Gwen caminhava ao lado de Godfrey, sua mente ainda tratava de recuperar-se de seus encontros com o capanga de Gareth e com Steffen. Ela ainda podia sentir os arranhões nos joelhos e cotovelos e se sentia traumatizada enquanto pensava em como ela tinha estado tão perto de morrer. Ela também se sentia traumatizada ao pensar que tinha acabado de matar um homem. Suas mãos ainda tremiam enquanto ela revivia vez após vez, a visão daquele bastão de ferro golpeando.
No entanto, ao mesmo tempo, ela também se sentia profundamente grata por estar viva e profundamente agradecida a Steffen por ter salvado sua vida. Ela o havia subestimado terrivelmente, não havia sabido reconhecer que detrás de sua de sua aparência, havia uma boa pessoa. O papel dele no assassinato de seu amo foi claramente justificado e em defesa própria. Ela tinha vergonha de si mesma por julgá-lo com base em sua aparência. Ele havia encontrado nela um amigo para toda a vida. Quando tudo isso acabasse, ela estava determinada a não deixá-lo mais mofando nos porões do castelo. Ela estava determinada a recompensá-lo, a melhorar sua vida de alguma forma. Ele era um personagem trágico. Ela iria encontrar uma maneira de ajudá-lo.
Godfrey parecia mais preocupado do que nunca enquanto os dois marchavam pelos corredores do castelo. Ele ficou horrorizado quando ela contou-lhe como ela própria tinha sido quase assassinada; como Steffen a salvou da morte e sobre a revelação que Steffen havia feito sobre o punhal. Ela havia mostrado o punhal para ele e Godfrey examinou-o também, ele tinha confirmado que o punhal era de Gareth.
Agora que eles tinham a arma do crime, os dois sabiam exatamente o que deviam fazer antes de levar tudo isso adiante e ir até o Conselho: eles tinham de reunir as testemunhas necessárias. Godfrey tinha recordado o envolvimento de Firth, já que ele sido visto junto com Gareth naquela trilha do bosque. Então ele percebeu que primeiro era preciso encurralar Firth e fazê-lo confessar. Logo, de posse da arma do crime e apresentando uma testemunha, eles poderiam levar o caso até a justiça do Conselho e derrubar seu irmão de uma vez por todas. Gwen tinha concordado e os dois tinham saído para encontrar Firth nos estábulos. Eles tinham estado caminhando para lá, desde então.
Enquanto eles prosseguiam, Gwen ainda segurava o punhal em suas mãos, a arma que havia assassinado seu pai, ainda manchada com seu sangue. Ela sentia vontade de chorar. Ela tinha perdido seu pai terrivelmente e a dor que ela sentia era inefável, pensar que ele tinha morrido daquela forma cruel, que aquela era a arma que tinha sido metida em seu peito...
Mas suas emoções oscilaram entre a tristeza e a raiva quando ela percebeu o papel de Gareth em tudo aquilo. Suas piores suspeitas tinham sido confirmadas. Uma parte dela haviam se agarrado à ideia de que talvez, no fundo, Gareth não fosse tão ruim assim, que talvez ele fosse resgatável. Mas depois daquele último atentado contra sua vida e de ver a arma do crime, ela sabia que aquele não era o caso, Gareth era um caso perdido. Era pura maldade. E ele era seu irmão. Como isso a afetava? Afinal, ela carregava seu mesmo sangue. Isso significaria que o mal se escondia em algum lugar dentro dela, também? Poderiam um irmão e uma irmã ser tão diferentes?
“Eu ainda não posso conceber que Gareth seja capaz de tudo isso.” Disse ela para Godfrey enquanto caminhavam rapidamente, lado a lado, percorrendo as voltas do caminho pelos corredores do castelo, indo em direção aos estábulos distantes.
“Você não pode?” Godfrey perguntou duvidoso. “Você conhece Gareth. O trono sempre foi tudo o que ele quis na vida.”
“Mas matar nosso pai só por poder? Apenas por um título?”
Godfrey virou-se e olhou para ela.
“Você é muito ingênua, não é? O que mais pode haver? O que mais alguém pode querer ao ser rei, além de ter esse tipo de poder?”
Ela olhou para ele e corou.
“Eu acho que você é que é o ingênuo aqui.” Disse ela. “Há muito mais na vida do que o poder. Na verdade, o poder, em última instância, é a coisa menos atraente. Você acha que o nosso pai era feliz? Ele estava infeliz dirigindo este reino. Tudo o que ele fez fazia era reclamar e suspirar por mais tempo para passar com a gente.”
Godfrey deu de ombros.
“Você mantém uma visão otimista dele. Eu e ele não nos dávamos bem, de jeito nenhum. A meu ver, ele era tão sedento de poder como todos os demais. Se ele tivesse querido passar mais tempo com a gente, ele poderia ter feito isso. Ele não quis. Além disso, eu me sentia aliviado quando ele não passava tempo comigo. Ele me odiava.”
Gwen examinou seu irmão enquanto caminhavam e pela primeira vez ela percebeu como suas infâncias tinham sido diferentes. Era como se ele tivesse crescido com um pai diferente do dela. Ela se perguntava se isso era porque ele era um menino e ela uma garota, ou se era apenas devido a um choque de personalidades. Enquanto pensava nisso, Gwen percebeu que ele estava certo: seu pai não tinha sido amável com Godfrey Ela não sabia por que não tinha sido capaz de perceber tudo isso antes. No entanto, agora que ela compreendia melhor a situação, de repente ela se sentia muito mal por Godfrey. Ela entendia agora por que ele passava todo o seu tempo na taverna. Ela sempre tinha suposto que seu pai desaprovava Godfrey porque ele desperdiçava seu tempo na taverna bebendo. Mas talvez tudo fosse muito mais complexo do que isso. Talvez Godfrey se refugiasse na taverna, principalmente porque ele não contava com a aprovação de seu pai.
“Você nunca conseguiu ganhar a aprovação do nosso pai, não é?” Ela perguntou, com compaixão, começando a entender. “Então, depois de um tempo, você nem sequer se incomodou em tentar.”
Godfrey deu de ombros, tentando parecer indiferente, mas ela podia ver a tristeza em seu rosto.
“Ele e eu éramos pessoas diferentes.” Ele disse. “E ele nunca pôde aceitar isso.”
Enquanto Gwen o estudava, ela via Godfrey sob uma luz diferente. Pela primeira vez, ela não o via como um bêbado desleixado; ela o via como uma criança com um grande potencial, cuja criação foi negligenciada. Ela sentiu raiva de seu pai por isso. Na verdade, ela podia até ver traços de seu pai em seu irmão.
“Aposto que se ele tivesse tratado você de outra maneira, você seria uma pessoa bem diferente.” Disse ela. “Eu acho que todo o seu comportamento era apenas uma forma de chamar a atenção. Se tão somente ele tivesse aceitado você, do seu jeito, eu acho que, de todos nós, de todos os filhos, você teria sido o mais parecido com ele.”
Godfrey olhou para Gwen surpreso e logo desviou o olhar. Ele olhou para baixo, com o cenho franzido e parecia ponderar as palavras dela.
Eles continuaram caminhando em silêncio, abrindo uma porta após a outra através dos longos e sinuosos corredores. Finalmente, eles saíram do castelo para o ar frio de outono. Gwen entrecerrou os olhos ao sentir a luz forte do dia.
O pátio estava fervilhando com as atividades, as massas animadas, movimentando-se para lá e para cá, as pessoas bebendo nas ruas, era uma celebração adiantada.
“O que está acontecendo?” Godfrey perguntou.
De repente, Gwen lembrou-se.
“A Legião regressa hoje.” Ela respondeu.
Com tudo o que tinha acontecido, ela tinha se esquecido completamente da chegada da Legião. Seu coração pulou descompassado quando ela pensou novamente em Thor. Seu navio estaria voltando para casa em breve. Ela ansiava vê-lo.
“Será uma grande festa.” Gwen acrescentou alegremente.
Godfrey deu de ombros.
“Eles nunca me aceitaram na Legião. Por que eu deveria me preocupar?”
Ela olhou para ele chateada.
“Você deveria se importar.” Ela ralhou. “Reece estará voltando para casa. E também Thor.”
Godfrey virou-se e olhou para ela.
“Você gosta daquele plebeu, não gosta?” Ele perguntou.
Gwen corou silenciosa.
“Eu posso ver o porquê.” Godfrey disse. “Há algo de nobre nele. Algo puro.”
Gwen pensou sobre isso e percebeu que era verdade. Godfrey era mais perspicaz do que ela tinha percebido antes.
Eles marchavam através das terras do castelo e enquanto eles seguiam, Gwen sentia o punhal queimando sua mão, ela desejava jogá-lo o mais longe possível. Ela viu os estábulos à distância e apressou o passo. Firth não estava muito longe agora.
“Gareth vai encontrar alguma maneira de sair dessa.” Godfrey Disse. “Você sabe disso, não sabe? Ele sempre dá um jeito de se sair bem.”
“Não se conseguirmos fazer com que Firth admita seu envolvimento e aceite ser testemunha.”
“E se isso realmente acontecer, então o que ocorrerá?” Godfrey perguntou. “Você acha mesmo que ele vai descer do trono, assim tão facilmente?”
“Claro que não. Mas vamos forçá-lo. Nós faremos com que o Conselho o obrigue a fazê-lo. De posse das provas, nós mesmos podemos chamar os guardas.”
Godfrey deu de ombros, cético.
“E mesmo que isso funcionasse, mesmo que devêssemos depô-lo, então o que faríamos depois? Então, quem governaria? Um dos nobres poderia apressar-se para preencher a vaga no poder. A menos que um de nós subisse ao trono.”
“Kendrick deveria governar.” Gwen disse.
Godfrey abanou a cabeça.
“Não. Você deve governar. Essa era a vontade de nosso pai.”
Gwen corou.
“Mas eu não quero governar.” Ela disse. “Não é esse o motivo pelo qual eu estou fazendo tudo isso. Eu desejo apenas fazer justiça por nosso pai.”
“Você pode, afinal, obter justiça para ele. Mas você também deve assumir o trono. Fazer o contrário seria desrespeitá-lo. E se você disser que não, então o próximo filho legítimo mais velho serei eu e eu não vou governar. Jamais.” Ele insistiu firmemente.
O coração de Gwen bateu forte enquanto ela pensava nisso. Ela não conseguia pensar em nada que desejasse menos na vida.
Atravessaram a grama macia do terreno e chegaram à grande entrada ao ar livre que dava acesso aos estábulos. Dirigiram-se para dentro, estava mais escuro ali. Eles caminhavam passando por várias fileiras de cavalos, cada um era mais elegante do que o outro. Os cavalos empinavam seu corpo e relinchavam à medida que eles passavam. Eles caminharam sobre um chão coberto de feno, o cheiro dos cavalos penetrava pelo nariz de Gwen e continuava por todo caminho. Eles deram a volta por um corredor, desceram por outro e finalmente, chegaram ao lugar onde a família real mantinha seus cavalos.
Eles correram para o setor de Gareth, viram todos os seus cavalos. Logo depois, Gwen examinou as armas da prateleira que estava contra a parede. Havia um lugar vazio na fileira de punhais, um deles estava faltando.
Gwen desembrulhou lentamente o punhal, levantou-o cuidadosamente e colocou-o no local vazio na parede. O punhal encaixava perfeitamente ali. Ela estava sem fôlego.
“Bravo.” Godfrey disse. “Mas isso ainda não prova que Gareth usou essa faca ou que ele ordenou o assassinato.” Disse ele. “Ele poderia argumentar que alguém o roubou.”
“Isso não prova o que você disse.” Contestou ela. “Mas ajuda. E com uma testemunha, o caso está encerrado.”
Gwen envolveu a faca de volta em seu pano e guardou-a novamente em sua cintura. Eles continuaram através dos estábulos até que chegaram até o zelador.
“Meus senhores.” Ele disse olhando para cima, surpreso com a presença de dois membros da família real ali. “O que os traz aqui? Estão aqui por seus cavalos? Nós não fomos informados de nada sobre isso.”
“Está tudo bem.” Gwen disse colocando uma mão tranquilizadora em seu pulso. “Não estamos aqui por nossos cavalos. Viemos aqui por um razão diferente. Nós estamos buscando o rapaz que cuida dos cavalos de Gareth aqui no estábulo. Seu nome é Firth.”
“Sim, ele está aqui hoje. Procurem nos arredores, na pilha de feno.”
Eles caminharam rapidamente pelo corredor, para fora dos estábulos e depois se dirigiram para os fundos do prédio.
Lá, no grande espaço aberto, estava Firth empilhando o feno com uma forquilha. Parecia haver tristeza em seu rosto.
Quando eles se aproximaram, Firth parou e olhou para eles, seus olhos se arregalaram de surpresa. Havia algo mais em seus olhos, talvez medo.
Gwen pôde ver tudo o que ela precisava naquele olhar. Ele tinha algo a esconder.
“Foi Gareth quem os enviou?” Firth perguntou.
Gwen e Godfrey trocaram um olhar.
“E por que nosso irmão faria isso?” Godfrey perguntou.
“Eu só estou perguntando.” Firth disse.
“Não.” Gwen disse. “Ele não nos enviou. Você esperava que fosse assim?”
Firth estreitou os olhos, seu olhar inquieto alternava entre Gwen e Godfrey. Ele balançou a cabeça lentamente, depois ficou em silêncio.
Gwen trocou um olhar com Godfrey e, em seguida, voltou-se para Firth.
“Nós viemos aqui por nossa conta.” Disse ela. “Para fazer-lhe algumas perguntas sobre o assassinato de nosso pai.”
Ela observava Firth com atenção e poderia dizer que ele estava nervoso. Ele se remexia e mexia a forquilha.
“Por que Vossa Alteza me pergunta sobre isso?”
“Porque você sabe quem fez isso.” Godfrey disse sem rodeios.
Firth parou de se remexer e olhou para ele com verdadeiro terror em seu rosto. Ele engoliu em seco.
“Se eu soubesse disso, Alteza, seria uma traição da minha parte ocultá-lo. Eu poderia ser executado por isso. Portanto, a resposta é não. Eu não sei quem fez isso.”
Gwen podia ver como ele estava nervoso e deu um passo para mais perto dele.
“O que você está fazendo aqui, empilhando feno?” Ela perguntou, percebendo sua atual situação. “Há alguns meses, você estava sempre ao lado de Gareth. Na verdade, depois que ele se tornou rei, ele o promoveu, se eu não me engano.”
“É verdade Alteza.” Firth disse humildemente.
“Então por que ele o expulsou, porque ele o relegou a isto? Vocês dois brigaram?”
Os olhos de Firth se moviam inquietos, ele engoliu em seco, olhando de Gwen para Godfrey.
No entanto, ele permanecia em silêncio.
“E por que vocês brigaram?” Gwen insistiu, seguindo sua intuição. “Eu me pergunto se isso teria algo a ver com o assassinato do meu pai? Algo a ver com encobri-lo, talvez?”
“Nós não tivemos nenhuma desavença, Alteza. Eu escolhi vir e trabalhar aqui.”
Godfrey riu.
“Você escolheu?” Godfrey perguntou. “Você estava cansado de estar no castelo do rei, de modo que você preferiu vir aqui e limpar o esterco dos estábulos?”
Firth desviou o olhar, vermelho.
“Vou lhe perguntar só mais uma vez.” Gwen Disse com firmeza. “Por que meu irmão o mandou para cá? Por que vocês dois se desentenderam?”
Firth limpou a garganta.
“Seu irmão estava chateado porque ele não foi capaz de erguer a Espada da Dinastia. Isso foi tudo. Eu fui uma vítima de sua ira. Não houve nada mais, Alteza.”
Gwen e Godfrey trocaram um olhar. Ela sentia que havia alguma verdade nas palavras dele, porém ela ainda sentia que ele estava escondendo algo.
“E o que você sabe sobre o punhal que está faltando no setor de Gareth do estábulo?” Godfrey perguntou.
Firth engoliu em seco.
“Eu não sei da falta de nenhum punhal, Alteza.”
“Não sabe? Só há quatro na parede. Onde está o quinto?”
“Talvez Gareth o tenha usado para algo. Talvez esteja perdido?” Firth disse com voz fraca.
Gwen e Godfrey trocaram olhares.
“É estranho você dizer isso.” Gwen Disse. “Porque eu acabei de falar com um certo servo, quem nos contou uma história bem diferente. Ele nos contou sobre a noite do assassinato de nosso pai. Um punhal foi jogado para baixo, para o poço de dejetos e ele o recuperou. Você o reconhece?”
Ela se abaixou, desembrulhou o punhal e o mostrou para ele.
Os olhos dele se arregalaram e ele desviou o olhar.
“Por que carrega isso, Alteza?”
“É interessante que você haja perguntado.” Gwen disse, “Porque o servo nos contou algo mais.” Gwen mentiu, blefando. “Ele viu o rosto do homem que jogou o punhal pela rampa. E era o seu.”
Firth arregalou ainda mais os olhos.
“Ele também tem uma testemunha.” Godfrey acrescentou. “Ambos viram seu rosto.”
Firth parecia tão ansioso, parecia estar com os nervos à flor da pele.
Gwen deu um passo para mais perto. Ele era culpado, ela podia senti-lo e desejava prendê-lo.
“Eu vou perguntar-lhe pela última vez.” Ela disse com a voz fria como o aço. “Quem matou o nosso pai? Foi Gareth?”
Firth engoliu em seco claramente sentindo-se apanhado.
“Mesmo que eu soubesse alguma coisa sobre o assassinato de seu pai...” Firth disse. “... Não seria nada bom para mim que eu falasse sobre isso. Como eu disse, a punição é a execução. O que eu teria a ganhar?”
Gwen e Godfrey se entreolharam.
“Se você nos disser quem foi o responsável pelo assassinato e admitir que Gareth está por trás disso, mesmo que você tenha tido alguma parte no crime, nós buscaríamos a forma de que fosse indultado.” Gwen disse.
Firth olhou para ela, seus olhos se estreitaram.
“O perdão total?” Ele perguntou. “Mesmo que eu tivesse tido alguma participação?”
“Sim.” Gwen respondeu. “Se você concordar em servir de testemunha contra o nosso irmão, será perdoado. Mesmo que tenha sido você quem empunhou o punhal. Afinal de contas, nosso irmão era quem tinha a ganhar com o assassinato, e não você. Você era apenas o lacaio dele.
“Então, diga-nos.” Gwen insistiu. “Esta é sua última chance. Nós já temos a prova ligando você ao assassinato. Se você permanecer em silêncio, certamente vai chafurdar na prisão para o resto de sua vida. A decisão é sua.”
Enquanto falava, Gwen sentia a força do pai brotando por seu corpo. A força da justiça. Naquele momento, pela primeira vez, ela realmente sentia que poderia ser capaz de governar.
Firth olhou por um longo tempo, para Gwen e para Godfrey, sua mente estava claramente debatendo-se entre as dúvidas.
Então, finalmente, Firth irrompeu em lágrimas.
“Eu pensei que era o que seu irmão queria...” Ele disse, chorando. “... Ele me encarregou de conseguir o veneno. Essa foi sua primeira tentativa. Quando ele falhou, eu pensei... bem... eu apenas pensei que eu poderia terminar o trabalho para ele. Eu não tinha nenhuma raiva de seu pai. Eu juro. Sinto muito. Eu só estava tentando agradar a Gareth. Ele queria tanto. Quando ele falhou, eu não pude aguentar vê-lo. Sinto muito. “Ele disse, chorando, caindo no chão, sentado, com as mãos na cabeça.
Para surpresa de Gwen, Godfrey correu e agarrou Firth pela camisa e puxou-o com violência, fazendo com que ele ficasse de pé. Ele segurava-o com força, olhando para ele com uma expressão furiosa.
“Seu pedaço de merda.” Ele disse. “Eu mesmo deveria matá-lo.”
Gwen ficou surpresa ao ver como Godfrey estava zangado, especialmente considerando seu relacionamento com seu pai. Talvez, no fundo, Godfrey abrigava sentimentos mais fortes por seu pai do que ele mesmo podia perceber.
“Mas eu não vou fazer isso.” Godfrey acrescentou. “Eu quero ver Gareth enforcado primeiro.”
“Nós prometemos-lhe o indulto e você vai tê-lo...” Gwen acrescentou. “... Contanto que você testemunhe perante o conselho, contra Gareth. Você fará isso?”
Firth assentiu com a cabeça humildemente, olhando para baixo, evitando o seu olhar, ainda choramingando.
“Claro que vai.” Acrescentou Godfrey. “Se ele não o fizer, nós mesmos o mataremos.”
Godfrey soltou Firth e ele caiu de volta no chão.
“Eu sinto muito.” Ele dizia uma e outra vez. “Eu sinto muito.”
Gwen olhava para ele desgostosa. Sentia-se sobrecarregada com tanta tristeza, pensava em seu pai, um homem galante, nobre e teve de morrer na mão daquela criatura patética. O punhal, ainda em sua mão, definitivamente a perturbava e ela queria mergulhá-lo no coração de Firth.
Mas ela não fez isso. Ela embrulhou o punhal com cuidado e o guardou em uma faixa na sua cintura. Ela precisava de provas.
Agora eles tinham sua testemunha.
E agora havia chegado a hora de derrubar seu irmão.