PERFIS PARLAMENTARES ULYSSES GUIMARÃES

PREFÁCIO À 2ª EDIÇÃO

A Câmara dos Deputados, em gesto de grande acerto de sua Mesa Diretora, decidiu reeditar este livro sobre um dos maiores parlamentares, senão o maior, de nossa história republicana: Ulysses Guimarães. São realmente merecidos, por todos os ângulos, a distinção e o reconhecimento a ele dedicados.

As ideias, os gestos e as palavras de Ulysses, no exercício de seus onze mandatos de deputado federal, moldaram um perfil pessoal inigualável, fruto de uma atuação, conjunta ou isolada, que se caracterizou pelo seu incomensurável talento para a política. Por essa engenhosa habilidade foram lapidadas muitas das mais preciosas instituições que hoje distinguem e honram a nação brasileira.

Ulysses era mestre da esgrima verbal, um talentoso produtor de textos e um sedutor tribuno. Ao falar, fazia com que todas as suas expressões fossem respeitosamente ouvidas. Todas as palavras por ele proferidas, pelo comprometimento e o peso que ele a elas emprestava, passavam a ser relevantes, merecedoras de grifo.

Naquele 12 de outubro de 1992, ele mergulhou para as entranhas do Oceano Atlântico que o acolheu e o incorporou para sempre. Só a imensidão do mar poderia hospedar a alma e a estátua do grande, do maior de todos os parlamentares brasileiros: Ulysses Guimarães.

Assim, Ulysses continua navegando no oceano do inconsciente político nacional. Foi-se a vida no sentido físico e revigorou-se a vida de sua obra, de sua memória e de suas profecias. Em cada onda que chega à mansidão da praia rasa, ou naquela que embate nos rochedos, está um pouco da sua alma indomável.

Parecendo antever como partiria de nosso convívio, navegando, Ulysses encerrou seu discurso de aceitação de sua anticandidatura à presidência da República com uma das suas marcas:

“... nossa carta de marear não é de Camões, e sim de Fernando Pessoa ao recordar o brado:

‘Navegar é preciso

Viver não é preciso’.”

Esse é o estadista cujo perfil está retratado nas páginas deste volume.

Como veremos nesta coletânea, a acuidade e a sensibilidade político-social de Ulysses tornaram atualíssimos seus conceitos e suas lições sobre a política, o desenvolvimento e a justiça social do Estado brasileiro. Mesmo aquelas palavras cunhadas há décadas, hoje se apresentam palpitantes.

Houve-se com extrema felicidade o jubilado jornalista Luiz Gutemberg, que, para compor esta coletânea, promoveu uma criteriosa seleção das manifestações de Ulysses, de tal forma que, somadas entre si, como adiante estará comprovado, traçam o caráter deste estadista de exceção. Assim, ao concluir a leitura do que foi aqui habilidosamente compendiado, o leitor terá uma exposição fiel do perfil de Ulysses Guimarães.

A propósito da descrença na política e da decrescente participação dos cidadãos nos processos eleitorais, observadas pela abstenção e pelos votos nulos e brancos que nestas eleições subiram a patamares preocupantes, seria altamente conveniente que toda a nação refletisse sobre ao menos três das suas tantas lições:

Lição 1: “Esse vácuo popular da política brasileira é perverso e desumano, pois quando o povo é expulso da política, simultaneamente é deserdado do desenvolvimento”.

Lição 2: “Na política, o povo ou é tudo ou é nada, ou é personagem como cidadão ou é vítima como vassalo”.

Lição 3: “...Política não se faz com ódio, pois não é função hepática. É filha da consciência, irmã do caráter, hóspede do coração. Eventualmente, pode até ser açoitada pela mesma cólera com que Jesus Cristo, o político da Paz e da Justiça, expulsou os vendilhões do Templo. Nunca com a raiva dos invejosos, maledicentes, frustrados ou ressentidos. Sejamos fiéis ao evangelho de Santo Agostinho: ódio ao pecado, amor ao pecador. Quem não se interessa pela política, não se interessa pela vida...”

Essas premissas, concebidas e publicizadas pelo Senhor Diretas-já, transcorridas há décadas, parecem dirigidas para o Brasil de hoje. Sem a formação e o exercício da cidadania, a nação continuará marcando passos, a política não atingirá seus fins, os partidos definharão e a democracia correrá riscos. Ausentes a formação e o exercício da política, a República não garantirá a independência e a harmonia entre os poderes.

Outra assertiva de Ulysses que também deveria ser conhecida e avaliada por todos os brasileiros é a que vai ao encontro do momento em que passamos a disputar a sexta melhor posição na geração de riquezas – 6º maior PIB –, porém, concomitante e contraditoriamente, passamos a ocupar também a vexatória octogésima quarta posição na aferição do desenvolvimento humano – 84º IDH. São palavras de Ulysses:

“Desenvolvimento sem liberdade e justiça social não tem esse nome. É crescimento ou inchação, é empilhamento de coisas e valores, é estocagem de serviços, utilidades e divisas, estranha ao homem e a seus problemas, é inacessível tesouro no fundo do mar, inatingível pelas reivindicações populares”.

A elaboração de conceitos políticos como esses é que elevam Ulysses à posição de respeitado estadista.

Portanto, antes de concluir, temos que reiterar que o legado conceitual de Ulysses, fonte permanente de inspiração para a fundação que leva seu nome e que, para minha honra, presido, está atualíssimo em relação ao processo político nacional. Sua contribuição tende à perpetuidade.

Todos os que fazem a Fundação Ulysses Guimarães nos vinte e seis estados do Brasil e no Distrito Federal ficarão gratificados com a leitura e a reflexão sobre as incomensuráveis contribuições deixadas pelo Dr. Ulysses à nossa nação.

Eliseu Padilha

Presidente da Fundação Ulysses Guimarães