Em 1926 Gilberto Amado, Senador da República, voltava ao Brasil no “Massilia”, onde falecera o Conde d’Eu quatro anos antes. Um inglês very dull perguntou-lhe porque gesticulava tanto. O sergipano explodiu, magnífico: “Por que você não gesticula, seu cabecinha de caroço de jaca? Você não gesticula porque no fog, no nevoeiro de Londres, não se vê o gesto. Inglês não gesticula por isto. Por causa do fog. É nos países do Sul que se fala com as mãos. O napolitano mexe mais com as mãos do que o florentino porque há sol mais forte em Nápoles do que em Florença! Em Londres é inútil fazer gestos... ninguém os vê, no fog. Sabe por que não há escultor na Inglaterra? Porque o fog não deixa. Porque não há sol bastante. Quem corta o mármore não é o escopo do artista; é o Sol quem rasga a pedra guiado pela mão do escultor. Compreende por que você não gesticula?” Será que a garoa fez o paulista introvertido e fechadão, às avessas do carioca e do nortista? O pintor Antônio Parreiras dizia-me que a Pintura desvairada era ausência do Sol! Concepção de ambiente, ateliê, penumbra, angústia dos limites estreitos, comprimindo a jovem expansão tropical ou fazendo-a monstruosa. Luz reflexa entristece, deprime, acabrunha. Sem o Sol, o pintor é um melancólico revoltado. Inquietação de pássaro em gaiola. Aqueles assuntos são sugestões da Noite.