As pernaltas ardeídeas, com uma pata encolhida, esperam com paciência o peixinho fisgável. A imagem sugeriu denominar posição de socó às crianças e adolescentes demorando com a planta do pé direito na face lateral do joelho esquerdo, ou vice-versa, equilibrando-se sem outro apoio. É repouso efêmero sem que pareça insustentável a notória instabilidade. Gente do sexo oposto não usa essa técnica tradicional e secular, desaparecendo na maturidade. Mulher e velho não imitam o Socó. É mais do litoral que dos sertões. Pesquisei-a em longo estudo no Made in Africa, 2001, e o Professor sueco Gerhard Lindblom dedicou-lhe erudita indagação.167 Diz-se “Nilotenstellung” por ter sido inicialmente estudada no Nilo Branco, entre os compridos Chours, apoiados em lanças. Dessa zona, a Posição de Socó ganhou o Sudão, Quênia-Tanganika, Zambezia, Moçambique, Angola, Congo, Guiné. Foi o percurso para o Brasil nas pernas escravas de bantos e sudaneses. Sua expansão global registou-se e não interessa repeti-la. Derramou-se nos mestiços e pela indiada, zona de conforto para a influência africana do pé-no-joelho. Na Europa, não deu sinal de presença. Mesmo na Espanha e Portugal não foi possível afirmar a existência normal da Posição de Socó nas populações de ontem e de agora. Nem curiosidade etnográfica. Vive o fazer o quatro, atravessando a anteperna na altura do joelho, evidenciando relativo aprumo perpendicular. Mera atitude exibitória, quando a Posição de Socó é de repouso e perfeita naturalidade funcional. E continua em rara mas renitente vitalidade popular.
167 The one-leg resting position (Nilotenstellung) in Africa and elsewhere, Estocolmo, 1949.