2

Você alimenta a esperança de que as coisas vão melhorar, mas quando nada acontece... é simplesmente um saco!

Eu pensei, de verdade, que hoje seria diferente. Me imaginei chegando à escola, e as pessoas olhando para mim de outro modo, como se eu não fosse mais uma criatura bizarra. Mas o primeiro dia de aula não está sendo assim. Está sendo ruim. Tipo, desesperadamente ruim. Porque quando todos esperam que você seja de determinada maneira é mesmo muito difícil escapar desta imagem. É como se, num momento qualquer, alguém decidisse o que você é; você fica presa dentro desta imagem e pronto. E, no ano passado, todos chegaram à conclusão de que eu era maluca. Mas estou resolvida a escapar desse rótulo. Tenho que acreditar que deve haver uma saída para mim.

Sterling parece bem. Mas ela está sempre bem. É baixinha e bonita, e as pessoas gostam dela. Não somos mais colegas de classe este ano, e não faço ideia de como é que vou sobreviver à hora do almoço. Eu a encontrei no corredor, no momento da distribuição dos armários dos alunos, e ela conversava com as pessoas, rindo, como se não estivesse minimamente nervosa. No primeiro dia de aula, eu sempre sinto uma espécie de bolo no estômago, sensação que só passa quando chego em casa. Além disso, nunca consigo pegar no sono na noite anterior; portanto, estou tentando lidar com minha vida desastrosa tendo dormido apenas duas horas.

Eu esperava que as pessoas percebessem que mudei. Fiz um esforço para sorrir para elas e dizer “oi” ao entrar na recepção da escola, mas fui basicamente ignorada.

Por que ninguém quer falar comigo? Me refiro aos outros, além das pessoas com quem já converso há anos. Tipo, eu esperava fazer novos amigos. Tenho poucos amigos e acho isso um saco. Um monte de adolescentes sai junto, nestes grupos grandes. Seria tão legal fazer isso!

Bem, deixa pra lá. Não consigo nem mesmo lidar com isso agora, pois temos que participar de uma atividade para “conhecer o colega” na aula de Química. Odeio quando os professores nos colocam sentados em círculo, no primeiro dia de aula, e propõem uma atividade em que você tem de se apresentar. Tipo, todos os nervos do seu corpo já estão tremendo, o que já é desagradável o suficiente, e a última coisa que você tem vontade de fazer é falar na frente dos outros. Como é que os professores conseguem ignorar isso?

Até que não acho tão abominável a atitude da sra. Hunter, que nos coloca para fazer esta atividade em duplas. Já temos os lugares previamente determinados. O meu é na frente de Nash. Então nos dão uma folha com questões e, dentre elas, temos que escolher dez que gostaríamos de perguntar a um amigo em potencial. Se você pensar no objetivo da coisa, não é uma má ideia. Poder entrevistar os seus amigos em potencial seria o máximo, pois, assim, você não teria tantas surpresas desagradáveis mais tarde. Porque uma amizade, uma vez perdida, não dá pra recuperar.

Depois de escolhermos nossas dez perguntas, viro minha carteira na direção de Nash.

Nash começa.

— Se você fosse uma forma, que forma seria e por quê?

Olho para a minha folha e dou um sorriso. Esta era a pergunta mais bizarra e, por isso, era a minha predileta.

— O que foi? — pergunta Nash.

— Eu também escolhi esta pergunta.

— Então, que forma você seria?

— Hum.

Preciso pensar seriamente sobre a pergunta. Além de eu ter de sentar na frente deste cara, pelo resto do ano, nós seremos também parceiros no laboratório. Isso significa que teremos de fazer todos os relatórios de laboratório juntos, além de alguns poucos projetos grandes. Portanto, se eu lhe passar uma impressão horrível, e ele me achar uma inútil, será bastante difícil provar o contrário dali em diante.

OK, esta não é a primeira vez que ele me encontra. Mas é a primeira vez que trocamos mais de três palavras desde as aulas no ensino fundamental e, hoje, estou a fim de causar uma boa impressão em todos. Não me importo apenas com minha aparência (cabelo loiro na altura dos ombros com mechas naturais, olhos castanhos com brilho verde conforme a incidência da luz, nem gorda nem magrela, camiseta branca, jeans, tênis Converse pretos). Também é importante fazer que minha nova personalidade seja percebida.

— Eu seria... um círculo — digo. — Dentro de um quadrado.

— Acho que você só pode escolher uma forma.

— Bem, não posso me definir com apenas uma forma.

— Sei.

— Sou uma pessoa muito complexa — digo, embora isso não seja verdade. Mas dizer isso me dá a sensação de ser corajosa e atrevida. Como se eu pudesse ser qualquer pessoa, e ele nem notaria a diferença.

— Entendo — diz Nash. Ele tem um brilho nos olhos e um sorriso no canto da boca.

Não se deixe enganar. Ele não é um namorado em potencial.

E por que não? Nash é totalmente esquisito. Seu cabelo está sempre desalinhado, sua camisa... ele parece ter dormido com ela, e fica o tempo todo corrigindo as pessoas quando elas erram, num estilo irritante de quem acha que sabe tudo. Suas habilidades sociais são patéticas, e eu quero ter mais amigos; portanto, não temos, digamos, as mesmas prioridades. Além disso, eu o vi lambendo os dedos na hora do almoço quando o guardanapo estava lá, bem na frente dele.

Sem chance.

Mas Nash tem algumas virtudes. Gosto do seu jeito tímido e meigo. Ele não é como a maioria dos caras, que têm sempre um comportamento idiota e se metem a entender de tudo. Caras com um jeito tipo: “Ei, estamos no 10º ano e já somos adultos!”. Nash parece muito mais maduro. Minha tia Katie diria que ele tem uma “alma antiga”.

Quando éramos mais novos e corríamos atrás de pirilampos no verão, ou fazíamos bonecos de neve no inverno, estas qualidades eram suficientes. Podíamos ser amigos sem que as coisas ficassem estranhas. Mas agora, que somos mais velhos, tudo tem um significado diferente. Agora existem, tipo, consequências.