Erec trotava em seu cavalo na luz da manhã pelo velho e marcado caminho. Ele estava acompanhado por um contingente de cavaleiros do Duque, entre os quais se encontrava seu amigo Brandt. Enquanto eles seguiam em direção as pistas do torneio, eram recepcionados por milhares de espectadores que aplaudiam freneticamente, de ambos os lados da estrada.
Tinham sido cem longos dias de justas e Erec tinha vencido todas as competições até aquele momento. Aquele era o último dia, todos se reuniriam para celebrar o final e enquanto Erec trotava, ele só conseguia pensar em uma coisa: Alistair. O rosto dela permanecia gravado em sua mente, cada vez que apertava sua lança ele sabia que estava lutando por ela. Se ele vencesse hoje, poderia finalmente tomá-la como sua noiva. E ele estava determinado a não permitir que nenhum homem, de nenhuma província do reino, pudesse derrotá-lo.
Eles cavalgaram através dos imensos portões de pedra arqueados, rumo à arena e foram recebidos com vivas por milhares de espectadores, que se encontravam já sentados nas arquibancadas de pedra do Coliseu, olhando para o centro do campo de torneios. As pessoas se levantaram e atiraram flores quando Erec entrou. Ele sentiu uma onda de orgulho. Ele tinha dedicado sua vida a desenvolver suas habilidades de luta e em momentos como aquele, quando todos torciam por ele, ele sentia que todo seu esforço valia a pena. Erec jamais havia sido derrotado por um homem no campo de batalha.
A multidão vibrava enquanto ele trotava. Ele prosseguiu até chegar ao centro das pistas, uma vez ali, ele virou-se e inclinou a cabeça para o Duque, quem estava entre a multidão, ladeado por seu contingente de soldados. O Duque devolveu-lhe a reverência com um sorriso no rosto. Erec virou-se e dirigiu-se para a linha lateral. Ao longo de toda a linha havia pequenos contingentes de cavaleiros, centenas deles, todos vestindo armaduras diferentes, de diversas formas e cores, montados em uma ampla variedade de cavalos e empunhando armas exóticas. Eles tinham se reunido, procedentes de todos os cantos do Anel, cada grupo era mais exótico do que o outro. Tinham estado treinando o ano inteiro para a ocasião e a competição tinha sido formidável. Mas Erec tinha consistentemente superado todos eles e quando ele pensou em Alistair, ele sabia que encontraria uma maneira de ganhar naquele dia.
Erec esperou e observou quando uma buzina soou e dois cavaleiros saíram de lados opostos do estádio, um deles usava uma armadura verde escura e o outro usava uma de cor amarelo brilhante, cada um segurava sua respectiva lança. O cavaleiro de armadura verde derrubou o de armadura amarela de seu cavalo e a multidão aplaudiu freneticamente.
Um combate após outro tinha lugar e cada vez mais cavaleiros eram eliminados. Erec, sendo o campeão, teve a honra de ocupar o último posto do primeiro turno.
Quando a buzina soou, ele investiu sem hesitar nem um momento. Erec e seu adversário estavam em igualdade de condições. Erec iria lutar contra um dos melhores cavaleiros, um homem corpulento, equipado com uma armadura preta e cujo tórax era duas vezes mais largo que o dele. O seu adversário montava um cavalo cuja expressão era zombeteira, horrível e a lança do homem parecia ser duas vezes maior que a de Erec.
Mas Erec não permitiu que isso o perturbasse. Ele se concentrou no peitoral do homem, no ângulo de sua cabeça, na forma como as placas de sua armadura se moviam. Ele identificou o ponto fraco de imediato pela forma como o homem baixou seu ombro esquerdo. Erec esperou até o último momento, apontou a lança exatamente para o ponto certo e segurou-a até que eles se confrontaram.
Um suspiro sobressaltado propagou-se no seio da multidão quando o cavaleiro opositor saiu voando de seu cavalo, caindo no chão em meio a um tinido de metais.
A multidão gritou em delírio enquanto Erec cavalgava para o outro lado do estádio e esperava a sua vez para a segunda rodada. Ainda restavam dezenas de rodadas.
O dia se prolongava. Os cavaleiros lutavam um após o outro, rodada após rodada, até que restava apenas um punhado de guerreiros. Quando eles chegaram aos últimos dez, a buzina soou e foi estabelecida uma pausa. Então o Duque foi até o meio para dirigir-se ao seu povo. Erec aproveitou a oportunidade, assim como os outros, para levantar sua armadura, remover seu capacete e respirar fundo. Um escudeiro apareceu com um balde de água e Erec bebeu um pouco, depois ele derramou resto sobre sua cabeça e barba. Embora fosse outono, ele estava pingando de suor e respirava com dificuldade devido às horas de luta. Ele já se sentia dolorido, mas quando olhou em volta para os outros cavaleiros, ele pôde ver que eles estavam ainda mais cansados do que ele. Eles não tiveram o treinamento que ele tinha. Erec fazia questão de treinar todos os dias de sua vida e nunca perdeu um dia. Ele estava preparado para lutar até a exaustão. Aqueles homens não estavam.
O Duque levantou os dois braços para a multidão e lentamente, ela silenciou.
“Meus companheiros e amigos presentes.” O Duque gritou. “Nossas províncias enviaram os seus melhores e mais brilhantes cavaleiros de todos os cantos do Anel para competir nestes cem dias pela melhor e mais bela noiva que o nosso reino possa oferecer. Cada guerreiro aqui escolheu uma mulher e aquele que ganhar hoje, terá o direito de se casar com tal mulher, se ela aceitar. Para estes cavaleiros finais, o ataque vai mudar de duelo à luta a mão armada. Cada guerreiro irá escolher uma arma e todos eles vão lutar entre si. Não haverá mortes, mas a exceção disso, tudo vale. O último homem a permanecer de pé ganhará. Guerreiros, boa sorte!” Ele gritou enquanto se retirava. A torcida rugiu atrás dele.
Erec colocou o capacete de volta e olhou para o carrinho de armas que seu escudeiro tinha levado até ele. Ele já sabia que arma queria: ela estava em sua cintura. Ele pegou seu velho e confiável mangual cujo cabo de madeira já estava bastante desgastado, ele media cerca de sessenta centímetros de comprimento e tinha em sua ponta uma bola de metal com puas. Ele o havia empunhado desde seus dias na Legião e não conhecia nenhuma arma melhor.
A buzina soou e de repente, os dez homens arremeteram uns contra os outros, encontrando-se no centro da arena.
Um grande cavaleiro apontava diretamente para Erec, seus olhos eram azuis e ele tinha uma barba loira brilhante, ele era uma cabeça mais alto do que Erec e estava sem capacete. Ele atirou uma clava enorme direto para a cabeça de Erec, com uma velocidade que o surpreendeu.
Erec esquivou no último segundo e a clava saiu voando pelos ares.
Erec aproveitou a oportunidade para girar ao redor e golpear duramente o homem na parte de trás da cabeça com o cabo de madeira de seu mangual, poupando-o do golpe com a bola de metal, evitando assim matá-lo. O homem tropeçou e caiu inconsciente. Ele foi o primeiro homem a ser abatido.
A multidão rugiu.
Todos os cavaleiros ao redor de Erec lutavam e mais de um o havia escolhido. Ele era visto, claramente, como o homem a ser abatido. Erec se agachou e se esquivou, quando um deles veio até ele com um machado, outro veio com uma alabarda e um terceiro veio com uma lança. Por mais que o Duque tivesse exortado a não tentar matar uns aos outros, Erec pensou, era óbvio que aqueles cavaleiros não tomavam isso em consideração.
Erec encontrou-se girando e contorcendo-se, combatendo um após o outro. Um apontou para ele com uma longa alabarda cravejada, Erec arrancou-a das mãos de seu oponente e a usou para espetar o atacante à direita na base do pescoço com sua ponta de madeira, encontrando o ponto fraco acima de sua armadura e derrubando-o de costas.
Erec, em seguida, virou-se e girou a ponta da alabarda, cortando uma lança pela metade, justo antes que ela o atingisse.
Logo, ele virou-se outra vez, sacou seu mangual e com ele derrubou um punhal das mãos de outro adversário. Ele virou o mangual de lado e com a ponta do cabo de madeira golpeou o rosto de seu atacante, quebrando o cavalete de seu nariz e derrubando-o no chão.
Outro cavaleiro o atacou com um martelo, Erec se abaixou e deu um soco no plexo solar dele com sua luva. O cavaleiro tombou, deixando cair seu martelo na metade do golpe.
Restava agora apenas um cavaleiro em oposição a Erec e multidão saltava, gritando enlouquecida, enquanto eles rodeavam um ao outro lentamente. Ambos respiravam ofegantes. Ao redor deles estavam os corpos inconscientes dos outros que haviam sido derrotados.
Esse último cavaleiro era de uma província que Erec não conhecia. Ele trajava uma armadura vermelha e brilhante cheia de puas, como um porco-espinho. Ele segurava uma arma que se assemelhava a um tridente, tinha três pontas longas e estava pintada com uma cor estranha que brilhava na luz e encadeava Erec. Ele apontava continuamente para o ar, dificultando a concentração de Erec.
De repente, o cavaleiro atacou tentando estocar Erec com seu tridente, Erec bloqueou o golpe no último segundo com o seu mangual. Os dois se travaram em luta, empurrando-se para trás e para a frente em um cabo-de-guerra. Erec escorregou no sangue de um de seus oponentes e perdeu o equilíbrio.
Erec caiu de costas e seu adversário não perdeu tempo. Ele desceu o tridente direto para baixo, para o rosto de Erec, Erec bloqueou-o e segurou-o com a ponta de sua maça. Ele conseguiu mantê-lo a margem, mas estava perdendo terreno rapidamente.
A multidão ficou boquiaberta.
“RENDA-SE!” Gritou o cavaleiro adversário.
Erec estava lá, lutando, perdendo as forças, foi quando ele viu o rosto de Alistair em sua mente. Ele viu a expressão dela quando ela olhou em seus olhos e pediu-lhe para ganhar. E, de repente, ele sentiu-se invadido por uma nova força. Ele não podia deixar-se abater. Não ali. Não naquele dia.
Com uma explosão final de força, Erec rolou para fora do caminho, puxou o tridente para baixo e mergulhou-o na terra ao lado dele. Ele rolou de novo e chutou o cavaleiro com força, no estômago. O cavaleiro caiu de joelhos e Erec ficou de pé e chutou-o novamente, derrubando-o de costas.
A multidão rugia.
Erec sacou sua adaga, ajoelhou-se e pressionou-a contra o pescoço do cavaleiro. Ele empurrou a ponta firmemente contra a garganta, até que o cavaleiro entendeu.
“EU ME RENDO!” Exclamou o cavaleiro.
A multidão rugiu e gritou de alegria.
Erec levantou-se lentamente, respirando com dificuldade.
Ele agora tinha apenas uma coisa em sua mente.
Alistair.