Campo de batalha. Reino Central.
A luta prosseguia com todo fervor.
Chayo estava com o mau pressentimento de que seria derrotado. Drika já havia lhe machucado no abdômen quando ele tentara inutilizar o braço dela. Ele estava começando a ficar fraco e aquilo o preocupava.
Se quisesse ganhar, teria que apelar.
Posiciona-se para uma ofensiva real. Em menos de segundos ele a desarma e lhe dá um chute no estômago, arremessando-a longe.
As costas dela batem no chão com força e ela sente o fôlego faltar.
— Você desiste? – ele pergunta, largando sua espada, uma vez que a de Drika também se encontrava distante de seu corpo. Ele sorri com maldade. Sentindo-se vitorioso.
— Nunca! – ela grita, limpando o sangue da boca.
Ele não parecia satisfeito com a resposta.
— Seja como você quiser.
***
Bruna estava aumentando a largura dos passos e empurrava alguns soldados que a olhavam como se ela estivesse louca. Pressentia algo terrível.
***
Drika ainda estava no chão. Suas costelas doíam infernalmente.
Chayo aproximava-se com calma e bem devagar. Ele respira fundo e cospe uma bola de fogo de tamanho mediano. Drika imediatamente faz um escudo de gelo, mas com o impacto ele se quebra. Chayo dá mais dois passos à frente, respira fundo e cospe mais uma bola de fogo. Drika mais uma vez faz um escudo e ele se quebra.
***
Marcos percebeu que Bruna não estava mais por perto e, em instantes, conseguiu localizá-la. Ele olha para sua espada, sem dúvida precisaria usá-la, mas ela não era apropriada para fazer o que pretendia. Porém, a de Drika, que se encontrava no chão, seria suficiente. Ele corre.
Ninguém o impediria. Ou ele matava Chayo e acabava com aquilo de uma vez por todas. Ou Chayo matava Drika, pela segunda vez.
***
Chayo dá mais dois passos à frente.
Drika levanta-se com esforço. Seu corpo estava todo machucado. Sempre que uma bola de fogo ia em sua direção, ela ficava à beira do pânico, devido ao trauma que carregava da outra vida.
— Era para você ser minha, Lorena. Não dele. Por que você o escolheu ao invés de mim?
— Você não entenderia, já que nunca me amou realmente. Isso que você chama de amor, ao meu ver, é apenas uma obsessão doentia. O que eu sinto por Marcos é amor – Drika falava enquanto Marcos pegava a espada no chão, aguardando o momento certo para atacar.
Chayo descontrola-se com as verdades que acabara de ouvir e cospe uma bola de fogo muito maior que as anteriores. Drika faz mais um escudo de gelo. Imediatamente, Bruna percebe que aquele escudo não a protegeria. Então corre na maior velocidade que seu corpo frágil permitia, empurra a irmã para bem longe usando o cetro e fica atrás do escudo, em frente à Drika, que já estava caída.
Tudo isso foi muito rápido. Logo a bola de fogo bateu no escudo, que imediatamente evaporou, de maneira que o fogo atingiu metade do corpo exposto de Bruna. Depois disso, a bola de fogo sumiu.
Percebendo que Chayo estava distraído com aquela confusão toda, Marcos corre em sua direção e perfura suas costas, atravessando a carne e atingindo seu coração antes mesmo que ele percebesse.
Ele puxa a espada de volta e Chayo tomba no chão, ainda vivo. Parecia tentar falar algo. Marcos abaixa-se para ouvir o que ele tinha a dizer.
— A batalha acabou para mim, Ian. Mas a guerra apenas começou. Eles irão me vingar. Eles virão para te pegar... – Chayo sorri e logo o brilho em seu olhar se apaga. Estava, enfim, morto.
***
Drika estava em desespero, Bruna gritava.
Marcos corre até elas. A cena era horrível: Bruna estava com metade do corpo em chamas, o cheiro de carne queimada era dominante. Drika tentava apagar o fogo com gelo.
Um dos soldados do Reino Oeste se aproxima de Drika. Ela fica na defensiva. Ele a olha com cuidado.
— Você é filha da princesa Ihana, do Oeste, não é? – ele pergunta.
— Sou – Drika fala, tocando o lado do rosto de Bruna que não havia sido afetado. O outro lado estava em carne viva, mas não estava mais em chamas.
— Peço perdão pelos nossos atos, mas nosso rei queria uma vingança...
— Entendo perfeitamente o que meu avô queria – Drika fala sem olhar para ele. – Por favor, quero que vocês saiam das nossas terras e mandem um recado para ele – ela faz uma pausa e o soldado aguarda, ansioso. – Quero que ele venha até aqui para discutirmos como faremos com essa traição dele para com as próprias netas. Não posso admitir que o que ele fez seja esquecido com tanta facilidade, mas vou tentar contornar a situação o máximo, para que não haja outra guerra. No entanto, por enquanto, eu quero que vocês saiam da minha vista, imediatamente.
Ele confirma com a cabeça. Drika ouve uma corneta soar duas vezes e o exército do Oeste afastou-se, aos poucos, em direção à Floresta Sombria.
Drika então, desaba em lágrimas. Ver Bruna naquela situação era muito doloroso, ainda mais por sua culpa...
— Não chore – Bruna fala com dificuldade, fazendo caretas conforme a dor que sentia. Estava tentando não gritar para não deixar Drika mais aflita, mas sabia que aquela força e resistência não durariam por muito tempo. – Foi uma escolha minha te salvar. E eu não me arrependo do que fiz. Mas creio que preciso de cuidados médicos urgentes.
Nisso, Victor, cuja presença ainda não havia sido notada, abaixa-se e pega Bruna nos braços, com o maior cuidado possível. Drika ouve a irmã mais velha gemer baixinho, enquanto o general a leva em direção ao castelo com grande rapidez.
Marcos ajuda Drika a se levantar e a guia para longe dali.
Quando chegaram ao castelo, encontraram Julia no primeiro jardim, limpando o rosto de Ihana com um pano molhado. Drika deixa Bruna ao cuidado dos outros e vai até ela.
A jovem senta-se ao lado da anciã.
— Onde Rodolfo está?
— Não se preocupe por enquanto. Eu deixei-o bem preso em um dos quartos.
Drika estava hesitante em fazer a próxima pergunta.
— A guerra acabou mesmo, Julia? Não precisamos nos preocupar mais?
— Não, como Chayo disse para Marcos: a guerra apenas começou. Drika, depois dos grandes mares, em terras sombrias, o mal predomina e aguarda a guerra maior.
Drika engole em seco.
— Então, é apenas o começo?
— Sim.