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Nos dias seguintes, tento centrar o foco em atividades criativas e
controlar minha ansiedade em relação a Derek. Faço a revelação de dois rolos de filme. Inauguro uma nova seção em meu mural de parede. Pratico violino. E Sandra não me perturba enquanto eu ensaio no banheiro, o que é um bônus.

Nesse período, não aconteceu nenhuma catástrofe importante. Encontrei meu pai algumas vezes. Uma colega irritante de meu trabalho pediu demissão. A maioria de meus professores passou tarefas para o período do recesso, mas grande parte já está feita. Nash e eu temos nos encontrado todos os dias. E Derek também disse que quer passar mais tempo comigo.

Ele está em minha casa, agora, segurando uma caneta diante de meu rosto. Ela tem uns pontos brilhantes e penas cor-de-rosa.

— Uuiii!

— Sabia que você ia gostar.

— Está brincando? Eu amei!

— Legal.

— Onde você comprou?

— Na Alphabets. Era a última que eles tinham.

— Obrigada! — Só mesmo Derek para agir desse jeito tão meigo comigo. Não sei se todos os namorados são assim, mas, se não são, com certeza deveriam ser.

— Ei — diz ele —, o que pretende fazer no sábado?

— Terminar aquele projeto idiota sobre Bolsas de Valores.

— Eu nem comecei ainda — Derek confessa. — Meu plano era fazer isso no domingo à noite.

— Tá falando sério?

— Estou. Por quê?

— Bom... o negócio é trabalhoso. Já perdi dois dias com ele.

— Acho que estou ferrado.

— Sinto muito!

— Sem problema. Você pode compensar isso.

— E como?

— Ficando comigo no sábado à noite.

Por que é que ele está me pedindo para fazer isso? Ele sabe que Sterling e eu temos nosso compromisso fixo todo sábado à noite.

— Não posso.

— Por que não?

Lanço a ele um olhar de quem diz: “você sabe bem por que não”.

— Sábado? Eu tenho programa com Sterling.

— Mas este é superimportante. A banda do Evan vai tocar, e eu disse que a gente iria.

— Mas e a Sterling?

E a Sterling?! — Derek repete, alterando o tom. — Você não é obrigada a passar todas as noites de sábado junto com ela, ou é?

— Bem... sim. Meio que sou.

— Por quê?

— Porque nós prometemos!

— Mas o acordo não era que vocês sairiam juntas todo sábado até que encontrassem seus namorados?

— Justamente! E a Sterling tem namorado? — Não considero o Chris uma pessoa real.

— Não, mas você tem.

— E você acha justo eu abandoná-la desse modo?

— Tenho certeza de que ela ia entender.

— Ela ia entender que sou uma má amiga, isso sim.

— Cara — diz Derek —, se você não está a fim de ir, é só dizer.

— Não, eu estou.

— Então nós vamos.

Como é que vou dizer isso a Sterling? E se os papéis fossem invertidos, e ela fizesse isso comigo? Com certeza, eu ficaria furiosa. Quem garante que ela também não vai ficar?

Mas... e se ela nunca encontrar um namorado? Vou ter que continuar saindo com ela todo sábado à noite até a gente se graduar?

Derek tem razão. Tenho certeza de que ela vai entender desta vez. Mas, quando ligo para ela, me sinto nervosa.

Sterling pergunta:

— Que filme nós vamos ver no sábado?

— A gente precisa falar sobre isso.

— Ah, não. Eu não vou assistir à parte três de um besteirol qualquer.

— Não é isso. É que... não vou poder ir.

— Hã?

— Eu vou sair com Derek.

— No sábado?

— É.

— No nosso sábado?

— Eu sei disso, mas...

— Sabia que isso ia acontecer — diz Sterling.

— O quê?

— Sabia que você não ia se manter fiel. No minuto em que começou a namorar, tudo começou a mudar.

— Não é verdade!

— É, sim. Você não consegue perceber, porque está envolvida nisso.

OK. Eu estava me sentindo mal com isso, mas agora ela está me deixando irritada.

— Eu não sabia que não tinha permissão de fazer outros planos — digo.

— E eu não sabia que você estava a fim disso.

— E não estou. É que... não posso sair como você todo sábado. Só isso.

— Minha nossa! Desculpa se isso foi tamanho sacrifício pra você. Minha impressão era de que você gostava de sair comigo.

— Mas eu gosto! Você sabe disso.

— Hum. Eu achava que sabia. Mas agora estou achando que Chris tinha razão a seu respeito.

Ah, não mesmo! Um tarado virtual falando bobagem a meu respeito quando ele nem me conhece?

— Não interprete isso mal, acho que é ótimo você estar animada desse jeito por estar falando com esse tal Chris, tal e coisa, mas só que... você nem conhece ele. Você não sabe como ele é na real.

— Eu o conheço. Sei que ele é meigo, carinhoso, divertido, e nós temos muita coisa em comum. Então, não gosto nada desse piti todo que você está fazendo em relação a isso.

— Desculpa. Eu só estava preocupada com você.

— Ou talvez fosse só ciúme.

— Ciúme? De quê?

— Ahn... não sei. Talvez por eu ter um namorado que, de fato, presta atenção em mim?

— Namorado? Você nem conhece ele!

— Quer parar de dizer isso? — Sterling grita. — Conheço Chris muito melhor do que você conhece Derek!

— Sterling...

— Eu vivo dando chances a você. Sempre fico achando que as coisas vão melhorar, mas elas só pioram.

— Não é verdade!

— Preciso desligar — ela diz.

E desliga o telefone.