(Documento a que se refere a nota 3 do capítulo “Cemitério dos vivos”)

HOSPÍCIO NACIONAL DE ALIENADOS

Nome: Afonso H. de Lima Barreto

Filiação:

Idade: 34 anos [sic]

Raça: Parda

Nacionalidade: Brasileira

Naturalidade: Carioca

Religião:

Profissão: Escritor

Estado Civil: Solteiro

Instrução:

Classe: D. F.

Número Geral:

Número do Ano:

Livro de Matrícula:

Enviado: pela Repartição Central de Polícia

Premissas Legais de Internação:

(Do Pavilhão de Observações ou certificados médicos, datas, autores)

Em branco.

Permanência Anterior, Data e Diagnóstico

Saída – Transferido para a Seção Calmeil em 29-12-1919

Anamnese

É um indivíduo precocemente envelhecido, de olhar amortecido; fácies de bebedor, regularmente nutrido.

Perfeitamente orientado no tempo, lugar e meio, confessa desde logo fazer uso, em larga escala, de parati; compreende ser um vício muito prejudicial, porém, apesar de enormes esforços; não consegue deixar a bebida.

Por este abuso já passou certa vez três meses no Pavilhão, o que, entretanto, nada adiantou, voltando desde a saída a embriagar-se. Informa que as suas perturbações quando aparecem são em forma de delírios, sempre consequentes a um abuso mais forte e mais demorado.

Foi o que sucedeu desta vez, alarmando um seu irmão, que julgou conveniente a sua internação, apesar de seus protestos.

Indivíduo de cultura intelectual, diz-se escritor, tendo já quatro romances editados, e é atual colaborador da Careta.

Fala em seus últimos delírios, reconhecendo perfeitamente o fundo doentio deles, e diz-se certo que tal só sucedeu graças às suas perturbações mentais.

Estes delírios que são facilmente descritos pelo paciente são de caráter terrificante, perseguidor, etc.

Geralmente a amnésia em relação às fases de embriaguez é completa, porém estes últimos delírios, segundo o próprio, passaram-se sem que estivesse em completo etilismo, motivo por que é capaz de descrevê-los.

Mãe falecida tuberculosa. Pai vivo, aposentado no serviço de administração das Colônias de Assistência a Alienados; há 18 anos não sai de casa, preso de psicastenia ou lipemania, como informa o examinado.

São notáveis os tremores fibrilares da língua e das extremidades digitais apresentados pelo paciente, bem como abalos e tremores dos músculos da face, mormente quando fala. Palavra algo arrastada e meio enrolada, certas vezes. Teve blenorragia e cancro mole, icterícia e febres palustres.

26-12-19.

J. A.XV*

NOTA – Merece assinalar que o paciente, referindo-se ao seu escrito a sair sábado, 27, na Careta, tendo sido feito há apenas 15 dias, está para ele completamente esquecido. Foi elaborado quando em estado de leve embriaguez.

Diagnóstico:

Alcoolismo

Prognóstico:

Em branco

Tratamento:

Purgativo. Poção gomosa de ópio

Seção Pinel do Hospital Pedro II. Livro de Observações nº 64 (4-10-1919 – 21-1-1920), pp. 144 e segs.

(Documento a que se refere a nota 8 do capítulo “Ponta do Galeão”)

HOSPÍCIO NACIONAL DE ALIENADOS

Nome: Afonso Henrique [sic] de Lima Barreto

Filiação:

Idade: 33 anos [sic]

Raça: Parda

Nacionalidade: Brasil

Religião:

Profissão: Empregado público

Estado Civil: Solteiro

Instrução: Boa

Classe: 4ª

Número Geral:

Número do Ano:

Livro de Matrícula:

Enviado: pela família

Premissas Legais de Internação:

(Do Pavilhão de Observações ou certificados médicos, datas, autores)

Em branco.

Permanência anterior, data e diagnóstico:

Entrada na seção: 27 de agosto de 1914 (de permanência atual)

Saída: 13 de outubro de 1914 (Alta a pedido)

Transferido da S. Pinel, em 29 de dezembro de 1919

Anamnese:

Este doente foi internado quando o alienista que dirige a Seção Calmeil e escreve estas linhas se achava em gozo de licença. Não o vi, portanto. Estou porém informado de que no Pavilhão de Observações, onde permaneceu cerca de um mês, teve o diagnóstico de alcoolismo.

O inspetor desta Seção conhece seu pai, que era administrador das Colônias de Alienados da Ilha do Governador. Informa que este senhor fazia uso excessivo de bebidas alcóolicas, apresentando humor irascível e taciturno. Consta-nos ainda que o progenitor do observado se acha agora em avançado estado de demência.

O observado Afonso Henrique [sic] goza nos meios literários da reputação de um escritor talentoso e forte, cheio de mordacidade. Aliás, alguns de seus trabalhos evidenciam, esses méritos de escritor. Parece que nas palestras de café é o observado muito querido por seus ditos chistosos e picantes.

Exame direto:

Em branco

Diagnóstico:

Alcoolismo

Prognóstico:

Em branco

Tratamento:

Em branco

Seção Calmeil do Hospital Gustavo Riedel

Livro de Observações nº 9, pp. 76 e segs.

XV* Dr. José Carneiro Airosa.