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REDAÇÃO DISCURSIVA

Aprender a escrever não é só aprender a pensar, como se tem dito e redito;
mas também — e principalmente — aprender a dizer bem o que foi pensado.

E isto pode ensinar­-se — mas ainda assim com renúncia a qualquer dogmatismo
e sem a camisa de força de fórmulas e receitas fabricadas, que antes inibem,
cerceiam e até anulam a livre afirmação da personalidade do estudante.

Mais propriamente sugerir, estimular, apontar caminhos — numa palavra: guiar.

Rocha Lima

Raimundo Barbadinho Neto

Antes de qualquer comentário sobre o texto em si, faremos algumas considerações a respeito de como escrever o seu texto, pois muitos candidatos ficam em dúvida quanto a isso, e se perguntam:

Devo colocar título na minha redação?

Que tipo de letra devo usar?

Posso pular linha entre um parágrafo e outro?

Se eu cometer um erro, como faço para corrigi­-lo?

Posso escrever na margem da folha, se a quantidade de linhas for insuficiente para o meu texto?

Preciso marcar os parágrafos?

Posso começar/encerrar a minha escrita em qualquer ponto da linha ou devo encostar nas margens esquerda e direita?

Se a palavra não couber inteira na linha, o que eu faço?

Vamos, então, responder a todas essas perguntas.

Devo colocar título na minha redação?

a) A maioria das bancas não menciona nada a respeito de título na redação. Então, não se deve colocar título em redação de concurso. O título é um exercício de criatividade, e a prova para concurso prevê técnica: o examinador deseja apenas saber se o candidato é capaz de expor uma ideia de maneira clara, objetiva e concisa. Por isso, não coloque título. Na linha 1 da folha de texto definitivo você já começa com o seu parágrafo de introdução.

b) Algumas bancas pedem, expressamente no caderno de prova, que se dê um título à redação. Neste caso, ele deve ser colocado na primeira linha, com a primeira letra maiúscula e o restante em minúsculas, como uma outra frase qualquer. E deve ser iniciado na marcação de parágrafo, como outra frase qualquer (não tente centralizar!). Não deve ser sublinhado, nem escrito com um traço mais forte (uma tentativa de se fazer um negrito manuscrito!). Evite títulos longos, utilize apenas uma linha para ele. E já na linha 2 você começa o seu parágrafo de introdução — ou seja, não se pula uma linha entre o título e o texto.

Lembre: você só dará um título à sua redação se houver um comando específico no caderno de prova solicitando isso!

Que tipo de letra devo usar?

Escreva sempre com letra legível. Você pode usar qualquer tipo de letra — cursiva, de imprensa, de forma, bastão etc. —, pode até misturar os tipos de letras, não há problema, desde que as palavras estejam legíveis.

Posso pular linha entre um parágrafo e outro?

Não se pulam linhas em redações de concursos.

Se eu cometer um erro, como faço para corrigi­-lo?

Se você, ao passar a limpo, cometeu um erro, escreveu uma palavra a mais, um acento a mais, um sinal de pontuação a mais, basta passar um traço simples sobre eles, e o examinador já entende como item cancelado. Não tente passar dois ou mais traços, apenas um traço sobre o erro. E na sequência coloque a forma correta. Assim: “A caza casa amarela é linda.”

Posso escrever na margem da folha, se a quantidade de linhas for insuficiente para o meu texto?

Você só pode utilizar o número de linhas determinado pela banca examinadora. Sempre observando a quantidade mínima e máxima.

Caso você escreva menos que a quantidade mínima solicitada, o examinador tirará dos seus pontos totais obtidos um ponto para cada linha faltante para se atingir o mínimo. Por exemplo: a banca pede no mínimo 20 e no máximo 30 linhas; você escreveu apenas 18 linhas — faltam duas linhas para chegar à quantidade mínima. Você perderá então dois pontos (ou a quantidade estipulada em edital) do total de nota obtida na correção do seu texto.

Caso você escreva mais que a quantidade máxima solicitada, o examinador não lerá isso. Geralmente a folha de prova vem com as linhas numeradas. E, se você ultrapassou esse número, pode se considerar eliminado do concurso, pois incorreu nos erros de: a) escrever texto em lugar indevido; b) não concluir a redação (pois o examinador não leu o excedente).

Preciso marcar os parágrafos?

Os parágrafos devem sempre ser marcados. Geralmente, iniciamos o parágrafo a dois centímetros da margem. Todos os parágrafos devem estar no mesmo alinhamento.

Posso começar/encerrar a minha escrita em qualquer ponto da linha ou devo encostar nas margens esquerda e direita?

Em Língua Portuguesa, utilizamos os parágrafos justificados, ou seja, as palavras devem encostar na margem esquerda e na margem direita.

Se a palavra não couber inteira na linha, o que eu faço?

Para justificar o parágrafo na margem esquerda, é necessário algumas vezes fazer a divisão da palavra na translineação (passagem para a linha de baixo). Se houver espaço, podemos fazer isso com hífen; se não houver espaço para o hífen, sublinhamos a última sílaba daquela linha (assim: transli­- neação ou transli neação).

10.1. Qualidades Fundamentais do Texto

Entre as qualidades que qualquer texto deve possuir estão a clareza, a concisão e a correção, às quais se reduzem, de certo modo, todas as demais.

A importância da clareza decorre da própria finalidade maior da linguagem: propiciar ao homem a comunicação de seus pensamentos. Quanto mais nitidamente alguém souber transmitir o que pensa, mais eficiente será a sua linguagem.

A concisão é a qualidade que nos ensina a prezar a economia verbal, sem prejuízo da mais completa e perfeita eficácia da comunicação do pensamento. Ela contribui muito para a clareza. Porém, se nos preocupamos exageradamente com ela, corremos o risco de beirar o laconismo — que conduz à obscuridade e à imprecisão.

Dentro da diversidade de usos própria de toda língua — diversidade decorrente de fatores individuais, sociais, temporais ou geográficos —, não pode deixar de haver um padrão de linguagem que sirva de instrumento geral de comunicação: a norma culta, com a sua correção gramatical.

Curiosidade: Veja, no texto abaixo, se você consegue saber de que o autor trata.

Foi a abadessa[1]

Carlos Heitor Cony

Ninguém sabe como foi mas todos concordam que foi a abadessa. O preboste mandou instaurar um inquérito e o condestável ordenou que os arautos percorressem os caminhos anunciando que fora a abadessa. E o povo tremeu, ouvindo que fora a abadessa. Grandes flagelos, grandes angústias e penas desabariam sobre a cabeça do rei e do povo. Nada se podia fazer: a abadessa já havia feito. O arcipreste suspeitou do outro lado da notícia e baixou a bula cobrindo de opróbrio os verdugos que levassem a abadessa ao catafalco. Mas o esmoler­-mor contestou o condestável e exigiu que em nome da fé e do rei a verdade fosse feita. Contestado, o condestável mobilizou seus arqueiros e concitou

o capelão a distribuir pão aos filhos do povo e aos camponeses famintos que se levantaram contra a abadessa e contra a coisa que ela havia feito. Mais complicada ficou a situa­ção quando o preboste envenenou o arcediago e o arcipreste caiu fulminado quando soube que a abadessa fugira em cima de um corcel de crinas ao vento. Os camponeses então resolveram voltar para suas terras, pois não valia a pena matar ou morrer por causa da coisa que a abadessa tinha ou não tinha feito. Ante a iminência do saque às cidades, o esmoler­-mor ordenou que se queimassem as feiticeiras e numa só noite foram devoradas pelo fogo nada menos de 567 feiticeiras de diversos e criminosos feitios e malefícios. Os arautos percorreram novamente as cidades famintas e os campos devastados distribuindo hinos de louvor ao rei e à paz que voltava ao reino depois que a abadessa fizera a coisa. E estavam as coisas nesse pé — inclusive a coisa que a abadessa havia feito — quando, alta noite, surgiu no palácio, vinda dos campos, a assombrosa notícia de que não fora a abadessa que fizera a coisa pois coisa nenhuma havia sido feita. Reza a lenda que a abadessa, depois de muito cavalgar no seu corcel de crinas ao vento, em sabendo que não havia feito a coisa, resolveu fazê­-la.

Carlos Heitor Cony é um dos maiores cronistas brasileiros; seu texto não tem clareza, mas isso é intencional! É um ótimo texto justamente por isso, por ter a ambiguidade como intenção.

Numa prova de redação isso seria reprovável.

Um bom trabalho de pesquisa será verificar o jornal da época em que a crônica foi publicada e tentar descobrir o fato que deu origem ao texto.

10.2. Tipologia Textual

Já vimos na interpretação de texto que as tipologias textuais são: descrição, narração e dissertação.

Sabemos que a descrição e a narração são textos figurativos e a dissertação representa o texto temático. As provas de concurso, geralmente, trabalham com a dissertação. Isso porque a intenção do examinador é saber se o candidato é capaz de organizar suas ideias em torno de temas apresentados.

É importante que, ao escrever um texto, não nos percamos nas tipologias.

Para relembrar, vejamos o quadro a seguir:

DESCRIÇÃO

NARRAÇÃO

DISSERTAÇÃO

É o retrato verbal, aquilo que vemos ou sentimos.

Pode ser:

a) objetiva: A casa é amarela.

b) subjetiva: A casa é linda.

É o relato de um acontecimento, em que há personagens atuando em determinado tempo e espaço.

É a exposição de ideias, opiniões, pontos de vista, fundamentados em argumentos e raciocínios baseados em nossa experiência de mundo, nossas leituras, nossas abstrações.

Divide­-se em introdução, desenvolvimento e conclusão.

Dificilmente se encontram textos exclusivamente descritivos. O que ocorre, na maioria das vezes, é aparecerem trechos descritivos inseridos na narração ou na dissertação.

Às vezes, um fragmento pode apresentar características próprias de cada uma das tipologias; será um texto misto em que predominará uma delas, não invalidando a existência das outras.

Reveja na “Interpretação de texto” a explanação completa sobre esse assunto.

10.3. Figuras e Temas

Como já afirmamos e reafirmamos, a descrição e a narração são textos figurativos, ou seja, trabalham com a concretude; já a dissertação é um texto temático, trabalha com ideias, com abstrações.

Muitas vezes, a partir de um texto figurativo (descrição ou narração) temos de criar um texto temático (dissertação). Para isso precisamos transformar figuras em temas.

As figuras são as partes “concretas” do texto; já os temas são as partes abstratas dele.

Um exercício de reflexão faz com que cheguemos a temas a partir de figuras.

Por exemplo, pensemos no objeto “giz”. Para que serve o giz? Para escrever na lousa. Onde, geralmente, encontramos a lousa? Na escola. O que se faz, na escola, com giz e lousa? Geralmente, o professor escreve na lousa com o giz aquilo que o aluno deve saber: o assunto a ser estudado, aprendido. Então, que abstração podemos fazer disso? Giz > lousa > assunto > conhecimento. Assim, podemos dizer que a figura “giz” nos remete ao tema “conhecimento” — giz, concreto; conhecimento, abstrato.

As histórias infantis estão cheias dessas simbologias: na história de Chapeuzinho Vermelho, o Lobo Mau representa o perigo; na história de Cinderela, a madrasta representa a maldade; e daí por diante.

Vejamos um texto infanto­-juvenil de Ruth Rocha.

O homem e a galinha[2]

Era uma vez um homem que tinha uma galinha.

Era uma galinha como as outras.

Um dia a galinha botou um ovo de ouro.

O homem ficou contente. Chamou a mulher:

— Olha o ovo que a galinha botou.

A mulher ficou contente:

— Vamos ficar ricos!

E a mulher começou a tratar bem da galinha.

Todos os dias a mulher dava mingau para a galinha.

Dava pão de ló, dava até sorvete.

E todos os dias a galinha botava um ovo de ouro.

Vai que o marido disse:

— Pra que esse luxo com a galinha?

Nunca vi galinha comer pão de ló... Muito menos sorvete!

Então a mulher falou:

— É, mas esta é diferente. Ela bota ovos de ouro!

O marido não quis conversa:

— Acaba com isso, mulher. Galinha come é farelo.

Aí a mulher disse:

— E se ela não botar mais ovos de ouro?

— Bota sim! — o marido respondeu.

A mulher todos os dias dava farelo à galinha.

E todos os dias a galinha botava um ovo de ouro.

Vai que o marido disse:

— Farelo está muito caro, mulher, um dinheirão! A galinha pode muito bem comer milho.

— E se ela não botar mais ovos de ouro?

— Bota sim! — o marido respondeu.

Aí a mulher começou a dar milho pra galinha.

E todos os dias a galinha botava um ovo de ouro.

Vai que o marido disse:

— Pra que esse luxo de dar milho pra galinha? Ela que cate o de­-comer no quintal!

— E se ela não botar mais ovos de ouro? — a mulher perguntou.

— Bota sim! — o marido falou.

E a mulher soltou a galinha no quintal.

Ela catava sozinha a comida dela.

Todos os dias a galinha botava um ovo de ouro.

Um dia a galinha encontrou o portão aberto.

Foi embora e não voltou mais.

Dizem, eu não sei, que ela agora está numa boa casa onde tratam dela a pão de ló.

Temos as seguintes figuras: homem, mulher, galinha, ovos de ouro, mingau, pão de ló, sorvete, farelo, milho, de­-comer no quintal, portão aberto.

Podemos começar a abstração pensando que a galinha trabalha produzindo os ovos de ouro para o homem e a mulher, recebendo em troca um pagamento — que pouco a pouco vai diminuindo —, até o dia em que encontra novas oportunidades e os deixa.

Se transferirmos isso para as relações humanas, podemos ter: o patrão ganan­cioso, o trabalhador e o fruto do seu trabalho, o salário.

Como a produção é sempre a mesma, e o salário fica cada vez menor, o patrão acumula cada vez mais riqueza. Podemos, então, chegar à ideia de “exploração”.

Note­-se que, a partir de figuras, chegamos ao tema. Se fosse o texto motivador de uma prova dissertativa, teríamos de escrever sobre “exploração”.

10.4. Dissertação Objetiva

A apresentação de uma ideia pode ser feita de duas maneiras: subjetiva ou objetivamente.

Quando simplesmente expomos nossas ideias sem intenção alguma, estamos trabalhando com a subjetividade.

Quando expomos nossas ideias com a intenção de convencer o outro a respeito delas, com a intenção de persuadir o outro, estamos trabalhando com a objetividade.

A dissertação objetiva é aquela que leva o leitor a aceitar as ideias de quem a escreve, ou seja, aquela que convence, prova, persuade. Para isso, então, é necessário que se empreguem alguns recursos argumentativos.

10.4.1. Argumentação

Argumentar é fornecer razões para que se aceite aquilo que se está dizendo, para que se aceite a tese proposta, o posicionamento assumido frente a um tema. Argumentar é persuadir, levar o outro a aderir ao que se diz.

Argumentação, de acordo com a etimologia da palavra argumento, vem do latim argumentum, palavra formada com o tema argu­- (como em arguto, argúcia, argênteo), e significa “fazer brilhar”, “fazer cintilar”. Argumento é, então, tudo aquilo que ressalta, faz brilhar, faz cintilar uma ideia; é o procedimento linguístico utilizado com o intuito de se fazer aceitar o que está sendo dito, persuadir, levar a crer.

A argumentação pode estar baseada na estrutura da realidade, no consenso, em fatos ou no raciocínio lógico. Vejamos passo a passo cada um desses aspectos.

10.4.1.1. Argumento baseado na estrutura da realidade

Nesse tipo de argumentação usamos as relações de causa e efeito ou de pessoa e ato.

Se afirmamos que “estudar com afinco, com dedicação” faz com que “sejamos aprovados no concurso”, estamos trabalhando com causa e efeito. Se dizemos: “Investir na boa educação e bem-estar do menor hoje é formar cidadãos de bem para o futuro.” — utilizamos um argumento baseado na estrutura da realidade (causa e efeito).

Já na relação de pessoa e ato, está em foco a reputação do indivíduo em dado domínio. O prestígio de uma pessoa serve de base para o argumento de autoridade.

O argumento de autoridade é a citação dos pontos de vista de um autor reconhecido (pode ser também uma revista, um jornal etc.) em determinado campo da experiência como meio de prova em favor de uma tese.

Isso acontece quando escrevemos: “O tratamento da Aids no Brasil é referência para todos os outros países, conforme afirmou o Dr. Drauzio Varella.”; ou, então, “O ministro teve um enriquecimento muito elevado nos últimos quatro anos, de acordo com matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo”.

10.4.1.2. Argumento baseado no consenso

É aquele aceito por todos por representar verdade universal, um axioma. Quando dizemos que a Terra é azul, estamos trabalhando com um fato. Ao afirmarmos que a menor distância entre dois pontos é a reta, trabalhamos com um fato.

Criança que estuda tem um futuro promissor — isso é um fato.

Agora, não podemos cair no equívoco dos lugares­-comuns: o crime não compensa, o brasileiro é preguiçoso, os políticos não prestam. Isso é um erro.

10.4.1.3. Argumento baseado em fatos

É o argumento apoiado em elementos da realidade. Se dizemos apenas “João é bom motorista”, não há força em nossa fala, mas se dizemos “João é bom motorista. Nesses 25 anos de caminhoneiro, nunca sofreu ou causou um acidente.”, esse dado da realidade comprova a tese de que “João é bom motorista”.

Podemos ainda trabalhar com o exemplo (do particular para o geral) ou com a ilustração (do geral para o particular):

“Na semana passada, vários secretários da administração pública municipal foram presos, por corrupção passiva. Existe corrupção em nossa cidade.” — exemplo: partimos de um caso particular para elaborarmos uma tese geral.

“Os nossos jogadores de futebol, assim que começam a se destacar aqui em nosso país, logo são vendidos para times internacionais. É o que aconteceu com Ronaldo Fenômeno, que passou a maior parte de sua carreira no exterior.” — ilustração: partimos de um fato genérico para um caso particular.

10.4.1.4. Argumento lógico

É o argumento que utiliza a estrutura dos raciocínios lógicos formais, baseia­-se em relações nem sempre verdadeiras — por isso alguns estudiosos classificam esse argumento de quase lógico.

Podemos exemplificar de maneira bem simples:

“Se todas as aves têm penas, e o pinguim é uma ave; logo, o pinguim tem penas.”

“Se a Constituição garante que todos são iguais perante a lei, meu cliente não pode sofrer tal discriminação.”

Ou, de maneira mais sutil, “Mulher de amigo meu é homem”.

“Os amigos dos meus amigos são meus amigos.”

“Há excelentes atrizes no Brasil, mas Fernanda Montenegro é Fernanda Montenegro.”

Incluem­-se aqui os prós e contras: que trabalham com argumentos aplicáveis ou não aplicáveis à comprovação de uma tese, por exemplo: “O aborto pode dar à mulher o direito de decidir se deseja ou não ser mãe naquele momento, mas trará a ela uma série de problemas com os quais deverá conviver pelo restante de sua vida, e não se trata apenas de problemas somáticos, serão problemas psicológicos, talvez, mais nefastos que os de saúde”.


Curiosidade: Eis uma aula de redação dada pelo Padre Antonio Vieira.

Sermão da Sexagésima[3]

O sermão há de ser duma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só matéria. Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini­-la para que se conheça, há de divi­di­-la para que se distinga, há de prová­-la com a Escritura, há de declará­-la com a razão, há de confirmá­-la com o exemplo, há de amplificá­-la com as causas, com os efeitos, com

as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar, há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários, e depois disso há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto é falar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria, e continuar e acabar nela.

Note que Pe. Vieira trata de alguns recursos argumentativos:

a) fala de autoridade:

“há de prová­-la com a Escritura”

b) raciocínio lógico:

“há de declará­-la com a razão”

c) exemplificação:

“há de confirmá­-la com o exemplo”

d) prós e contras:

“há de amplificá­-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar”.

10.4.2. Defeitos da argumentação

Ao produzirmos o texto, devemos tomar cuidado para não incorrer em alguns erros comuns. Alguns deles são:

10.4.2.1. Tautologia

É a repetição (desnecessária) de uma ideia, a redundância:

“Fumar faz mal à saúde, porque prejudica o organismo.”

“O homem, que pensa, é racional, e assim age de acordo com sua consciência.”

10.4.2.2. Noção semiformalizada

Consiste no emprego de palavras, expressões, conceitos que se usam de maneira equivocada:

“Se apareceram ciganos no seu bairro, cuidado! Eles podem roubar sua casa e raptar seus filhos.” — há uma noção de que os ciganos são pessoas más, que roubam e raptam crianças.

“Essa terra é terra de ninguém, uma bagunça só, sem lei, sem ordem: isso é anarquia!” — há uma noção equivocada sobre “anarquia”.

10.4.2.3. Noção confusa

É o uso de palavra com extensão de sentido muito ampla, dando margem a interpretações diversas. Vejamos o exemplo encontrado em Platão & Fiorin:[4]

“— Reagan, em defesa da liberdade dos povos latino­-americanos, solicita ao Congresso americano verbas para apoiar os movimentos contrários ao governo da Nicarágua.

— Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, em nome da liberdade dos povos latino­-americanos, solicita, na ONU, sanções contra os Estados Unidos pelo apoio que vêm dando aos movimentos contrários ao governo revolucionário.”

A palavra “liberdade” tem um vasto campo de sentido, por isso a noção confusa nos exemplos dados. Para evitar isso precisamos delimitar o sentido do termo que queremos empregar: “Liberdade, do ponto de vista...”.

10.4.2.4. Generalização

É o emprego das totalidades indeterminadas:

“Todo político é corrupto.”

“No Brasil a população é muito feliz.”

“Não existe pessoa que não se preocupe com o futuro.”

Para evitar isso devemos empregar as expressões partitivas: “Alguns políticos são corruptos”; “Boa parte da população brasileira é feliz”; “A maioria das pessoas se preocupa com o futuro”.

10.4.2.5. Erro pelo exemplo ou ilustração

É o uso indevido, por descuido ou desconhecimento, de exemplos e ilustrações.

“Metade da população brasileira vive com menos de um salário mínimo” — esse dado não corresponde à realidade. Antes de usarmos um exemplo ou ilustração, precisamos saber de sua veracidade.

“Há vários exemplos, na história recente do Brasil, de luta pela liberdade; Tiradentes é um deles” — se o texto foi escrito no século 18 é um bom exemplo, mas se foi escrito no século 21, peca pelo uso do adjetivo “recente”.

10.4.2.6. Erro pela conclusão

Esse erro surge quando, ao construirmos um raciocínio lógico, empregamos premissas falsas.

“Todas as aves voam. A galinha é uma ave. Logo: a galinha voa.” — está errado, pois “galinha” não voa. O problema está na premissa “Todas as aves voam.” Nem todas as aves voam; existem aves que não voam.

10.4.3. Discurso dissertativo de caráter científico

A dissertação objetiva requer que se utilize o nível formal da linguagem.[5] Para atingirmos esse nível, devemos deixar de lado alguns itens (mesmo considerados corretos pela gramática normativa) e utilizar outros.

Vejamos o que não se pode usar e quais os recursos empregados para suprir essas ausências.

NÃO SE USAM:

USAM­-SE:

1a pessoa do singular: Acredito ser a pena de morte... / Na minha opinião, a pena de morte é...

1a pessoa do plural: Acreditamos ser a pena de morte... / Na nossa opinião, a pena de morte é...

sujeito indeterminado: Acreditam ser a pena de morte... / Acredita­-se que a pena de morte é...

sujeito paciente: A pena de morte é vista...

oração sem sujeito: Há a pena de morte como...

conotação/gíria — sentido figurado (metáforas, ironias etc.)

denotação — palavras empregadas em seu sentido real

10.5. Progressão Discursiva

Um bom texto deve obedecer a duas regras básicas: apresentar continuidade semântica e ter progressão de ideias. Isso pode parecer paradoxal, mas não o é. A continuidade semântica é obtida pela unidade temática, e a progressão, pelo acréscimo de informação nova.

Essa continuidade temática foi vista na Interpretação de Texto, é a coerência. É ela que mantém a unidade e dá conta da produção de sentido do texto, é ela que faz um texto ser um texto. Porém, como dissemos no capítulo sobre Interpretação, não se pode repetir ideias, não se pode repetir segmentos de mesmo significado. Cada segmento deve somar uma informação nova à informação dada. Por isso o texto é a organização de partes distintas que produzem um conjunto uniforme.

Vejamos alguns exemplos:

“Estou começando a me sentir vazia, desesperançosa e oca. O vazio me invade e sinto um tremendo vazio dentro de mim.”[6]

“Cada recessão tem um custo violentíssimo permanente, que dura para sempre, para a sociedade.”[7]

Esses são textos circulares — tautológicos —, em que se repetem as ideias. Não devemos construir um texto assim.

Vejamos agora, para efeito de comparação, um bom texto de José de Alencar.

“A tarde ia morrendo.

O sol declinava no horizonte e deitava­-se sobre as grandes florestas, que iluminava com os seus últimos raios.

A luz frouxa e suave do ocaso, deslizando pela verde alcatifa, enrolava­-se como ondas de ouro e de púrpura sobre a folhagem das árvores.

Os espinheiros silvestres desatavam as flores alvas e delicadas; e o ouricuri abria suas palmas mais novas, para receber no seu cálice o orvalho da noite. Os animais retardados procuravam a pousada, enquanto a juriti, chamando a companheira, soltava os arrulhos doces e saudosos com que se despede do dia.

Um concerto de notas graves saudava o pôr do sol e confundia­-se com o rumor da cascata, que parecia quebrar a aspereza de sua queda e ceder à doce influência da tarde.

Era a Ave­-Maria.”[8]

Note­-se que cada frase acrescenta uma informação nova à descrição do cair da tarde. Isso é um bom texto.

Para que não fique dúvidas a respeito da progressão textual, releia os itens “Coesão” e “Coerência” em “Interpretação de Texto”.

10.6. Dicas para se Escrever Bem

A internet é hoje uma ferramenta de pesquisa imprescindível, porém devemos tomar cuidado com aquilo que encontramos, pois nem sempre a fonte é confiável. Nas páginas virtuais encontramos de tudo um pouco, algumas coisas muito boas e algumas coisas muito ruins, por isso é sempre necessário usar o bom senso na hora de citar algo retirado desse meio.

Numa dessas pesquisas, deparei­-me com algumas dicas para se escrever bem. Tentei localizar o autor dessas dicas, mas sem resultado. Percebi que muitas pessoas divulgaram tais dicas, sem mencionar a fonte. Como são muito eficientes, eu as utilizo aqui também. São elas:

Vc. deve evitar ao máx. abrev. etc.

Desnecessário faz­-se empregar estilo de escrita demasiadamente rebuscado, segundo deve ser do conhecimento inexorável dos copidesques. Tal prática advém de esmero excessivo que beira o exibicionismo narcisístico.

Anule aliterações altamente abusivas.

“não se esqueça das maiúsculas”, como já dizia dona loreta, minha professora lá no colégio alexandre de gusmão, no ipiranga.

Evite lugares­-comuns assim como o diabo foge da cruz.

Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.

Chute o balde no emprego de gíria, mesmo que sejam maneiras, tá ligado?

Palavras de baixo calão podem transformar seu texto numa merda.

Nunca generalize: generalizar, em todas as situações, sempre é um erro.

Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto no qual a palavra se encontra repetida.

Não abuse nas citações. Como costuma dizer meu amigo: “Quem cita os outros não tem ideias próprias”.

Frases incompletas podem causar...

Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez. Em outras palavras, não fique repetindo a mesma ideia.

Seja mais ou menos específico.

Frases com apenas uma palavra? Jamais!

Use a pontuação corretamente o ponto e a vírgula especialmente será que ninguém sabe mais usar o sinal de interrogação

Quem precisa de perguntas retóricas?

Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.

Exagerar é cem bilhões de vezes pior do que a moderação.

Evite mesóclises. Repita comigo: “mesóclises: evitá­-las­-ei!”

Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.

Não abuse das exclamações! Nunca! Seu texto fica horrível!

Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a compreensão da ideia contida nelas, e, concomitantemente, por conterem mais de uma ideia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçando, desta forma, o pobre leitor a separá­-las em seus componentes diversos, de forma a torná­-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.

Cuidado com hortografia, para não estrupar a língüa portuguêza.

Seja incisivo e coerente, ou não.

10.7. Técnica de Redação

Para se escrever um bom texto é preciso planejamento.

Seguem abaixo dez passos para a produção de um bom texto.

1o passo:

Definir o tema e o posicionamento perante ele.

Algumas provas de redação nos apresentam os textos motivadores e o tema específico que se deve seguir. Outras provas dão­-nos apenas o texto motivador. Nesse caso, para se chegar ao tema, devemos perceber a ideia central do texto. Depois disso, assumir um posicionamento diante dele. Não é possível escrever sobre algo sem tomar um partido, uma linha de raciocínio e sem definir um ponto de chegada. Isso tudo deve ser feito antes de começar a escrever, para que o texto não se torne vago.

2o passo:

Relacionar, em forma de tópicos, todos os assuntos ligados ao tema.

É o que costumamos chamar de “brainstorming”. Agora que já se tem o tema definido, devem­-se anotar todas as ideias relacionadas ao tema, sem nenhuma preocupação, sem nenhuma censura, sem nenhum desenvolvimento, pois assim você estará ampliando seu contato com o tema. Faça isso em forma de tópicos, de forma breve, sem se estender no desenvolvimento da ideia, apenas para assegurar­-se de que haja assunto para o seu texto.

3o passo:

Cortar alguns assuntos da relação preparada no passo anterior.

Agora é o momento da reflexão, da censura, do bom senso. Neste passo, você deve reler um a um os assuntos elencados e verificar se eles podem ou não fazer parte do seu texto. Seja criterioso, verifique se aquele item merece ser utilizado ou desprezado. Uma maneira de chegar a essa decisão é perguntar a você mesmo sobre cada item: Eu sei falar disso? Isso é relevante para o meu tema? Isso é de fácil desenvolvimento, ou despenderei muito tempo para tentar explanar tal assunto? Isso vai ao encontro do meu posicionamento? Isso pode contrariar o meu posicionamento? Isso, apesar de estar ligado ao tema, pode causar alguma divagação dentro do meu texto? Isso é importante, ou representa uma ideia secundária? Ao utilizar isso eu me mantenho dentro do tema, ou crio um viés para o texto? Ao responder a essas perguntas com consciência e segurança, você cortará muitos itens e deixará muitos outros; deixará justamente os mais relevantes para o seu texto.

4o passo:

Agrupar os assuntos que se relacionam em blocos de ideias.

Até aqui você fez uma coleta aleatória de ideias e definiu as que devem ou não fazer parte do seu texto. Chegou a hora de começar a ordená­-las. O primeiro nível de organização é juntar as ideias que se correlacionam, pois se você escreve o seu texto as utilizando na sequência em que as relacionou corre o risco de repetir uma ou outra ideia em parágrafos diferentes; e isso não deve acontecer — cada parágrafo deve trazer um assunto, que não pode ser apresentado em outro. Aqui sua redação já começa a tomar forma. Releia os itens que você “deixou” na sua redação, algum deles se relaciona com outro? Um traz o mesmo teor ideológico de outro ou outros? Isso faz com que você organize os itens listados em blocos, e cada bloco então representa um parágrafo.

5o passo:

Organizar os blocos de assuntos numa sequência lógico­-progressiva.

É preciso dar ao seu texto uma progressão, para isso você deve dar uma sequência lógica aos parágrafos do seu texto, ou seja, uma sequência lógica aos blocos resultantes do 4o passo. Você deve trabalhar com as ideias de causa e consequência, anterioridade e posterioridade — veja o que vem antes e o que pode ser consequência. Fazendo isso, você não corre o risco de se perder na escrita do seu texto, pois ele se desenvolverá de maneira linear, o que é bom para qualquer redação. Nesse passo, você já tem pronto todo o desenvolvimento de sua redação, de forma sintética, mas pronto e organizado.

6o passo:

Criar o parágrafo de introdução.

No 1o passo se pensou apenas no tema e no posicionamento, porém, ainda não se redigiu propriamente o parágrafo de introdução. O momento de fazer isso é agora, pois você já tem consciência de tudo que estará no seu texto, assim fica mais fácil criar a introdução. Lembre­-se de que ela deve ser clara, concisa e objetiva, e deve apresentar o seu posicionamento. Não se perca em divagações, não tente provar nenhuma ideia nesse parágrafo, pois isso você faz no desenvolvimento.

7o passo:

Escrever os parágrafos de desenvolvimento.

Todas as ideias que você utilizará no seu texto já estão relacionadas, selecionadas, agrupadas e sequencializadas; resta agora transformar aqueles “blocos” do 5o passo em frases, orações, períodos. A partir da ideia predefinida, acrescente verbos, adjetivos, advérbios, ou seja, dê materialidade à sua ideia, transforme­-a em períodos — simples ou compostos.

8o passo:

Escrever a conclusão.

Seu texto já está pronto, falta apenas finalizá­-lo. A melhor maneira de fazer isso é retornar ao tema e reafirmar seu posicionamento frente a ele. Para isso basta que se faça uma paráfrase do parágrafo de introdução. Você deve escrever as mesmas coisas da introdução, com outras palavras, sem mais nem menos. É assim que se faz uma boa conclusão.

9o passo:

Revisão.

Você preparou um rascunho e, durante o fluxo de ideias, não se preocupou muito com alguns aspectos formais do texto. Chegou a hora de verificar isso: faça uma revisão gramatical quanto a: ortografia, acentuação, pontuação, concordância, regência, crase, colocação pronominal. Verifique também a organização das frases, evitando assim ambiguidades. Observe se não há repetição de palavras e outros vícios como rimas, ecos, aliterações. Tudo isso se faz nesse momento de releitura do texto pronto.

10o passo:

Passar a limpo.

Seu texto está pronto, deve ser passado para a folha a ser entregue ao examinador. Lembre­-se de que a estética é um fator importante: faça a marcação adequada dos parágrafos, respeite as margens esquerda e direita (justificadas), utilize letra legível e evite rasuras.

Vejamos isso tudo na prática. Vamos produzir uma redação como as solicitadas por várias bancas examinadoras.

Proposta de Redação

Escreva um texto dissertativo sobre a ideia apresentada no texto abaixo.

A identidade da mulher e do homem na sociedade atual [9]

Maria Anunciação Souza (com adaptações)

Por muitos e muitos anos, homens e mulheres tinham papéis muito bem definidos, e que eram encarados quase que como destinos inevitáveis. Era o homem quem decidia com quem iria se casar, quantos filhos teria, onde a família iria morar e tantas outras decisões estabelecidas ao homem, pelas tradições culturais da sociedade. Ele era o “cabeça” do casal, o “chefe” da família, o “mantenedor” das necessidades dos filhos e da mulher, tendo sob sua responsabilidade a manutenção de um abrigo, dando proteção e alimento.

Tudo era decidido pelo homem e para o homem. E assim, o homem era ensinado, desde a tenra idade, a ser forte, autoconfiante, dedicado ao trabalho, ensinado a viver uma relação de dominador no ambiente (com a submissão da mulher), a ter sob domínio rígido os seus sentimentos pessoais, a “possuir” a mulher como objeto exclusivo, somente ele ter prazer nas relações sexuais, ou até ter outras mulheres. No trabalho e na sociedade, o homem era valorizado pelo sucesso que obtinha, pelo poder sobre as pessoas e coisas, em especial pela quantidade que obtinha de dinheiro e bens materiais, pela competição que fazia com outros. E com essa escala de valores incutida nele, o homem acreditava que seu valor pessoal se media pelo sucesso profissional, pelo dinheiro e pelo seu desempenho sexual.

A mulher nem sempre desempenhou as mesmas funções do homem na sociedade. O máximo que se permitia à mulher era ser professora ou somente exercer o papel de dona de casa, mãe e esposa. Dessa forma, ela vivia em função do homem, por isso era pouco valorizada. Era inferiorizada, não tinha voz na família e nem na sociedade e, por séculos, foi impedida de ter uma profissão, de votar e ser votada, de escolher o marido etc.

Se em outras épocas, ela ficava circunscrita às paredes de sua casa, hoje a mulher “abandonou” o lar e foi para o mercado de trabalho objetivando compor a renda familiar.

Quando se criou a necessidade de a mulher enfrentar o mercado de trabalho, ela aos poucos conquistou seu espaço. Hoje a mulher exerce várias funções. Além de dona de casa, mãe e esposa, ela tem sua profissão. Assim sendo, atualmente a mulher exerce todas as funções que antes eram executadas pelo homem, conquistando seu espaço. Está à frente das grandes pesquisas tecnológicas e científicas mundiais mostrando sua capacidade.

Sabe­-se que a mulher exerce dupla função. Se ela é capaz de exercer tudo que o homem executava, cabe ao homem deixar de lado o preconceito e ajudá­-la nas tarefas diárias.

A realidade atual está colocando desafios para muitos homens que ainda não estão conscientes dos novos papéis que a sociedade moderna está a lhes atribuir, para que modifiquem sua atuação como homem: um homem que, com a mulher (em qualquer situação, seja de casal, profissional ou social), estabeleça uma relação de igualdade e de respeito e não mais como agia antes — com atitudes de poder, de mando e de dominação.

Os desafios estão aí na sociedade atual, para a mudança dos papéis do homem e da mulher. Mas, é necessário que ambos acordem para essa necessidade de quebra de paradigmas, que experimentem novas formas de comportamento.

Lembre­-se de que aquilo que faremos a seguir é um exemplo de utilização da técnica. Portanto, as conclusões a que chegarmos serão possibilidades apenas; cada pessoa pode ter uma opinião diferente a respeito do mesmo fato.

1o passo:

Definir o tema e o posicionamento frente a ele.

As imagens/figuras que aparecem no nosso texto motivador são:

— homem

— mulher

— papel social masculino

— papel social feminino

— transformações sociais

— desafios da sociedade atual

— adaptação da mulher à nova realidade

— adaptação do homem à nova realidade

— convivência harmoniosa

A partir dessas imagens/figuras podemos fazer abstrações: o homem deixa de ser o todo-poderoso; a mulher passa a ter voz na sociedade; é necessário que ambos se adaptem a essa nova constituição social.

Chegamos ao tema: As transformações nos papéis sociais feminino e masculino.

Agora, devemos estabelecer um posicionamento: se o texto de Maria Anunciação Souza fala de mudanças e afirma que devemos nos adaptar a elas para que a vida seja harmoniosa, o melhor a fazer é seguir essa direção argumentativa — para evitar polêmica.[10] Então vamos falar das “transformações nos papéis sociais feminino e masculino” de forma positiva, reafirmando a necessidade de adaptação e convivência harmônica entre os sexos.

2o passo:

Relacionar, em forma de tópicos, todos os assuntos ligados ao tema.

Tudo que vier à memória será anotado. Vamos lá:

— mulher no mercado de trabalho

— aumento no número de divórcios

— dupla jornada da mulher

— educação dos filhos

— homem em profissões femininas

— machismo

— feminismo

— mulher em profissões masculinas

— mulher na política

— mulher ajudando na renda familiar

— mulher na universidade

— homem metrossexual

— novas formas de constituição das famílias

— mulher provedora do lar

— diferenças salariais entre homem e mulher

— assédio sexual

— a mulher com direito ao voto

— sociedade capitalista

— divisão de tarefas domésticas

— eletrodomésticos que facilitam a vida em casa

— Lei Maria da Penha

— homem submisso

— direitos adquiridos pela mulher

Cremos ter feito uma boa lista, por isso vamos ao próximo passo.

3o passo:

Cortar alguns assuntos da relação preparada no passo anterior.

Agora sejamos criteriosos para eliminar aqueles itens sobre os quais não queremos/podemos falar.

— mulher no mercado de trabalho

aumento no número de divórcios

— dupla jornada da mulher

— educação dos filhos

— homem em profissões femininas

machismo

feminismo

— mulher em profissões masculinas

mulher na política

— mulher ajudando na renda familiar

— mulher na universidade

homem metrossexual

novas formas de constituição das famílias

— mulher provedora do lar

— diferenças salariais entre homem e mulher

assédio sexual

a mulher com direito ao voto

sociedade capitalista

— divisão de tarefas domésticas

eletrodomésticos que facilitam a vida em casa

Lei Maria da Penha

homem submisso

— direitos adquiridos pela mulher

4o passo:

Agrupar os assuntos que se relacionam em blocos de ideias.

Vejamos os itens que restaram, e o que se junta a que:

— mulher no mercado de trabalho

— dupla jornada da mulher

— educação dos filhos

— homem em profissões femininas

— mulher em profissões masculinas

— mulher ajudando na renda familiar

— mulher na universidade

— mulher provedora do lar

— diferenças salariais entre homem e mulher

— divisão de tarefas domésticas

— direitos adquiridos pela mulher

Relendo os itens acima, percebamos alguns núcleos informativos. Um núcleo evidente é o núcleo “casa”, pois temos: “educação dos filhos”, “divisão de tarefas” etc. Outro núcleo é o do “trabalho”: “mulher no mercado de trabalho” etc. Outro núcleo e o dos “direitos”, pois temos “direitos adquiridos pelas mulheres”.

Façamos, então, o seguinte agrupamento:

— dupla jornada da mulher / educação dos filhos / divisão de tarefas domésticas / mulher provedora do lar

— homem em profissões femininas / mulher em profissões masculinas / mulher no mercado de trabalho / mulher ajudando na renda familiar / diferenças salariais entre homem e mulher

— mulher na universidade / direitos adquiridos pela mulher

Não se esqueça de que isso é um exemplo, outras possibilidades existem.

5o passo:

Organizar os blocos de assuntos numa sequência lógico­-progressiva.

Vejamos o que é causa e o que é consequência.

a) A mulher primeiro divide as tarefas domésticas com o homem, depois vai para o mercado de trabalho, depois conquista os seus direitos?

b) A mulher primeiro conquista os seus direitos, depois divide as tarefas domésticas com o homem, depois vai para o mercado de trabalho?

c) A mulher primeiro vai para o mercado de trabalho, depois conquista os seus direitos, depois divide as tarefas domésticas com o homem?

Vamos optar por:

— Primeiro a mulher vai para o mercado de trabalho.

— Em seguida começa a dividir as tarefas domésticas com os homens.

— E por fim conquista seus plenos direitos.

Então nossa organização será:

— homem em profissões femininas / mulher em profissões masculinas / mulher no mercado de trabalho / mulher ajudando na renda familiar / diferenças salariais entre homem e mulher

— dupla jornada da mulher / educação dos filhos / divisão de tarefas domésticas / mulher provedora do lar

— mulher na universidade / direitos adquiridos pela mulher

Agora é necessário organizar os blocos internamente:

— a) mulher no mercado de trabalho / b) mulher ajudando na renda familiar / mulher em profissões masculinas / c) homem em profissões femininas / d) diferenças salariais entre homem e mulher

— a) dupla jornada da mulher / b) divisão de tarefas domésticas / c) educação dos filhos / d) mulher provedora do lar

— a) mulher na universidade / b) direitos adquiridos pela mulher

6o passo:

Criar o parágrafo de introdução.

A sociedade passa por transformação que se reflete no comportamento do homem e da mulher. É necessário que ambos se adaptem à nova organização social para garantir uma convivência harmoniosa.

7o passo:

Escrever os parágrafos de desenvolvimento.

Houve um tempo em que o homem trabalhava na rua e a mulher cuidava da casa. Hoje isso está mudando. A mulher, cada vez mais, se posiciona no mercado de trabalho, ou para alcançar a sua independência financeira ou para ajudar na renda familiar, pois nem sempre é possível satisfazer as novas necessidades da vida moderna com o salário de apenas uma pessoa em casa — no caso, o marido. Vemos muitas mulheres assumindo profissões antes dominadas exclusivamente por homens — Maria Anunciação Souza, em artigo publicado no site webartigos.com, afirma: “Se em outras épocas, ela ficava circunscrita às paredes de sua casa, hoje a mulher ‘abandonou’ o lar e foi para o mercado de trabalho objetivando compor a renda familiar”. Há também homens desempenhando funções que antes eram exclusivas das mulheres. Apesar dessa boa relação no mercado de trabalho, a mulher ainda sofre discriminação salarial. Algumas mulheres desempenhando a mesma função que um homem chegam a receber salário até 30% menor. Isso tende a mudar, pois estamos caminhando para a igualdade.

Como a mulher sempre foi a “dona de casa”, ela ainda sofre — muitas vezes — com a dupla jornada, pois além de dar expediente no trabalho ainda tem os afazeres domésticos. Muitos homens conscientes hoje já dividem com as mulheres as tarefas domésticas, criando assim uma relação mais justa. Atualmente, não só a mulher cuida dos filhos como também o homem — no passado a mulher cuidava da educação e o homem da provisão financeira —; algumas mulheres até assumem sozinhas a provisão do lar, conquistando, assim, independência financeira.

Com essa luta diária e essa vontade de assumir um lugar diferente na sociedade, as mulheres se empenharam em aumentar seu grau de instrução. Hoje, no Brasil, o número de universitárias é maior que o de universitários, de acordo com dados do Censo do IBGE de 2010. Isso mostra que elas têm lutado por direitos e conquistado muitos deles. Exemplo disso é a criação da Lei Maria da Penha. A Constituição Federal de 1988 garante isso: direitos iguais entre os sexos.

8o passo:

Escrever a conclusão.

Para que vivam em harmonia, é preciso que homem e mulher aceitem as mudanças do mundo moderno e comportem­-se de acordo com essa nova realidade.

9o passo:

Revisão.

10o passo:

Passar a limpo.

Eis a redação pronta, ou melhor, uma possível redação pronta.

A sociedade passa por transformação que se reflete no comportamento do homem e da mulher. É necessário que ambos se adaptem à nova organização social para garantir uma convivência harmoniosa.

Houve um tempo em que o homem trabalhava na rua e a mulher cuidava da casa. Hoje isso está mudando. A mulher, cada vez mais, se posiciona no mercado de trabalho, ou para alcançar a sua independência financeira ou para ajudar na renda familiar, pois nem sempre é possível satisfazer as novas necessidades da vida moderna com o salário de apenas uma pessoa em casa — no caso, o do marido. Vemos muitas mulheres assumindo profissões antes dominadas exclusivamente por homens — Maria Anunciação Souza, em artigo publicado no site webartigos.com, afirma: “Se em outras épocas, ela ficava circunscrita às paredes de sua casa, hoje a mulher ‘abandonou’ o lar e foi para o mercado de trabalho objetivando compor a renda familiar”. Há também homens desempenhando funções que antes eram exclusivas das mulheres. Apesar dessa boa relação no mercado de trabalho, a mulher ainda sofre discriminação salarial. Algumas mulheres desempenhando a mesma função que um homem chegam a receber salário até 30% menor. Isso tende a mudar, pois estamos caminhando para a igualdade.

Como a mulher sempre foi a “dona de casa”, ela ainda sofre — muitas vezes — com a dupla jornada, pois além de dar expediente no trabalho ainda tem os afazeres domésticos. Muitos homens conscientes hoje já dividem com as mulheres as tarefas domésticas, criando assim uma relação mais justa. Atualmente, não só a mulher cuida dos filhos como também o homem — no passado a mulher cuidava da educação e o homem da provisão financeira —; algumas mulheres até assumem sozinhas a provisão do lar, conquistando, assim, independência financeira.

Com essa luta diária e essa vontade de assumir um lugar diferente na sociedade, as mulheres se empenharam em aumentar seu grau de instrução. Hoje, no Brasil, o número de universitárias é maior que o de universitários, de acordo com dados do Censo do IBGE de 2010. Isso mostra que elas têm lutado por direitos e conquistado muitos deles. Exemplo disso é a criação da Lei Maria da Penha. A Constituição Federal de 1988 garante isso: direitos iguais entre os sexos.

Para que vivam em harmonia, é preciso que homem e mulher aceitem as mudanças do mundo moderno e comportem­-se de acordo com essa nova realidade.

10.8. Temas de Atualidades

A maioria das provas de redação exige do candidato conhecimento de atualidades, para que possa desenvolver o seu texto. Para isso, é preciso estar inteirado constantemente sobre economia, política, cultura, entre outros assuntos.

Quando se fala em atualidades, pensa­-se nos últimos seis meses que antecedem a data da prova, e a maneira mais eficiente de se chegar a isso é a leitura de jornais e revistas, mas também temos como meios disponíveis a televisão, o rádio, a internet e até mesmo a conversa com amigos.

Mantenha­-se informado das coisas do mundo e você fará uma boa prova.

Vejamos algumas provas, para termos uma ideia da diversidade de assuntos cobrados em provas discursivas.

FCC — Administrador — fev./2010

1. Atente para o seguinte texto:

Afirmam alguns, com frequência, que os efeitos das secas prolongadas constituem um flagelo da natureza; mas outros afirmam que esses efeitos ocorrem em razão de omissões humanas. A lógica manda concluir que se o homem é capaz de alterar tragicamente o clima da Terra, tornando­-a inabitável, será também capaz de fazer o contrário, influindo nele em benefício da vida. O fato é que já não há mais tempo para hesitação: precisamos decidir agora se confiamos o futuro da humanidade a um destino supostamente natural ou se iniciamos a construção histórica desse futuro.

2. Escreva uma dissertação expondo, de modo claro e coerente, seu ponto de vista a respeito das ideias contidas no texto.

3. Sua dissertação deverá ter no mínimo 20 e no máximo 30 linhas.

FCC — TRF 1a R. — Analista Judiciário — Administrativo — mar./2011

Atenção: Deverão ser rigorosamente observados os limites mínimo de 20 (vinte) linhas e máximo de 30 (trinta) linhas, sob pena de perda de pontos a serem atribuídos à Redação.

Para os destinos de uma sociedade, é indiferente conceber a máquina como um engenho a serviço do homem, ou o homem como um apêndice da máquina?

Redija uma dissertação em que você, apresentando argumentos claros e consistentes, defenda seu ponto de vista sobre a questão acima proposta.

FCC — TRT 4a R. — Técnico Judiciário — fev./2011

Atenção: Deverão ser rigorosamente observados os limites mínimo de 20 (vinte) linhas e máximo de 30 (trinta) linhas, sob pena de perda de pontos a serem atribuídos à Redação.

Considere a situação abaixo descrita:

Alguns funcionários de uma empresa combinam almoçar juntos. Sentam­-se à mesa do restaurante, fazem seus pedidos e cada um tira seu celular do bolso ou da bolsa. Conversando ao celular, fazem sua rápida refeição, pagam estendendo o cartão ao garçom e lado a lado, ainda ao celular, retornam à empresa.

Essa situação pode ser vista, ou não, como emblemática da vida contemporânea.

Redija um texto dissertativo acerca dessa questão.

FCC — TRT 4a R. — Analista Judiciário — fev./2011

Atenção: Deverão ser rigorosamente observados os limites mínimo de 20 (vinte) linhas e máximo de 30 (trinta) linhas, sob pena de perda de pontos a serem atribuídos à Redação.

Cientistas sociais dos EUA chegaram a algumas conclusões sobre como as pessoas reagem em situações de catástrofes e emergências naquele país. A primeira delas é que, ao contrário do que sugere o senso comum, vítimas costumam reagir com racionalidade aos acontecimentos. Pânico contagiante, fuga em massa, saques, ainda que possam ocorrer de forma esporádica, constituem o que autores como Enrico Quarantelli e Henry Fisher chamam de “mitologia do desastre”. Emergências, dizem, tendem a despertar o altruísmo das pessoas, não o lobo que existe dentro de cada um de nós.

(Adaptado de Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo.
Opinião. Sábado, 15 de janeiro de 2011, p. 2)

Redija uma dissertação acerca do papel da mídia na criação e perpetuação de mitos. Utilize argumentos que revelem coerência e espírito crítico no tratamento do tema.

FCC — TRE/SE — Analista Judiciário — Área Judiciária — nov./2008

1. Leia com atenção os dois textos seguintes:

Texto I

O aquecimento global — essa terrível ameaça que, segundo alguns, paira sobre o nosso planeta — é contestado por grupos de cientistas, que acham que o problema não é assim tão devastador. Esses grupos aconselham que se gaste dinheiro em investimentos que visem à eliminação da fome e à cura da Aids.

(Adaptado de Fernando Gabeira. Folha de S.Paulo, 24.02.2007)

Texto II

Seja qual for a extensão dos males que nossa civilização já causou ao planeta, o certo é que precisamos repensar o próprio conceito de civilização. As evidências do aquecimento global já fazem se sentir. Não seria a primeira (mas talvez venha a ser a mais grave) das catástrofes geradas pelo ser humano.

(Valdomiro Tosti, inédito)

2. Escreva uma dissertação, na qual você deverá expor seu ponto de vista acerca do tema comum a esses dois textos.

3. Sua dissertação deverá ter no mínimo 20 e no máximo 30 linhas, consideran­do­-se letra de tamanho regular.

FCC — TCEAM — Assistente de Controle Externo — maio/2008

As manifestações culturais — com suas diversidades em cada uma das regiões brasileiras — podem constituir­-se em instrumento de transformação social.

Redija um texto dissertativo em que seja discutida a afirmação acima. Defenda sua opinião com argumentos pertinentes.

A redação deverá ter a extensão mínima de 20 linhas e a máxima de 30.

FCC — TRT 15a R. — Analista Judiciário — Área Judiciária

Atenção: A redação deverá ter a extensão mínima de 20 linhas e a máxima de 30 linhas.

O direito à informação é um dos sustentáculos do mundo democrático. Sem esse direito, ou usufruindo­-o de modo apenas relativo, não temos como compreender e julgar situações, pessoas e decisões que, de algum modo, têm influência em nossa vida. Não se entende, portanto, que haja quem defenda restrições à liberdade de imprensa. A liberdade dos meios de comunicação não lhes pertence: é a liberdade de todos nós.

Com base no que diz o texto acima, redija uma dissertação na qual se discuta, de modo claro e coerente, com argumentos, a afirmação seguinte: “Os órgãos de imprensa apenas espelham a realidade”.

NCE — Agência Nacional de Transportes Terrestres

É bastante comum a discussão sobre a existência de pedágio nas estradas; o governo apresenta suas razões, as empresas privadas responsáveis defendem a cobrança e o usuário reclama contra ela. Afinal, quem tem razão?

Apresente você sua visão do fato, levando em conta os vários argumentos envolvidos, num texto argumentativo de aproximadamente 20 linhas. Tenha cuidado com a clareza, a seleção qualitativa de seus argumentos, a estruturação global do texto e a correção de linguagem.

Cespe­-UnB — ANS/MS — Especialista em Regulação de Saúde Suplementar — Especialidade: Direito

Nesta prova — que vale dez pontos —, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de 30 linhas será desconsiderado.

Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

IstoÉ — Por que é tão difícil cuidar da saúde?

Drauzio Varella — Somos ótimos planejadores a curto prazo. Mas e pensar como estará o corpo daqui a cinco anos? Nós não sabemos fazer isso porque não foi essencial para a nossa sobrevivência. A humanidade tem cinco milhões de anos. O que adiantava pensar dali a cinco anos? O cara tinha de pensar no almoço dele. As preocupações eram imediatas.

IstoÉ, 02.03.2005 (com adaptações)

Crianças indígenas estão morrendo menos. Segundo a Fundação Nacional da Saúde (FUNASA), em 1999, de cada mil crianças nascidas, 112 morriam antes de completar um ano. Hoje, a média nacional é de 46 óbitos para cada mil nascimentos. Investimentos em unidades de saúde, em saneamento básico e em ações como a distribuição de medicamentos nas aldeias estão ajudando a reduzir esse índice.

IstoÉ, 02.03.2005 (com adaptações)

O virologista francês Luc Montaignier é um homem gentil, do tipo conciliador. Na carreira, porém, pula de polêmica em polêmica. Recentemente, voltou à arena: publicou um artigo no jornal Le Monde em que afirma estar convencido, apesar da falta de evidências definitivas, de que a poluição, os alimentos industrializados e os produtos químicos são, sim, prováveis causadores de doenças crônicas como o câncer.

Veja, 23.02.2005 (com adaptações)

Saiu nos jornais: finalmente a Justiça brasileira concedeu a um rapaz o direito de receber uma indenização do Estado de São Paulo por ter sido equivocadamente submetido a um tratamento de choque em um hospital psiquiátrico, tendo ficado com graves sequelas.

André Petry. O país do desamparo. Veja, 16.02.2005 (com adaptações)

O programa de imunização brasileiro é considerado um dos melhores do mundo. Com um investimento modesto em relação ao benefício apresentado, o país erradicou a poliomielite e a varíola e diminuiu drasticamente os casos de difteria e rubéola. Além das 11 vacinas encontradas na rede pública, existem outras que, por motivos econômicos, são distribuídas gratuitamente apenas a pacientes com necessidades especiais. Doenças como catapora, meningite ou pneumonia, por exemplo, podem ser evitadas com imunizações encontradas em clínicas particulares.

Época, 28.03.2005 (com adaptações)

Considerando que os textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo­-argumentativo desenvolvendo o seguinte tema: “Saúde: uma questão individual e (ou) coletiva”.

Cespe­-UnB — DPF/DGP — Concurso Público Nacional — Escrivão de Polícia Federal

Nesta prova — que vale cinco pontos —, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de 30 linhas será desconsiderado.

Atenção! Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

Este momento que atravessamos, marcado por antagonismos étnicos, econômicos e socioculturais, transforma­-se em um desafio para todos os cidadãos que desejam uma sociedade mais justa e igual. Fazem­-se necessárias, mais do que nunca, discussões e reflexões em busca de saídas para as grandes questões sociais humanas.

A construção da paz. Ano 10, n. 14, jan.­/jun. 2001, http://www.uneb.br/educacao/resumorevista (com adaptações)

100 questões

Excelente a última reportagem especial (“100 questões para entender o mundo”, 23 de junho). Ficou muito bem registrado que os desafios superados pela comunidade mundial nas últimas décadas ensinam que é, sim, possível vencermos o drama da desigualdade, promover a tolerância e associar prosperidade com justiça, desde que todas as nações se reconheçam como partícipes soberanos e legítimos dessa nova conjuntura.

Hugo Lins Coelho, Recife: Veja, Cartas, 30.06.2004 (com adaptações)

Pesquisa ouviu 3.500 jovens de 15 a 24 anos de idade em todos os estados brasileiros. Leia abaixo alguns dos aspectos que compõem o retrato da juventude do país.

Qual o problema que mais o preocupa atualmente?

Violência/criminalidade — 27%

Desemprego/futuro profissional — 26%

Drogas — 8%

Educação — 6%

Família — 6%

Saúde — 6%

Crise financeira — 5%

Pensando em uma sociedade ideal, qual desses valores seria o mais importante?

Temor a Deus — 17%

Respeito ao meio ambiente — 12%

Igualdade de oportunidades — 12%

Religiosidade — 10%

Respeito a diferenças — 8%

Solidariedade — 8%

Justiça social — 7%

IstoÉ, 05.05.2004 (com adaptações)

Considerando que a humanidade dos humanos reside no fato de serem racionais, dotados de vontade livre, de capacidade para a comunicação e para a vida em sociedade, de capacidade para interagir com a natureza e com o tempo, nossa cultura e sociedade nos definem como sujeitos do conhecimento e da ação, localizando a violência em tudo que reduz um sujeito à condição de objeto.

Do ponto de vista ético, somos pessoas e não podemos ser tratados como coisa. A ética é normativa exatamente por isso: visa impor limites e controles ao risco permanente da violência.

Marilena Chauí. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995, p. 337 (com adaptações)

Considerando que as ideias apresentadas nos fragmentos de textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando­-se acerca do tema seguinte e utilizando, necessariamente, o recurso da exemplificação.

“A sociedade não é o retrato apenas de seus governantes, é o retrato de seus cidadãos, em destaque, de suas elites. É o nosso retrato, do Brasil todo, de todos nós.”

Sérgio Abranches

Cespe­-UnB — DPF/DGP — Concurso Público Nacional — Delegado de Polícia Federal

Atenção! Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local.­

Texto I

A onda de violência que vivemos hoje deve­-se a incontáveis motivos. Um deles parece­-me especialmente virulento: o desinvestimento cultural na ideia do “próximo”.

Substituímos a prática de reflexão ética pelo treinamento nos cálculos econômicos; brindamos alegremente o “enterro” das utopias socialistas; reduzimos virtude e excelência pessoais a sucesso midiático; transformamos nossas universidades em máquinas de produção padronizada de diplomas e teses; multiplicamos nossos “pátios dos milagres”, esgotos a céu aberto, analfabetos, delinquentes e, por fim, aderimos à lei do mercado com a volúpia de quem aperta a corda do próprio pescoço, na pressa de encurtar o inelutável fim.

Voltamos as costas ao mundo e construímos barricadas em torno do idealizado valor de nossa intimidade. Fizemos de nossas vidas claustros sem virtudes; encolhemos nossos sonhos para que coubessem em nossas ínfimas singularidades interiores; vasculhamos nossos corpos, sexos e sentimentos com a obsessão de quem vive um transe narcísico e, enfim, aqui estamos nós, prisioneiros de cartões de crédito, carreiras de cocaína e da dolorosa consciência de que nenhuma fantasia sexual ou romântica pode saciar a voracidade com que desejamos ser felizes. Sozinhos em nossa descrença, suplicamos proteção a economistas, policiais, especuladores e investidores estrangeiros, como se algum deles pudesse restituir a esperança no “próximo” que a lógica da mercadoria devorou.

Jurandir Freire Costa. Folha de S.Paulo, 22.09.1996 (com adaptações)

Texto II

Inesgotável, o repertório do tráfico para roubar­-nos a dignidade revive as granadas. Três delas ganharam a rua no curto intervalo de cinco dias, atiradas com a naturalidade de estalinho junino. Não explodiram por sorte, inabilidade ou velhice. Mas detonaram em nossas barbas o deboche repetido com a métrica cotidiana da violência: é guerra. Uma de suas raízes alimenta­-se da disseminação de armas de fogo entre os traficantes, ferida aberta à sombra de varizes socioeconômicas, cuja cicatrização agoniza no mofo de desencontros e desinteresses políticos. Como o natimorto dueto entre os governos estadual e federal para reaver armamento militar em favelas do Rio: muita encenação, nenhuma palha movida.

Doutor em combate, não precisa sê­-lo para ver: urge desarmar o adversário. (Um adversário aparelhado até os dentes, cujo desplante avança como formiga no açúcar.) Caminho que exige a orquestração entre força e inteligência, prevenção e ataque — regidos pela convergência de esforços políticos, indispensável para se vencer uma guerra.

Editorial. Jornal do Brasil, 16.09.2004 (com adaptações)

Redija um texto dissertativo a respeito da violência, estabelecendo relações entre as ideias expressas nos textos I e II acima.

Cespe­-UnB — DPF/DGP — Concurso Público Regional — Agente de Polícia Federal

Nesta prova — que vale cinco pontos —, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de trinta linhas será desconsiderado.

Atenção! Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

Inúmeras são as dificuldades e os desafios que caracterizam o exercício pleno e satisfatório das importantes atribuições da Polícia Federal, tendo em vista a dimensão continental do território brasileiro, as especificidades e diversidades regionais, bem como as disponibilidades de efetivo humano e infraestrutura.

A atuação do Departamento de Polícia Federal (DPF) requer plena sintonia entre seus setores internos, principalmente no que diz respeito à agilidade de informações e à comunicação instantânea, de modo que não se prejudique o chamado princípio da oportunidade, especialmente na repressão a modalidades diversas do crime organizado e em situações emergenciais.

Pode­-se afirmar que, nos pontos de entrada e saída de bens e de pessoas no Brasil, são exercitadas as atribuições constitucionais do DPF, no que se refere a infrações penais em detrimento de bens, serviços e interesses da União, infrações com repercussão interestadual ou internacional, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, contrabando e descaminho de órgãos humanos ou bens artísticos de valor histórico, entre outras situações que podem significar perigo para a população brasileira.

Disponível em: http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.
Acesso em: ago. 2004 (com adaptações)

Considerando que as ideias do texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo (máximo 25 linhas), posicionando­-se acerca do seguinte tema: “A importância da atuação da polícia federal brasileira na preservação do direito à vida”.

Cespe­-UnB — DPF/DGP — Concurso Público Regional — Escrivão de Polícia Federal

Nesta prova — que vale cinco pontos —, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de trinta linhas será desconsiderado.

Atenção! Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

Depois de cuidadoso tratamento estatístico, os autores de uma pesquisa em Nova Iorque verificaram que, independentemente dos fatores de risco (a renda familiar, a possível existência de desinteresse paterno pela sorte dos filhos, os níveis de violência na comunidade em que viviam, a escolaridade dos pais e a presença de transtornos psiquiátricos nas crianças), o número de horas que um adolescente com idade média de 14 anos fica diante da televisão, por si só, está significativamente associado à prática de assaltos e à participação em brigas com vítimas e em crimes de morte mais tarde, quando atinge a faixa etária dos 16 aos 22 anos.

Internet: http://www.drauziovarella.com.br (com adaptações)

Na revista Science, Craig Anderson, da Universidade de Iowa, responsabiliza a imprensa por apresentar até hoje como controverso um debate que deveria ter sido encerrado anos atrás. Segundo o especialista, esse comportamento é comparável ao mantido por décadas diante da discussão sobre as relações entre o cigarro e o câncer de pulmão, quando a comunidade científica estava cansada de saber e de alertar a população para isso. Seis das mais respeitadas associações médicas norte­-americanas (entre as quais as de pediatria, psiquiatria, psicologia e a influente American Medical Association) publicaram, em 2001, um relatório com a seguinte conclusão sobre o assunto: “Os dados apontam de forma impressionante para uma conexão causal entre a violência na mídia e o comportamento agressivo de certas crianças”.

Idem. Ibidem.

Os valores transmitidos pelo sistema educacional seriam, na visão de Pinheiro Guimarães, os “da produção material e da maximização do consumo individual do ser humano como unidade de trabalho e não como cidadão político­-solidário, digno de uma vida espiritual superior”. Ele vê essa “vida espiritual superior” prejudicada pelos “programas degradantes e idiotizantes de televisão”, atividade que consome, segundo sua conta, mais de 80% do tempo livre do cidadão comum. “Esse tempo foi capturado pela televisão, que os estados e os governos têm tratado como uma atividade econômica normal e não como um veículo com influência extraordinária sobre a sociedade e seu imaginário”.

Merval Pereira. O imaginário social. In: O Globo, 07.08.2004 (com adaptações)

Considerando que as ideias apresentadas nos textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando­-se acerca do tema seguinte: “A influência da televisão no imaginário social”.

Cespe­-UnB — DPF/DGP — Concurso Público Regional — Delegado de Polícia Federal

Nesta prova — que vale cinco pontos —, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de trinta linhas será desconsiderado.

Atenção! Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

As portas foram abertas e as invasões, os roubos e as agressões diminuíram. Pelo menos em educação, essa afirmação não soa contraditória. Números do governo do estado de São Paulo mostram que um programa que permite a utilização das escolas aos fins de semana pela comunidade fez cair os índices de violência.

As mais significativas reduções foram registradas nos meses de janeiro e fevereiro, período das férias escolares. Este ano, mesmo nessa época, havia atividades nos fins de semana em escolas estaduais. A diminuição nos casos de violência foi de 56% e de 33%, em cada mês. “Uma escola com pouco diálogo com a comunidade vira um símbolo de dominação. As depredações e invasões muitas vezes são motivadas por essa rejeição”, diz a educadora da Universidade de São Paulo, Sílvia Colello.

Internet: http://www.jcsol.com.br (com adaptações)

Os aterradores números da violência no Rio entre 1983 e 1994, em pesquisa do ISER, são apontados como sendo resultantes de diversos fatores, tais como as perdas econômicas da década de 80, o agravamento das diferenças sociais no ambiente urbano (com a expansão das favelas), a crise dos serviços públicos e o início do aumento da população jovem que forma, justamente, o grupo mais exposto aos riscos da violência.

No entanto, houve uma queda de 35% nos últimos 6 anos. A partir da segunda metade dos anos noventa, a taxa de homicídios por 100.000 habitantes declina ininterruptamente.

A pesquisa aponta, entre os fatores importantes que contribuíram na diminuição dessa taxa: o surgimento de movimentos sociais proativos, de grande escala, como a Campanha contra a Fome e o Viva Rio, que mobilizaram a cidade para o enfrentamento dos seus problemas; a multiplicação de projetos sociais nos bairros pobres, por ações governamentais e não governamentais, sobretudo para crianças e jovens, na área educacional; e a organização das comunidades por meio de associações de moradores, ONGs, entidades religiosas, beneficentes, culturais e recreativas.

Internet: http://www.fgvsp.br. (com adaptações)

Considerando que as ideias apresentadas nos textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando­-se acerca do tema a seguir: “O fortalecimento das redes de relações sociais como forma de redução da violência urbana”.

Cespe­-UnB — ABIN — Concurso Público — Analista de Informações

Nesta prova — que vale cinco pontos —, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de trinta linhas será desconsiderado.

Atenção! Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

O sistema de inteligência artificial criado por brasileiros para o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) — chamado de Olimpo — foi selecionado em um universo de 762 outros trabalhos, de todas as partes do mundo, pelo comitê científico da 5.a Conferência Internacional de Sistemas de Informação de Empresas.

A metodologia empregada chama­-se Pesquisa Contextual Estruturada e usa um sistema de extração de informação de textos combinado com a técnica de inteligência artificial conhecida como raciocínio baseado em casos (RBC). Permite fazer buscas rápidas em textos de documentos com base no conhecimento e não apenas em palavras­-chave.

Isso quer dizer que, mesmo que o documento não contenha a palavra digitada na pergunta feita pelo usuário, a busca será feita, com base no conceito contido naquela palavra ou em ideias semelhantes a ela.

De acordo com Hugo Hoeschl, coordenador do trabalho, “é estratégico o Brasil ser detentor de uma tecnologia tão forte, com denso reconhecimento internacional, desenvolvida especialmente para ser aplicada em segurança”. Por sua rapidez e precisão, o sistema de busca “é importante para todos os organismos da ONU e fornecerá significativos benefícios para a solução de conflitos internacionais”.

Liana John. Internet: http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2003/jan/07/79.htm (com adaptações)

A origem remota da Atividade de Inteligência no Brasil, outrora denominada Atividade de Informações, ocorreu com o advento do Conselho de Defesa Nacional, mediante o Decreto n. 17.999, de 29 de novembro de 1927. Esse Conselho, constituído pelo presidente da República e pelos ministros de Estado, tinha por destinação, entre outras, a tarefa de “coordenar a produção de conhecimentos sobre questões de ordem financeira, econômica, bélica e moral referentes à defesa da Pátria”. Como fica claro na missão, interessava ao governo a produção de informações com finalidade precípua de defender a Pátria, isto é, informações vinculadas a interesses estratégicos de segurança do Estado.

Internet: http://www.abin.gov.br/abin/historico.jsp

Considerando que as ideias apresentadas nos textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando­-se acerca do seguinte tema: “A informação como fator estratégico de segurança”.

Cespe­-UnB — DPF/DGP — Concurso Público — Papiloscopista Policial Federal

Nesta prova — que vale cinco pontos —, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de trinta linhas será desconsiderado.

Atenção! Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

Segundo o professor Sérgio Hadad, da PUC-SP, “não há exemplo na história da humanidade em que o analfabetismo tenha sido superado sem uma política pública de qualidade”.

Salvatore Santagada. Zero Hora, 20.03.1999

Vivemos atualmente sob o impacto de profundas transformações socioculturais. A revolução informacional e outras inovações tecnológicas vêm permitindo conquistas notáveis na área do conhecimento. Nunca um número tão grande de informações esteve tão disponível, as ferramentas auxiliares da inteligência humana, tão aperfeiçoadas, enfim, nunca houve tão intenso borbulhar do saber. Resta, portanto, indagarmo­-nos: o que fazer com tudo isso?

Como lidar com tanta informação sem se perder em excessos e novos equívocos? Como agregar conhecimento humano e encontrar uma nova síntese civilizacional que aponte novas diretrizes para um mundo que se torna cada vez mais complexo e se interroga como superar o turbilhão de dificuldades existentes em quase todos os setores da vida social no panorama global?

Precisamos rever nossas concepções pedagógicas, procurando ultrapassar os comodismos que nos limitam ao saber estéril. A informação que não é atualizada, avaliada e utilizada para transformar e aprimorar a sociedade é informação inútil. O ensino, portanto, deve estar ancorado na realidade, motivando alunos e professores a encontrarem novas formas de vida social, que não perpetuem injustiças e opressões.

Valmor Bolan. Jornal VS, abril 1999

Tomando como motivadores o texto inicial da prova objetiva de Conhecimentos Básicos e os excertos acima, redija um texto dissertativo, posicionando­-se acerca das vantagens de utilização da tecnologia na educação, em um contexto sociocultural em que é elevado o número de analfabetos.

Cespe­-UnB — CREA/DF — Advogado

Nesta prova — que vale dez pontos —, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de trinta linhas será desconsiderado.

Atenção! Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

Cultura da abundância, o mal das águas

Os recursos hídricos tornaram­-se cada vez mais escassos nos últimos 20, 30 anos, derrubando os mitos de que a água é abundante no planeta e é um recurso renovável. Com o crescimento da população e a intensa urbanização, tais recursos ficaram escassos em quantidade e qualidade, mais difíceis e complexos de se obter e conservar, e mais caros para distribuir, prover e ampliar.

Ainda não há números que retratem um quadro nacional da qualidade das águas. Os padrões e critérios variam por região, o que se soma a outra dificuldade no dimensionamento deste quadro: identificar os maiores poluidores, qual é o quinhão de responsabilidade das diferentes fontes de degradação. Outro complicador é o significativo impacto na natureza da chamada “poluição difusa”, também de difícil identificação. Trata­-se dos detritos e sucatas do chão das cidades, dos pavimentos, erosões, lixo de rua, óleo de avenidas e rodovias, tudo que é carreado do chão pelas chuvas, diretamente para os rios, com potencial poluidor significativo e crescente.

Época. “Informe publicitário”, 30.06.2003, p. 73 (com adaptações)

Considerando que as ideias apresentadas no texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando­-se acerca do seguinte tema: “Água, substância decisiva para a manutenção da vida”.

Cespe­-UnB — MRE/IRBr/CNPq — Programa de Ação Afirmativa — Bolsas­-Prêmio de Vocação para a Diplomacia

Em cada parte da prova discursiva — cada uma delas valendo quinze pontos —, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de trinta linhas será desconsiderado.

Atenção! Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

Leia os textos a seguir.

Quando o cidadão descobre que ele é o princípio do que existe e pode existir com sua participação, começa a surgir a democracia. Cidadania e democracia andam de mãos dadas e não existem separadas. Cidadania não é individualismo, mas afirmação de cada um em sua relação de solidariedade com os outros. Cidadania e democracia estão baseadas em princípios éticos e têm o infinito como limite. Não existe limite para a solidariedade, a liberdade, a igualdade, a participação e a diversidade. A democracia é uma obra inesgotável.

Herbert de Souza. Democracia e cidadania. In: Carla Rodrigues (Org.). Democracia: cinco princípios e um fim. São Paulo: Moderna, 1996, p. 66 (com adaptações)

Não tem como você estereotipar alguém como negro só por causa da cor. No fundo, todo brasileiro é meio negro.

Flávio Martins, 19 anos, aluno de Letras, UnB. Correio Braziliense, 10.06.2003

A rigor, mesmo as vozes contrárias à política de cotas admitem que a situação é injusta e precisa ser revertida, mas não à custa do direito dos outros ou do princípio da igualdade e da isonomia dos brasileiros, independentemente de credo político, religioso ou raça.

Revista do Livro Universitário, março/abril 2003 (com adaptações)

Considerando que as ideias apresentadas nos textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando­-se acerca do seguinte tema: “Identidade étnica e construção da cidadania”.

Cespe­-UnB — PCRR — Nível Superior — Delegado de Polícia Civil

Nesta prova — que vale dez pontos —, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de trinta linhas será desconsiderado.

Atenção! Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

Muitas constituições foram criadas de modo a fazer com que as pessoas acreditassem que todas as leis estabelecidas atendiam a desejos expressos pelo povo. Mas a verdade é que não só nos países autocráticos, como naqueles supostamente mais livres, as leis não foram feitas para atender a vontade da maioria, mas sim a vontade daqueles que detêm o poder. Portanto, elas serão sempre, e em toda parte, aquelas que mais vantagens possam trazer à classe dominante e aos poderosos. Em toda parte e sempre, as leis são impostas utilizando os inúmeros meios capazes de fazer que algumas pessoas se submetam à vontade de outras. E nisso há violência: exigir que determinadas regras sejam cumpridas e obrigar determinadas pessoas a cumpri­-las.

Não é a violência simples, que alguns homens usam contra seus semelhantes em momentos de paixão; é uma violência organizada, usada por aqueles que têm o poder nas mãos para fazer que os outros obedeçam à sua vontade.

Assim, a essência da legislação está no fato de que aqueles que controlam a violência organizada dispõem de poderes para forçar os outros a obedecê­-los, fazendo aquilo que eles querem que seja feito.

Leon Tolstoi. A violência das leis. In: A escravidão de nosso tempo. (com adaptações)

O desejo de colocar em prática um programa que combata a fome e a miséria é uma unanimidade que vem de longe. O que se discute atualmente é como torná­-lo eficiente o bastante para que não seja apenas mais um projeto de boas intenções, com resultados passageiros.

Afonso Capelas Jr. O desafio número um. In: Revista do Livro Universitário, dez. 2002 (com adaptações)

O direito humano à alimentação é o direito que todo indivíduo tem de obter uma alimentação adequada, em quantidade e qualidade.

Elisabetta Recine. É preciso identificar os famintos. In: UnB Revista, jan.­/mar. 2003, p. 63

Mais perigosa que a força bruta é aquela que brota da indiferença da sociedade ante as violações dos direitos da pessoa humana.

Martin Luther King

Considerando que as ideias apresentadas nos textos das provas objetivas e nos fragmentos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando­-se acerca do seguinte tema: “Combate à fome: questão de direito e de justiça”.

Cespe­-UnB — MJ/DPF/ANP/DRS — Agente de Polícia Federal

Na prova a seguir, que vale cinco pontos, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos. Utilize, no mínimo, trinta e, no máximo, sessenta linhas. Qualquer prova com extensão aquém da mínima de trinta linhas efetivamente escritas será apenada e qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de sessenta linhas será desconsiderado.

Atenção! Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

A sociedade organizada segundo os parâmetros do dinheiro e do trabalho, ao mesmo tempo que cria a figura do trabalhador, cria também a figura do vagabundo, do delinquente, do trabalhador que não deu certo e que frequentemente “esbarra” na lei, do criminoso em potencial. Essas são as pessoas que estarão mais sujeitas à perseguição e à punição.

Andréa Buoro et al. Violência urbana — dilemas e desafios. São Paulo: Atual, 1999, p. 27

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo­-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

III — ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

Constituição da República Federativa do Brasil, 1988

Considerando que as ideias apresentadas acima e nos textos da prova objetiva têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando­-se acerca do seguinte tema: “O combate à violência deve ser feito com imparcialidade e respeito ao ser humano”.

Cespe­-UnB — DPF/DGP — Agente de Polícia Federal

Nesta prova — que vale cinco pontos —, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de trinta linhas será desconsiderado.

Atenção! Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

Pedindo uma pizza em 2009

Telefonista: — Pizza Hot, boa noite!

Cliente: — Boa noite, quero encomendar pizzas...

Telefonista: — Pode me dar o seu NIDN?

Cliente: — Sim, o meu número de identificação nacional é 6102­-1993­-8456­-54632107.

Telefonista: — Obrigada, Sr. Lacerda. Seu endereço é Av. Paes de Barros, 1988 ap. 52 B e o número de seu telefone é 5494­-2366, certo? O telefone do seu escritório da Lincoln Seguros é o 5745­-2302 e o seu celular é 9266­-2566.

Cliente: — Como você conseguiu essas informações todas?

Telefonista: — Nós estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central.

Cliente: — Ah, sim, é verdade! Eu queria encomendar duas pizzas, uma quatro queijos e outra calabresa...

Telefonista: — Talvez não seja uma boa ideia...

Cliente: — O quê?

Telefonista: — Consta na sua ficha médica que o Sr. sofre de hipertensão e tem a taxa de colesterol muito alta. Além disso, o seu seguro de vida proíbe categoricamente escolhas perigosas para a sua saúde.

Cliente: — É, você tem razão! O que você sugere?

Telefonista: — Por que que o Sr. não experimenta a nossa pizza Superlight, com tofu e rabanetes? O Sr. vai adorar!

Cliente: — Como é que você sabe que vou adorar?

Telefonista: — O Sr. consultou o site “Recettes Gourmandes au Soja” da Biblioteca Municipal, dia 15 de janeiro, às 14:27h, onde permaneceu ligado à rede durante 39 minutos. Daí a minha sugestão...

Cliente: — OK, está bem! Mande­-me duas pizzas tamanho­-família!

Telefonista: — É a escolha certa para o Sr., sua esposa e seus 4 filhos, pode ter certeza.

Cliente: — Quanto é?

Telefonista: — São R$ 49,99.

Cliente: — Você quer o número do meu cartão de crédito?

Telefonista: — Lamento, mas o Sr. vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu cartão de crédito já foi ultrapassado.

Cliente: — Tudo bem, eu posso ir ao Multibanco sacar dinheiro antes que chegue a pizza.

Telefonista: — Duvido que consiga, o Sr. está com o saldo negativo no banco.

Cliente: — Meta­-se com a sua vida! Mande­-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam?

Telefonista: — Estamos um pouco atrasados, serão entregues em 45 minutos. Se o Sr. estiver com muita pressa pode vir buscá­-las, se bem que transportar duas pizzas na moto não é aconselhável, além de ser perigoso...

Cliente: — Mas que história é essa, como é que você sabe que eu vou de moto?

Telefonista: — Peço desculpas, mas reparei aqui que o Sr. não pagou as últimas prestações do carro e ele foi penhorado. Mas a sua moto está paga, e então pensei que fosse utilizá­-la.

Cliente: — @#%/§@&?#>§/%#!!!!!!!!!!!!!

Telefonista: — Gostaria de pedir ao Sr. para não me insultar... não se esqueça de que o Sr. já foi condenado em julho de 2006 por desacato em público a um Agente Regional.

Cliente: — (Silêncio)

Telefonista: — Mais alguma coisa?

Cliente: — Não, é só isso... não, espere... não se esqueça dos 2 litros de Coca­-Cola que constam na promoção.

Telefonista: — Senhor, o regulamento da nossa promoção, conforme citado no artigo 3095423/12, nos proíbe de vender bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...

Cliente: — Aaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!!!!!! Vou me atirar pela janela!!!

Telefonista: — E machucar o joelho? O Sr. mora no andar térreo!

Luis Fernando Veríssimo

Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando­-se a respeito do tema a seguir: “O avanço da tecnologia da informação e o respeito à privacidade do indivíduo”.

Cespe­-UnB — IRBr — 2ª Fase — Terceiro Secretário da Carreira de Diplomata

Na prova a seguir, faça o que se pede, usando, caso julgue necessário, as páginas correspondentes do caderno de rascunho. Em seguida, transcreva os textos para as respectivas folhas do CADERNO DE TEXTOS DEFINITIVOS, nos locais apropriados, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos. Respeite os limites mínimos e máximos de palavras estabelecidos.

ATENÇÃO! Nas folhas do caderno de textos definitivos, identifique­-se apenas na capa, pois não serão avaliados os textos que tenham qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

Leia os textos I, II e III abaixo.

Texto I

Divagação sobre as ilhas

Carlos Drummond de Andrade

Quando me acontecer alguma pecúnia, passante de um milhão de cruzeiros, compro uma ilha; não muito longe do litoral, que o litoral faz falta; nem tão perto, também, que de lá possa eu aspirar a fumaça e a graxa do porto. Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude e longitude que, pondo­-me a coberto dos ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado dos homens nem me obrigue a praticá­-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a arte do bem viver; uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.

De há muito sonho esta ilha, se é que não a sonhei sempre. Se é que a não sonhamos sempre, inclusive os mais agudos participantes. Objetais­-me: “Como podemos amar as ilhas, se buscamos o centro mesmo da ação?” Engajados, vosso engajamento é a vossa ilha, dissimulada e transportável. Por onde fordes, ela irá convosco. Significa a evasão daquilo para que toda alma necessariamente tende, ou seja, a gratuidade dos gestos naturais, o cultivo das formas espontâneas, o gosto de ser um com os bichos, as espécies vegetais, os fenômenos atmosféricos. Substitui, sem anular. Que miragens vê o iluminado no fundo de sua iluminação?... Supõe­-se político, e é um visionário. Abomina o espírito de fantasia, sendo dos que mais o possuem. Nessa ilha tão irreal, ao cabo, como as da literatura, ele constrói a sua cidade de ouro, e nela reside por efeito da imaginação, administra­-a, e até mesmo a tiraniza. Seu mito vale o da liberdade nas ilhas. E, contentor do mundo burguês, que outra coisa faz senão aplicar a técnica do sonho, com que os sensíveis dentre os burgueses que se acomodam à realidade, elidindo­-a?

A ilha que traço agora a lápis neste papel é materialmente uma ilha, e orgulha­-se de sê­-lo. Pode ser abordada. Não pode ser convertida em continente. Emerge do pélago com a graça de uma flor criada para produzir­-se sobre a água. Marca assim o seu isolamento, e como não tem bocas de fogo nem expedientes astuciosos para rechaçar o estrangeiro, sucede que este isolamento não é inumano. Inumano seria desejar, aqui, dos morros litorâneos, um cataclismo que sovertesse tão amena, repousante, discreta e digna forma natural, inventada para as necessidades de ser no momento exato em que se farta de seus espelhos, amigos como inimigos.

E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade dos regatos — tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio dela. A mesma solidão existe, com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra firme e longa. Resta ainda o argumento da felicidade — “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta, para enaltecer, pelo contraste, a sua Pasárgada: mas será que se procura realmente nas ilhas uma ocasião de ser feliz, ou um modo de sê­-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum?

Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais que as outras, nem todas juntas constituem a razão de meu desejo. Sou pouco afeiçoado à natureza, que em mim se reduz quase que a uma paisagem moral, íntima, em dois ou três tons, só que latejante em todas as partículas. A solidão, carrego­-a no bolso, e nunca me faltou menos do que quando, por obrigações de ofício, me debruçava incessantemente sobre a vida dos outros. E felicidade não é em rigor o que eu procuro. Não. Procuro uma ilha, como já procurei uma noiva.

A ilha me satisfaz por ser uma porção curta de terra (falo de ilhas individuais, não me tentam aventuras marajoaras), um resumo prático, substantivo, dos estirões deste vasto mundo, sem os inconvenientes dele, e com a vantagem de ser quase ficção sem deixar de constituir uma realidade. A casa de campo é diferente. A continuidade do solo torna­-a um pobre complemento dessas propriedades individuais ou coletivas, públicas ou particulares, em que todo o desgosto, toda a execrabilidade, toda a mesquinhez da coisa possuída, taxada, fiscalizada, trafegada, beneficiada, herdada, conspurcada, se nos apresenta antes que a vista repare em qualquer de seus eventuais encantos. A casa junto ao mar, que já foi razoável delícia, passou a ser um pecado, depois que se desinventou a relação entre homem, paisagem e moradia. Tudo forma uma cidade só, torpe e triste, mais triste talvez que torpe. O progresso técnico teve isto de retrógrado: esqueceu­-se completamente do fim a que se propusera, ou devia ter­-se proposto. Acabou com qualquer veleidade de amar a vida, que ele tornou muito confortável, mas invisível. Fez­-se numa escala de massas, esquecendo­-se do indivíduo, e nenhuma central elétrica de milhões de kW será capaz de produzir aquilo de que precisamente cada um de nós carece na cidade excessivamente iluminada: uma certa penumbra. O progresso nos dá tanta coisa, que não nos sobra nada nem para pedir nem para desejar nem para jogar fora. Tudo é inútil e atravancador. A ilha sugere uma negação disto.

A ilha deve ser o quantum satis selvagem, sem bichos superiores à força e ao medo do homem. Mas precisa ter bichos, principalmente os de plumagem gloriosa, com alguns exemplares mais meigos. As cores do cinema enjoam­-nos do colorido, e só uma cura de autenticidade nos reconciliará com os nossos olhos doentes. Já que não há mais vestidos de cores puras e naturais (de que má pintura moderna se vestem as mulheres do nosso tempo?), peçamos a araras e periquitos, e a algum suave pássaro de colo mimoso, que nos propiciem as sensações delicadas de uma vista voluptuosa, minudente e repousada.

Para esta ilha sóbria não se levará bíblia nem se carregarão discos. Algum amigo que saiba contar histórias está naturalmente convidado. Bem como alguma amiga de voz doce ou quente, que não abuse muito dessa prenda. Haverá pedras à mão — cascalho miúdo — que se possa lançar ao céu, a título de advertência, quando demasiada arte puser em perigo o ruminar bucólico da ilha. Não vejo inconveniente na entrada sub­-reptícia de jornais. Servem para embrulho, e nas costas do noticiário político ou esportivo há sempre um anúncio de filme em reprise, invocativo, ou qualquer vaga menção a algum vago evento que, por obscuro mecanismo, desperte em nós fundas e gratas emoções retrospectivas. Nossa vida interior tende à inércia. E bem­-vinda é a provocação que lhe avive a sensibilidade, impelindo­-a aos devaneios que formam uma crônica particular do homem, passada muitas vezes dentro dele, somente, mas compensando em variedade ou em profundeza o medíocre da vida social.

Serão admitidos poetas? Em que número? Se foram proscritos das repúblicas ideais e das outras, pareceria cruel bani­-los também da ilha de recreio. Contudo, devem comportar­-se como se poetas não fossem: pondo de lado os tiques profissionais, o tecnicismo, a excessiva preocupação literária, o misto de esteticismo e frialdade que costuma necrosar os artistas. Sejam homens razoáveis, carentes, humildes, inclinados à pesca e à corrida a pé, saibam fazer alguma coisa simples para o estômago, no fogão improvisado. Não levem para a ilha os problemas de hegemonia e ciúme.

*

Por aí se observa que a ilha mais paradisíaca pede regulamentação e que os perigos da convivência urbana estão presentes. Tanto melhor, porque não se quer uma ilha perfeita, senão um modesto território banhado de água por todos os lados e onde não seja obrigatório salvar o mundo.

A ideia de fuga tem sido alvo de crítica severa e indiscriminada nos últimos anos, como se fosse ignominioso, por exemplo, fugir de um perigo, de um sofrimento, de uma caceteação. Como se devesse o homem consumir­-se numa fogueira perene, sem carinho para com as partes cândidas ou pueris dele mesmo, que cumpre preservar principalmente em vista de uma possível felicidade coletivista no futuro. Se se trata de harmonizar o homem com o mundo, não se vê porque essa harmonia só será obtida através do extermínio generalizado e da autopunição dos melhores. Pois afinal, o que se recomenda aos homens é apenas isto: “Sejam infelizes, aborreçam o mais possível aos seus semelhantes, recusem­-se a qualquer comiseração, façam do ódio um motor político. Assim atingirão o amor.” Obtida a esse preço a cidade futura, nela já não haveria o que amar.

Chega­-se a um ponto em que convém fugir menos da malignidade dos homens do que da sua bondade incandescente. Por bondade abstrata nos tornamos atrozes. E o pensamento de salvar o mundo é dos que acarretam as mais copiosas — e inúteis — carnificinas.

Estas reflexões descosidas procuram apenas recordar que há motivos para ir às ilhas, quando menos para não participar de crimes e equívocos mentais generalizados. São motivos éticos, tão respeitáveis quanto os que impelem à ação o temperamento sôfrego. A ilha é meditação despojada, renúncia ao desejo de influir e de atrair. Por ser muitas vezes uma desilusão, paga­-se relativamente caro. Mas todo o peso dos ataques desfechados contra o pequeno Robinson moderno, que se alongou das rixas miúdas, significa tão somente que ele tinha razão em não contribuir para agravá­-las. Em geral, não se pedem companheiros, mas cúmplices. E este é o risco da convivência ideológica.

Por outro lado, há um certo gosto em pensar sozinho. É ato individual, como nascer e morrer.

A ilha é, afinal de contas, o refúgio último da liberdade, que em toda parte se busca destruir. Amemos a ilha.

Passeios na ilha: subúrbios da calma. In: Obra completa, p. 625­-628.

Texto II

Post­-scriptum sobre as sociedades de controle

Gilles Delleuze

Foucault situou as sociedades disciplinares nos séculos XVIII e XIX; atingem seu apogeu no início do século XX. Elas procedem à organização dos grandes meios de confinamento. O indivíduo não cessa de passar de um espaço fechado a outro, cada um com suas leis: primeiro a família, depois a escola (“você não está mais na sua família”), depois a caserna (“você não está mais na escola”), depois a fábrica, de vez em quando o hospital, eventualmente a prisão, que é o meio de confinamento por excelência. É a prisão que serve de modelo analógico: a heroína de Europa 51 pode exclamar, ao ver operários, “pensei estar vendo condenados...”. Foucault analisou muito bem o projeto ideal dos meios de confinamento, visível especialmente na fábrica: concentrar; distribuir no espaço; ordenar no tempo; compor no espaço­-tempo uma força produtiva cujo efeito deve ser superior à soma das forças elementares. Mas o que Foucault também sabia era da brevidade deste modelo: ele sucedia às sociedades de soberania cujo objetivo e funções eram completamente diferentes (açambarcar, mais do que organizar a produção, decidir sobre a morte mais do que gerir a vida); a transição foi feita progressivamente, e Napoleão parece ter operado a grande conversão de uma sociedade na outra. Mas as disciplinas, por sua vez, também conheceriam uma crise, em favor de novas forças que se instalavam lentamente e que se precipitariam depois da Segunda Guerra mundial: sociedades disciplinares é o que não éramos mais, o que deixávamos de ser.

Encontramo­-nos numa crise generalizada de todos os meios de confinamento, prisão, hospital, fábrica, escola, família. A família é um “interior”, em crise como qualquer outro interior, escolar, profissional etc. Os ministros competentes não param de anunciar reformas supostamente necessárias. Reformar a escola, reformar a indústria, o hospital, o exército, a prisão; mas todos sabem que estas instituições estão condenadas, num prazo mais ou menos longo. Trata­-se apenas de gerir sua agonia e ocupar as pessoas, até a instalação das novas forças que se anunciam. São as sociedades de controle que estão substituindo as sociedades disciplinares. “Controle” é o nome que Burroughs propõe para designar o novo monstro, e que Foucault reconhece como nosso futuro próximo. Paul Virilio também analisa sem parar as formas ultrarrápidas de controle ao ar livre, que substituem as antigas disciplinas que operavam na duração de um sistema fechado. Não cabe invocar produções farmacêuticas extraordinárias, formações nucleares, manipulações genéticas, ainda que elas sejam destinadas a intervir no novo processo. Não se deve perguntar qual é o regime mais duro, ou o mais tolerável, pois é em cada um deles que se enfrentam as liberações e as sujeições. Por exemplo, na crise do hospital como meio de confinamento, a setorização, os hospitais­-dia, o atendimento em domicílio puderam marcar de início novas liberdades, mas também passaram a integrar mecanismos de controle que rivalizam com os mais duros confinamentos. Não cabe temer ou esperar, mas buscar novas armas.

II. Lógica

Os diferentes internatos ou meios de confinamento pelos quais passa o indivíduo são variáveis independentes: supõe­-se que a cada vez ele recomece do zero, e a linguagem comum a todos esses meios existe, mas é analógica. Ao passo que os diferentes modos de controle, os controlados, são variações inseparáveis, formando um sistema de geometria variável cuja linguagem é numérica (o que não quer dizer necessariamente binária). Os confinamentos são moldes, distintas moldagens, mas os controles são uma modulação, como uma moldagem autodeformante que mudasse continuamente, a cada instante, ou como uma peneira cujas malhas mudassem de um ponto a outro. (...)

Nas sociedades de disciplina não se parava de recomeçar (da escola à caserna, da caserna à fábrica), enquanto nas sociedades de controle nunca se termina nada, a empresa, a formação, o serviço sendo os estados metaestáveis e coexistentes da mesma modulação, como que de um deformador universal. Kafka, que já se instalava no cruzamento dos dois tipos de sociedade, descreveu em O processo as formas jurídicas mais temíveis: a quitação aparente das sociedades disciplinares (entre dois confinamentos), a moratória ilimitada das sociedades de controle (em variação contínua) são dois modos de vida jurídicos muito diferentes, e se nosso direito, ele mesmo em crise, hesita entre ambos, é porque saímos de um para entrar no outro. As sociedades disciplinares têm dois polos: a assinatura que indica o indivíduo, e o número de matrícula que indica sua posição numa massa. É que as disciplinas nunca viram incompatibilidade entre os dois, e é ao mesmo tempo que o poder é massificante e individuante, isto é, constitui num corpo único aqueles sobre os quais se exerce, e molda a individualidade de cada membro do corpo (Foucault via a origem desse duplo cuidado no poder pastoral do sacerdote — o rebanho e cada um dos animais —, mas o poder civil, por sua vez, iria converter­-se em “pastor” laico por outros meios). Nas sociedades de controle, ao contrário, o essencial não é mais uma assinatura nem um número, mas uma cifra, ao passo que as sociedades disciplinares são reguladas por palavras de ordem (tanto do ponto de vista da integração quanto da resistência). A linguagem numérica do controle é feita de cifras, que marcam o acesso à informação, ou a rejeição. Não se está diante do par massa­-indivíduo. Os indivíduos tornaram­-se “dividuais”, divisíveis, e as massas tornaram­-se amostras, dados, mercados ou “bancos”. É o dinheiro que talvez melhor exprima a distinção entre as duas sociedades, visto que a disciplina sempre se referiu a moedas cunhadas em ouro — este servia de medida­-padrão —, ao passo que o controle remete a trocas flutuantes, modulações que fazem intervir como cifra uma percentagem de diferentes amostras de moeda. A velha toupeira monetária é o animal dos meios de confinamento, mas a serpente o é das sociedades de controle. Passamos de um animal a outro, da toupeira à serpente, no regime em que vivemos, mas também na nossa maneira de viver e nas nossas relações com outrem. O homem da disciplina era um produtor descontínuo de energia, mas o homem do controle é antes ondulatório, funcionando em órbita, num feixe contínuo. Por toda parte o surf já substituiu os antigos esportes.

L’Autre Journal, n. 1, maio/1990. In: Conversações, p. 219­-226.

Texto III

[Do livre-arbítrio]

Fernando Pessoa

A ideia do LIVRE-ARBÍTRIO, na minha opinião, tem o seu princípio na aplicação ao mundo moral da ideia primitiva e natural de liberdade física. Esta aplicação, esta analogia é inconsciente; e é também falsa. É, repito, um daqueles erros inconscientes que nós cometemos; um daqueles falsos raciocínios nos quais tantas vezes e tão naturalmente caímos. Schopenhauer mostrou que a primitiva noção de liberdade é a “ausência de obstáculos”, uma noção puramente física. E na nossa concepção humana de liberdade a noção persiste. Ninguém toma um idiota, ou louco por responsável. Por quê? Porque ele concebe uma coisa no cérebro como um obstáculo a um verdadeiro juízo.

A ideia de liberdade é uma ideia puramente metafísica.

A ideia primária é a ideia de responsabilidade que é somente a aplicação da ideia de causa, pela referência de um efeito à sua Causa. “Uma pessoa bate­-me; eu bato àquela em defesa.” A primeira atingiu a segunda e matou­-a. Eu vi tudo. Essa pessoa é a Causa da morte da outra. Tudo isto é inteiramente verdade.

Assim se vê que a ideia de livre-arbítrio não é de modo algum primitiva; essa responsabilidade, fundada numa legítima mas ignorante aplicação do princípio de Causalidade, é a ideia realmente primitiva. Ao princípio o homem não é consciente senão da liberdade física. Ao princípio não há um tal estado metafísico da mente. A ideia de liberdade apareceu pela razão, é metafísica, portanto, sujeita a erro.

A opinião popular, pelo que vimos, põe o elemento real de liberdade moral no juízo, na consideração, no poder de percepção, para distinguir o bem do mal, para os discutir mentalmente. Mas esta afirmação é falsa. A concepção popular é esta: esse juízo é o que considera uma coisa, decidindo se ela é boa ou má. Na opinião popular, é esta faculdade que nos diz que uma coisa é boa ou má; é, pensa­-se, o elemento do bem em nós. O povo pensa que, se eu noto que uma ação é má e não obstante eu a pratico, eu sou réu do mal.

A ideia de liberdade moral não é de modo nenhum primitiva, nem mesmo de hoje, na mente popular, ou hipoteticamente, em qualquer mente culta que ignore inteiramente a questão. É uma ideia adquirida pela razão, uma ideia filosófica. Primitivamente não há nem senso moral de liberdade nem um senso de determinismo. É inútil pensar que um selvagem tenha um senso de liberdade moral.

O homem é um animal perfeito e o único senso primitivo neste caso é o senso de liberdade física. “Eu posso fazer o que quero.” Disto não há dúvida, evidentemente. Até agora eu não estou prisioneiro, nem paralítico, nem ligado por qualquer obstáculo físico, eu sou livre: posso fazer o que quero. “Mas posso eu querer o que quero e não querer nada mais?” Eis aqui a grande questão. Ora, esta inconsciência primitiva, para que lado pende mais: para o livre-arbítrio ou para o determinismo?

[Manuscrito 1906?] Ideias filosóficas. In: Obras em prosa, p. 536­-537 (com adaptações)

Parte I — Redação

Valendo­-se da leitura dos textos I, II e III, disserte sobre o tema suscitado por Rui Barbosa no seguinte trecho:

A presunção de liberdade, com efeito, não é apenas um direito natural na acepção mais ou menos arbitrária ligada a esse vocábulo pela escola metafísica que procura o ideal do direito numa concepção abstrata da natureza humana, mas no sentido histórico. Ela é a expressão de uma necessidade orgânica das relações do homem com o homem entre as sociedades iniciadas na civilização.

Extensão: de 400 a 500 palavras (valor: setenta pontos).

Parte II — Resumo

Resuma o conceito de “liberdade” formulado exclusivamente nos textos I, II e III. Extensão: de 200 a 250 palavras (valor: trinta pontos).

10.9. Temas Técnicos

Algumas redações cobram temas técnicos, ou seja, o tema para a redação é um dos assuntos constantes no conteúdo programático da prova objetiva, para um cargo específico.

Vejamos abaixo alguns exemplos. Note que o tema da redação tem a ver com o cargo em si, ou seja, com os conhecimentos técnicos que o cargo exige.

FCC — Advogado — Nossa Caixa — fev./2011

1. Sua redação deve ter no mínimo 20 e no máximo 30 linhas, considerando­-se letra de tamanho regular.

2. Discorra fundamentadamente sobre o conceito, a natureza jurídica e a finalidade da ação monitória.

Cespe­-UnB — Assistente CNPq — 2011

Faça o que se pede a seguir, usando o espaço para rascunho indicado no presente caderno. Em seguida, transcreva o texto para a FOLHA DE TEXTO DEFINITIVO DA PROVA DISCURSIVA, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de linhas disponibilizadas será desconsiderado.

Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas no cabeçalho da primeira página, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

Nas organizações, a criação de um programa de gestão de documentos tem, entre outras, a finalidade de estabelecer procedimentos para o controle do fluxo de documentos que são produzidos e recebidos. A distribuição aos diversos setores da organização, o registro e o controle da tramitação desses documentos constituem atividades, hoje, sob a responsabilidade de uma unidade específica, chamada protocolo ou protocolo e arquivo, comunicação administrativa, documentação e comunicação administrativa, entre outras denominações.

Considerando o fragmento de texto acima, que tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo sobre as atividades de protocolo nas organizações, abordando, necessariamente, os seguintes aspectos:

— entrada e saída de documentos;

— registro de documentos;

— tramitação de documentos.

FCC — TRT 14a R. — Analista Judiciário — Especialidade Tecnologia da Informação — abr./2011

Atenção: A Prova Discursiva — Redação deverá ter extensão mínima de 20 e máxima de 30 linhas.

1. Defina a UML e o polimorfismo.

2. Relacione:

a. os componentes básicos principais utilizados nos diagramas de caso de uso e de sequência.

b. os compartimentos principais utilizados na representação de uma classe.

3. Descreva o principal objetivo das camadas de transporte, de enlace e de rede do modelo de referência OSI.

Tribunal Regional Eleitoral — Santa Catarina

A democracia contemporânea é representativa, em substituição à democracia direta criada nos tempos da Grécia clássica, sendo marcada pelo direito de votar e ser votado.

O sistema eleitoral brasileiro, tendo adotado a representação proporcional em seu antigo Código Eleitoral, mantém atualmente disciplinamento de coligações em conformidade com a Lei n. 9.504/97, que trata das eleições.

Discorra sobre a abrangência das coligações nas eleições, não somente admitidas para as eleições obedientes ao princípio proporcional, mas também previstas atualmente na legislação eleitoral, e, ainda, esclareça sobre a denominada “verticalização das eleições”, conforme é reconhecida pelo egrégio Tribunal Superior Eleitoral.

Cespe­-UnB — IBAMA — Regulação, Controle, Fiscalização, Licenciamento e Auditoria Ambiental

Nesta prova — que vale dez pontos, faça o que se pede, usando o espaço indicado no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a folha de TEXTO DEFINITIVO da prova discursiva, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de textos escritos em locais indevidos.

Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de trinta linhas será desconsiderado.

Na folha de texto definitivo, identifique­-se apenas na capa, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

Foi realizado o estudo de impacto ambiental da construção de uma pequena central hidrelétrica (PCH) em uma bacia hidrográfica de região do cerrado, com diferentes alternativas de localização de barragens em meio à rede de drenagem da bacia. Nessa bacia hidrográfica, verificam­-se diversas formas de uso e ocupação da terra, manchas de vegetação nativa distribuídas em isolados espaciais e grande concentração de áreas de preservação permanente.

Como o estudo deveria considerar múltiplos impactos, entre os técnicos contratados para compor a equipe e trabalho, um deles enfocaria um único aspecto: conservação da biodiversidade terrestre. A tarefa desse técnico era explicar como tal estudo deveria ser conduzido para avaliar o impacto das diversas alternativas de execução do empreendimento sobre a conservação da biodiversidade terrestre e apresentar um resultado conclusivo para a tomada de decisão, considerando que a barragem e a consequente formação de reservatório, mesmo nas PCHs, representam uma fragmentação do hábitat.

Foram admitidas três possibilidades de localização da PCH e duas alternativas de quotas para o nível máximo do reservatório para cada localização da PCH. Como referência de impacto, foi considerada uma espécie de mamífero de ambiente arbóreo com deslocamento severamente limitado em cursos d’água largos e ambientes antrópicos e limitado parcialmente em área de campo sujo.

Considerando essa situação hipotética, redija um texto dissertativo em que constem, em ordem sequencial, as etapas do trabalho a ser realizado pelo técnico, a execução por geoprocessamento e breve justificativa técnica, de forma a apontar um resultado conclusivo para a tomada de decisão para a situação descrita acima.

10.10. Estudo de Casos

O estudo de casos é um tipo de exercício de redação em que o candidato resolve um problema proposto, geralmente em no máximo vinte linhas.

A resposta deve seguir todos os preceitos vistos até aqui para a dissertação: introdução, desenvolvimento e conclusão, porém — como se trata de resposta a um problema proposto — deve­-se fazer isso tudo em um único parágrafo.

A resposta terá, então: uma frase síntese (introdução), em que se apresenta o problema; frase de desenvolvimento, em que se resolve o problema; e uma frase conclusiva.

Vejamos isso em alguns textos:

Texto I

Gente bem qualificada é um ativo com importância cada vez mais óbvia. Nestes primeiros anos do novo milênio, passados os solavancos provocados pelas reestruturações, fusões, aquisições, trocas de mão de obra por tecnologias e com a estrada pavimentada pelas crescentes exportações de produtos nacionais — alimentos, bebidas, couro, têxteis, sucos, calçados e vestuário —, a indústria brasileira de bens de consumo busca avidamente capitais humanos de alta qualidade para suas necessidades presentes e futuras. As empresas mais conscientes de que tais carências podem afetar bastante a sustentação do crescimento acelerado do setor têm bastante claro que a gestão do capital humano, numa perspectiva temporal de longo prazo, é tão crítica para o êxito empresarial quanto dispor de fundos a custo competitivo, tecnologia avançada e clientes satisfeitos. Gente bem qualificada e motivada é um ativo cuja importância é cada vez mais óbvia para os que investem na indústria de bens de consumo e fator decisivo para se obter níveis de desempenho diferenciados.[11]

Texto II

A população sertaneja é e será monarquista por muito tempo, porque no estádio inferior da evolução social em que se acha, falece­-lhe a precisa capacidade mental para compreender e aceitar a substituição do representante concreto do poder pela abstração que ele encarna, pela lei. Ela carece instintivamente de um rei, de um chefe, de um homem que a dirija, que a conduza e, por muito tempo ainda, o Presidente da República, os presidentes dos estados, os chefes políticos locais serão o seu rei, como, na sua inferioridade religiosa, o sacerdote e as imagens continuam a ser os seus deuses. Serão monarquistas como são fetichistas, menos por ignorância do que por um desenvolvimento intelectual, ético e religioso, insuficiente ou incompleto.[12]

Texto III

Li que a espécie humana é um sucesso sem precedentes. Nenhuma outra com uma proporção parecida de peso e volume se iguala à nossa em termos de sobrevivência e proliferação. E tudo se deve à agricultura. Como controlamos a produção do nosso próprio alimento, somos a primeira espécie na história do planeta a poder viver fora de seu ecossistema de nascença. Isso nos deu mobilidade e a sociabilidade que nos salvaram do processo de seleção, que limitou outros bichos de tamanho equivalente. É por isso que não temos mudado muito, mas não nos extinguimos.[13]

Esses trechos poderiam ser separados em três parágrafos: introdução, desenvolvimento e conclusão. Vejamos como ficam:

Texto I — reescrito

Gente bem qualificada é um ativo com importância cada vez mais óbvia.

Nestes primeiros anos do novo milênio, passados os solavancos provocados pelas reestruturações, fusões, aquisições, trocas de mão de obra por tecnologias e com a estrada pavimentada pelas crescentes exportações de produtos nacionais — alimentos, bebidas, couro, têxteis, sucos, calçados e vestuário —, a indústria brasileira de bens de consumo busca avidamente capitais humanos de alta qualidade para suas necessidades presentes e futuras. As empresas mais conscientes de que tais carências podem afetar bastante a sustentação do crescimento acelerado do setor têm bastante claro que a gestão do capital humano, numa perspectiva temporal de longo prazo, é tão crítica para o êxito empresarial quanto dispor de fundos a custo competitivo, tecnologia avançada e clientes satisfeitos.

Gente bem qualificada e motivada é um ativo cuja importância é cada vez mais óbvia para os que investem na indústria de bens de consumo e fator decisivo para se obter níveis de desempenho diferenciados.

Texto IIreescrito

A população sertaneja é e será monarquista por muito tempo.

No estádio inferior da evolução social em que se acha, falece­-lhe a precisa capacidade mental para compreender e aceitar a substituição do representante concreto do poder pela abstração que ele encarna, pela lei. Ela carece instintivamente de um rei, de um chefe, de um homem que a dirija, que a conduza e, por muito tempo ainda, o Presidente da República, os presidentes dos estados, os chefes políticos locais serão o seu rei, como, na sua inferioridade religiosa, o sacerdote e as imagens continuam a ser os seus deuses.

Serão monarquistas como são fetichistas, menos por ignorância do que por um desenvolvimento intelectual, ético e religioso, insuficiente ou incompleto.

Texto IIIreescrito

Li que a espécie humana é um sucesso sem precedentes.

Nenhuma outra com uma proporção parecida de peso e volume se iguala à nossa em termos de sobrevivência e proliferação. E tudo se deve à agricultura. Como controlamos a produção do nosso próprio alimento, somos a primeira espécie na história do planeta a poder viver fora de seu ecossistema de nascença. Isso nos deu mobilidade e a sociabilidade que nos salvaram do processo de seleção, que limitou outros bichos de tamanho equivalente.

É por isso que não temos mudado muito, mas não nos extinguimos.

Curiosidade: Outra informação importante: mesmo que se faça uma pergunta que deva ser respondida, você deve dar a resposta organizando um parágrafo dissertativo, como acabamos de ver. Não comece a sua resposta com os tradicionais “Sim, porque...” ou “Não, porque...”.

Se a questão do estudo de caso for “O homem é sempre um ser racional?”, você jamais escreverá: “Sim, porque ele...” ou “Não, às vezes ele...”. Sua resposta deve ser: “O homem é sempre um ser racional, pois...” ou “O homem nem sempre é um ser racional, pois...”.

Vejamos agora alguns exemplos de provas em que se cobrou o estudo de casos.

Tribunal Regional Eleitoral — Santa Catarina

Através de ações de liderança, a ata administrativa pode estabelecer as condições necessárias para que os colaboradores sintam­-se à vontade e possibilitar a concretização de um sistema de gestão de qualidade.

Escreva uma redação, utilizando o mínimo de 10 (dez) e o máximo de 20 (vinte) linhas na folha de respostas da prova discursiva, a respeito dos princípios de gestão da qualidade que podem ser empregados por parte da alta administração para a melhoria contínua do serviço eleitoral.

Fundação ESAG — Tribunal Regional Eleitoral — Espírito Santo

1. O artigo 37, da Constituição Federal, estabelece princípios de direito administrativo que devem ser obedecidos pela administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. O artigo 2o, da Lei 9.784, de 29 de janeiro de 1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, especifica os princípios de direito administrativo que devem ser obedecidos pela Administração Pública. Escreva um texto, em forma de redação, utilizando­-se de 10 (dez) a 15 (quinze) linhas da folha de respostas da prova discursiva, iniciando na linha 1 (um), citando cada um dos princípios estabelecidos por estes artigos 37, da Constituição Federal, e 2o, da Lei 9.784/1999, e dando os respectivos conceitos.

2. A respeito das emendas que o poder legislativo pode inserir no projeto de lei da lei orçamentária, descreva, em forma de redação, utilizando­-se de 10 (dez) a 15 (quinze) linhas da folha de respostas da prova discursiva, iniciando na linha 16 (dezesseis), os prazos e condições estabelecidos pela Constituição Federal para que as mesmas possam ser consideradas normais.

Fundação ESAG — Tribunal Regional Eleitoral do Paraná — Analista Judiciário — Área Administrativa — 2004

1. O eleitor que deixar de votar nas eleições e não se justificar perante a Justiça Eleitoral incorrerá em multa imposta pelo Juiz Eleitoral.

— Qual o prazo para o eleitor justificar a sua ausência?

— Cite restrições impostas por lei ao eleitor que não votou, não se justificou devidamente ou não recolheu a respectiva multa imposta pela Justiça Eleitoral.

Escreva um texto, em forma de redação, utilizando­-se de 10 (dez) a 15 (quinze) linhas da folha de respostas da prova discursiva, iniciando na linha 1 (um), respondendo ao questionamento acima.

2. A respeito dos estágios de despesa orçamentária, legalmente exigidos, têm­-se o empenho, a liquidação e o pagamento. Escreva, em forma de redação, utilizando­-se de 10 (dez) a 15 (quinze) linhas da folha de respostas da prova discursiva, iniciando na linha 16 (dezesseis), a respeito de cada um deles e da sequência a respeitar quando se trata de realizar uma despesa orçamentária.

1 CONY, Carlos Heitor. Folha de S.Paulo. São Paulo, 17 de abril de 1994.

2 ROCHA, Ruth. Enquanto o mundo pega fogo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

3 VIEIRA, Pe. Antonio. Os sermões. São Paulo: Difel, 1968. VI, p. 99.

4 SAVIOLI, Francisco Platão; FIORIN, José Luiz. Para entender o texto — leitura e redação. 6. ed. São Paulo: Ática, 1998.

5 Releia no capítulo sobre “Interpretação de Texto” os Níveis de Linguagem.

6 ROCCO, Maria Thereza Fraga. Crise na linguagem: redação no vestibular. São Paulo: Mestre Jou, 1981.

7 BIONDI, Aloysio. Shopping News, 25.05.1995.

8 ALENCAR, José de. O Guarani. 20. ed. São Paulo: Ática, 1996.

9 SOUZA, Maria Anunciação. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/29575/A-Identi­dade-­da-Mulher-e-do-Homem-na-Sociedade-Atual-/pagina1.html#ixzz1PBHTvD6k. Publicado em: 7 dez. 2009. Acesso em: 13 jul. 2011.

10 Você pode assumir qualquer posicionamento, até mesmo contrariando o argumento do texto motivador, mas é muito mais fácil seguir o direcionamento dado por ele.

11 RAMIREZ, Francisco Ropero. Gazeta Mercantil, 22.06.2005.

12 NINA RODRIGUES, Raimundo. As coletividades anormais. São Paulo: Nacional, 1939.

13 VERÍSSIMO, Luis Fernando. Recursos Humanos. In: Roitmam, Ari (Org.). O desafio ético. Rio de Janeiro: Garamond, 2000.