Onze
O conflito

Reino Central. Campo vazio.

Chayo voava ao redor do local que serviria em breve como campo de batalha. Seu exército estava preparado. Apenas aguardava o seu maior inimigo, que com certeza estaria presente naquele dia.

***

Dois dias se passaram depois do exército do Norte ter saído de seu reino.

Eles iam pela Floresta Sombria e já estavam bem próximos do Reino Central. Do reino do pai de Drika.

Ela queria saber se Rodolfo e Bruna ainda estavam vivos. Claro, ela não tinha um grande vínculo com eles, além do sanguíneo, mas saber se eles estavam bem ou não acalmaria o seu coração de alguma forma.

— Estamos nos aproximando do campo de batalha, toquem as cornetas! – Orquielma ordena e Drika sai de seus devaneios.

O aglomerado de soldados aos poucos aprontava-se no campo. Eles tinham mais de 3000 soldados e esperavam que fosse o suficiente. Existia mais soldados no Reino Norte, mas Orquielma não quis levá-los para a guerra, pois ainda precisavam proteger o reino de possíveis ataques.

Votyo carregava Drika em seu pescoço. A espada vingadora estava na bainha, na cintura de Drika, Votyo entregara para ela antes de saírem do santuário.

— Você está bem, Lorena? – Votyo pergunta demonstrando sua preocupação.

— Estarei assim que matar a feiticeira.

***

Ingrid estava fazendo uma trança em seus cabelos, olhando-se vaidosamente no espelho, quando Chayo apareceu na sua forma humana, ele trazia consigo o rei Rodolfo.

Rodolfo estava magro, pálido e fraco. A feiticeira observa-o pelo reflexo do espelho, com nojo.

— Soube que sua filha mais nova já está no reino? Ela deve estar pensando que irá salvar o papai das garras da feiticeira malvada.

— Não faça nada contra nossa filha! – Rodolfo grita.

— Não venha com essa historinha de quem se importa, além do mais, foi você quem provocou tudo isso, foi você quem tentou me matar. Não vai incutir nenhuma pena em mim me dizendo que ela é minha filha. Isso não importa mais! – Ingrid grita de volta, dessa vez olhando-o de frente. – Então você verá sua filha morrer pelas minhas mãos. Eu vou fazer você sofrer da mesma forma que eu sofri. Não terei piedade alguma.

Ingrid vira-se outra vez para o espelho e Chayo arrasta o rei para longe. Ela termina de arrumar seu vestido preto, e prender bem a armadura de peitoral. Pega seu cetro e sai do quarto com passos firmes e decididos.

Seu exército estava a caminho do campo de batalha.

As pessoas que viviam no reino, estavam bem escondidas em suas casas, ninguém se atrevia a olhar para o exército que passava, todos temerosos com o que estava por vir.

O exército negro aproximava-se do campo de batalha em uma marcha organizada. Estavam juntos os guardas do rei do Norte, todo o armamento do Reino Central e metade do exército do Reino Oeste. Ao todo, Ingrid tinha a sua disposição 7000 homens, prontos para a batalha. Aquilo era mais que o dobro do poderio militar de Drika. Mas, mesmo assim, eles não recuariam.

Os dois lados da batalha já estavam preparados. Bastava apenas um comando de seus respectivos generais.

Chayo voava acima de seu exército, então ele desce para juntar-se a Ingrid, e fica na frente de seus subordinados. A feiticeira afasta-se de seu dragão. Victor também se encontrava no campo de batalha, desta vez ele não tinha consciência alguma de seus movimentos, estava totalmente controlado.

Ele toma a frente do exército, assim como Orquielma. Seus olhos estavam enegrecidos por causa da magia de Ingrid.

Votyo olhava para aquela cena com preocupação. A situação não penderia para um lado bom. Lembrava-se das antigas guerras dos homens.

— Use o seu espírito de gelo com sabedoria. – Votyo falava, levando a cabeça ao solo enquanto Drika descia de seu pescoço. Ele não tirava os olhos do inimigo. – Apenas se concentre que tudo fluirá com clareza.

— Eu sei me cuidar em uma batalha, Votyo. Não se preocupe com isso. Concentre apenas em enfraquecer seu inimigo.

— Isso eu farei com todo prazer. – Ele fala para Drika e depois olha diretamente para Chayo, que o encarava com ódio. – Rendam-se antes que seja tarde!

Chayo dá gargalhadas.

— Serão vocês quem irão fazer isso, e logo. – Chayo avança para as linhas inimigas.

E assim inicia a batalha, pois Votyo também vai em direção ao seu velho inimigo. Dessa vez ele não iria fraquejar. Dessa vez ele iria acabar com Chayo de uma vez por todas.

Votyo estava bem próximo de Chayo. Quando ele se preparava para atacar com todas as suas forças, o outro abre as asas e alça voo.

Mas, para a surpresa do seu inimigo, Votyo abre, em suas costas, duas asas gigantescas. Elas nunca haviam sido usadas, e ao ver de todos, pareciam sair de dentro de suas escamas. Ele alça voo também.

— Não duvide de minha capacidade, Chayo. Eu sou um mestiço. Sou capaz de controlar fogo e gelo. Fora a minha outra capacidade física, escondida durante séculos.

— Se tinha tudo isso, por que não ajudou Ian quando ele mais precisou de você? Por acaso tinha tanto medo assim de mim? – o outro pergunta zombeteiro e em seguida cospe chamas contra Votyo.

Seu ataque não causa dano algum, já que o outro também contra-ataca com fogo.

***

Os dois exércitos estavam quase para chocar um contra o outro. Orquielma estava ao lado de Marcos na linha de frente.

— Deixe Victor por minha conta. Não quero que ninguém me atrapalhe. – Ela fala para Marcos, com desgosto na voz.

Marcos confirma com a cabeça e olha para o seu lado direito, onde Drika se encontrava. Ela parecia estar se preparando para o ataque. Então, ele resolveu não falar qualquer coisa. Não havia necessidade.

Controle-se, Drika. Use o poder do espírito de gelo com força total. Não haverá chances para fraquejar. A jovem fala para si.

Adagas de gelo saem das mãos de Drika, indo em direção às gargantas, cabeças, ou qualquer outra parte do corpo de alguns guerreiros que estavam à sua frente. Isso daria uma chance maior para seus aliados. Mesmo assim, existia um porém: ela não poderia usar aquilo a todo momento, pois exigia grande concentração.

Ela segura firme o cabo de sua nova espada. Ingrid encara-a furiosa, iria confrontá-la de frente.

Os dois exércitos encontram-se no centro do campo. O choque entre ambos era palpável. Marcos nunca havia estado em uma situação tão aterrorizante quanto essa. A adrenalina em seu corpo aumentara.

Orquielma segue em direção à Victor, enquanto decepava várias cabeças e braços.

***

Ingrid já estava impaciente e resolveu usar seu cetro para facilitar a aproximação de Drika, que lutava ferozmente. A feiticeira não se importava se estava matando os seus ou não. Eles eram meros peões.

Achando que iria surpreender Drika, Ingrid usa o cetro jogando a luz vermelha e fatal para atingi-la nas costas. Mas um escudo firme de gelo se forma atrás de Drika, protegendo-a.

Drika encara Ingrid logo que o escudo desaparece. Ela estava com um olhar mortal.

***

Os ataques de fogo cessaram entre Votyo e Chayo, agora, eles se atacavam com as garras.

Vendo que já não estava com vantagem em relação a Votyo, Chayo vai em direção à superfície, e, para ver se ganhava tempo, transforma-se para sua aparência humana. Ele achava que conseguiria enganar Votyo. Mas quando olhou para o céu, não notou a presença do outro dragão. Aquilo o deixou preocupado. Onde poderia estar?

— Procurando por alguém? – um dos homens no campo de batalha fala. Ele se vira para procurar quem havia falado, até que sua visão depara com um homem que não usava nenhum tipo de armadura.

Era negro, musculoso e alto, estava sem camisa, era cego de um olho e segurava uma marreta de ferro que havia encontrado ao lado do corpo morto de um soldado do Oeste. Chayo imediatamente pega uma espada manchada de sangue que estava no chão. Ele já sabia muito bem de quem se tratava.

— Esqueceu que eu também sou um dos dragões antigos? – pergunta Votyo a Chayo, já atacando. – Eu também posso me transformar em humano, seu cretino.