caso tentasse. Ela o viu sentar na mureta do lado de fora do bloco de flats. Ele ia ficar lá a noite inteira?
O pensamento a assustou. Será que ele começaria a persegui-la? Ela planejara ter uma noite tranquila, mas com Rob do lado de fora, talvez fosse melhor se ela fosse para algum lugar por uma hora mais ou menos. Pegando seu celular, ela ligou para Connie. — Alguma de vocês vão estar em casa hoje à noite? Aconteceu uma coisa e eu gostaria de ir para aí.
— Vamos as duas estar aqui, — disse Connie. — O que aconteceu?
— Explico quando chegar.
Rob ainda estava lá fora quando Jenny saiu. — Achei que você já teria ido embora a essa hora, — ela disse, caminhando em direção ao ponto de ônibus.
— Preciso de você. — Rob correu atrás dela. — Não podemos voltar lá para dentro e conversar calmamente?
— Não tenho mais nada para dizer para você. — Jenny aumentou o passo. — Além do mais, eu já disse que tenho planos essa noite. — Ela olhou para a rua e ficou aliviada ao ver o ônibus vindo. Ela deu sinal para garantir que o motorista não passasse direto. — Adeus, — ela disse por cima dos ombros.
Sentando no ônibus, Jenny observou Rob virar-se e caminhar devagar. Um tremor na sua espinha quando percebera que ele caminhara em direção ao seu flat. Graças a Deus ela certificara de trancar a porta de entrada quando saíra. De forma alguma queria voltar e encontrá-lo esperando na sua sala.
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— Mal pude acreditar quando vi que era Rob em pé lá fora. — Jenny chegou na casa de Connie e estava contando como ela o encontrou do lado de fora do seu flat. Ela tomou um gole de vinho antes de continuar. — Parece que teve uma discussão entre ele e a Angela, e depois ele me queria de volta.
— Não sei como ele teve a coragem, — disse Connie. — Acho extremamente generoso de sua parte ignorar as aventuras dele quando aconteceu da primeira vez. Mas quando aconteceu a segunda, você não deveria tê-lo dado uma segunda chance... Ou uma terceira.
— Eu sei, — respondeu Jenny. — Mas eu não contei para meus pais sobre a primeira traição. Na verdade, não contei para ninguém. Senti tão envergonhada, até me perguntei se não era culpa minha, se eu não o levei a fazer isso. Depois aconteceu a segunda vez, meu pai estava tão mal que eu não queria preocupá-lo, ou minha mãe. Eu ainda não havia contado para ninguém, nem mesmo para vocês. A terceira vez... — Os olhos dela encheram de lágrimas e ela pegou o lenço da bolsa. — A terceira vez aconteceu quando meu pai faleceu. Minha mãe estava tão perturbada, eu simplesmente não podia contar para ela. — Ela limpou os olhos. — Foi quando eu contei para vocês pela primeira vez. Eu precisava contar para alguém, me senti tão sozinha. Depois com tudo isso apareceu a maravilhosa Angela e eu fui jogada na rua. É claro, tive que contar para a minha mãe e o resto do mundo sobre o fracasso do meu casamento. Não podia mais esconder. Enfim, essa noite eu recusei firme tê-lo de volta.
— E você o pôs para fora com um quente e dois fervendo? — Sadie bufou e apontou para os sapatos de Jenny. — Se eu estivesse usando essas botas, eu teria chutando tanto a bunda dele, que ele ficaria cuspindo couro por semanas.
— Sadie! — Connie virou os olhos. — Essa não é a forma como moças educadas conversam.
— Talvez não, mas eu adoraria tê-la visto tento feito isso! — disse Jenny.
— Preciso dizer, foi uma surpresa vê-lo parecendo tão patético. Ele sempre se achou o cara. Ele deve ter tido que engolir seu orgulho para poder me visitar.
— Sim, — disse Connie devagar. Ela estava pensando em Andrew. Ele a levara para jantar e reservara seu quarto favorito. Ele também deve ter sido forçado a engolir seu orgulho quando ela decidira ir embora.
— Bem feito para ele. — Sadie cruzou os braços desafiadoramente e olhou para Jenny. — Mas tem mais, não tem?
Jenny sentou-se na cadeira. — Sim. Eu o pus para fora, ele saiu do flat, mas ele não foi de fato embora. — Ela respirou fundo. — Eu o permiti que entrasse com a condição de que eu estava de saída e que tinha pouco tempo para ele. Entretanto, quando ele foi embora, eu olhei da janela e lá estava ele, caminhando de um lado para o outro na calçada. Não sei ao certo o que ele estava esperando. A não ser que estivesse certificando que eu estava realmente saindo. Foi quando eu decidi que eu precisava ir para algum lugar essa noite. Para falar a verdade, ele ainda estava lá quando eu saí.
— Isso não parece nada bom, — disse Connie. — Talvez você devesse ligar para a polícia.
— E dizer o que? Não posso pedir que vão lá e vejam se alguém está me esperando do lado de fora do meu flat.
— E um vizinho? Se você ligasse para alguém, ela poderia dar uma verificada para você? — perguntou Sadie.
— Poderia tentar ligar para Ann. Ela mora no andar de cima, pode ser que ela não esteja em casa, a vida dela é muito agitada.
Ann estava em casa quando Jenny ligou. — Um momento, vou até a janela. — Uns minutinhos depois ela voltou, — sim, tem um homem sentado na mureta. Ele está usando um sobretudo e está com o cabelo bagunçado. Ele é perigoso?
— É o meu ex-marido. Não, ele não é perigoso. Pelo menos eu não acho que seja. Enfim, deixe ele lá. Obrigada, Ann. — Jenny desligou o telefone — vocês ouviram isso?
Connie e Sadie acenaram a cabeça.
— Eu acho que você não deveria ir para casa, não hoje, pelo menos. Ele poderia ainda estar por lá, — disse Sadie.
— Para onde eu vou?
Sadie olhou para Connie antes de continuar. — Você pode ficar comigo.
— Não posso... — Jenny começou.
— Por que não? — Sadie interrompeu. — Tenho certeza que Connie não vai se importar.
— Não, é claro que não me importo. Concordou com Sadie. Você certamente não deveria voltar para casa hoje. — Connie sorriu. — Todas poderíamos irmos juntas para o seu flat amanhã. Estou certa que até lá ele já terá ido embora, mas, caso contrário, podemos ameaçá-lo com a polícia.