Dirty Dirk está em toda parte. Não sei como consegue. Ele simplesmente parece estar a par de tudo que se passa com todo mundo.
Talvez ele tenha contratado espiões. Talvez seja um adolescente rico que pode pagar gente para espionar e lhe trazer relatórios sobre os segredos das pessoas. Mas ninguém parece estar alimentando qualquer neura por estar sendo espionado. Todos estão adorando escutar o programa de Dirk quase todas as noites, quando ele sempre diz exatamente aquilo que você quer ouvir.
Antes de começar a ouvir o programa de Dirk, nunca parei muito para pensar no meu modo de falar. Mas, agora, sempre que tenho algo a dizer a todos, durante a aula, paro e imagino a maneira como Dirk diria isso. Penso em como eu poderia dizer isso melhor, do jeito que ele sempre faz com as coisas mais básicas, tanto que você não encontraria melhor maneira de falar que a dele.
E ele sabe das coisas. De muitas coisas. Coisas que, com certeza, você tem vontade de saber. Ele demonstra ter uma inteligência absurda sobre a natureza humana e o comportamento das pessoas. As observações que faz dão respostas a todas as questões que você possa ter sobre o comportamento delas. Juro! É como se houvesse uma revelação grandiosa a cada programa. Ou, então, fala exatamente sobre as coisas que têm incomodado você recentemente, como se, de alguma forma, ele estivesse dentro de sua mente.
Veja, por exemplo, o que aconteceu numa noite dessas. Meu pai passaria para me pegar na manhã seguinte, para passarmos o dia juntos, e eu tinha acabado de ter uma discussão séria com minha mãe. Ele vive me pressionando para que eu converse com ela e para que me encontre com Jack, e isso não vai acontecer de jeito nenhum. Então, me peguei pensando: “Que coisa louca! Passei de um sentimento de ódio pelo meu pai e de amor pela minha mãe para o extremo oposto”, e percebi que não conseguiria dormir de jeito nenhum. Não podia deixar de pensar em como tudo isso era injusto. Foi quando o programa do Dirk foi ao ar, e ele disse que, quando a união entre os pais está sofrendo uma reviravolta, a melhor maneira de lidar com isso é distanciar-se imediatamente da situação.
— O truque é não se envolver demais — explicou Dirk. — Tá certo, eles são seus pais e, OK, é provável que você tenha de conviver com pelo menos um deles, mas isso não significa que podem controlar sua vida. Você tem sua própria vida. Viva! Deixe que eles lidem com a loucura deles.
Vindo de Dirk, isso tem um significado enorme. O simples fato de minha mãe ter tido um caso e de meu pai ter saído de casa não significa que minha vida acabou.
Está quase na hora de começar o quadro All Talk, No Action, então eu me preparo. Pego meu refrigerante Jones Fufu Berry e meu travesseiro lilás felpudo, que uso de encosto. Deixo tudo pronto sobre a cama.
Há noites em que o programa de Dirk não vai ao ar. A essa altura, há tantos adolescentes acompanhando a transmissão que, quando isso acontece, eles ficam no maior baixo astral no dia seguinte. Mas o programa é transmitido quase todas as noites e passa a ser o assunto durante todo o dia seguinte. Isso porque, em geral, ele expõe alguém ou alguma coisa que mereça ser trazida à tona. Ele protege inteiramente todo mundo, particularmente os adolescentes que são tratados com injustiça.
Acho que a razão por que muitos de nós adoramos Dirk é que, quando ele fala, é como se estivéssemos desabafando através dele. Como se estivéssemos todos juntos nesse barco, sentindo as mesmas frustrações e mágoas. É tão estranho o tanto de confiança que tenho nele para atravessar este mês gelado de fevereiro! E eu nem mesmo sei quem ele é. Gostaria que houvesse uma maneira de lhe dizer pessoalmente o quanto significa para mim. Mas ele continua sendo um mistério. E isso incomoda a todos nós, já que todos o adoram e querem conhecê-lo ao vivo.
Às 23 horas em ponto, os alto-falantes de meu computador começam a tocar uma música alta. O programa dele vai começar.
— E aí, galera? — diz Dirk. — Espero que vocês estejam bem esta noite. As mensagens estão se acumulando aqui, no quadro All Talk, No Action. Vamos lá, então.
Dá para ouvi-lo mexendo em seu teclado. Gostaria de estar sentada a seu lado, onde quer que ele esteja, do outro lado, onde mora o segredo.
— Oi, Dirk — ele começa a ler. — Estou apaixonada por um carinha lindo, mas não tenho certeza se ele gosta de mim. Pensei em convidá-lo para sair, mas não quero ficar insistindo. Estamos juntos numa disciplina em que ele não está se saindo muito bem (vi a nota que tirou no último trabalho que recebemos corrigido), e eu sou boa nessa matéria. Então pensei em oferecer ajuda a ele no próximo trabalho, algo assim. Você acha que devo dizer que gosto dele? Ou devo simplesmente fazer alguma coisa legal pra que ele comece a prestar atenção em mim? Adoro seu programa!
— Cara, se eu ganhasse um dólar a cada e-mail desse tipo, já estaria podre de rico! E morando em Aruba, com minha massagista particular.
— Vou comentar isso em detalhes pra você. É uma coisa muito simples, uma vez que você compreende o básico. O fato: os rapazes não são tão complicados assim. Nós somos animais muito simples. Gostamos de dormir, de comer e de jogar games. Gostamos de chamar a atenção das meninas — ou mesmo dos outros rapazes. Para aqueles que curtem essa parada, isso pode ser bom. Mas o excesso de atenção é uma coisa broxante. Ninguém gosta de se sentir acuado. Pense no seguinte: um animal selvagem gosta de se sentir preso numa jaula? OK, nós somos domesticados. Mas, ainda assim, temos as mesmas necessidades.
A maioria dos caras da nossa sala não sabe metade disso tudo. Ou então sabe, mas jamais admitiria. Só que Dirk não dá a mínima bola para a obrigação de manter a pose de um cara legal ou para a necessidade de proteger o próprio ego, ou qualquer insanidade dessas, alimentadas pela testosterona. Ele fala disso tudo do jeito que as coisas são; transmitindo sua mensagem a pessoas que querem conectar-se com alguém que as entenda.
— Ouçam uma coisa! Rapazes e garotas são diferentes entre si. Sem brincadeira. Não é porque somos humanos que temos muito em comum. É por isso, minhas ouvintes do sexo feminino, que esta é a sua noite de sorte. No programa de hoje, e somente hoje, vou expor a realidade nua e crua sobre os rapazes. Se todas as garotas soubessem como os rapazes de fato são, a vida de vocês poderia mudar assim... — Ele dá um estalo com os dedos, indicando a rapidez com que nossa vida poderia mudar. — Vocês podem poupar anos de sofrimento e de tortura se souberem nossa maneira de pensar.
— Pra começar, as garotas gastam energia demasiada em coisas que não significam nada. Por exemplo, uma menina gosta de um cara. A partir de uma pista qualquer, ela irá contorcer e distorcer o significado desta pista até que, magicamente, isso passe a significar que ele gosta dela. Então, de repente, ela está obcecada pelo cara, que mal sabe que ela existe.
OK. Mas como é que ele sabe isso tudo? Tem cinco irmãs ou algo assim?
— Simplifiquem suas vidas, meninas! Vou tornar as coisas mais simples para vocês. Eu tenho aqui — som de papéis sendo agitados — uma lista de coisas que toda garota deve saber. E quero que cada uma de vocês aí do outro lado aumente o volume, chame suas amigas e preste atenção. OK, vou dar a todas um minuto para se juntarem.
Uma música que eu não reconheço começa a tocar alto, nos alto-falantes. Não me dei conta de como eu era musicalmente ignorante. Não conheço a maioria das músicas que Dirk põe para tocar no programa.
— Se você é mulher, esta vai pra você. E, caso você goste de cultivar alguma espécie de dependência emocional, fique à vontade para discordar de mim.
— “A verdadeira personalidade dos rapazes”, por Dirty Dirk. Número 1: você não tem como convencer um rapaz a gostar de você. Ou sentimos algo por você ou não sentimos. Autoexplicativo, isso tudo. Você não tem como fazer com que a gente mude de ideia. Basicamente, se gostamos de você, você vai ficar sabendo disso. Agora, se isso não acontecer...
Meu celular toca. Não estou a fim de atender, mas vejo que é Sterling.
— Oi — digo.
— Você está ouvindo o programa?
— Claro!
— Onde é que estava este cara quando eu precisava dele?
— Nem me fale. — Mantenho o celular grudado num ouvido, atenta ao que Dirk diz, com o outro.
— Número 2 — diz Dirk. — Nós odiamos conversas excessivamente sentimentais. Faremos de tudo para evitar qualquer tipo de conversa séria, sobretudo se ela for sobre o “relacionamento”.
— Três. Não é porque uma garota tem sentimentos profundos pelo cara que ele, de sua parte, vai esperar mais do que um relacionamento casual. Não imagine que o interesse dele implique um interesse que vai além do seu corpo.
— Ai! — Sterling diz. — Essa doeu.
— Total.
— Sei que isso pode soar meio pesado — diz Dirk —, mas estou apresentando os fatos a vocês. Não vou dourar a pílula para que possam engolir com maior facilidade. Esta é a realidade nua e crua e estar informado a respeito dela só pode trazer benefícios a vocês.
— Ele consegue nos ouvir? — pergunto.
— É provável. Ele já sabe de tantas outras coisas!
— Quatro. Se a garota começa um relacionamento informal com um cara, sem dizer a ele que pretende ter um relacionamento sério, nunca haverá um relacionamento. Se você lhe der a impressão de que manter algo informal é o suficiente, é isso que ele sempre vai querer ter. Seja honesta com ele desde o início. Se ficar apavorado e sair correndo, é porque não era o cara certo para você.
— Total! — grita Sterling. — Isso é tão básico! Como é que eu pude ignorar estas coisas?
— Cinco. Não existe um único cara que goste de ver uma garota chorando. Rapaz nenhum gosta que gritem com ele porque ele agiu como um babaca. Portanto, quando as meninas acham que somos uns vermes porque as abandonamos, ou porque nos esquivamos completamente de qualquer conversa sobre a separação, isso acontece, na verdade, porque nossa intenção é evitar a tortura para os dois lados. É assim que vemos a coisa: se evitamos um confronto traumático no plano emocional, você vai se sentir melhor, e nós também. Isso nos leva ao item seis. Quando um cara está terminando com uma garota, tudo o que ele quer é dizer “está acabado” e então sair de cena. Ele não quer a menina se arrastando aos pés dele durante três horas.
— Uau! — digo.
— É verdade.
— Não estou dizendo que acho que nosso modo de ser esteja certo — diz Dirk. — Na verdade, essa é uma atitude bem esquisita. Sei que agimos feito babacas. Mas é assim que somos. Portanto, as meninas têm duas opções: podem lutar contra a nossa tendência natural ou navegar conforme a maré. Bem, agora vocês têm as informações.
A música explode nos alto-falantes de novo.
— Ele é um supergênio! — diz Sterling.
— São meio apavorantes, essas coisas, mas prefiro saber a não saber.
— Aaaaah! Por que é que tudo tem que ser tão complicado?
— É verdade.
— Isso está acabando comigo. Se eu não tivesse o Paul, não sei o que faria.
Não faço ideia do que dizer a respeito. Paul é um cara com quem Sterling tem conversado on-line. Ela tem passado tanto tempo on-line recentemente, que é como se estivesse totalmente viciada. Minha intenção é dar apoio a ela e, com certeza, não quero entrar numa discussão sobre como um cara sinistro está impedindo que ela tenha um namorado real. Mas não consigo me obrigar a aceitar isso. Simplesmente está errado.
— Você está aí? — pergunta Sterling.
— Estou.
— Você ficou calada.
— Não, estou só... espera, não estou reconhecendo...
— Sou eu, cara.
— Estou falando da música.
— Ah. Ah, sim, acho que são os Pixies.
— Quem são? Nunca ouvi falar deles.
— É uma... hum... é... Também não os conheço direito.
— Quem você acha que é o Dirk?
— Como se eu não estivesse tentando descobrir isso desde o começo das aulas...!
— Em que ano você acha que ele está?
— Provavelmente no último ano — diz Sterling. — Ele é muito mais maduro do que qualquer um dos imbecis do nosso ano. O que sei é que ele é o cara dos meus sonhos.
— Então entra na fila e pega uma senha. — Não conheço ninguém que não esteja acompanhando o programa do Dirk. As garotas estão todas apaixonadas por ele, e os caras gostam do modo como ele lida com aqueles que aprontam.
— Não acredito que ninguém saiba ainda quem ele é — diz Sterling.
— Tem que haver uma maneira de descobrir.
— Sim, mas como?
— Ainda não pensei nisso. Mas a gente chega lá.