Igualdade, semelhança, identidade social. Ombrear-se, considerar-se no mesmo nível. Hombridade, magnanimidade, consciência de justiça aos direitos alheios. Scotsmen, shoulder by shoulder! Escoceses, ombro a ombro! Unidade na ação e fraternidade. A linha paralela das espáduas sugeriu a imagem do equilíbrio, parecença entre as criaturas humanas. “Por cima do ombro!”, fora do solidarismo, descaso, desdém, indiferença. É o que se joga fora. Encolher os ombros, resignar-se, conformar-se, desinteressar-se. Outrora, na Ordenação, o novo sacerdote cingia ambos os ombros com a estola, afirmando-se servo permanente e fiel em serviço da Igreja. “Mão no ombro”, confiança, intimidade notória. Na cerimônia de armar-se o Cavaleiro, o padrinho, nobre oficiante, dava-lhe a pranchada de espada no ombro direito, significando o ingresso para a Ordem onde seria igual aos companheiros. No uniforme militar, desde 1759 no modelo francês, é o lugar honroso para as dragonas, índice de graduação. Nas guerras antigas bater com a lâmina da espada no ombro do oficial inimigo, proclamava-o prisioneiro. Os frades Claude d’Abbeville e Ivo d’Evreux, 1612 e 1614 no Maranhão, registram que os tupinambás consideravam-se escravos de quem, num combate, batia-lhes com a mão na espádua. A explicação estaria, segundo o capuchinho d’Evreux, no profeta Isaías, lembrando que o cativo se fazia pelo golpe de vara nas espáduas (9, 3) e o governo de um Reino punha-se, simbolicamente, sobre os ombros: “E porei a chave da casa de Davi sobre os seus ombros” (22, 22). A largura das espáduas é para o Povo a maior denúncia da fortaleza física, da possança muscular. Homem espadaúdo! anúncio de segurança na proteção. Até princípios do século XX as Damas e Donzelas fotografavam-se apoiando a mão ao ombro do esposo ou pai, acolhidas a sua proximidade vigilante e defensiva. Ainda é, para o Povo, um grande índice cordial de confiança. Em 1816, os Botocudos do Rio Doce bateram nos ombros do Príncipe de Wied-Neuwied, significando-lhe simpatia. A mais notória e viva manifestação confraternizadora do povo de Roma aos soldados piemonteses, dominadores da cidade em 20 de setembro de 1870, terminando o poder territorial dos Papas, fora Gli parlano tenendogli le mani sulle spalle, observou Edmondo De Amicis, testemunha do dia histórico.
Erguer, arquear, descair os ombros, o “gesto francês”, significará indiferença, descaso, desdém. Impaciência ou reforço na tarefa objetiva. Era habitual em Napoleão Bonaparte. Un haussement d’épaules nous remue plus profund, déliant les puissants muscles que s’attachent au torax, et délivrant le coeur, observou Alain num Popos de 1921. É um movimento de independência, libertação de responsabilidade, afastando o peso do arnês, opressor das espáduas sob pretexto de defendê-las. Alívio do carregador, despejando o fardo. Do caçador, atirando ao solo o animal abatido que trouxera para a caverna militar.