NOTA DO AUTOR PARA OS LEITORES
Chegou o momento de retirar o escalpe e dissecar esta narrativa, separando a verdade da ficção. Estamos à beira de várias alterações radicais neste mundo. Enquanto existem poucas dúvidas de que o planeta atravessa a sua sexta extinção em massa, são os caminhos que escolhemos agora — enquanto espécie, enquanto sociedade — que seguem muitas direções diferentes. Um dos objetivos deste livro é percorrer vários desses caminhos e ver onde nos podem levar. Mas que distância já percorremos desses caminhos? Vamos descobrir.
Antes de mais, esta narrativa retrata o verdadeiro abismo que divide atualmente o movimento ambientalista: entre os conservacionistas da velha guarda e um novo grupo de ecologistas, entre os que defendem a preservação das espécies e os que advogam a biologia sintética, até mesmo entre os que querem travar esta extinção eminente e os que a recebem de braços abertos. Os quatro livros seguintes foram fundamentais para construir esta história e constituem um excelente recurso para quem estiver interessado nos assuntos abordados no livro:
Regenesis: How Synthetic Biology Will Reinvent Nature and Ourselves, de George M. Church e Ed Regis (Nova Iorque: Basic Books, 2012).
The Sixth Extinction: An Unnatural History, de Elizabeth Kolbert (Nova Iorque: Henry Holt, 2014).
Apocalyptic Planet: Field Guide to the Future of the Earth, de Craig Childs (Nova Iorque: Vintage, 2013).
Countdown: Our Last, Best Hope for a Future on Earth?, de Alan Weisman (Nova Iorque: Back Bay Books, 2014).
No entanto, vamos analisar alguns aspetos específicos, começando pela
Ciência
Biologia Sintética
No que diz respeito a criar vida artificial, as descobertas sucedem-se umas às outras a grande velocidade, até mais rapidamente do que o tempo que demorei a escrever este livro. Abaixo está uma breve cronologia que refere os tópicos mencionados neste livro (embora o faça de uma forma bastante superficial):
2002: O primeiro vírus artificial é criado em laboratório.
2010: A equipa de Craig Venter produz a primeira célula sintética viva.
2012: A manipulação de AXN (ácido xenonucleico) é realizada com sucesso.
2013: Um cromossoma inteiro e completamente funcional é reconstruído do zero.
Maio de 2014: O Scripps Institute adiciona novas letras ao nosso vocabulário genético.
AXN
Vários laboratórios produziram diversas estirpes de AXN. Provou-se ser mais resistente e, sim, em teoria poderia ser utilizado para substituir o ADN de todas as criaturas vivas. Também se crê que tenha sido, em tempos, uma forma de vida predominante neste planeta. Então, será que é possível que uma bolsa desta vida ainda se encontre por aí, escondida em alguma biosfera-sombra? Só o tempo o dirá.
Adaptações Facilitadas
O objetivo da investigação do doutor Kendall — descobrir formas de aperfeiçoar espécies para se adaptarem melhor a alterações ambientais — está a ser trabalhado em vários laboratórios tendo em conta uma perspetiva realista do mundo.
Até as criações de Cutter Elwes foram baseadas num projeto inteligente denominado «Designing for the Sixth Extinction» de Alexandra Daisy Ginsberg. Ela propõe a introdução destas criações geneticamente manipuladas na vida selvagem (chegando até a patentear algumas das suas formas de vida imaginativas). Uma coisa fascinante. O seu trabalho está disponível na Internet.
Máquinas Evolutivas
1. A técnica CRISPR-Cas9 descrita nesta narrativa é real! Já está a revolucionar o mundo da investigação e manipulação genética. Com algum treino, um novato poderia realizar estas técnicas avançadas. A precisão deste controlo foi comparada a uma ferramenta que permite a edição de letras individuais de uma enciclopédia, sem cometer qualquer erro ortográfico.
2. A MAGE e a CAGE foram inventadas pelos bioengenheiros da Universidade de Yale, MIT e Universidade de Harvard. Permitem edições em grande escala a um genoma e são prometedoras no que diz respeito a trazer de volta à vida espécies extintas.
Desextinção
Menciono neste livro o facto de os laboratórios de todo o mundo estarem a tentar fazer reviver espécies extintas. Estas incluem o mamute (a partir do ADN do elefante), o pombo-passageiro (a partir do ADN do pombo-comum) e um boi extinto conhecido como auroque (a partir do ADN de bovinos). No entanto, existem muitos outros métodos de edição genómica para restaurar essas espécies, tal como a transferência nuclear de células somáticas.
E, sim, existe mesmo um russo chamado Sergey Zimov que está a construir o «Parque Pleistoceno» na Sibéria, para servir de casa aos mamutes.
Extremófilos
A procura de novos químicos e compostos transformou a caça aos organismos invulgares que vivem em ambientes agrestes numa corrida ao ouro biológica. Por sua vez, os cientistas descobriram vida a prosperar em muitos locais que antes eram considerados inóspitos para a vida: nas águas escaldantes das fontes hidrotermais, a grandes profundidades debaixo do gelo, em terrenos tóxicos. Foram descobertos ecossistemas completos, o que deu origem ao termo biosferas-sombra.
Vírus Indestrutíveis
Baseei o organismo que o doutor Hess criou num microrganismo real: uma bactéria denominada Deinococcus radiodurans. Este pequeno organismo perseverante é capaz de sobreviver a níveis de radiação quinze vezes superiores ao que a barata, famosa pela sua resistência, consegue. Também é conhecida pela sua capacidade de suportar temperaturas geladas, desidratação, calor escaldante e os ácidos mais potentes. Nem mesmo o vácuo no espaço a consegue matar. O Livro de Recordes do Guiness declarou-a a forma de vida mais resistente. Vamos esperar que ninguém se lembre de começar a brincar com a caixa de ferramentas genética dessa bactéria.
Genes Saltitantes (Retrotransposões)
Mais uma vez, é surpreendentemente verdade que os geneticistas aceitem agora que os «genes saltitantes» sejam um poderoso motor de evolução. Estes traços podem ser transmitidos não só para a prole, como também entre espécies, num processo denominado transferência horizontal de genes. Embora seja difícil de acreditar, está provado que um quarto do ADN dos bovinos provém de uma espécie de víbora-cornuda. Por isso, tenham cuidado quando comerem o próximo hambúrguer.
Biohacking/Biologia Faça-Você-Mesmo/ Biopunks
Independentemente do que lhes quiser chamar, as garagens, as caves e os centros comunitários tonaram-se locais de eleição para a experimentação genética e a criação de novas formas de vida. Mencionei neste livro um programa que procurava produzir uma erva daninha luminescente. Esta tecnologia chegou mesmo a tornar-se uma espécie de jogo, com a introdução de BioBricks, uma caixa de ferramentas genética para fazer o papel de Deus no seu próprio quintal.
Os três maiores receios relativamente à biologia sintética e ao biohacking são o bioterrorismo, os acidentes laboratoriais e a libertação propositada da organismos sintéticos. Por isso, decidi fazer um três em um e juntar os três num só livro de suspense.
Magnetismo e Vida Microbial
Os campos magnéticos podem matar bactérias, vírus e fungos? Com a estática ou os campos oscilantes certos, SIM> A FDA (Food and Drug Administration) realizou um estudo completo sobre o assunto, identificando até a força dos campos necessária para matar determinadas espécies.
Panspermia
Esta é a teoria de que a vida na Terra pode ter vindo de uma semente de vida orgânica trazida para o planeta por um meteoro. Crê-se que o meteoro mencionado neste livro, o que causou a enorme Cratera de Wilkes na Antártida, foi responsável pela extinção em massa do Período Permiano, a qual esteve prestes a eliminar toda a vida na Terra. Por isso, pergunto-me: Se todos aqueles nichos ambientais foram esvaziados pela extinção, será que o mesmo meteoro trouxe algo extraterrestre para fertilizar aqueles campos recentemente vazios?
Vida Antártica
Os russos continuam a perfurar o lago Vostok, um lago tão grande como qualquer um dos Grandes Lagos, contudo isolado ao longo de vários milénios debaixo do gelo. Que vida poderá vir a ser encontrada neste lago? Alguns sinais: há muitos. Mas aquele continente mais a sul está repleto de fenómenos biológicos estranhos.
— Em 1999, foi descoberto um vírus no gelo a que nenhum animal ou humano é imune.
— Em 2014, um pedaço de musgo com 1500 anos foi trazido de volta à vida. Da mesma forma, na Sibéria, um vírus que esteve congelado durante 30 000 anos foi ressuscitado.
— Restos petrificados de grandes florestas foram descobertos em muitas localizações naquele continente.
Mas, até agora, estamos ainda num nível muito superficial. O que está realmente por baixo daquele gelo ainda está por descobrir. Deve ser interessante devido à…
Geologia da Antártida
Só recentemente começámos a perceber o quanto a geologia daquele continente é estranha. Apesar de o continente estar coberto de gelo, no fundo é um pantanal quente e húmido. Existem centenas de lagos subglaciares, muitas vezes com rios a fluir entre eles, alguns tão grandes como o Tamisa. Existem quedas de água que correm para cima. Existem vulcões ativos, alguns com lava a escorrer debaixo de quilómetros de gelo. Somente no ano passado (início de 2014) os cientistas descobriram que a Antártida tem uma fenda que faz o Grand Canyon parecer pequeno. O que estará ainda por descobrir nesta paisagem invulgar e fora deste mundo?
O Hacking do Cérebro
No meu livro, Cutter Elwes descobre uma nova forma de alterar a inteligência humana para seu proveito próprio. Será possível fazê-lo? Os hackers dos computadores dos anos oitenta e noventa estão a tornar-se os biohackers do novo milénio. Neste momento, os investigadores estudam vírus e bactérias que utilizam sinais químicos para controlar as emoções e o pensamento humano. Com o ritmo exponencial da nossa capacidade de manipular ADN — mais rápido, mais barato e com maior controlo —, qualquer coisa será possível muito em breve.
Departamento de Tecnologias Biológicas da DARPA
A DARPA já se encontra a trabalhar nos aspetos mais avançados da robótica, das próteses e da inteligência artificial. No entanto, em 2014, foi criado este novo departamento para se focar na biotecnologia, a fim de «explorar a interseção cada vez mais dinâmica da biologia com as ciências físicas». Mantenham-se informados!
Neste livro, diferentes investigadores propuseram vários caminhos para contornar ou atravessar esta sexta extinção. Assisti a debates, li de forma exaustiva e analisei artigos sobre os muitos lados deste assunto complexo, mas pensei em mencionar a origem de alguns destes
Filosofias Científicas
Conservação/Preservação
Esta filosofia engloba aqueles ambientalistas que procuram salvar espécies ou sustentar os habitats para proteger os animais em vias de extinção. Esta área também inclui aqueles que tentam fazer reviver as as espécies extintas. Em alguns meios, isto é visto como «o ambientalismo de velha guarda».
Biologia Sintética
De forma certa ou errada, é nesta área que os cientistas jovens e entusiastas procuram utilizar a manipulação genética e a criação de vida sintética para redesenhar o mundo. Não há dúvida de que este caminho implica uma certa medida de arrogância e perigo, mas é também muito promissor.
Novos Ecologistas
Encontrei uma entrevista fascinante ao ecologista Craig Thomas na New Scientist, onde expõe uma nova forma filosófica de olhar para a extinção: basicamente, como uma oportunidade. Sugere que uma extinção em massa poderá fazer surgir novas e excitantes formas de vida, novos caminhos para a evolução, e até criar um Novo Éden. É uma forma alternativa e fascinante de olhar para esta sexta extinção.
Movimento Dark Mountain
Seria difícil fazer justiça a este movimento num pequeno parágrafo. Assim, sugiro que consultem a sua página na internet (http://dark-mountain.net), onde poderão ler Uncivilisation: The Dark Mountain Manifesto, escrito por Dougald Hine e Paul Kingsnorth. É mais uma forma radical de olhar para esta sexta extinção em massa.
Na personagem de Cutter Elwes, tentei criar uma pessoa que defendesse uma versão adulterada da última destas três filosofias, enquanto o colocava em confronto direto com o doutor Hess, defensor acérrimo das duas primeiras. E é um facto que essa mesma guerra filosófica retratada no livro está a acontecer na comunidade científica neste preciso momento.
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E não seria uma narrativa da Sigma se não tivesse um pouco (ou muito) de
História
Darwin e a Viagem do Beagle
Charles Darwin visitou, de facto, os nativos fueguinos na região da Terra do Fogo da América do Sul. Os fueguinos eram navegadores exímios e é bem possível que tivessem na sua posse mapas rudimentares das suas viagens. Outro aspeto verdadeiro é o facto de Darwin só ter publicado o seu famoso tratado vinte anos depois daquela fatídica viagem. O que nos leva a perguntar: Porquê?
Mapas, Mapas e Mais Mapas
Ao longo destas páginas, vai encontrar exemplos de mapas antigos que retratam o que parece ser o continente da Antártida, mas sem gelo. Embora estes mapas sejam reais, com várias centenas de anos, as discussões sobre eles continuam até hoje. Mas o que sabemos é que os povos antigos já navegavam pelos oceanos do mundo há muito mais tempo do que pensávamos. Continua-se a descobrir datas cada vez mais antigas na cronologia náutica da Humanidade. E com a destruição da Biblioteca de Alexandria, o enorme armazém de conhecimento antigo, quem sabe que grandes verdades desapareceram nas chamas?
Os Alemães na Antártida
Todos os pormenores históricos sobre a exploração nazi e o seu interesse na Antártida são baseados em factos reais, incluindo as declarações crípticas do almirante Karl Dönitz durante os julgamentos de Nuremberga e a sua sentença estranhamente leve.
Os Americanos na Antártida
A Operação Highjump, liderada pelo vice-almirante Byrd, foi uma operação real que envolveu mais de 5000 homens. Continua, contudo, envolta em mistério. O veículo de neve de Byrd também existiu e foi enviado para o continente, sendo que acabou por desaparecer pouco depois na História (ou debaixo do gelo). E, sim, o governo dos Estados Unidos da América fez testes nucleares naquela zona.
Os Britânicos na Antártida
O British Antarctic Survey tem estado operacional no continente mais a sul quase há mais tempo que qualquer outro país, tendo mudado o seu nome ao longo do processo, como descrito no livro. A Estação Halley VI é um posto de investigação britânico (a não ser que tenha deslizado para dentro do mar como aconteceu nas páginas deste livro). Parece, de facto, uma centopeia em cima de enormes esquis.
A maior parte da tecnologia referida neste livro já foi mencionada na secção da Ciência, mas existem mais dois gadgets a que devo fazer referência.
Tecnologia
Transporte Anfíbio (Captive Air Amphibious Transport ou CAAT).
Embora estes veículos ainda sejam protótipos, já foram construídas versões mais pequenas e totalmente operacionais deste veículo. Na verdade, decidi basear os CAAT mais pequenos que aparecem neste livro nesses mesmos protótipos (e tive de evitar chamá-los mini-CAAT… o que em inglês quer dizer minigatos ou gatinhos).
Armas Sónicas
Os dispositivos acústicos de longo alcance (Long Range Acoustic Devices ou LRAD) são utilizados em todo o mundo pelas forças policiais e militares e funcionam basicamente como foi descrito no livro.
Os dispositivos mais portáteis de emissão sónica dirigível (Directed Stick Radiators ou DSR) são patenteados pela American Technology Corporation. Pelo que sei, não são produzidos em massa, mas funcionam como descrito no livro, incluindo a capacidade de captarem vozes ou de serem utilizados como microfone direcional para ouvir secretamente conversas privadas.
Assim, se tencionarem entrar numa caverna escura por baixo da Antártida, talvez queiram comprar alguns destes a esta empresa.
Somente algumas palavras sobre as
Localizações
Tepuis
Estes estranhos planaltos, com um aspeto extraterrestre, estendem-se pela Guiana, Venezuela e Brasil. Muitos nunca foram pisados pelo homem e os ecossistemas invulgares e isolados que lá podem ser encontrados permanecem imaculados e intocados. As mitologias descritas neste livro também são precisas, tal como as estranhas dolinas, cavernas e túneis. A história The Lost World, de Sir Arthur Conan Doyle, desenrola-se no topo de um destes tepuis, por isso decidi que seria num deles que Cutter Elwes se estabeleceria e trabalharia, longe de olhares curiosos.
Mountain Warfare Training Centre (Centro de Treino para a Guerra na Montanha)
Visitei estas instalações nos arredores de Bridgeport, na Califórnia, e, embora a maior parte dos pormenores sejam precisos, tomei a liberdade de alterar alguns aspetos menores (desculpem, rapazes, fico-vos a dever algumas costeletas do Bodie Mike’s Barbecue). No entanto, a base tem uma pista para o V/STOL utilizada para treinos, incluindo todo o trabalho realizado com o Osprey de rotores basculantes. E o «Son of Osprey», o Bell V-280 Valor, que aparece neste livro, está a ser atualmente desenvolvido.
Lago Mono e Cidades-Fantasma
Da mesma maneira, visitei o lago Mono muitas vezes e espero ter feito justiça ao lugar e aos habitantes. Se algum dia lá forem, visitem as cidades-fantasma. Mas tenham cuidado com os helicópteros cheios de soldados.