CAPÍTULO 54

LEONARDO

– O que quer dizer com isso do controlo do planeta? – quis saber Marta, não conseguindo manter a serenidade demonstrada pelo parceiro.

Leonardo aguardava pacientemente o esclarecimento de Andreia como se estivesse numa loja à espera da sua vez. Mas, na verdade, contava com a irreverência de Marta para manter a conversa no rumo certo e para que ele pudesse estar atento às expressões faciais de todos os elementos da reunião. Por vezes, descobria coisas interessantíssimas pelo olhar.

Eram uma boa dupla.

– Antigamente – começou Andreia, fazendo com que Marta suspirasse de frustração ao perceber que a revelação ainda iria demorar –, as guerras entre os povos eram travadas corpo a corpo, aço contra aço, olhos nos olhos. A tecnologia foi evoluindo e surgiram as armas automáticas, como as espingardas, e as guerras começaram a ser travadas a uma distância maior. Depois, foram surgindo cada vez mais e melhores armas, mais sofisticadas, até que chegámos ao ponto em que uma guerra pode ser travada a partir de casa. Bastando, para isso, carregar num botão para que um míssil ou uma bomba atómica possa arrasar por completo uma cidade, numa questão de segundos.

– E o que tem isso que ver com o projeto Segredo Mortal? – pressionou-a Marta.

Andreia mostrou-se pesarosa. Leonardo esboçou um sorriso impercetível. Há muito que não se sentia tão concentrado numa conversa.

– Tem tudo que ver. Há sempre o mesmo problema, apesar da cada vez maior sofisticação do armamento. E é um dos problemas que o projeto Segredo Mortal vem eliminar.

Leonardo observou pelo canto do olho que a colega batia ritmicamente com o pé no chão, a impaciência a aumentar perante tantos rodeios.

– E qual é esse problema?

Andreia abriu os braços, como se fosse uma resposta lógica até para um leigo.

– O problema é que o país afetado sabe sempre a identidade de quem o atacou, mesmo que seja com uma bomba atómica ou um míssil de longo alcance.

Marta inclinou o corpo para mais perto da mesa, como que receosa de perder algum bit de informação. O tom de voz da física baixara ainda mais. Estavam a chegar a um ponto bastante sensível da discussão.

– Está a querer dizer que o projeto Segredo Mortal concebeu uma maneira de atacar um país, sem o agressor ser identificado?

Andreia recostou-se na cadeira e assentiu com muita hesitação, como se, a partir daquele momento, não pudesse voltar atrás. Tinha mesmo de ir até ao fim, uma vez que eles já sabiam demasiado. Leonardo manteve-se na mesma posição confortável e expetante.

– Exatamente.

Marta abriu a boca de espanto.

– Mas… como é isso possível?

– É possível se o país atacado… não souber que está a sê-lo, efetivamente.

Esta frase confundiu ambos os inspetores. Parecia impossível ir para onde ela queria dirigir-se. Até Leonardo começou a duvidar das palavras de Andreia. Mas o silêncio dos restantes membros do projeto Segredo Mortal ali presentes só podia significar que concordavam com o que ela dizia.

– Como é que um país é atacado e não tem noção disso? É impossível…

Leonardo também não conseguia arranjar uma explicação plausível para o que Andreia afirmava.

– Há mesmo uma forma de atacar um país sem que ele saiba que está a ser atacado? – questionou, pela primeira vez, Leonardo, reforçando a posição da companheira, para arrancar mais rapidamente a resposta da física.

Andreia parecia já esperar aquela reação por parte dos inspetores.

– Sim. Ocorreram vários exemplos nos últimos anos, dos quais ninguém suspeita, o que só confirma o que acabei de dizer.

Os dois inspetores estavam a anos-luz do que Andreia pretendia dizer. A situação começava a tornar-se exasperante. Precisavam de saber tudo.

Agora.

– Andreia, por favor, diga logo que tipo de arma é essa que não deixa qualquer impressão digital do agressor – pediu Leonardo, mantendo-se calmo, mas transparecendo a sua impaciência no tom de voz.

A profissional do ITN desfrutou dos breves momentos em que Leonardo e Marta tinham todos os seus pensamentos e todas as suas células focadas nela. Fazia-a sentir-se o centro das atenções, algo que ela parecia adorar.

Andreia inspirou antes de falar novamente. Cada palavra foi bebida pelos inspetores como se fosse a última gota de água num deserto imenso.

– Estou a referir-me à guerra meteorológica – anunciou. – Já ouviram falar da chamada weather warfare?