Minhas mãos são pequenas,
Iguais às tuas.
Não vertas nelas teu sangue,
Elas não poderão contê-lo.
Os meus olhos têm lágrimas,
Como os teus.
Não lhes ponhas à frente teu desespero,
Que ele certamente se afogará.
Tua fome e tua sede
Não se aplacarão em minha sentença.
Ela é a palavra rouca de um homem,
Não é a verdade de Deus.
E, no entanto, vem a mim
E chora em meu ombro tuas lágrimas.
E tu, também, vem a mim!
Recosta a cabeça neste outro,
Conta-lhe a tua desdita
E recebe este igual afago.
– Mas, meu Deus!
Por que hei de beber deste cálice?
Meus ombros não suportam o mundo,
Ele pesa muitíssimo mais
Que a mão de uma criança...
Sim, eu sei que tenho dois ombros
– São duas partes de mim.
Mas, meu Deus!
Eu tenho... um só coração!...
(José Eustáquio Cardoso, Eu Juiz)