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Capítulo Vinte E Quatro

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Lucy deixou o escritório cedo. Ela queria tempo para ver as roupas que tinha no guarda-roupa. Pode haver algo escondido no fundo que talvez ela tenha esquecido. Mas, mesmo que tivesse, ela caberia nele? Sua dieta não estava indo muito bem. Ela não perdeu nenhum quilo nas últimas duas semanas. Na verdade, parecia que ela ganhou peso quando subiu na balança de manhã. É tão injusto. Algumas pessoas podiam comer o que queriam não engordavam nada, enquanto ela tinha que quase morrer de fome antes que o ponteiro da balança mudasse um pouco para baixo.

Ela respirou fundo e lembrou de quando era mais magra. Mas isso foi muito antes de Ben começar a bater nela e ela começar a perder o respeito por si e em e em sua aparência. Agora parecia que estava presa nisso.

Ela puxou vestidos do guarda-roupa uma de cada vez e colocou-os de volta. Os que ela sabia que caberia confortavelmente eram bastante deselegantes, enquanto os outros mais pareciam ter uma cintura em algum lugar, eram muito apertados. Ela se afundou na cama. Não era bom, ela teria que usar o mesmo vestido que usou no lançamento. Se Paul fosse um homem típico, ele nem sequer notaria. Mas ela queria um homem típico? Não se ele fosse parecido com Ben, ela não iria querer.

Ela olhou para o relógio. Ela iria encontrar Paul no restaurante às sete e meia, então ela ainda tinha muito tempo. Ele tinha oferecido para buscá-la, mas ela deu uma desculpa, dizendo que precisava passar em outro lugar primeiro. Ela queria ver como eles se dariam antes de passar seu endereço de casa.

Enquanto tomava banho, Lucy lembrou da foto dele no site. Ele era bastante decente e no seu perfil falava que sua esposa o deixou para ficar com outro homem. Isso era bom ou ruim? Ele se divorciou de sua esposa porque ela flertou com um homem qualquer que apareceu? Ou era porque ele não prestava e ela foi embora porque não aguentava mais continuar vivendo com ele por nenhum momento mais? Ela suspirou. Esta era uma desvantagem de um encontro às cegas. Ela poderia realmente confiar no que Paul havia dito no perfil dele? Ele poderia ter escrito um monte de mentiras sobre si mesmo. Deveria ser uma decisão dela escolher quando encontrar com ele. Se ela aprendeu uma coisa, era que nada na vida era fácil.

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Paul já estava esperando do fora do restaurante quando ela chegou. Ele parecia genuinamente satisfeito por vê-la. Ela estava um pouco preocupada com o fato de que quando ele a conhecesse pessoalmente, achasse que ela tivesse mais carne que osso e desaparecesse. A foto que ela usara no site era a verdadeira ela. Ela pediu a um vizinho que tirasse a foto alguns dias antes do lançamento. Mas ele a posicionou de formas que esconderam suas protuberâncias.

— Obrigado por concordar em me encontrar, — disse ele, cumprimentando-a com a mão. — Eu não tinha certeza de que você viria.

— Obrigado por me convidar. Fiquei absolutamente encantada com seu convite. — Lucy mordeu o lábio. Isso fez parecer como se ela estivesse desesperada por um encontro?

— Vamos entrar? — Paul sorriu e segurou a porta para ela entrar.

Lucy achou Paul encantador. No começo, ele parecia tímido e inseguro de si mesmo. No entanto, durante a noite, ele se abriu um pouco mais. Parecia que a esposa de Paul estava tendo um caso com seu melhor amigo há meses, antes que ele se desse conta. — Eu fiquei bastante irritado quando eu finalmente descobri o que estava acontecendo. Ele era meu melhor amigo, pelo amor de Deus! Nós estudamos juntos desde crianças. — Ele bateu o punho sobre a mesa, fazendo com que o cruet estremecesse.

Lucy desviou o olhar. Embora ele estivesse divorciado há dois anos, era óbvio que ele ainda estava muito chateado. Isso queria dizer que ele ainda estava apaixonado por sua ex-esposa?

Paul esticou a mão sobre a mesa e pegou a mão de Lucy. — Eu não a amo mais, se é isso que você está pensando. Meu amor por ela morreu assim que descobri do caso. Não! Estou com raiva porque tudo estava acontecendo debaixo do meu nariz e eu fui burro o suficiente para não ver. Eu amei e confiei nela. — Ele fez uma pausa. — Eu não queria outro relacionamento. Fiquei tão decepcionado com minha esposa e meu melhor amigo que não suportava a ideia de passar por isso novamente. Mas recentemente decidi que eu deveria juntar as peças e seguir em frente. É por isso que entrei para a agência. — Ele sorriu. — Eu vi as propagandas e decidi ir ao lançamento. Foi quando te vi pela primeira vez. Eu estava indo falar com você, mas alguém chegou primeiro. Na outra noite, eu examinei o site e encontrei você lá e decidi enviar uma mensagem.

Uma onda de alívio passou pelo corpo de Lucy. Ele a viu na festa de lançamento e gostou dela ainda assim. Ele não parecia se importar que não tivesse a figura fina de Jenny ou Sadie. Ele gostou dela do jeito que ela era, protuberâncias e tudo mais. E, por sua vez, ela gostou dele. Embora ele não fosse um homem impetuoso num cavalo branco que ela sempre achou que fosse aparecer e resgatá-la de uma vida monótona, ele era bastante atraente e tinha um grande senso de humor.

Ela falou do casamento dela com Ben e como ele batia nela quando chegasse em casa de mau humor. — Então você vê, eu também fui um pouco cautelosa quando o assunto era decidir o que fazer com o resto da minha vida.

— O que você passou faz com que meus problemas pareçam insignificantes, — disse ele. Ele moveu sua cadeira mais perto da dela e colocou seu braço ao redor dela. — Vamos esquecer nossos antigos parceiros e fingir que estamos começando nossas vidas de novo.

Lucy riu. — Eu acho que essa é uma ótima ideia. Nós ainda somos jovens e estamos aí, nos conhecendo pela primeira vez. — Ela fez uma pausa. — Mas acho que você precisa saber que eu tenho um filho. Ele começou a universidade este ano, consegui entrar em Cambridge, ele aparece de vez em quando.

— Cambridge! Ele deve ter tido boas notas para chegar lá.

— Ele teve. Incentivei-o a dedicar bastante na escola. Não queria que ele se tornasse um zé ninguém, como o pai.  — Lucy sorriu. — Mas não vamos falar sobre nossos cônjuges a noite toda, vamos?

— Não, não vamos. E tudo bem sobre seu filho. Gostaria de ter um filho. Julia não queria filhos. Tinha medo de estragar seu corpo. — Ele sorriu. — E é isso, — ele disse levantando as mãos. — Não vamos mais falar dos nossos exes.

No final da noite, Paul perguntou a Lucy se ela gostaria que ele a levasse em casa. — Não estou esperando um convite para entrar nem nada. Gostaria apenas de ter certeza de que vá chegar em casa em segurança.

Lucy hesitou. Ela tinha certeza que Paul estava sendo honesto, mesmo assim ela não queria que ele soubesse onde ela morava. Ainda não, de qualquer forma. Melhor prevenir do que remediar. — É muito gentil de sua parte, Paul, — disse por fim. — Mas eu não vou direto para casa, estou ficando com uma amiga no momento. — Foi a primeira que surgiu na cabeça dela.

— Tudo bem, te levo em segurança lá, — ele disse, ajudando-a com seu casaco.

Por um momento, ela entrou em pânico. Para onde ela poderia ir? Então ela pensou na casa de Connie. Com sorte uma das meninas estaria lá para abrir a porta. — Obrigada, isso seria bom, — ela respondeu.

Muito cedo, o táxi parou em frente da casa de Connie e Lucy desceu. Paul a acompanhou e pediu ao motorista que esperasse enquanto ele a levava até a porta. Assim que ela estava prestes a apertar a campainha, ele pegou sua mão e, puxando-a para perto, beijou-a gentilmente.

Uma onda de excitação percorreu o corpo de Lucy quando seus lábios tocaram. Fazia muito tempo que ninguém a segurava assim. Ele era tão gentil e ao mesmo tempo tão passional. Completamente diferente de Ben, que simplesmente a agarrava e a forçava ir para a cama. Nunca houve paixão quando faziam amor, apenas luxúria e força brutal.

Quando Paul a soltou, ela olhou dentro dos seus olhos. Agora que a hora chegara, ela não queria que ele fosse embora. Fora burrice dela dizer que estava ficando na casa de uma amiga. Se estivessem do lado de fora do seu apartamento agora, ela o teria arrastado e o levado para o quarto. Ela queria se matar. Agora teria que esperar uma próxima oportunidade.

— Obrigada pela noite maravilhosa, — ela sussurrou quando ele se afastou.

— Sempre tem o dia seguinte, — ele respondeu, sorrindo.

Impulsivamente, ela levantou os braços e os colocou em volta do pescoço dele e o beijou de novo. Dando um passo para trás, ela tocou a campainha. — É melhor você ir, seu táxi está esperando.

— Você esqueceu sua chave de novo? — A voz de Jenny podia ser ouvida por trás da porta. — O que você teria feito se eu tivesse saído? — Ela continuou enquanto abria a porta.

— Sim, desculpe Jenny, mas saí com tanta pressa que acabei esquecendo de colocar a chave na minha bolsa. — Seus olhos dançaram de um lado para o outro quando ela falou. Ela estava tentando desesperadamente fazer com que Jenny entrasse na brincadeira.

Jenny sorriu desajeitadamente. Ela não tinha certeza do que estava acontecendo aqui. Lucy estava extremamente corada. Paul tentou alguma coisa? Ela deveria agarrar Lucy e puxá-la para dentro antes de bater a porta e chamar a polícia? Mas então ela viu o táxi esperando na beira da rua. Paul deve estar de saída. — Está tudo bem. Estou brincando com você. — Ela abriu a porta um pouco mais, antes de continuar pelo corredor em direção à cozinha. — Eu vou colocar água na chaleira.

— O que aconteceu? — Jenny perguntou quando Lucy finalmente fechou a porta e se juntou a ela na cozinha.

— Eu me sinto uma completa idiota. — Lucy se jogou sobre uma das cadeiras ao redor da mesa. Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ouviu a porta da frente fechar.

— Você ligou a chaleira? Estou louca por uma xícara de chá. — A voz de Sadie pôde ser ouvida do corredor. — Ou já foi para a cama?

— Sim, a chaleira está ligada. Estamos na cozinha, — gritou Jenny. — Se eu estivesse na cama, estaria bem acordada agora.

Sadie olhou cautelosamente ao redor da porta da cozinha. Quem era “nós”? Por favor, não diga que Connie voltou para casa. Ela ficou aliviada, embora um tanto surpresa, ao ver Lucy sentada ali. — O que você está fazendo aqui? Teve algum problema com esse cara? Qual era o nome dele... Paul?

— Não. — Lucy fechou os olhos. — Como eu estava quase prestes a contar a Jenny, acho que acabei de dar um tiro no pé. — Ela explicou como Paul queria leva-la até em casa, mas ela o dissuadiu, dizendo que estava ficando com uma amiga.

— E? — Sadie inclinou a cabeça para um lado. Ela não tinha certeza aonde Lucy queria chegar. Ele era um monstro? Ele tentou agarrá-la?

— E então, quando ele me deu um beijo alí na porta, eu o beijei de volta.

— Você o beijou de volta? — Sadie olhou para Jenny.

— Sim. E gostei.

— Você gostou. — Sadie balançou a cabeça.

— Sim, eu o beijei de volta porque gostei. Pelo amor de Deus, pare de repetir o que eu falo.

— Ok. Deixe-me ver se entendi direito, — Sadie contou com os dedos. — O cara a beijou alí na porta. Você gostou. Então você o beijou de volta. E qual é o seu problema? — Ela encolheu os ombros. — Por que você deu um tiro no pé?

— Porque, se eu não estivesse tão cautelosa e dito que estava ficando com uma amiga, ele teria me levado ao meu apartamento, e eu poderia convidá-lo para tomar um café. — Lucy respondeu.

— Para início de conversa, por que você quis ser tão cautelosa? — Perguntou Jenny.

— Quando ele quis me levar para casa, eu não tinha certeza de que queria que ele soubesse onde eu morava, ainda não. Tenho medo de ser um perseguidor ou algo assim. É por isso que dei a desculpa de que estava ficando na casa de uma amiga. — Ela bateu o punho no braço da cadeira. — Por que minha vida tem que ser tão complicada?

— Só porque você faz ser assim, — disse Sadie. — Então, se você tivesse ido ao seu apartamento, você o teria arrastado para o seu quarto.

— Eu não disse isso. — Lucy virou o rosto para o outro lado. Sadie as vezes ia direto ao ponto. Era assustador.

— Mas é isso que queria. Ele deve ter atingido o lugar certo. — Sadie sorriu.

— Quando ele me beijou, foi tão maravilhoso. Ele é tão gentil, tão...

— Vocês vão beber o chá ou não? — Jenny interveio. Ela apontou para as duas canecas sobre a mesa. — Está ficando frio. Você já decidiu o que vai fazer agora, Lucy? Você vai ficar aqui ou você vai pegar um táxi de volta para sua casa? Está ficando bastante tarde. — Ela estremeceu. Ai, isso não saiu do jeito que ela queria. No entanto, parece que Lucy não notou, pois respondeu com bastante calma.

— Eu acho que é melhor eu ir para casa. — Lucy falou devagar. — Eu não tenho roupas aqui e não posso ir para o escritório com este vestido. — Ela apontou para o vestido de cocktail que ela estava usando.

— A gente podia pegar alguma coisa da Connie. — Sadie olhou para Lucy. — Ela tem um par de... vestidos largos... isso pode ser que sirva. Eu sei que ela não se importaria. Você poderia até dormir na cama dela.

— Não, mas obrigada mesmo assim. Vou chamar um táxi. — Lucy engoliu a última gota de chá. — Fui uma idiota, não fui? Quero dizer, eu deveria ter permitido que Paul me levasse para casa.

Sadie concordou. — Sim, eu diria que sim. — Ela encolheu os ombros. — Mas já passou, não adianta nada ficar se martirizando agora.

No entanto, Jenny foi um pouco mais simpática. — Talvez você tenha feito a coisa certa. Era um primeiro encontro e você não sabia se ia ter química depois de um beijo.

Lucy estava esperando na porta quando chegou o táxi. — Vejo vocês de manhã. Obrigada por me ouvirem.

— Bem, depois de tudo isso, como foi com Michael? — Jenny perguntou quando Lucy tinha saído. — Sua noite foi agradável? Ou você tem algum problema que você precisa discutir com a Tia Jenny Agonia? — Ela riu. Era uma brincadeira, então a resposta de Sadie a surpreendeu.

— Para falar a verdade...