Capítulo 1

Califórnia, 22 de maio de 1995

Será que realmente existe amor à primeira vista?

Foi o que aconteceu com Sam e Kate no momento em que seus olhares se cruzaram numa tarde quente de maio, enquanto a música dos Beach Boys tocava no rádio daquele bar da Califórnia.

Michael, amigo de Sam, percebeu como ele olhava todo bobo para aquela loura no grupo ao fundo.

— Tem um corpo bonito? — comentou Michael.

— Tem muito mais coisa do que você está vendo — respondeu, sem conseguir parar de olhá-la.

— Sam... Não me assusta... O que deu em você?

— Não sei, mas acho que me apaixonei.

— Ai, meu Deus — gritou Michael. — Alguém ajuda! Sam vai ter um troço!

— Cala a boca, idiota — disse Sam, rindo, ao se dar conta de que ela também o olhava.

Não conseguia tirar os olhos daquela garota. Era linda. Tinha cabelo louro que reluzia e uns olhos verdes encantadores que o deixaram sem ar assim que ele a viu. Estava maravilhosa naquele macacão jeans. E a camiseta branca destacava sua pele bronzeada.

— É a coisa mais bonita que já vi em toda minha vida — sussurrou, atordoado.

— Nada mau — reconheceu Michael, depois de olhar para a garota de cabelos louros compridos.

Do outro lado do balcão, Kate também não conseguia tirar os olhos do rapaz. Não era a primeira vez que o via. Mas, ao notar que ele também a observava, ficou meio inibida.

— Kate — perguntou Shalma —, aquele não é o carinha da praia?

— É — respondeu ela depois de dar um gole em sua Coca-Cola.

— Cara... ele está te comendo com os olhos.

— Não exagera — falou Kate, embora soubesse que era verdade.

— Melhor assim, garota. Mais um pouco o curso acaba e ele não tinha notado você.

Shalma tinha razão. Kate havia reparado nele um mês depois de começar a estudar ali. Mas ele estava sempre ocupado demais com seus amigos, o surfe e as garotas para prestar atenção em outra coisa. Só que hoje, sem saber por quê, seus olhares acabaram se encontrando. Muitas tardes, Kate descia até a praia, sentava na areia para ler e de lá observava Sam surfar com o amigo. Aquele cara moreno que parecia sua sombra, embora na realidade ela não soubesse quem era sombra de quem. O fato é que sempre estavam juntos. Várias vezes, principalmente quando o mar estava mais forte, era só se aproximar da praia que já dava para vê-los nas ondas. Os dois eram ótimos surfistas. Era só ficar olhando um pouco e você já sacava que eles sabiam muito bem o que estavam fazendo, quando entravam no mar com suas pranchas.

Kate adorava observá-los. Eram atraentes, descontraídos e com um look casual. Deviam medir 1,90 metro e tinham a pele morena e os cabelos pretos como carvão, sempre presos num rabo de cavalo, e, como dizia Shalma, seus corpos atléticos e musculosos eram de tirar o fôlego. Seus sorrisos e um quê de polinésio os tornavam especiais. Embora no amigo de Sam isso talvez fosse ainda mais perceptível do que nele.

Sentindo calor, Kate deixou o copo em cima do balcão e foi até o banheiro jogar um pouco de água na nuca. Estava tão nervosa que suas mãos suavam. Ao sair de lá, percebeu alguém se aproximando.

— Está quente, né?

— É — conseguiu responder Kate ao ver de quem era aquela voz.

Sam não queria perder a chance de falar com ela.

— Oi, meu nome é Sam Malcovich — disse, sorrindo, e estendeu a mão.

— E eu sou Michael Talaua — falou o amigo, mas, ao ver Sam fuzilando-o com o olhar, acrescentou em seguida: — E eu já estava de saída. Tchau.

— Prazer — respondeu a jovem, abrindo um sorriso e cravando seus olhos em Sam. — Me chamo Kate Dallet.

Capítulo 2

Os meses passaram e a magia entre Kate e Sam surgiu de forma selvagem, como costuma ocorrer quando as flechas do cupido atingem o coração. Muitas tardes, Kate esperava Sam e Michael terminarem o expediente na lanchonete para sair com eles, especialmente com Sam. Foram muitas as madrugadas em que Kate ia até a praia para vê-los surfar. No início Shalma os acompanhava, mas com o tempo foi se cansando e preferia ficar na cama. Um dia, enquanto Kate os observava divertindo-se com as ondas, decidiu que queria saber mais sobre o esporte que eles tanto adoravam, e, quando Sam saiu da água e se atirou na areia ao seu lado, ela disse:

— Quero que você me fale mais sobre o surfe.

— O que você quer saber? — Ele a olhava enquanto gotas de água salgada escorriam de um jeito provocante dos cabelos dela.

— O que você quiser — respondeu, beijando-o.

— Ok, princesa — concordou ele e, jogando o cabelo para trás, começou: — Vou te contar o que Mahuto contava pra gente. Era um cara mais velho que morava ao lado da nossa casa. Um velho surfista que sempre dizia que o surfe era um dos esportes mais antigos do mundo. Pelo que ele contava, na antiguidade os polinésios faziam campeonatos que eram considerados verdadeiros duelos: por amor ou qualquer outro tipo.

— Duelos? — perguntou Kate, sorrindo.

— O duelo consistia em pegar onda nos pontos mais arriscados. Mahuto disse que era raro um fim de semana sem algum duelo desses. Conta-se que já em 1770 o capitão James Cook descreveu em seu diário um estranho exercício que os nativos das minhas ilhas praticavam quando entravam no mar com suas pranchas de madeira e que chamavam de choroee, que pra eles significava “pegar onda” ou algo do gênero. O surfe sempre foi pra gente um modo de vida, e inclusive foram construídos templos chamados Heyau, onde se deixavam oferendas e onde o Kahuma, que significa “bruxo da tribo”, rezava pedindo boas ondas.

— É sério que rezavam pra ter boas ondas?

— É, sim, querida. Já te disse que lá no Havaí e nas outras ilhas o surfe é um modo de vida. Quer que eu continue?

— Claro. É muito interessante — respondeu Kate.

— Quando o capitão Cook morreu, um tal de James King também escreveu sobre os havaianos e sua forma particular de se divertir fazendo manobras perigosas e piruetas incríveis em cima de uma prancha no mar. Com o tempo, a Igreja se meteu na história. Não via com bons olhos os praticantes do esporte, e eles chegaram a ser acusados de indecentes por surfarem seminus. Por isso, durante um período, aquele fenômeno conhecido como choroee, junto com a dança do hula, foi duramente punido e as pessoas deixaram de praticá-lo com a liberdade de antes. Mas, como tudo nessa vida, com o tempo sempre aparece alguém pra ajudar a resgatar as coisas boas, e surgiram movimentos havaianos pela volta de seu passado e sua história, e assim o surfe recuperou a importância que sempre havia tido na ilha.

Kate o ouvia com atenção. Percebia o entusiasmo de Sam ao falar de sua terra natal.

— Falaram em John Papa Li, um homem que escreveu sobre como se praticava aquele esporte, mas principalmente destacaram os tipos de madeira usados para fazer aquelas pranchas maravilhosas, tratadas com óleos e essências. George Freeth, mais conhecido como Brown Mercury, foi um surfista meio irlandês, meio havaiano. Ele foi o primeiro a mostrar ao mundo o que era o surfe. Nos anos em que morou na Califórnia, dedicou-se a ensinar a todos que quisessem surfar ao estilo havaiano. Infelizmente morreu jovem, mas por sorte, pra gente e para o surfe, há em sua memória um busto de bronze em Redondo Beach, com uma placa que diz...

— “O primeiro surfista dos Estados Unidos, o jovem que recebeu a última arte da Polinésia, o surfe” — completou Michael, sentando-se ao lado deles.

— Muito bem, irmão — disse Michael, sorrindo, e continuou: — Duke Kahanawoku, entre outros, criou em Waikiki o clube de surfe Hui Nalo. Duke foi campeão olímpico de natação em 1912, e em 1915 a Austrália o convidou para visitar suas praias, em especial uma praia no norte de Sydney. Lá ele deu aulas de surfe e construiu uma prancha de madeira de sequoia que ficou superfamosa e que ainda está naquele clube australiano. O resto... você já pode imaginar. As pessoas de lá começaram a surfar, apesar de que, justiça seja feita, nós havaianos somos os reis desse esporte.

— Com certeza — comentou Michael, rindo ao ver como seu amigo se exibia para Kate.

— É fascinante — disse Kate, sorrindo também.

— Sim, o surfe é fascinante — respondeu Michael, olhando para o mar.

Na manhã seguinte, quando passaram para buscar Kate, os dois se surpreenderam ao vê-la enfiada num macacão de neoprene azul e com uma prancha debaixo do braço. Ao ver suas caras, ela não conseguiu segurar um risinho cúmplice.

— Desculpem, meninos, mas cansei de ficar só assistindo. Vocês vão ter que dedicar um tempinho pra me ensinar. Eu também quero me divertir, quero saber qual é a sensação de “pegar uma boa onda”, como vocês dizem.

— Beleza — disse Michael, sorrindo —, você está certa, Kate. É de garotas assim que eu gosto. Não tem nenhuma irmã, não?

Kate abriu um sorriso e olhou para cima, fingindo contrariedade.

— Essa é minha garota — falou Sam, orgulhoso, pegando-a pela cintura. — Cada dia estou mais louco por você. Vem, vamos até a praia.

E assim começaram as aulas de Kate. Os primeiros dias foram difíceis. O que ela mais fazia era engolir água e levar caldo. Mas logo lhe ensinaram que, para ficar em pé numa prancha, tinha que dividir o peso do corpo entre os pés, dobrar as pernas e inclinar o peito para a frente; explicaram o que era um take off, um tubo, um bico de pato e como equilibrar os ombros no sentido em que a onda quebrava para fazer um bottom turn e assim poder girar. Aprendeu que antes de entrar na água deveria sempre verificar onde estavam as rochas, a direção da correnteza e como eram as ondas. Também ensinaram que ela não deveria esperar ficar exausta para sair da água, mas sim quando sentisse frio ou percebesse os primeiros sinais de cansaço.

Praticando quase todos os dias e com uma tremenda força de vontade que surpreendeu os dois amigos, Kate conseguiu aprender e com o tempo começou a aproveitar. Assim, toda manhã, ela podia ser vista junto com eles indo até a praia com suas pranchas presas nos tornozelos e dançando sobre as ondas.

Capítulo 3

O curso acabou, as férias de verão também, e cada um deveria voltar as suas respectivas cidades. Kate, à sua elegante casa em Nova York; e Sam, junto com Michael, a Oahu, uma ilha no Havaí onde eles tinham crescido e onde dividiam uma bela casa de frente para o mar.

Mas, enquanto Kate voltava para sua família rica, os rapazes só tinham a si mesmos. Tinham se conhecido no abrigo para menores abandonados de Oahu e juraram um ao outro nunca se separar, uma promessa que até então haviam conseguido cumprir. Eram a única família que tinham, e isso era importante para os dois. Haviam sido abandonados por circunstâncias diferentes, mas com um pano de fundo parecido.

No caso de Sam, ele só foi saber quem eram seus pais verdadeiros quando atingiu a maioridade: seu pai era um inglês que chegara à ilha, e a mãe, uma moça chamada Thalma, rejeitada pela família por ter se apaixonado por um estrangeiro. O pequeno Sam ficou sozinho no mundo depois que seus pais morreram num trágico acidente de avião. Nem no Havaí nem em Londres quiseram assumir a guarda do menino de seis anos, e foi assim que ele acabou parando na grande casa amarela, onde a encantadora mãe Daula cuidou dele e fez todo o possível para transmitir os valores de uma família.

Michael, por sua vez, sabia apenas que seus pais tinham sido dois jovens nativos humildes e que, quando sua mãe, pressionada pelas pessoas a sua volta, o levou à casa amarela, implorou que se chamasse Michael. Ele também sabia que a mãe se chamava Thalia e que havia deixado ao menino a metade de um broche em formato de coração de prata muito trabalhado que mãe Daula lhe entregou quando ele fez 18 anos.

O tempo foi passando e, com o apoio que Daula lhes proporcionou, conseguiram terminar os estudos. Quando chegou a hora de irem para a universidade, matricularam-se numa faculdade estadual e cursaram Direito. Sempre acreditaram que essa carreira serviria para que eles ajudassem as pessoas, já que, com a vida que tiveram, conheciam muita gente a quem poderiam ser de grande ajuda.

Kate e Sam estavam desesperados. Era a primeira vez que ficariam alguns meses sem se ver, e isso partia o coração de Sam. Kate também desatava a chorar só de pensar nisso.

— Vou te ligar todos os dias — prometeu Sam enquanto a beijava. — Não se esqueça: eu te amo e vou te telefonar todos os dias, e não vou deixar de pensar em você em nenhum momento.

— Não me esqueça — sussurrou Kate, olhando-o fixamente.

Com ar apaixonado, Sam olhou para ela, deu um beijo doce em seus lábios e murmurou:

— Você é a coisa mais linda e importante que eu tenho, nem se eu quisesse poderia te esquecer.

E realmente não se esqueceu dela.

Naquele verão, ligou todo dia para sua casa, trabalhou o máximo que pôde e, quando já fazia quase dois meses que não a via, numa bela manhã apareceu de surpresa em Nova York com um enorme buquê de rosas. Tocou a campainha da casa de Kate, e quem abriu a porta foi Serena, a mãe dela. Ao ver aquele rapaz meio constrangido e com expressão séria, segurando um lindo buquê nas mãos, ela deduziu que era o tal do Sam, de quem sua filha tanto falava.

Esboçando um sorriso cúmplice, Serena chamou Kate. Assim que o viu, a garota se lançou em seus braços e o beijou na frente da mãe sem nenhum pudor. De início, Sam ficou espantado, mas, ao ver que Serena os observava sorridente, deixou cair o buquê, abraçou Kate e se sentiu feliz e aliviado por ter pegado aquele avião.

Serena estava encantada de ver sua filha tão alegre. Pôde comprovar em primeira mão que aquele rapaz era tão maravilhoso quanto Kate lhe dissera. Sam foi a Nova York acompanhado de Michael, que a princípio dissera a seu amigo que ele deveria ir sozinho. Mas Sam alegou que nunca o tinha deixado sozinho e que não faria isso agora. Foi então que juntaram suas economias e embarcaram juntos.

A irmã mais nova de Kate, Terry, teve de reconhecer que aqueles dois eram exatamente como sua irmã os havia descrito. O que Terry mais gostou neles foi o fato de serem tão diferentes dos caras que ela conhecia em Nova York. Seus amigos costumavam ser filhos de homens endinheirados que reclamavam por não ter tudo que queriam. Já aqueles dois ali não possuíam quase nada nem ninguém além deles mesmos, e, com sua coragem e vontade de viver, seguiam em frente sem se queixar. Logo se deixou seduzir ao ouvi-los falar de surfe, de ondas gigantescas, do mar, do céu estrelado etc. O que outros caras considerariam sem graça e chato, como contemplar as ­estrelas tendo o barulho do mar ao fundo, para Sam e Michael era maravilhoso.

Terry ficou impressionada com Michael... era muito lindo. Achava encantadores seus olhos negros puxados, cheios de vida, talvez os mais bonitos que ela já vira em seus 17 anos de vida. A calça jeans que não era de nenhuma marca famosa vestia superbem nele, e a camiseta verde que usava debaixo de uma jaqueta caía melhor nele do que em qualquer um.

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Nos anos seguintes, Sam e Michael se encarregaram de cuidar de cada uma das três mulheres que haviam entrado em suas vidas. E, quando terminaram a faculdade, na mesma noite da formatura, Sam pediu Kate em casamento. Ela aceitou. Casaram-se com uma festa super-romântica. De lua de mel, Sam a levou ao Havaí, onde, orgulhoso, apresentou Kate à mãe Daula. Pouco tempo depois, Shalma, a melhor amiga de Kate, casou-se grávida com um sujeito que não tinha nada a ver com ela. Teve gêmeos e se separou. Terry, a irmã maluquinha de Kate, depois de ir se esbaldar em Las Vegas e passar uma noite de farra total, amanheceu casada com um tal de Morgan. Aquilo caiu como uma bomba para sua mãe e foi um desgosto terrível para Michael.

Sam e Michael se estabeleceram definitivamente em Nova York e acabaram se adaptando à vida frenética da cidade, apesar de muitas vezes Kate os ouvir falar com saudade do Havaí, das ondas, dos amigos que tinham deixado para trás, da mãe Daula...

Com muito esforço, Kate e Sam conseguiram abrir seu próprio escritório: Dallet & Malcovich. Um negócio que logo começou a dar certo, mas que exigia deles muito trabalho, dedicação e energia.

Depois de algumas semanas especialmente estressantes para os dois, Sam e Kate decidiram reservar uma noite livre só para eles.

— Estou exausta — suspirou Kate, tomando um banho relaxante em sua banheira redonda. — Não consigo parar de pensar no caso Preston.

— Querida — respondeu Sam com duas taças de champanhe nas mãos —, esquece o escritório agora. — E, despindo-se para entrar na banheira com ela, acrescentou: — Pensa que estamos sozinhos aqui, eu e você, ouvindo Barry White com nossas taças de champanhe, e que temos a noite inteira pra gente.

— Tá bom — disse ela, sorrindo ao perceber as intenções do marido. — Está propondo alguma coisa, senhor Malcovich, ou é só imaginação minha?

— Vem cá e eu te conto — respondeu ele com um sorriso malicioso.

Kate deixou que ele a beijasse. Já estavam juntos havia seis anos, mas a paixão não tinha diminuído.

— Adoro quando você sorri assim — sussurrou ele.

— E eu adoro fazer amor contigo assim... — Sem que ele pudesse falar mais nada, Kate se sentou de frente para ele na banheira e, depois de pegar seu pênis molhado e escorregadio, montou nele e começou a se mover ritmicamente. — Adoro te sentir dentro de mim. Adoro ver o desejo invadindo seu olhar e a expressão do seu rosto, e adoro saber que é você que me deixa assim.

— Princesa, você me deixa louco — disse Sam, suspirando com a sensua­lidade de sua mulher. Agarrando os quadris dela, ele a movia e enlouquecia de prazer.

Naquela noite, depois de transarem várias vezes — primeiro na banheira e em seguida na cama —, enquanto descansavam ainda nus, Sam pediu a Kate:

— Querida, pega pra mim uma aspirina na sua mesinha de cabeceira.

— Está com dor de cabeça? — perguntou ela, preocupada.

— Estou, sim, um pouco — disse ele, sorrindo.

Kate abriu a gaveta da mesinha e viu uma caixinha embrulhada em papel celofane vermelho, com um laço dourado.

— Mas... o que é isso? — perguntou, virando-se para Sam.

— Feliz aniversário, querida — respondeu ele, vendo sua mulher levar a mão à boca por haver esquecido a data.

— Ai, Sam, eu esqueci totalmente. É imperdoável.

— Não se preocupa. Eu te perdoo — respondeu ele, que realmente não se importava com o fato de ela não ter lembrado. — Agora abre e me diz se gostou.

Com um sorriso nos lábios, mas se culpando pelo esquecimento, Kate ficou perplexa ao ver o anel tão bonito que estava dentro da caixinha. Era de ouro com as iniciais dos dois em diamantes bem pequenos.

— É lindo! — gritou ela, colocando-o em seguida. Deu um beijo em Sam e logo sussurrou em seu ouvido: — Obrigada, querido. Obrigada por me amar tanto. Obrigada por cuidar sempre de tudo, obrigada... obrigada.

E voltaram a fazer amor com a doçura que o momento pedia. Um tempo depois, levantaram-se e decidiram tomar uma ducha rápida.

— Vou entrando no banho — disse Kate, andando até o banheiro. — Querido, estou com sede. Pode pegar uma água pra mim na geladeira?

— É pra já! — respondeu Sam.

Quando abriu a geladeira, viu uma jarra na qual estava pendurado um pequeno envelope com seu nome. Ele não percebeu que Kate o havia seguido na ponta dos pés e estava apoiada na porta, doida para ver sua reação. Sam olhou com espanto para aquele papelzinho. Logo o abriu e mal conseguiu acreditar no que estava escrito.

— Feliz aniversário, amor — disse Kate.

Sam se virou para ela e a beijou enlouquecidamente.

— Vamos ser pais? — perguntou ele, todo bobo.

— Vamos, sim, amor. Em seis meses e meio, pra ser mais exata. Está feliz? — falou Kate, morrendo de rir ao ver as mãos trêmulas do marido.

— É a melhor notícia que já recebi na vida — respondeu Sam, abraçando-a.

— Pensei em comprar alguma coisa de aniversário para você. Mas depois cheguei à conclusão de que a notícia do bebê seria o melhor presente que eu poderia te dar.

— Adivinhou, sua espertinha — disse ele —, e você me fazendo acreditar que tinha esquecido. — Depois, olhando-a preocupado, acrescentou: — Você está se sentindo bem? Quer alguma coisa?

— Estou ótima, querido, não se preocupa. O médico me disse que tenho que levar uma vida normal, não sou a primeira nem a última mulher a engravidar.

— Um bebê — falou Sam, já pensando em dar à criança todo o amor e a felicidade que ele próprio não tivera. — Vamos ter um bebê, querida.

E, como o tempo voa quando se está feliz, aqueles seis meses e meio passaram bem depressa. Sam via sua mulher cada dia mais linda com aquela barriguinha e, embora ela reclamasse que estava gorda e deformada, ele a adorava exatamente daquele jeito. Quando o dia tão aguardado chegou, a bolsa de Kate estourou em casa e Sam estava tão nervoso que, quando saiu para o hospital, fechou a porta de casa com Kate lá dentro. Ela achou graça da atrapalhação do marido. Meia hora mais tarde, chegaram ao hospital, de onde Sam ligou para Michael, Serena e Terry. Ao receberem a ligação que tanto esperavam, os três foram correndo até lá. O parto foi longo e doloroso, mas às dez para as duas da manhã chegou ao mundo Catherine Malcovich Dallet, uma linda moreninha de 3,6 quilos que logo mostrou a todo mundo que tinha pulmões incríveis, pois não parava de chorar.

Dois anos depois, nasceu Olivia Malcovich Dallet, que pesava 3,25 quilos e, assim como a irmã, também tinha ótimos pulmões.

Capítulo 4

Nova York, 22 de maio de 2010

Os anos passaram. As meninas cresceram e o negócio prosperou até se tornar um dos escritórios de advocacia mais famosos de Nova York. E Sam conseguiu o que sempre quis: uma grande família. Sua sogra vivia com eles, e também Terry, sua cunhada, que Sam convidou para morar ali depois de ela ter se divorciado.

Terry hesitou um pouco, mas acabou concluindo que, morando com eles, sempre teria comida na geladeira e roupa lavada. Com o tempo ela se tornou uma famosa fotógrafa que viajava muito, uma mulher de personalidade forte, sempre rodeada de cretinos que ela manipulava como bem entendia. Mas se havia algo que Terry sabia fazer era aproveitar a vida. Depois do fracasso do seu casamento, resolveu que se dedicaria a ser feliz e a não pensar no dia de amanhã. E isso funcionou às mil maravilhas.

Kate, por sua vez, ficou um tanto burguesa com o passar do tempo. Sempre estava vestida de maneira impecável com seus terninhos Armani, Gucci ou Versace, pois não deixava entrar em seu armário nada que não fosse de grife. Tornou-se uma implacável e temida advogada, conhecida por sua rigidez, eficiência e audácia nos tribunais. Esse passara a ser seu estilo de vida. E ela gostava dele. Mas foi justamente a audácia que prejudicou Kate em sua vida pessoal, ao cometer um erro terrível que Sam conseguiu perdoar...

— Vóóóó, vóóóó, pode vir aqui? — chamou Catherine, a filha mais velha, que eles chamavam de Cat.

— Peraí — respondeu Serena. — Já vou.

— Tia Terry! — gritou Olivia, a menor, cujo apelido era Ollie. — Sobe aqui também!

Terry e Serena subiram até o quarto, onde as duas meninas aguardavam ansiosas e fecharam a porta assim que a tia e a avó entraram.

— Por que tanto mistério? — perguntou Terry, sentando-se na cama.

— A gente quer mostrar o presente que a gente vai dar pro papai e pra mamãe pelo aniversário deles. O que vocês acham?

Orgulhosas, elas mostraram dois relógios, um feminino e outro masculino, de prata com a esfera branca.

— Meus amores... que presente lindo! — exclamou Serena, olhando-as com doçura.

— Tem uma dedicatória atrás — comentou Olivia, toda feliz.

— Eles vão adorar — elogiou Terry. — Tenho certeza.

— A gente economizou escondidas por um ano pra poder comprar esses relógios, mas valeu a pena — disse Cat.

A menina era igual ao pai, alta e morena, mas tão temperamental quanto a tia Terry. Já Olivia era loura como a mãe e tinha uma personalidade meiga e conciliadora. Uma mistura perfeita dos pais.

— Onde estão minhas meninas?! — gritou Shalma, que apareceu com seus gêmeos que já eram quase adultos.

— Tia Shalma!! — exclamaram as meninas, correndo para abraçá-la.

— Meu Deus, como vocês cresceram!

— Mas, tia Shalma, você viu a gente anteontem — disse Ollie, sorrindo.

— Não importa, querida, vocês crescem o tempo todo. — Depois de cumprimentar Terry e Serena, continuou: — Que baita festa vai rolar pelo aniversário dos pais de vocês, hein!

— Vai ser muito legal — respondeu Cat. — Vem, a gente quer te mostrar uma coisa.

Shalma as acompanhou, divertindo-se por vê-las tão alegres. Terry se virou para os gêmeos, Anthony e John, sorriu e disse:

— Meninos, vocês estão enormes... quantos anos vocês têm?

— Dezoito — respondeu John, enquanto Terry via Anthony olhando para Cat, que subia as escadas até seu quarto junto com Shalma e Ollie.

— Ai, meu Deus... parece que foi ontem que eu troquei a fralda de vocês — comentou, sorrindo.

— Tia Terry... — protestou John.

Emocionada e feliz por estar cercada pelas pessoas que amava, Serena pegou Anthony pelo braço e, enquanto saíam para o jardim, disse:

— Meus quatro netos são maravilhosos. Os mais bonitos do mundo.

Quando os garotos viram Sam e Michael entrarem, foram correndo até eles. John e Anthony os adoravam. Nesse mesmo momento, Serena olhou para Terry, sua filha maluquinha, e perguntou:

— E você, querida, arrumou um namorado entre esses gatinhos que vivem te procurando?

— Nem pensar — cochichou ela, dando uma olhada em Michael. — Aliás, comentei que vou pra Espanha mês que vem?

— Ah... Espanha, que maravilha! Vai com quem?

— Vamos num grupo de oito. Minha amiga Lana, Ariadna, Sherryl, John, Alfred, Silvie, Andrew e eu. A gente vai visitar Sevilha. Dizem que é linda.

Serena não pôde reprimir um sorriso cheio de ternura. Terry era animada, alegre e maravilhosa, apesar de ser meio doida às vezes. Apontando o dedo em sinal de advertência, Serena disse:

— Acho ótimo que você viaje, mas, filha, olha lá, toma cuidado com o que faz. Não vai voltar casada de novo, hein!

— Mãe! — disse Terry, rindo e em seguida beijando-a.

— Estão distribuindo beijos, é? — perguntou Sam, aproximando-se com olhar travesso.

Sem esperar um segundo, Terry se jogou nos braços de seu cunhado. Ela o adorava.

— Oi, Michael, meu querido — cumprimentou Serena, enquanto observava Terry e Sam brincando um com outro, ele querendo morder o pescoço dela.

— Olá, Serena — respondeu Michael, morrendo de inveja de Sam e louco para trocar de lugar com ele e morder o pescoço daquela maluquinha.

Entre Terry e Michael sempre houvera algo especial. Uma tensão sexual mal-resolvida que eles só demonstravam quando uma determinada música tocava. Enquanto a dançavam, não trocavam nenhuma palavra, mas seus olhares revelavam toda a paixão que existia entre eles. Quando a canção terminava, porém, os dois voltavam à vida real e descartavam totalmente qualquer possibilidade de rolar alguma coisa mais séria.

— Chega... seu chato! — gritou Terry, sorrindo enquanto olhava disfarçadamente para Michael e reparava o quanto ele estava lindo naquele terno Armani.

— Como vai minha cunhadinha preferida? — comentou Sam, fazendo cócegas nela.

De repente se ouviu um estrondo.

— Agora estou bem — respondeu Terry, que acabava de jogar Sam no chão com um movimento de caratê, fazendo John, Anthony e Michael morrerem de rir.

— Terry! — gritou Serena ao ver Sam estirado no chão. — Meu filho, pelo amor de Deus, levanta daí! Você está bem?

— Bravo! — Michael aplaudiu. — Irmão, você mereceu.

Erguendo-se do chão, Sam começou a mancar, como se Terry o tivesse acertado em cheio.

— Parabéns, hein, cunhadinha... Estou vendo que você está progredindo nas aulas.

— Pois é. E, como vocês acabaram de ver, aprendi um ótimo método para tirar os caras chatos de cima de mim.

Depois se aproximou dele, pegou sua mão e disse:

— E pode parar com esse teatrinho, que eu te conheço. Você não vai mudar nunca?

Sam ia responder, mas logo surgiu a voz de Kate, que saía para o jardim usando um impecável vestido bege, com seus cabelos presos num coque alto.

— Espero que não — disse ele.

Todos olharam para Kate e sorriram. Parecia uma deusa inalcançável: lindíssima e elegante. Chegou perto do seu marido, deu-lhe um beijo e se dirigiu ao homem moreno que estava ao lado.

— Oi, Michael. Hummmm... Esse Armani fica superbem em você. Como estão as coisas?

— Obrigado, gata. Que bom que você gostou. — E, olhando para Terry, murmurou: — Mas eu ando bolado com a sua irmã e, desculpa a franqueza, mas qualquer um se aproxima dela.

Terry revirou os olhos, espantada, enquanto Kate se dirigia aos filhos de Shalma e dava um abraço neles.

— Oi, meus amores, que bom que vocês vieram.

Segundos depois apareceram Shalma e as meninas, que, animadas, abraçaram o pai e o tio Michael. Os homens de suas vidas.

Aquela noite foi incrível. Todos jantaram juntos no jardim e se emocionaram ao ver as meninas entregando o presente que haviam comprado com tanto carinho para seus pais. Eles dois, por sua vez, não conseguiram conter as lágrimas ao ler o bilhetinho: “Que o amor de vocês seja eterno”.

Ao olhar ao redor e se ver cercada por toda sua família, Kate se sentiu a mulher mais feliz do mundo. Sabia, porém, que aquilo tudo não existiria sem Sam, o cara por quem se apaixonou enquanto o via surfar e o homem forte que soube lhe dar uma chance quando ela havia falhado com ele. Desde aquele incidente, suas vidas nunca mais foram cor-de-rosa como antes. Mas, se havia uma coisa de que os dois tinham certeza, era que eles queriam muito continuar lutando pela família que construíram juntos.

Comovida ao ver todos tão felizes, Kate não pôde deixar de sorrir. Tinha uma mãe maravilhosa, uma irmã invejável, amigos — Michael e Shalma — que eram como irmãos, sobrinhos encantadores, duas filhas que eram uns tesouros e um marido maravilhoso, bondoso e paciente que ela considerava um verdadeiro príncipe encantado.