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Nash está de camisa nova.

Uma novidade como esta, em geral, pode parecer tão sem importância que mal poderia ser chamada de novidade. Mas, no caso de Nash, a história é bem diferente.

Esse fato tem muita importância.

Nash nunca usa camisas novas. Todas as roupas dele aparentam ser de uma época não identificável, em que as roupas das pessoas simplesmente nada tinham de legal. Calças masculinas de flanela de número maior do que o dele, jeans com aparência esquisita, tênis antiquados, coisas assim. Ele nunca se preocupou com as roupas que usa. E ainda que ele tenha uma altura maior do que tinha no início das aulas, as roupas aparentemente ainda lhe servem. Bem, mais ou menos. Sempre sinto vontade de pegar Nash e ir com ele ao Deque para obrigá-lo a comprar umas roupas da nossa década.

Essa camisa nova dele é demais!

— Camisa nova, hein? — chamo sua atenção. Estamos na cama dele, assistindo a mais um filme retrô. Este é sobre um rapaz do tipo acomodado que se apaixona pela oradora oficial da turma, e sobre a relação entre os dois, depois da cerimônia de graduação.

— É verdade. Gostou?

— Adorei. Onde você comprou?

— No Urban Outfitters.

— Fala sério!

— É, eu acho...

— Impossível. — Sem chance de que, além de ter comprado camisa nova, ele tenha ido a uma loja descolada para comprá-la. Eu nem fazia ideia de que ele sabia da existência da Urban Outfitters.

— Impossível por quê?

— Quando foi a última vez que você comprou uma camisa?

— Hã... — Nash fica pensando. — Tipo... — Continua pensando.

— Deixa pra lá. É que eu nunca vi você de camisa nova.

— Bem, acabou de ver.

— É o que parece. Quando é que você comprou?

— Não fui eu. Foi a Rachel que me deu.

Eu devia ter desconfiado que era coisa da Rachel. Ela, com certeza, está influenciando Nash. Por que outra razão ele se ligaria assim, de repente, em moda?

— Legal — digo.

— Obrigado.

— Então, como estão indo as coisas entre vocês dois?

— Tudo ótimo.

— Você nunca me disse que gostava dela. Eu nem sabia que vocês estavam saindo juntos até aquele dia em que você apareceu na Claire’s.

— É.

— Por que você não me contou?

— Ah. Bom... acho que foi pra não dar azar. Ou algo assim.

Nash me conta uma história divertida envolvendo um cubo mágico qualquer e o primeiro encontro dos dois. Penso por que sinto vontade de ouvir a história e, ao mesmo tempo, não sinto. Por que é que não consigo ficar feliz por ele? Por que é que tudo me incomoda tanto?

Coloco a mão na tigela de pipoca ao mesmo tempo que Nash. Nossas mãos se tocam.

— Quando é que ela comprou esta camisa pra você?

— Ontem. O que foi bom, já que eu esqueci completamente de lavar minhas roupas.

Nash tem problemas com roupas para lavar. Nash e o pai dele... Tem uma porção de coisas básicas que eles não conhecem. Eles ainda não aprenderam, mesmo, a fazer coisas simples como lavar roupa. Parece que não houve uma situação em que a mãe dele, a caminho do trabalho, parou e voltou para explicar a eles como fazer. Lembro-me de uma vez, no ano passado, quando Nash colocou roupas brancas e coloridas, tudo na mesma lavagem, e todas as camisas brancas ficaram cor-de-rosa. Ou então da vez em que se esqueceu das roupas molhadas dentro da máquina de lavar a noite inteira, e tudo acabou ficando com cheiro de mofo. Foi ridículo.

Em comparação com esses episódios, esta camisa é um progresso total.

— Uau, então... — digo.

Tecnicamente, Nash e eu somos amigos. Isso significa que deveríamos ser capazes de conversar sobre assuntos normais entre amigos, tipo com quem estamos namorando, e as coisas que fazemos com o namorado.

— ... então vocês dois estão...

Só que... tem alguma coisa que atrapalha. Tipo, o fato de eu saber que Nash gostava de mim mais do que como uma amiga.

— ... tendo um relacionamento sério — concluo.

— É isso.

Pensando bem, não estou mais a fim de ouvir coisas sobre Rachel, assim como Nash provavelmente não está a fim de saber de coisas sobre Derek.