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Na aula optativa de Psicologia, atiram um bilhete na direção da minha carteira. Olho para trás para ver quem jogou. Julia está olhando para mim.

Seguro o bilhete por debaixo da carteira para que a sra. Knight não perceba. Ela tem a má fama de notar essas coisas. Desdobro o papel devagar para ela não ouvir nada. Leio, então:

“Derek se sentou ao lado de Sierra durante o almoço. Achei que você deveria ficar sabendo.”

Sem chance. Se eles vêm se falando desde a última vez em que eu os vi juntos, por que é que Derek não me disse? E como é que, de repente, ele começa a almoçar com ela?

Olho de volta para Julia. Ela levanta os ombros como quem diz: “Desculpa por ter que contar isso”.

E por que ela tinha que me dizer? Só se achou que era importante. Tipo, se achou que ainda existia alguma coisa entre os dois.

Procuro Julia depois da aula.

— Por que você me contou aquilo?

— Achei que você ia querer saber.

— Mas pareceu pra você que... — É tão constrangedor! Eu mal a conheço e tenho que perguntar isso a ela. — ... eles estavam, tipo, você teve a impressão de que alguma coisa estava rolando?

Julia fica quieta durante um minuto. É uma pessoa legal e sei que não falou isso para me magoar. Ela não quer dizer nada que eu não queira mesmo saber.

— Não, na verdade não — diz ela. — Mas eu não estava perto deles o suficiente pra perceber.

— Ah!

— Eu só não tinha certeza se você já sabia, então...

— OK. Obrigada!

— Desculpa!

Fico furiosa. A necessidade de falar com Derek queima aqui dentro. É impossível pensar em qualquer outra coisa antes de eu falar com ele e descobrir a verdade. Mas preciso esperar, já que ainda temos mais uma última aula pela frente. Tenho certeza de que nada aconteceu.

Mas... se tenho tanta certeza, por que não consigo parar de pensar nisso?

Depois de uma eternidade, toca o sinal da última aula. Saio correndo da sala e chego em frente do armário de Derek antes dele.

— Oi, gata! — diz Derek, ao chegar. Ele me abraça como se nada estivesse acontecendo. Como se eu fosse a única menina em que ele estivesse interessado. Como se não tivesse sentado ao lado de Sierra no almoço.

Ele não sabe que eu já sei. Quero ver se admite sem que eu diga nada.

— O que você conta de novo? — pergunta ele.

— Nada de novo por aqui. E você?

— Daquele jeito... o de sempre.

— Então, tipo... não aconteceu nada de diferente hoje?

— Onde, aqui? Boa, essa! — Segura minha mão e começa a andar, mas eu não me mexo. Ele me olha. Seu olhar não é de medo. Parece que, além de não saber que eu já sei, ele não tem a mínima intenção de me contar sobre seu encontro na hora do almoço. — Pronta pra ir embora?

— Não muito.

— O que aconteceu?

— Você... almoçou com a Sierra?

— É isso que está te incomodando? — Derek ri. — Eu não chamaria isso de “almoçar junto”. Ela simplesmente veio e se sentou à mesa.

— Por quanto tempo?

— Sei lá. Cinco minutos...?

— O que ela queria?

— A gente estava só conversando, Marisa. Não teve nada.

— Mas, se não teve nada, então por que você não me contou?

— Porque não teve nada! — Derek larga minha mão. — Não tenho nada pra dizer!

Sabe aquilo que você sente quando sabe que o outro não está contando a história inteira? Então! Mas vou fazer de tudo para evitar brigas. Digo:

— Desculpa! — Seguro na mão dele. — Eu estava dando uma de esquisita.

Derek sorri e encosta a testa em meu ombro.

— A gente pode esquecer isso, por favor?

— Esquecer o quê? — digo. Ele está certo, afinal. Tenho um namorado que me ama. Preciso mais do quê? — Está em pé o lance de eu ir pra sua casa, né?

— Está. E o lugar é todo nosso por... — Derek segura nossas mãos entrelaçadas e gira o pulso para ver o relógio — ... duas horas e meia. Se a gente andar logo.

Saímos rapidinho pelo corredor. É quando encontramos Sierra afixando um pôster.

É claro que é Sierra afixando um pôster. Óbvio, de todas as pessoas imagináveis que poderiam estar no corredor nesse momento, ali está Sierra. Com seu pôster.

— Oi, meninos — ela diz.

— Oi — dizemos de volta.

E fim de papo. Nenhuma piadinha. Nenhum olhar secreto.

Sinto-me muito melhor. Até chegarmos ao final do corredor. É quando Sierra grita:

— Derek!

Ele se vira.

— Oi?

— Você pode vir aqui um minuto?

Derek olha para mim.

— Se isso te incomoda, eu não vou.

— Não. Vai lá.

Ele corre pelo corredor. Observo os dois conversando. Então, Derek pega o pôster e sobe na escada para afixá-lo na parede. Ela recua alguns passos para verificar se não está torto. Isso tudo leva muito mais tempo do que normalmente levaria. O pôster não parece nada torto, mas estou meio longe deles. Mal dá para ouvir o que estão dizendo.

Derek desce da escada. Sierra diz algo a ele. Vejo que está sorrindo. Observo-a tocando em seu braço quando ele se vira e caminha de volta na minha direção.

Continuo calada enquanto seguimos. Quando chegamos ao lugar onde a pessoa que nos daria carona ficou de nos encontrar, ele diz:

— Droga!

— O que foi?

— Não posso ir pra casa, ainda... esqueci de pegar uma coisa na biblioteca.

— Tudo bem, volto lá com você.

— Mas daí o Evan não vai saber onde estou.

— Então eu espero aqui e digo a ele que você já está vindo.

Evan chega e estaciona seu utilitário esportivo ridículo. Ele acabou de tirar a carteira de motorista, por isso acho que ainda não pode dirigir sem a presença de um adulto ao lado. Mas ele dá carona a Derek até em casa, quando ele não está a fim de andar.

— Eu não quero que ele fique me esperando. — Derek dá a volta até o lado do motorista e diz a Evan que terá de ficar até mais tarde na escola. Então me diz: — Você quer uma carona ou...?

— Não, tudo bem. — Não preciso de um cara qualquer pra me levar para casa mesmo.

— Até mais, cara — diz Derek. Evan vai embora.

Ficamos ali, então, só os dois. Resolvendo para onde ir.

Derek diz:

— Então... ainda quer voltar lá comigo?

Uma parte de mim quer ir com ele. Isso porque tenho o sentimento incômodo de que ele está voltando para ver Sierra. Duvido muito que ele precise mesmo buscar alguma coisa na biblioteca.

Mas meus pais sempre me ensinaram a importância da confiança. E se eu quero que tudo dê certo entre mim e Derek, preciso confiar nele.

— Não. Eu vou a pé pra casa.

Como é que, num minuto, tudo corre perfeitamente ao lado de uma pessoa e, no minuto seguinte, tudo de repente dá tão errado?