Encontrei este emprego na Claire’s umas duas semanas atrás, logo depois do dia de Ação de Graças. Um tédio. Quero dizer, o Ação de Graças é que foi um tédio. Na verdade, meu emprego também é um tédio. Mas a celebração de Ação de Graças foi tensa. Definitivamente, algo está acontecendo com meus pais. Eles mal se olharam a noite toda. E Sandra ter se recusado a experimentar metade dos pratos que mamãe preparou só fez as coisas piorarem.
A Claire’s fica dentro do Deque, então dá para vir da escola até aqui a pé. Trabalho duas tardes por semana, depois das aulas, além dos fins de semana. Tenho desconto na compra de todos os produtos, o que é legal, pois adoro os brincos e a sombra com glitter que eles vendem na loja.
Hoje é um daqueles dias em que não estou a fim de falar com ninguém, mas preciso fazer isso, já que é parte de meu trabalho. Quando você trabalha com vendas de varejo, não tem muita escolha em relação às interações sociais. E eu sempre disse a mim mesma que jamais me transformaria numa dessas funcionárias mal-humoradas do caixa que ficam gritando com a cliente sem motivo algum. As pessoas têm direito, ao menos, a um pouco de paz para poder comprar suas joias ultramodernas que, no mês que vem, já vão estar fora de moda.
Mal estou prestando atenção quando chega o próximo cliente no caixa.
— Você encontrou tudo que procurava? — pergunto, sem olhar para cima. É uma pergunta automática que fazemos a qualquer um que se aproxime do caixa. Somos obrigados a dizer isso, assim como temos de dizer: “Oi, bem-vindo à Claire’s!”, quando um cliente entra na loja.
Dessa vez, o cliente não diz coisa nenhuma. Então, interrompo minha leitura (coisa que não podemos fazer de jeito nenhum, mas o movimento está fraco), olho para cima e ali está Nash.
— Ainda não — ele responde.
— Ei! Não vi você entrando.
— Lendo escondida, outra vez?
É isso que eu faço quando não há ninguém por perto. Um rapaz na frente fica vigiando a porta, e outro está repondo o estoque de pulseiras. Mas não há clientes na loja. Sempre coloco um livro por baixo do balcão e leio quando não tem movimento. Se ficasse sentada aqui sem fazer nada, eu dormiria.
Achei o máximo Nash ter vindo me visitar. Ele apareceu aqui outro dia. Era meu segundo dia de trabalho, e ele estava de passagem com Jordan. Estavam a caminho do Shake Shack.
— É claro! — confesso. — Você quer que eu morra de tédio?
— Não exatamente.
Ficamos, então, tipo olhando um para o outro sem nada a dizer. Começo a achar que este clima estranho vai continuar entre nós, por mais que eu me esforce para fazê-lo desaparecer.
— Hum... Não posso ficar muito tempo — diz Nash.
— OK...
— Só vim aqui comprar uma coisinha para uma pessoa.
— Ah... E essa pessoa não seria, por acaso, uma menina, seria?
— Como você adivinhou? — Ele dá um pequeno sorriso.
— Eu tenho esse tipo de habilidade. Se você puder ser mais específico sobre o que seria essa “coisinha”, talvez eu possa sugerir algo que agrade a ela.
— Bom, eu estava pensando nuns brincos.
— Não pensou num colar? Tem um bem legal aqui, posso mostrar. Este aqui. A pessoa talvez goste. — Arregalo os olhos, como se dissesse “Hmmmm! Quem será tal pessoa?”.
— É para a Rachel — ele diz.
O comentário apaga o sorriso de meu rosto.
— Ah... — digo. Encontro com Rachel todos os dias na escola. Estamos na mesma sala, em Geometria. Não fazia ideia de que Nash gostava dela.
— Você sabe que estamos saindo juntos, não?
— Ahn... não, não sabia.
— Então, bem... ela tem um monte de brincos, então eu pensei...
— Não, claro, brinco é uma ideia melhor.
— Você gosta dos brincos daqui?
— São legaizinhos.
— Quais são seus favoritos?
— Ahn... — Saio de trás do balcão e vou até o mostruário dos brincos. — Gosto destes aqui — Seguro nos dedos um de prata, em forma de espiral. — Mas acho que depende do gosto dela.
— É... não sei mesmo.
— Ela não tem vários brincos? Como este aqui. — Apanho um de argola, grande e dourado. — Eles dizem muito sobre a pessoa que os usa.
— Coisas do tipo...?
— Do tipo “sou uma extrovertida espalhafatosa e quero que todos no ambiente reparem em mim”. — Não acredito que acabei de dizer isso! Peguei pesado. E, por algum motivo, tenho dificuldade de falar o nome Rachel. Por que não consigo, simplesmente, ficar feliz por meu amigo? Por que tenho que ser tão esquisitona em relação a tudo?
— Rachel não faz muito esse estilo — diz Nash.
Ele tem razão. E esta é a parte mais chata nessa história toda. Ela é bonita, supergentil e tem um estilo incrível.
Pego outro par.
— Que tal estes?
— O estilo dela é mais... — Nash examina o brinco. — Mais como este. — Ele pega um com pingentes.
— Ah! Complicada, ela.
— É — Nash sorri. — Exatamente.
— Então... você gosta de mulheres complicadas?
— Aparentemente. — Nash me interroga com seu olhar profundo, mas de um modo legal. Um jeito tipo “você sabe o que quero dizer. Você já passou por esta situação”. E sei que ele está pensando que sou uma garota complicada.
Não parece que ele ainda goste de mim. Se gostasse, por que estaria saindo com Rachel? E como é que eu podia ignorar que eles estavam juntos?
Quando chego em casa, meu pai pergunta:
— Ei, garota, como foi no trabalho?
— Emocionante!
— Bom assim, é?
— Ainda melhor. — Sei bem que não devo descontar meu mau humor no meu pai. É que quando eu fico nesse estado, corre o risco de sobrar para qualquer um que chegue perto.
— Sua mãe vai trabalhar até mais tarde hoje — diz papai.
— De novo? — Tipo, é a terceira vez esta semana.
— Que tal, na hora do jantar, a gente tomar café da manhã?
— Estou sem fome.
— Você precisa comer.
— Eu como mais tarde.
— Mas daqui a pouco vou preparar uns deliciosos waffles congelados.
— Tudo bem.
Eis aqui um exemplo de como fico ansiosa sobre uma coisa totalmente nada a ver, o que acaba estragando tudo. Por que é que tenho de ficar toda histérica pelo fato de Nash estar saindo com Rachel? É da conta de alguém se eles estão saindo juntos?