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— Precisamos conversar — minha mãe me diz.

Estou na cama, lendo um livro chamado Interligados. Para ser mais exata, estou lendo um parágrafo. O mesmo parágrafo que já li sete vezes. A cada vez que recomeço, digo a mim mesma que preciso manter o foco, senão vou passar o dia inteiro tentando ler a mesma droga de parágrafo.

— Mais tarde, pode ser? Estou tentando ler isso aqui.

— Prefiro conversar agora — responde mamãe.

— Mas estou na melhor parte!

— Marisa...

Paro a leitura e olho para ela.

— Seu pai está lá embaixo. Precisamos conversar com você e com Sandra.

— Sobre...?

— Você já vai saber. É importante.

A última coisa que tenho a intenção de ser é uma adolescente complicada. Prefiro ser a adolescente equilibrada. E também não quero ficar importunando mamãe para sempre. Mas não consigo não ficar zangada com ela.

Papai está sentado no sofá. Só que não está todo esparramado, com os pés esticados, como costumava fazer. Não parece estar à vontade; é como se estivesse sentado num sofá que não é o seu. Tem a postura que normalmente se tem quando se está na casa de um estranho.

Ele parece tão deslocado! Gostaria muito que tudo simplesmente voltasse a ser como era antes, todos nós felizes, e papai deitado no sofá, monopolizando o controle remoto.

— Ei, garota! — diz papai. Sandra está sentada ao lado dele. Calada.

Meus pais trocam olhares. Mamãe acena com a cabeça para papai.

— Tem uma coisa que precisamos dizer. Achei que seria melhor estarmos todos juntos para esta conversa — ele fala.

Eles têm um ar sério. Isso não está me cheirando bem.

— Pensamos muito sobre isso e achamos que é melhor... — diz mamãe.

— Eu quero que vocês duas saibam — papai interrompe — que nunca quis que isso acontecesse. Mas é a única maneira de a gente poder seguir em frente.

— A gente vai se divorciar — mamãe diz, num impulso.

Eles vão se divorciar. Não é uma simples separação. É tão insuportável estar na companhia um do outro que eles precisam fazer disso uma coisa permanente. Colocar um ponto final na história deles e tornar isso público.

Eles têm o olhar fixo em mim. Não sei bem o que esperam que eu faça. Que eu grite? Que chore, como Sandra está fazendo? Que tenha um ataque histérico? Deixa pra lá! Eles não vão ter reação nenhuma. Não merecem isso.

Mal consigo olhar para minha mãe. Ou para meu pai. Foi ela quem começou isso tudo, mas ele deixou que acontecesse.