MÃOS CRUZADAS NO PEITO

Os antebraços cruzados pelos pulsos sobre o peito valem submissão resignada, dignidade na humilhação sem opróbrio. Firmeza dos vencidos sem capitulação moral. Atitude dos mártires e dos condenados ao suplício, conscientes da injustiça opressora. A tradição dessa posição significar o “sinal da Cruz” parece­-me puramente falsa e catequética. A esposa de Arminius, o grande chefe germânico, aprisionada pelos romanos no ano quinze da Era Cristã, marchou impassível, sem súplicas e sem lágrimas, com as mãos cruzadas sobre o peito: Compressis intra sinum manibus, escreveu Tácito191 na ignorância natural de uma doutrina que ainda não existia. Aos cadáveres cristãos era obrigatório cruzar os braços sobre o tórax. Na batalha de Roncesvalles, Asturias, 15 de agosto de 778, o paladino Roland dispôs, tradicionalmente, o corpo do Arcebispo Turpin: Sur sa poitrine, entre les deux clavicules, / il a croisé ses blanches mains, les belles, / Roland le plaint à la manière de son pays (La Chanson de Roland). Voltando da sétima Cruzada, 1248, com o Rei Luís IX de França, Jean de Joinville parou algumas horas na ilha de Lampedusa, na Sicília. Depararam um pobre eremitério solitário. Os dois derradeiros cenobitas eram esqueletos: Et le trouvames dous cors de gens mors, dont la chars etoit toute pourrie: les costes se tenoient encore toutes ensemble, et li os des mains estoient sur leur piz.192 As mãos sobre o peito, na forma ritual dos mortos que tinham sido homens batizados. Ver Mão ao Peito.

191 Anais, I, LVII.

192 Histoire de Saint­-Louis, CXXVI.