CAPÍTULO OITO

Frentis

Um constante vento outonal soprava sobre o que restara da Urlish, erguendo colunas rodopiantes de cinzas que faziam olhos arderem e gargantas engasgarem. A terra era um lençol cinzento e sujo que se estendia ao longe, para todos os lados, perfurado somente por um ocasional espigão enegrecido de uma árvore que um dia fora imponente.

— Pensei que alguma parte dela tivesse sobrevivido — lamentou Ermund, pigarreando e cuspindo antes de amarrar um lenço em volta do rosto.

— Darnel sem dúvida foi meticuloso — disse Banders. — Não será agradável marchar através disso.

— Poderíamos contornar — sugeriu Arendil. — Seguir para o litoral.

— A estrada para o litoral é estreita demais — disse Sollis. — Há muitas passagens que se afunilam, e Al Hestian sem dúvida conhece todas.

— E, se mantivermos este curso, o rastro de poeira que vamos levantar lhe dará sinais de sobra sobre a nossa aproximação — retorquiu Banders. — Sem falar que os nossos pulmões ficarão cheios dessa coisa.

— A terra a oeste é mais aberta — admitiu Sollis. — Mas acrescentará outra semana à nossa marcha.

Frentis abafou um gemido diante da perspectiva de passar mais dias temendo as noites repletas de sonhos. Varinshold havia se tornado um foco para o seu desejo de uma conclusão, uma esperança crescente de que, qualquer que fosse o resultado do ataque de seu exército, ele pelo menos garantiria que se veria livre dela.

— Não há o que se fazer, irmão. — Banders virou o cavalo e acenou com a cabeça para Ermund. — Transmita a ordem. Seguimos para oeste até deixarmos as cinzas para trás.

* * *

— Estava lá de novo — disse Illian durante o café da manhã, agradecendo a Trinta e Quatro com um sorriso quando ele lhe entregou uma tigela do seu mingau adoçado com mel.

— O que estava lá? — perguntou Arendil.

— O lobo. Faz uma semana que o vejo todos os dias.

— Jogue pedras — sugeriu Davoka. — Lobo vai fugir das pedras.

— Não esse. Ele é tão grande que duvido que as sentisse. De qualquer modo, ele não é assustador. Não me persegue, nem rosna, nem faz qualquer coisa. Apenas fica sentado olhando.

Frentis notou a inquietação no rosto de Davoka enquanto ela observava a garota comer o mingau.

— Vou com você hoje — disse ela. — Ver se ele me olha.

Illian franziu o cenho e disse uma frase elaborada mas precisa em lonak que ele traduziu como “O filhote mimado nunca caça”.

Davoka deu uma risada baixa e voltou à própria comida, mas Frentis viu que ela continuava incomodada.

— Irei também — disse ele, ansioso para encontrar qualquer coisa que o distraísse da mancha persistente do sonho da última noite. Fora mais estranho do que de costume, uma mistura confusa de imagens, a maioria violenta, com frequência repletas de dor e tristeza, mas nem sempre. Ela chora deitada, olhando para a porta do quarto… Ri ao enfrentar uma mulher sob o céu de um deserto… Estremece de prazer enquanto ele se move dentro dela, o coração se enchendo de sentimentos que achava que haviam desaparecido há muito tempo…

Ao despertar, suando e lutando para conter uma torrente de sensações, ele compreendeu que não vira os momentos em que ela estava acordada, mas os seus sonhos. Eu sonho os sonhos dela. O que ela sonha sobre mim?

Eles cavalgaram para oeste até o meio-dia sem encontrar nada além de campos vazios e o ocasional amontoado de gado ou ovelhas abatidos, a maioria animais mais velhos, os mais novos sem dúvida levados para Varinshold. Chegaram, depois de mais um quilômetro, a uma casa de fazenda vazia, sem teto e de paredes enegrecidas pelo fogo, sem qualquer sinal de vida no interior.

— Por que eles destroem tanto? — perguntou Illian. — Eles fazem escravos, que é algo horrível, mas pelo menos é compreensível. Mas destruir tudo para isso… Não faz sentido.

— Eles acham que estão purificando a terra — disse Frentis. — Limpando-a para que a sua própria gente possa começar de novo. Construir outra província à imagem do império.

Illian parou o cavalo uma hora mais tarde, virando-se para Davoka e apontando para uma elevação próxima, com um sorriso radiante.

— Lá. Ele não é lindo?

Frentis encontrou depressa o animal, uma silhueta envolta em sombra no horizonte, maior do que qualquer lobo que ele já vira. O animal permaneceu sentado encarando-os com um escrutínio impassível quando eles se aproximaram trotando. Davoka apoiou a lança no ombro para permitir um arremesso rápido. Eles pararam a uns trinta metros do lobo, perto o bastante para que Frentis visse os seus olhos, que piscavam ao encarar cada um deles, o pelo agitado pelo vento. Frentis reconheceu a verdade evidente das palavras de Illian: o animal era lindo.

O lobo levantou-se e virou-se, partindo para o norte num trote rápido por uns oitenta metros, antes de parar mais uma vez, sentar-se e observar enquanto eles se entreolhavam.

— Ele não fez isso antes — disse Illian após um momento.

Davoka murmurou algo na própria língua, o rosto tomado por um pressentimento, mas Frentis notou que ela abaixara a lança. Ao se virar para o lobo, viu como o animal olhava fixamente apenas para ele. Frentis esporeou o cavalo adiante e o lobo tornou a se levantar e a seguir para o norte. No instante seguinte ouviu Illian e Davoka esporeando suas montarias para acompanhá-lo.

O lobo começou a correr depois de cerca de um quilômetro, as passadas longas cobrindo a distância com uma velocidade enganadora. Frentis o perdeu de vista várias vezes enquanto galopavam em seu encalço, seguindo o seu rastro por colinas baixas de capim longo. Eles por fim puxaram as rédeas quando o lobo parou numa das colinas mais altas e um cheiro familiar chegou às narinas de Frentis. Ele ergueu uma sobrancelha questionadora para Davoka, que assentiu e desmontou. Frentis fez o mesmo e eles entregaram as rédeas a Illian. A garota fez um beicinho de aborrecimento quando ele apontou um dedo enfático para o chão, mandando que ela ficasse onde estava.

Eles subiram a colina agachados, deitando de bruços para se arrastarem até o topo. O lobo estava sentado, esperando a poucos metros de distância, ainda encarando Frentis com o mesmo escrutínio impassível.

— Que tolo deve ser o homem — sussurrou Frentis, olhando para a cena diante deles. O acampamento ficava num espaço aberto, o flanco posterior protegido por um córrego raso, com piquetes patrulhando o perímetro, mas não longe o bastante. O cheiro de fumaça e suor de cavalo estava mais forte agora; fogueiras lançavam ao ar dezenas de colunas cinzentas, obscurecendo apenas parcialmente o estandarte que se erguia do centro do acampamento: uma águia sobre um fundo quadriculado vermelho e branco.

Quinhentos homens, no máximo, ponderou Frentis, percorrendo com os olhos o acampamento. E o exército de Banders encontra-se despercebido entre ele e Varinshold.

— Leve Illian — ordenou ele a Davoka. — Diga a Banders que vou atraí-los até o Esporão de Lirkan. Mestre Sollis conhece o caminho.

— Ela pode ir — disse Davoka. — Você não devia fazer isso sozinho.

Frentis sacudiu a cabeça, sorrindo ao acenar para o lobo.

— Parece que não estou sozinho. Cavalguem rápido.

Ele esperou por uma hora depois de as duas terem partido, observando o acampamento enquanto batedores iam e vinham, pequenos grupos de homens com cães de caça apresentando-se ou partindo a galope numa nova direção. Ele achou que iríamos para Nilsael, concluiu Frentis, vendo como a maioria dos batedores cavalgava para o norte ou para oeste. Não imaginou que seguiríamos para Renfael, sua própria terra, com um povo tão leal. Ele sacudiu a cabeça, perguntando-se se Darnel realmente tinha a mente de um tolo ou se o homem não era de fato apenas um lunático que ladrava demais.

Levou boa parte de outra hora até um grupo de batedores vir em sua direção, dois cavaleiros e uma matilha de cães seguindo diretamente para a colina. O lobo levantou-se quando começaram a subir a encosta e os cavaleiros imediatamente pararam suas montarias enquanto os cães andavam de um lado para outro, ganindo de medo quando os seus donos lhes davam chibatadas, xingando e ameaçando.

E o lobo uivou.

Frentis encolheu-se diante da enormidade do som, escorregando para o solo, fechando os olhos com força e tapando os ouvidos com as mãos enquanto o uivo percorria campos e colinas, com uma força que o trespassava como uma lâmina. Não se sentia tão indefeso, tão pequeno, desde os longos anos do domínio.

Ele abriu os olhos quando o uivo cessou e deu com o lobo o encarando, os olhos cinzentos encontrando os seus e causando a impressão de que o animal o conhecia, conhecia todos os seus segredos, cada vestígio oculto de culpa. O lobo abaixou a cabeça e passou a língua áspera pela testa de Frentis, provocando um gemido e deixando algo novo. Uma mensagem. Não era uma voz, e sim mais uma certeza, uma convicção nítida e brilhante reluzindo em sua mente: você deve se perdoar.

Frentis sentiu uma risada lhe escapar quando o lobo recuou, piscou mais uma vez e então se virou para partir a trote. Frentis levantou-se e viu o animal correr, uma mancha prateada em meio ao capim ondulante, que desapareceu num piscar de olhos.

O relincho de um cavalo em pânico o tirou de seus devaneios; virou-se e se deparou com os dois cavaleiros olhando espantados para ele, os cães a uma boa distância, ganindo de medo enquanto corriam para o acampamento. Frentis escolheu o cavaleiro à esquerda, sacou uma faca e a arremessou em sua garganta. O homem caiu do cavalo, o sangue brotando da boca enquanto agarrava o pescoço. O olhar arregalado de seu companheiro ia de Frentis para ele, as mãos tremendo nas rédeas, a espada ainda na bainha.

— Você tem um relatório a fazer — disse Frentis. — Mande os cumprimentos do Irmão Vermelho a Lorde Darnel.

Ele montou de novo e guiou o cavalo até o topo da colina, observando o caçador galopar de volta ao acampamento. Não demorou mais do que algumas batidas do coração para a comoção ter início; cavaleiros vestiam as armaduras às pressas e corriam para os seus cavalos, tendas caíam conforme escudeiros faziam as malas e um cavaleiro solitário surgiu da nuvem de poeira cada vez maior, a armadura azul reluzindo ao sol do fim de tarde. Frentis ergueu a mão num aceno amigável por tempo suficiente para garantir que Darnel o visse, então deu meia-volta e galopou para leste.

Ele os conduziu por um caminho sinuoso, ganhando tempo para que Banders deslocasse a sua gente. Frentis galoparia para leste durante algum tempo, pararia e observaria Darnel persegui-lo por alguns momentos e então rumaria para o sul. Darnel se aproximava a cada parada, mas o seu cavalo e o de seus homens estavam sobrecarregados demais pelas armaduras dos cavaleiros para tornar aquela perseguição eficaz. Frentis acenava toda vez que parava, na última demorando-se por tempo suficiente para garantir que Darnel visse a sua mesura escarnecedora.

Ele chegou ao Esporão de Lirkan cerca de duas horas após o início da perseguição, uma extensão de terra relvada em forma de um polegar que adentrava as águas do Rio Salgado. O rio era raso naquele ponto, vadeável mesmo tão perto do fim do ano, com campos abertos ao norte e uma colina alta e rochosa a mais de duzentos metros ao sul bloqueando a vista da margem leste. Frentis parou o cavalo e examinou os arredores, não encontrando evidência de qualquer aliado.

Virou a montaria, passando a mão por seu flanco para acalmar o animal enquanto esperava. A mensagem do lobo ainda ecoava em seu peito, seu ânimo recém-nascido deixando-o com um leve sorriso que se recusava a morrer, mesmo enquanto os quinhentos cavaleiros de Darnel avançavam em direção ao esporão.

Venha, meu senhor, pedia ele a Darnel em silêncio. Um pouco mais perto.

Seu ânimo sofreu um leve abalo ao avistar Darnel erguer a mão e sua companhia inteira parar a uns 150 metros de distância. Frentis passou a mão por cima do ombro e desembainhou a espada, erguendo-a no alto antes de apontá-la diretamente para Darnel num nítido e inconfundível desafio. Seja você mesmo, meu senhor, implorou-lhe Frentis. Seja o tolo.

O cavalo de Darnel empinou quando o seu cavaleiro desembainhou a própria espada. Um de seus seguidores aproximou-se, talvez ansioso para pedir cautela, mas Darnel o dispensou com um aceno furioso e saiu em disparada com o cavalo. Frentis preparou-se para fazer a própria investida, mas então parou quando ouviu um novo som: cornetas soando uma nota aguda a leste, aguda demais para um cavaleiro renfaelino, e a Sexta Ordem não usava cornetas. Ele parou e olhou por sobre o ombro, o sorriso desaparecendo por completo ao avistar pelo menos dois batalhões de cavalaria volariana investindo na direção da margem leste do Rio Salgado.

Al Hestian!, praguejou. Outro tumulto atraiu a sua atenção para o sul, o grande estrondo de muitos cavalos correndo por águas rasas. Banders deu a volta com os seus cavaleiros na colina rochosa e rumou diretamente para a companhia de Darnel, e Frentis avistou as figuras indistintas de seus irmãos no alto da elevação, com arcos a postos. Voltou a olhar para Darnel e viu que o Senhor Feudal parara, seus homens movendo-se confusos às suas costas. Frentis lançou um último olhar à cavalaria volariana que avançava e agora vadeava o rio, mas impedida de galopar devido à profundidade das águas.

Ele fixou o olhar mais uma vez em Darnel e esporeou o cavalo, a espada estendida e apontada enquanto investia, vencendo a distância em poucos segundos. Ele via os riscos negros das flechas de seus irmãos descerem em arco sobre a companhia de Darnel, onde cavalos empinavam e cavaleiros tombavam conforme elas atingiam os alvos. Um dos homens de Darnel agarrou as rédeas do Senhor Feudal e tentou arrastá-lo na direção dos volarianos, caindo morto quando Darnel lhe golpeou o pescoço com sua longa espada, virando o cavalo e recebendo de frente o impacto da investida de Frentis.

Seus cavalos se chocaram com uma força esmagadora e a espada de Frentis ricocheteou na lâmina de Darnel quando o Senhor Feudal tentou lhe golpear antes de os cavalos recuarem. O cavalo de Frentis cambaleou, bufando espuma e sangue, caindo de joelhos no momento em que ele saltou para longe do animal, agachando-se quando Darnel abaixou-se na sela para tentar decapitá-lo com um golpe da espada longa. Frentis deixou que a lâmina passasse zumbindo pela sua cabeça e atirou-se para agarrar o antebraço encouraçado de Darnel, passando os braços pelo membro coberto de aço e arrancando o homem da sela. Ele tombou com um estrondo de metal se partindo, mas se recompôs depressa e deu uma cabeçada com o elmo no flanco de Frentis, derrubando-o e então erguendo a longa espada no alto com as duas mãos. Frentis percebia o olhar do outro por trás da viseira, repleto de um ódio irracional.

Ele rolou quando a lâmina desceu e cravou-se na terra, levantou-se de um pulo e desferiu um golpe na viseira de Darnel. O Senhor Feudal esquivou-se da lâmina e girou a espada num grande arco, fazendo Frentis grunhir com o esforço de aparar o golpe, o aço de Darnel denteando a sua lâmina da Ordem. Ele agarrou o punho da manopla de Darnel antes que ele pudesse afastar a lâmina, aproximou-se mais, virou a espada e a enfiou na viseira. Darnel jogou a cabeça para trás ao ser atingido pela lâmina, cuja ponta ressurgiu ensanguentada, o Senhor Feudal urrando de fúria e dor.

Frentis girou e desferiu um golpe contra as pernas de Darnel sem perfurar a armadura, mas com força suficiente para derrubá-lo. O Senhor Feudal urrou e golpeou de novo, mas Frentis bloqueou o ataque e chutou a mão que segurava a espada, jogando a arma longe. Ele bateu com a guarda de sua espada na viseira de Darnel, atordoando-o, e então pressionou uma bota em seu pescoço. Colocou a ponta de sua lâmina na abertura, encontrando os olhos atrás dela, e sorriu intensamente diante do medo que via.

— IRMÃO!

Era Arendil, correndo na direção deles, com homens engalfinhados em combate de ambos os lados, apontando a espada para algo sobre o ombro de Frentis. Ele não perdeu tempo olhando e mergulhou para a esquerda no momento em que a espada de um cavaleiro volariano deixou um corte superficial em seu rosto. O volariano virou o cavalo com dificuldade para desferir outro golpe e então caiu da sela quando a espada de Arendil atravessou o seu ombro.

Frentis virou-se e se viu diante de mais quatro volarianos que avançavam a galope. Ele ouviu o ribombar de cascos às suas costas e atirou-se no chão, sentindo um bafo quente no pescoço quando um cavalo saltou por cima de seu corpo. Ergueu a cabeça e viu Mestre Rensial desferir um golpe ascendente preciso contra um dos atacantes volarianos, partindo o peitoral do homem com a força do impacto. Rensial abaixou-se sob a espada frenética do volariano à sua direita e respondeu com um golpe para trás ao passar pelo homem, e o cavaleiro arqueou as costas quando a lâmina lhe cortou até a coluna.

Os dois volarianos restantes atacaram Frentis juntos e com as lâminas apontadas, e então tombaram no solo quando uma nuvem de flechas desceu em arco do alto da colina, abatendo cavaleiros e cavalos.

Frentis girou sobre os calcanhares, procurando Darnel em meio ao caos. Os cavaleiros de Banders haviam destroçado a companhia do Senhor Feudal, mas agora enfrentavam os volarianos, homens e cavalos rodopiando num aglomerado de aço e carnes cortadas. Frentis teve um vislumbre de uma armadura azul em meio à confusão crescente à direita, uma figura curvada a cavalo sendo levada para longe por dois volarianos. Cornetas soaram e a cavalaria começou recuar, cavaleiros desferiam seus últimos golpes antes de virarem as montarias e galoparem de volta ao rio.

Frentis viu um cavalo sem cavaleiro a três metros e pulou para a sela, disparando na direção em que Darnel fugia, golpeando quaisquer volarianos desafortunados em seu caminho. Avistou Mestre Rensial ali perto, matando um volariano desmontado, e gritou para chamar a sua atenção. Os olhos do mestre o encontraram depressa, como sempre em batalha, concentrados, calmos e aparentemente sem vestígio de loucura. Frentis apontou para a figura de armadura azul que agora se aproximava do rio e o mestre esporeou o cavalo naquela direção, com Frentis cavalgando a toda a velocidade em seu encalço.

Darnel já estava batalhando para atravessar a água quando Rensial e Frentis alcançaram a sua escolta. Os dois homens se viraram na beira do rio para enfrentá-los, manobrando suas montarias com uma precisão assombrosa, e Frentis soltou um grunhido de aborrecimento ao ver as espadas duplas em suas costas.

Kuritai.

Rensial tentou desviar-se deles, pendurando metade do corpo para fora da sela para evitar uma lâmina Kuritai, mas o escravo de elite saltou do próprio cavalo, caindo com habilidade na sela de Rensial e golpeando para baixo com as duas espadas. Rensial tirou o pé do estribo e girou em volta da cabeça do cavalo, chutando com os dois pés o peito do Kuritai enquanto atravessavam o rio; o escravo foi arrancado do cavalo e o mestre voltou à sela.

Frentis tentou despachar o segundo Kuritai com uma faca, esperando até estar quase emparelhado com o escravo, quando então arremessou a lâmina em seu olho. O homem mal pareceu notar o ferimento, golpeando Frentis ao passar por ele com o cavalo, a lâmina errando o alvo por alguns centímetros, virando o cavalo para segui-lo, mas tombando morto quando a lança de Davoka brotou de seu peito. Ela arrancou a arma do cadáver e seguiu adiante a galope, acompanhando Frentis rio adentro.

Ele podia ver Darnel adiante, tirando sangue do cavalo com chibatadas até o animal chegar à margem oposta, galopando para leste cercado por uma escolta de volarianos enquanto a retaguarda permanecia firme na beira da água. Rensial avançou sobre eles, sua espada um borrão à medida que homens caíam à sua volta, saindo em perseguição de Darnel, que se afastava rapidamente, e então empinando quando uma lâmina volariana cravou-se no pescoço de seu cavalo. Outro volariano correu na direção do mestre com a espada pronta para lhe golpear as costas. O cavalo de Frentis chocou-se com a montaria do volariano antes que ele pudesse atacar, a cabeça do homem trespassada pela lâmina da Ordem um segundo depois.

Davoka gritava de frustração ao abrir caminho à força em meio aos volarianos remanescentes, girando a lança, a lâmina deixando um rastro de sangue e apenas dois cavaleiros vivos, que tentaram em vão seguir seus companheiros em retirada, caindo mortos ao serem atingidos por flechas disparadas por trás. Frentis virou-se e viu Sollis e Ivern vadeando depressa o rio de arcos em punho. Atrás deles a margem oeste estava tranquila após a batalha, e cavaleiros e combatentes livres andavam por entre os mortos.

Frentis olhou de novo para a nuvem de poeira que se erguia com a passagem de Darnel, sabendo que não iriam alcançá-lo agora. Davoka praguejou em lonak e jogou a lança no chão. Perto dali, Rensial ajoelhou-se ao lado de seu cavalo, passando a mão pelo pescoço do animal e sussurrando gentilmente enquanto ele dava o último suspiro.

— Aquilo foi imprudente, irmão. — Os olhos claros de Sollis o encaravam com severa desaprovação, que se tornou ainda mais intensa quando Frentis soltou uma gargalhada longa e alta.

— Sim, irmão — retorquiu ele quando o júbilo havia desaparecido, ciente de que a expressão no rosto de Sollis era idêntica à sua ao olhar para Rensial. — Muito imprudente. Minhas mais sinceras desculpas.

— Ele estava em nossas mãos! — exclamou Ermund, com as mãos no punho da espada, batendo na terra com a ponta da bainha. — Eu estava a menos de dois metros, no meio do combate. Ele estava em nossas mãos e ainda vive. Está rindo de nós, posso ouvi-lo.

— Os cavaleiros dele estão mortos ou capturados e ele está fugindo para Varinshold como um cão açoitado — retorquiu Banders. — Duvido que esteja rindo.

— Embora agora ele tenha pleno conhecimento de quantos somos e onde estamos — observou Sollis.

— Mas não tem a força para fazer muita coisa a respeito — retorquiu o Barão.

Eles estavam no alto da colina rochosa que dava para o esporão. Abaixo, os combatentes de Frentis andavam entre os mortos, saqueando armas e objetos de valor. Um pequeno grupo de cavaleiros de Darnel aguardava sob vigilância próximo da margem do rio. Eles forneciam um espetáculo curiosamente patético sem as armaduras; apenas homens cansados e derrotados, de olhos arregalados de medo e nervos abalados pela morte instantânea com que foram recompensados os volarianos que tentaram se render.

— O que esses porcos filhos da puta estão fazendo vivos, irmão? — perguntara Draker a Frentis mais cedo, os prisioneiros a uma distância em que podiam ouvir e estremecendo. — São traidores do Reino, não?

— Eles se renderam de acordo com os costumes — dissera-lhe Ermund, não sem um tom de arrependimento. — O Barão decidirá o destino deles.

— Melhor mantê-los longe da gente na marcha — murmurou Draker sombriamente antes de partir pisando firme para saquear mais.

Banders extraíra informações suficientes dos cavaleiros capturados que revelavam o tamanho das atuais ilusões de Darnel.

— Está reconstruindo o palácio, fazendo de si mesmo um rei — disse ele, sacudindo a cabeça. — Fico pensando se os volarianos não lançaram algum feitiço das Trevas sobre ele, privando-lhe de toda a razão.

— Ela sempre existiu, pai — disse calmamente a Senhora Ulice. — Essa loucura. Eu me lembro bem dela. Quando era mais nova, confundi com paixão, até mesmo com amor. E pode ser que tenha sido isso, mas era amor por si mesmo, contido apenas pela vontade de seu pai. Como o Senhor Feudal Theros não está mais aqui, ele se sente livre, capaz de finalmente voar.

— É melhor esperarmos que a insensatez dele o deixe surdo aos conselhos de Al Hestian — disse Banders. — Será impossível tomar Varinshold de modo furtivo agora, e tudo o que ele precisa fazer é aguardar atrás das muralhas enquanto os seus aliados concluem os seus assuntos em Cumbrael.

— Eu ainda gostaria de tentar os esgotos, meu senhor — disse Frentis. — Sozinho, se necessário.

Isso atraiu alguns olhares estranhos dos capitães ali reunidos, o de Sollis particularmente severo em sua intensidade. Frentis sabia que a sua alma recém-aliviada transparecia em seu rosto, mas o presente do lobo era algo estimado e ele não via muito motivo para escondê-lo.

Você deve se perdoar.

— Eu… certamente levarei isso em consideração, irmão — assegurou-lhe Banders com o tipo de sorriso que Frentis conhecia.

O sorriso que se dá a alguém que você considera louco.

— Estamos a poucos quilômetros da fronteira nilsaelina — disse Lorde Furel. — Uma pausa aqui para descansar e aguardar notícias de meus mensageiros pode ser o melhor caminho. Reforços podem estar marchando até nós neste momento. No mínimo alguma notícia virá dos Confins.

Banders olhou para Sollis com uma pergunta no olhar.

— Enviarei meus irmãos em todas as direções — disse o Irmão Comandante. — Se houver alguma notícia num raio de cem quilômetros, nós a teremos dentro de dois dias.

Banders assentiu.

— Muito bem. Acamparemos aqui. Irmão Frentis, você responde ao seu irmão, não a mim, mas acho que podemos concordar que a sua visita a Varinshold terá de esperar.

Frentis encolheu os ombros, fazendo uma mesura com um sorriso afável.

— Como meu senhor desejar.

O sorriso continuou em seu rosto enquanto retornava para a tenda, e a inquietação que ele tinha sentido ao ver seu saco de dormir agora não existia mais. Um sonho sem sonhos, pensou ele, descalçando as botas e deitando-se. Fico pensando como será.

Ela os vê lutar com fria indiferença, avaliando habilidade e velocidade conforme dançam no fosso abaixo. Ecos metálicos ressoam pelas paredes que a cercam, o teto de pedra acima bruto e sem decoração, pois aqueles são os novos fossos, esculpidos muito abaixo das ruas de Volar, o local de nascimento de filhos de longa gestação.

Você gosta deles, amado?, ela lhe pergunta, sabendo que ele os vê, ansiosa para deixá-lo interessado, ávida, de fato, para ouvir uma única palavra do outro lado do abismo que os separa. Aprendemos tanto com você.

Os homens no fosso abaixo lutam sem qualquer coibição e morrem sem gritos. Mas os seus rostos não são os dos Kuritai; não há autômatos impassíveis ali. Esses homens fazem caretas de dor e rosnam de fúria, demonstram uma satisfação sinistra com uma vitória sangrenta. Há pelo menos cem no fosso, movendo-se com toda a agilidade daqueles criados para lutar.

Dê uma corda apertada demais a um cão e ele se enforca, pensa ela. E por mais que você o açoite, ele sempre será um cão. Mas esses, amado… Ela sorri para os homens no fosso. Esses são leões.

Ela dá as costas para o fosso e atravessa um passadiço de pedra até uma porta estreita. Os sons de combate a seguem enquanto caminha; o túnel é longo e escuro, mas ela já o percorreu e não precisa de tochas. A câmara em que chega é ampla e alta, com passadiços erguendo-se de ambos os lados e dando acesso a fileiras de celas, cada uma fechada com barras de ferro. Ela para e deixa a sua canção ecoar, sentindo os medos embotados emanarem de cada uma das celas. Drogas são usadas em abundância pelos capatazes que cuidam dessas celas, mas ainda assim o medo sempre permanece. A canção dela encontra uma cela na fileira do meio, à esquerda. A nota é dissonante, sombria, avivando uma ânsia.

Isso a incomoda por um momento. Geralmente a canção escolhe um inocente, algum jovem de rosto pálido raptado de uma tribo das colinas massacrada ou identificado pelos capatazes nos fossos de treinamento. Ela gostara de fazer o papel de benfeitora, da senhora bondosa que surgia para lhes libertar daquele lugar de medo incessante, desfrutando da esperança desesperada em seus olhos, até mesmo lhes concedendo a misericórdia de uma morte rápida como recompensa.

Agora é diferente. A canção fala de uma alma asquerosa e é isso que aviva a sua ânsia. Foi você, amado?, pergunta ela. Você me mudou tanto assim? Apesar da inquietação, ela sabe que aquela casca precisa ser nutrida; o Mensageiro informara como uma casca roubada podia adoecer rapidamente, consumida pelas exigências dos múltiplos dons. Ela segue para a escadaria mais próxima, mas para quando dois Kuritai se aproximam, arrastando entre eles uma figura vestida de vermelho e fornecendo uma distração bem-vinda.

— Conselheiro Lorvek — cumprimenta ela o homem de vermelho. — Faz tanto tempo. Fico feliz em ver que os anos em nada o debilitaram.

O homem de vermelho parece ter trinta e tantos anos, embora ela o tenha encontrado pela primeira vez cerca de oitenta anos antes, quando ele chegou ao Conselho pela primeira vez, naquela mesma câmara, na verdade. Ele estivera triunfante na ocasião, ela se recorda, envaidecido de satisfação por ter assegurado a lendária imortalidade. Agora ele apenas parece ser o que é: um homem assustado, intimidado pela tortura e à espera da morte.

— Eu… — começa ele e engole em seco, um filete de sangue escorrendo do canto da boca. — Eu… humildemente me arrependo de qualquer ofensa que tenha cometido contra o Aliado ou os seus servos…

— Ah, lá vai você de novo, Lorvek — diz ela, sacudindo a cabeça com um sorriso triste. — Sempre dizendo a coisa errada. Do que foi que você me chamou naquele dia no Conselho, há vinte anos? Lembra-se, o dia em que regressei da minha excursão ao reino do porco de olhos puxados?

Lorvek abaixa a cabeça, reunindo a vontade para continuar implorando.

— Eu… eu disse… coisas insensatas…

— Vadia assassina de um fantasma pestilento. — Ela agarra o cabelo do homem e ergue a sua cabeça. — Sim, aquilo foi insensato. E agora você me chama de serva. Eu me pergunto como você subiu tanto com um discernimento tão deplorável. Depois de tudo o que o Aliado lhe deu.

Ele é tomado por uma onda de exaustão e seus olhos ficam turvos por um segundo. Ela supõe que Lorvek exauriu a sua capacidade de implorar, mas então ele respira fundo e a luz volta aos seus olhos ao cuspir sangue no rosto dela.

— O Conselho não tolerará isso, sua vadia abominável! — sibila ele.

— Evidências de corrupção são difíceis de ignorar — diz ela, encontrando um lampejo de admiração por aquele último arroubo de coragem. — Receio que a votação tenha sido unânime. Além disso… — Ela se aproxima, sussurrando: — Cá entre nós, o Conselho logo não terá de tolerar nada.

Ela o beija no rosto e recua.

— Lá atrás — diz ela aos Kuritai, indicando com a cabeça o túnel que leva aos fossos. — Deem a ele uma espada e o joguem lá dentro. Digam ao capataz que quero saber quanto tempo ele dura.

Ele grita quando o arrastam para longe, mais desafios, reduzindo-se outra vez a apelos arrependidos ao entrarem no túnel, e sua voz desaparece. Ela invoca a canção novamente, procurando a cela com a nota sombria e seguindo para a escadaria.

Frentis acordou com um grito, o desespero e a tristeza fazendo com que se curvasse para a frente. Ele sentiu as lágrimas escorrerem e cobriu o rosto com as mãos, soluçando com violência.

— Garoto? — Hesitante, Mestre Rensial estendeu a mão para tocá-lo no ombro, soando perplexo. — Garoto?

Frentis continuou a chorar enquanto o mestre louco lhe dava tapinhas no ombro, ciente de que os outros haviam saído de suas tendas, que estavam do lado de fora olhando espantados, mas percebeu que não conseguia parar. Não até o sol da manhã se erguer e qualquer possibilidade de sono ter desaparecido por completo.

— Minha avó de sangue tinha muitos sonhos. — Davoka olhava fixamente para ele enquanto cavalgava ao seu lado, embora o seu tom fosse brando, os resmungos costumeiros ausentes naquela manhã.

Frentis deu um aceno cansado com a cabeça e não respondeu. O silêncio havia sido praticamente total durante o café da manhã; Trinta e Quatro lhe passara uma tigela de mingau franzindo a testa de inquietação, Illian e Arendil não conseguiram olhá-lo nos olhos e Draker ficou encarando-o, as sobrancelhas grossas franzidas de preocupação.

Lágrimas do Irmão Vermelho, pensou Frentis. Eles esqueceram que eu era apenas um homem… Talvez eu também tenha esquecido.

— Ela via estrelas caindo do céu para destruir a terra — prosseguiu Davoka. — E enchentes grandes o suficiente para afogar as montanhas. Um dia ela deu o seu pônei e todas as suas coisas porque um sonho lhe disse que o sol iria explodir com o crepúsculo. O sol não explodiu e as pessoas viram apenas uma velha louca com sonhos, e sonhos não significam nada.

Não são sonhos, ele quis dizer à lonak, fechando os olhos e esfregando as têmporas ao ser invadido pela fadiga.

— Você acha que eu não tenho condições de liderar?

— O nosso clã iria seguir você para dentro da Boca de Nishak se pedisse. Eles temem por você, isso é tudo.

Ele abriu os olhos e forçou-se a esquadrinhar o horizonte. O solo a oeste do Esporão era em sua maioria pasto, apesar de agora não haver gado, o capim longo devido à falta de pastejo. Mestre Sollis concordara com o seu pedido de fazer o reconhecimento da passagem ao sul, embora os seus olhos claros transmitissem uma crítica mais severa do que a oferecida pela gente que o seguira desde a Urlish. Ele acha que estou abalado, sabia Frentis. Destruído pelo fardo de tanta culpa. Não contara a Sollis sobre a bênção do lobo, a libertação da culpa que o ato trouxera, mas agora isso parecia inútil. De que adiantava ser liberado da culpa se ele estava condenado a enxergar pelos olhos dela todas as noites?

Davoka retesou-se ao seu lado e apontou. Frentis afastou as dúvidas que turvavam a sua mente e olhou para onde ela indicava, avistando duas figuras no horizonte, ambas montadas e movendo-se em trote constante pelo capim longo. Ele sabia que não podiam ser volarianos, que nunca patrulhavam em grupos pequenos, e duvidava que Darnel tivesse muitos caçadores para enviar, especialmente sem cães. Além do mais, estava claro que eles já haviam avistado os dois cavaleiros ao norte, e ambos continuavam a se aproximar. Não eram as ações de um inimigo. Ainda assim, ele pegou o arco e colocou uma flecha na corda quando os cavaleiros chegaram mais perto. Davoka afastou o cavalo e o posicionou de modo que a sua lança ficasse oculta, abaixada sobre o flanco direito do animal.

Frentis franziu o cenho quando o rosto dos cavaleiros ficaram visíveis, percebendo que eram uma mulher e um homem. A mulher tinha um cabelo longo preso numa trança e montava uma égua malhada e alta. Suas roupas eram estranhas, uma mistura de couro e equipamento volariano, incluindo uma espada curta amarrada à sela, embora também carregasse uma lança adornada com penas e o que pareciam ser talismãs de ossos entalhados.

Ele ouviu Davoka soltar um grunhido de surpresa.

— Eorhil.

O homem vestia o uniforme da infantaria da Guarda do Reino, suas feições um tanto emaciadas num rosto permanentemente franzido, algo entre perplexidade e dor, a boca aberta e os lábios sem expressão. Eles pararam a cerca de dez metros de distância, o olhar da mulher indo de Frentis para Davoka, levemente divertido por ver Frentis, severo e cauteloso quando se voltou para Davoka. O Guarda do Reino ao seu lado lançava-lhes apenas um olhar cansado.

Davoka disse algo numa língua desconhecida, as palavras hesitantes e formadas com dificuldade. A eorhil soltou uma gargalhada antes de falar na língua do Reino com um sotaque carregado:

— Lonakhim soa como uma macaca parindo.

Davoka empertigou-se, agarrando com força as rédeas e erguendo a lança, mas a eorhil apenas sorriu e virou-se para Frentis.

— Meu… marido me ensina… sua língua. Você um… irmão?

— Sim — respondeu ele. — Irmão Frentis da Sexta Ordem. Esta é a Senhora Davoka, Embaixadora do Domínio Lonak no Reino Unificado.

A eorhil piscou, aturdida com as palavras desconhecidas, e sacudiu a cabeça, batendo no próprio peito.

— Insha ka Forna, eu sou eorhil.

— Nós sabemos — disse Davoka no mesmo tom. — O que vocês fazem aqui?

— Este Irmão Lernial. — A eorhil gesticulou para o Guarda do Reino, que agora olhava em silêncio para o chão. — Rinia nos mandou.

— Rinia? — perguntou Frentis.

Insha ka Forna grunhiu de frustração e virou-se, apontando para o sul e falando com lenta determinação:

— Rainha.