Não lembro as cidades onde sempre houve loquacidade, mas o interior com seus homens lacônicos, como os aldeões em Portugal. Aliás o indígena é taciturno e das três raízes étnicas a mais ruidosa é a africana. Nas vilas e regiões de povoamento difuso, o camarada respondia sem circunlóquios. Dava as horas, e nada mais. Inesquecido o diálogo do viajante com o sertanejo levando uma pele de onça. – É onça? – O Couro! – É seu? – Da onça! Acabou-se. As rodovias derramaram o verbalismo do litoral. Litoral urbano porque os pescadores, gente das praias, poupavam as palavras como coisas fungíveis. A educação doméstica mandava usar a voz com muita parcimônia. Cantar era vadiação reprovável e falar constituía falta de modos no povo de menor idade. Boca calada não entra mosca. As tarefas de construções, estradas, fábricas, açudes, misturaram trabalhadores de várias procedências e costumes, alterando pela convivência a precariedade da conversa sincopada e dos diálogos entremeados de pausas indispensáveis. Mesmo nas humildes vendas à margem da estrada os bebedores engoliam a cachaça sem gastos de voz. Pediu. Bebeu. Cuspiu. Pagou. Saiu. A embriaguês oferecia o silêncio sonolento. Nas Cidades é que vivia a fauna dos bêbados gritadores, fregueses da cadeia, hospedagem semanal dos bebos de fim de feira, briguentos inofensivos e palradores inconsequentes, gritando aos companheiros da bodega: Como é? É pra apanhar todos juntos, ou de um em um? Sêu Vicente, mi dê aí uma lambada de cana qu’eu quero pedir a palavra! No velho sertão. Vira uma Rêimundo! Jogava umas gotas no chão, emborcava, despedia-se: Intante! Tempo antigo da Biogenética! O Indivíduo recapitulava a Espécie. A voz articulada e comunicante veio ao final.