14. Expiação
O SR. DE VILLEFORT VIRA UM BURACO abrir-se no meio da multidão, antes inteiramente compacta. Os grandes sofrimentos são de tal maneira respeitáveis que não há exemplo, mesmo nas épocas mais infelizes, de que a primeira reação da massa não tenha sido uma reação de simpatia por uma grande catástrofe. Muitos indivíduos odiados foram assassinados num motim; raramente um desgraçado, mesmo criminoso, foi insultado pelos homens que assistiam sua condenação à morte.
Villefort atravessou portanto a formação dos espectadores, guardas, funcionários do tribunal, e afastou-se, reconhecido culpado por confissão própria, mas protegido pelo sofrimento.
Há situações que os homens captam com o instinto, mas são incapazes de comentar com a inteligência. O maior poeta, nesse caso, é aquele que solta o grito mais veemente e espontâneo. A massa toma esse grito por um relato completo, e tem motivos para se contentar com isso, e mais motivos ainda para julgá-lo sublime quando é autêntico.
Em todo caso, seria difícil reproduzir o estado de estupor vivido por Villefort ao sair do tribunal, ou descrever aquela febre que fazia pulsar cada artéria, enrijecendo cada fibra, estufando cada veia prestes a arrebentar, dissecando cada ponto do corpo mortal em milhões de sofrimentos.
Villefort arrastava-se ao longo das galerias, guiado tão somente pelo hábito. Jogou fora com os ombros a toga magistral, não que pensasse em abandoná-la por decoro, mas porque constituía para seus ombros um fardo aflitivo, uma túnica de Nesso fecunda em torturas.
Chegou cambaleante à passagem da rua Dauphine, avistou seu coche, acordou o cocheiro e, abrindo ele mesmo a portinhola, deixou-se cair nas almofadas, apontando com o dedo a direção do faubourg Saint-Honoré. O cocheiro partiu.
Todo o peso de sua fortuna desmoronada acabava de ruir-lhe sobre a cabeça. Esse peso esmagava-o, ele desconhecia suas consequências. Não as avaliara, podia senti-las, mas não racionalizar sobre o código penal, como um assassino frio que avalia um artigo conhecido.
Tinha Deus no fundo do coração.
— Deus! — murmurava, sem sequer saber o que dizia. — Deus! Deus!
Via apenas Deus por trás do entulho que acabava de se formar.
O coche deslizava célere. Villefort, agitando-se nas almofadas, sentiu algo que o incomodava.
Levou a mão até esse objeto. Era um leque esquecido pela sra. de Villefort entre a almofada e o encosto do coche. Esse leque despertou uma lembrança, e essa lembrança foi um clarão no meio da noite.
Villefort pensou na mulher…
— Oh! — exclamou, como se um ferro em brasa lhe atravessasse o coração.
Com efeito, fazia uma hora que não tinha mais sob os olhos senão uma face da sua miséria, e eis que de repente outra oferecia-se ao seu espírito, e outra não menos terrível.
Acabava de comportar-se diante daquela mulher como um juiz inexorável, acabava de condená-la à morte. Ela, por sua vez, açoitada pelo terror, esmagada pelo remorso, destruída pela vergonha que ele acabava de lhe impor com a eloquência de sua virtude inatacável, ela, pobre mulher fraca e indefesa contra um poder absoluto e supremo, talvez estivesse se preparando para morrer naquele exato instante!
Já se passara uma hora desde a sua condenação. Provavelmente naquele momento ela repassava todos os seus crimes na memória, pedia misericórdia a Deus, escrevia uma carta para implorar de joelhos o perdão do seu virtuoso marido, o perdão que ela comprava de sua própria morte.
Villefort deixou escapar um segundo rugido de dor e de raiva.
— Ah — exclamou ele, debatendo-se no cetim da carruagem —, essa mulher só se tornou criminosa porque tocou em mim. Eu transpiro o crime, eu! Ela foi pega pelo crime como se pega o tifo, como se pega o cólera, como se pega a peste! E eu a puni! Atrevi-me a dizer-lhe: “Arrependa-se e morra…” Eu! Oh, não, não! Ela viverá… ela virá comigo… Vamos fugir, sair da França, ir numa linha reta até onde a terra nos carregar. Eu lhe falava do cadafalso! Deus todo-poderoso! Como ousei pronunciar essa palavra! Mas a mim também, o cadafalso me espera! Fugiremos… Sim, irei confessar-lhe; sim, todos os dias lhe direi, humilhando-me, que eu também cometi um crime… Oh, aliança do tigre e da serpente! Oh, digna mulher de um marido como eu! Ela precisa viver, minha infâmia precisa empalidecer a sua!
E Villefort mais arrombou do que abaixou o vidro dianteiro do seu cupê.
— Rápido, mais rápido! — exclamou, com uma voz que fez o cocheiro pular na boleia.
Os cavalos, impelidos pelo medo, voaram até sua casa.
— Sim, sim — repetia-se Villefort à medida que se aproximava —, sim, essa mulher precisa viver, precisa arrepender-se, para criar o meu filho, meu desgraçado filho, único a sobreviver, além do indestrutível ancião, à destruição da família! Ela o amava, foi por ele que fez tudo isso. Não devemos nunca menosprezar o coração da mãe que ama o filho. Ela irá arrepender-se, ninguém saberá que é culpada. Esses crimes cometidos em minha casa, e com os quais a sociedade já se preocupa, serão esquecidos com o tempo, ou, se alguns inimigos o evocarem, pois bem, irão juntar-se à minha lista de crimes. Mais um, dois, três, que diferença faz! Minha mulher fugirá levando o ouro, e sobretudo levando seu filho, para longe do abismo onde me parece que o mundo cairá junto comigo. Ela viverá, ainda será feliz, uma vez que todo o seu amor está no filho, e que o filho não irá abandoná-la. E eu terei praticado um gesto nobre, isso alivia o coração.
E o procurador do rei respirou sofregamente, como havia muito tempo não o fazia.
O coche parou no pátio do palacete.
Villefort pulou do estribo para os degraus da entrada. Viu os criados surpresos com sua volta repentina. Não leu outra coisa na fisionomia deles; ninguém dirigiu-lhe a palavra. Pararam à sua frente, como de praxe, para deixá-lo passar, nada mais.
Ele passou em frente ao quarto de Noirtier e, pela porta entreaberta, percebeu algo como duas sombras, mas não se preocupou com a pessoa que estava com seu pai. Era para outro lugar que sua preocupação o atraía.
— Vamos — disse ele, subindo a escada que levava ao corredor onde ficavam os aposentos de sua mulher e o quarto vazio de Valentine —, vamos, nada mudou por aqui.
Antes de qualquer coisa, fechou a porta do corredor.
— Ninguém deve nos perturbar — disse. — Preciso poder falar livremente, acusar-me perante ela, contar tudo…
Aproximou-se da porta, pôs a mão no puxador de cristal, a porta cedeu.
— Não está fechada! Ótimo, excelente — murmurou.
E entrou na saleta onde à noite montavam uma cama para Édouard, pois, embora no internato, Édouard vinha para casa todas as noites. Sua mãe nunca quisera separar-se dele.
Abraçou num relance toda a saleta.
— Ninguém — disse ele. — Ela deve estar no quarto.
Avançou em direção à porta. Ali o trinco estava fechado. Estacou, arrepiado.
— Héloïse! — gritou.
Pareceu-lhe ouvir um móvel mexer-se.
— Héloïse! — repetiu.
— Quem está aí? — perguntou a voz daquela a quem ele chamava.
Pareceu-lhe que essa voz estava mais fraca que de costume.
— Abra! Abra! — gritou Villefort. — Sou eu!
Contudo, apesar dessa ordem, apesar do tom de angústia com que fora dada, ninguém abriu.
Villefort arrebentou a porta com um pontapé.
Na entrada do quarto que dava para sua alcova, a sra. de Villefort estava de pé, pálida, os traços contraídos, olhando para ele com olhos de uma fixidez pavorosa.
— Héloïse! Héloïse! — exclamou Villefort. — O que há com você? Fale.
A jovem mulher estendeu-lhe sua mão hirta e lívida.
— Está feito, cavalheiro — disse ela, num estertor que pareceu rasgar sua garganta. — O que pode querer mais?
E desmoronou no tapete.
Villefort correu até a mulher, pegou sua mão. Essa mão apertava convulsivamente uma garrafinha de cristal com tampa de ouro.
A sra. de Villefort estava morta.
Villefort, ébrio de horror, recuou até a entrada do quarto e contemplou o cadáver.
— Meu filho! — exclamou repentinamente. — Onde está o meu filho? Édouard! Édouard!
E precipitou-se para fora do apartamento gritando:
— Édouard! Édouard!
Esse nome era pronunciado com uma sonoridade tão angustiada que os criados acorreram.
— Meu filho! Onde está o meu filho? — perguntou Villefort. — Afastem-no desta casa, ele não pode ver…
— O sr. Édouard não está lá embaixo, senhor — respondeu o criado de quarto.
— Deve estar brincando no jardim. Verifiquem! Verifiquem!
— Não, senhor, a patroa chamou seu filho meia hora atrás. O sr. Édouard entrou nos aposentos da patroa e não saiu depois disso.
Um suor gelado alagou a testa de Villefort, seus pés tropeçaram nas lajotas, as ideias começaram a girar em sua cabeça como engrenagens destrambelhadas de um relógio espatifado.
— Nos aposentos da patroa! — murmurou. — Nos aposentos da patroa!
E voltou lentamente sobre seus passos, enxugando a testa com uma das mãos, com a outra escorando-se nas paredes.
Ao entrar no quarto, seria obrigado a rever o corpo da desditosa mulher.
Para chamar Édouard, seria obrigado a despertar o eco daquele quarto transformado em caixão. Falar, era violar o silêncio do túmulo.
Villefort sentiu a língua paralisada em sua garganta.
— Édouard, Édouard! — balbuciou.
A criança não respondia. Onde então estava ela, que, segundo os criados, entrara no quarto da mãe e dali não saíra?
Villefort deu um passo à frente.
O cadáver da sra. de Villefort jazia atravessado na porta da alcova na qual, necessariamente, achava-se Édouard. Esse cadáver parecia velar, no umbral, de olhos parados e abertos, com uma pavorosa e misteriosa ironia nos lábios.
Atrás do cadáver, o reposteiro erguido revelava uma parte da alcova, um piano vertical e a ponta de um divã de cetim azul.
Villefort deu três ou quatro passos à frente e, no sofá, percebeu o filho deitado.
A criança dormia, com certeza.
O infeliz teve um inexprimível impulso de alegria. Um raio de pura luz desceu no inferno em que ele se debatia.
Logo, a única coisa a fazer era passar por cima do cadáver, entrar na alcova, pegar a criança nos braços e fugir com ela, para longe, para muito longe.
Villefort não era mais aquele homem cuja sofisticada corrupção resultava no perfeito homem civilizado; era o tigre mortalmente ferido que deixa os dentes quebrados em sua última mordida.
Não receava mais preconceitos, e sim fantasmas. Aproveitou o impulso e pulou por cima do cadáver, como se fosse um braseiro devorador que tivesse de transpor.
Pegou a criança nos braços, apertando-a, sacudindo-a, chamando por ela. A criança não respondeu. Colou seus lábios ávidos em suas faces, suas faces estavam lívidas e geladas. Apalpou seus membros enrijecidos, comprimiu a mão em seu coração, seu coração não batia mais.
A criança estava morta.
Um papel dobrado em quatro caiu do peito de Édouard.
Villefort, fulminado, ficou sem pernas. A criança escapou de seus braços inertes e rolou para o lado da mãe.
Villefort recolheu o papel e, reconhecendo a letra da mulher, percorreu-o avidamente.
Eis o seu teor:
Sabe que fui boa mãe, uma vez que foi pelo meu filho que me tornei criminosa!
Uma boa mãe não parte sem o filho!
Villefort não podia acreditar em seus olhos. Villefort não podia acreditar em sua razão. Arrastou-se para o corpo de Édouard, que examinou mais uma vez, com a atenção minuciosa que faz a leoa observar o filhote morto.
Então um grito dilacerante escapou de seu peito.
— Deus! — murmurou. — Sempre Deus!
As duas vítimas aterravam-no, sentia invadi-lo o horror daquela solidão povoada por dois cadáveres.
Não fazia muito tempo, era amparado pela fúria, essa imensa faculdade dos homens fortes, e pelo desespero, essa suprema virtude da agonia, que impulsionava os Titãs em sua escalada dos céus e Ajax a mostrar o punho para os deuses.
Villefort curvou a cabeça sob o peso do sofrimento. Pôs-se de joelhos, sacudiu os cabelos úmidos de suor, eriçados de pavor, e aquele que nunca tivera piedade de ninguém foi procurar seu velh o pai, para ter, em sua fraqueza, alguém a quem contar sua desgraça, alguém junto a quem chorar.
Desceu a escada que conhecemos e entrou no quarto de Noirtier.
Quando Villefort entrou, Noirtier parecia concentrado em escutar, tão afetuosamente quanto permitia sua imobilidade, o abade Busoni, tão calmo e frio como de costume.
Villefort, ao se deparar com o abade, levou a mão à testa. O passado voltou-lhe como uma dessas ondas cuja cólera provoca mais espuma que as outras ondas.
Lembrou-se da visita que fizera ao abade dois dias depois do jantar de Auteuil e da visita que o próprio abade lhe fizera no dia da morte de Valentine.
— O senhor por aqui! — exclamou ele. — Mas então só aparece para escoltar a Morte?
Busoni levantou-se. Ao ver o rosto alterado do magistrado, o brilho feroz de seus olhos, compreendeu ou julgou compreender que a cena do tribunal havia se consumado; ignorava o resto.
— Vim para rezar sobre o corpo de sua filha! — respondeu Busoni.
— E hoje, o que veio fazer?
— Vim dizer-lhe que o senhor me pagou suficientemente a sua dívida e que a partir deste momento vou rezar a Deus para que ele se contente como eu.
— Meu Deus! — fez Villefort, recuando, o pavor estampado. — Essa voz não é a do abade Busoni!
— Não!
O abade arrancou sua falsa tonsura, sacudiu a cabeça e seus longos cabelos negros, agora soltos, caíram-lhe sobre os ombros e emolduraram seu semblante viril.
— É o rosto do conde de Monte Cristo! — exclamou Villefort, com os olhos esbugalhados.
— Ainda não é isso, sr. procurador do rei, procure bem mais longe.
— Essa voz! Essa voz! Onde ouvi essa voz pela primeira vez?
— Ouviu-a pela primeira vez em Marselha, há vinte e quatro anos, no dia do seu casamento com a srta. de Saint-Méran. Procure em seus arquivos.
— O senhor não é Busoni? Não é Monte Cristo? Meu Deus, é o inimigo oculto, implacável, mortal! Fiz alguma coisa ao senhor em Marselha, oh, desgraçado que sou!
— Sim, tem razão, é exatamente isso — disse o conde, cruzando os braços em seu peito largo. — Procure, procure!
— Mas o que foi que lhe fiz? — exaltou-se Villefort, cujo espírito já flutuava no limite em que razão e demência se confundem, naquela bruma que não é mais sonho e ainda não é despertar. — O que eu lhe fiz! Fale!
— O sr. condenou-me a uma morte lenta e hedionda, o senhor matou o meu pai, o senhor confiscou-me o amor com a liberdade, e a felicidade com o amor!
— Quem é o senhor? Afinal, quem é o senhor? Meu Deus!
— Sou o espectro de um desgraçado que o senhor sepultou nas masmorras do castelo de If. Nesse espectro que finalmente saiu do túmulo, Deus instalou a máscara do conde de Monte Cristo, cobrindo-o de ouro e diamantes para que o senhor só viesse a reconhecê-lo no dia de hoje.
— Ah, já sei quem você é, já sei quem você é! — disse o procurador do rei. — Você é…
— Sou Edmond Dantès!
— Você é Edmond Dantès! — exclamou o procurador do rei, pegando o conde pelo pulso. — Então, venha!
E arrastou-o pela escada, pela qual Monte Cristo, aturdido, o seguiu, ignorando aonde o procurador do rei o conduzia e pressentindo alguma nova catástrofe.
— Veja, Edmond Dantès — disse Villefort, apontando para o conde o cadáver da mulher e o corpo do filho —, veja! Sente-se bastante vingado?
Monte Cristo empalideceu diante do terrível espetáculo. Compreendeu que acabava de violar os direitos da vingança; compreendeu que não podia mais dizer:
— Deus está a meu favor e do meu lado.
Arrojou-se com um sentimento de angústia inexprimível sobre o corpo da criança, reabriu seus olhos, tirou seu pulso e precipitou-se com ela no quarto de Valentine, no qual deu duas voltas na chave…
— Meu filho! — exclamou Villefort. — Está levando o cadáver do meu filho! Oh, maldição, desgraça! Merece a morte!
E quis lançar-se sobre Monte Cristo, mas, como num sonho, sentiu seus pés criarem raízes, seus olhos dilatarem-se para além das órbitas, seus dedos, recurvados sobre a carne do seu peito, cravarem-se nele gradualmente, até que o sangue avermelhasse suas unhas, as veias de suas têmporas intumescerem-se de espíritos fervilhantes, que ergueram a calota demasiado estreita do seu crânio e afogaram seu cérebro num dilúvio de fogo.
Essa imobilidade durou alguns minutos, até que a pavorosa derrocada da razão estivesse consumada.
Ele então lançou um grito longo, seguido por uma longa gargalhada, e se precipitou pelas escadas.
Quinze minutos depois, o quarto de Valentine abriu novamente e o conde de Monte Cristo reapareceu.
Pálido, o olhar opaco, o peito opresso, todos os traços daquele rosto geralmente tão calmo e nobre estavam alterados pela dor.
Segurava nos braços a criança, à qual nenhum socorro pudera devolver a vida.
Pôs um joelho no chão e depositou-a religiosamente junto à mãe, a cabeça pousada em seu peito.
Então, levantando-se, saiu e, encontrando um criado na escada, perguntou:
— Para onde foi o sr. de Villefort?.
O criado, sem lhe responder, apontou para o lado do jardim
Monte Cristo desceu a escada da entrada, avançou até o local designado e viu, entre os criados, que faziam um círculo à sua volta, Villefort com uma pá na mão, escavando a terra com uma espécie de furor.
— Também não é aqui — dizia —, também não é aqui.
E vasculhava mais adiante.
Monte Cristo aproximou-se dele e disse baixinho, num tom quase humilde:
— Senhor, o senhor perdeu um filho; mas…
Villefort o interrompeu, não escutara nem entendera.
— Oh, irei encontrá-lo! — disse ele. — Não adianta dizer que ele não está aqui, irei encontrá-lo ainda que precise procurá-lo até o dia do Juízo Final.
Monte Cristo recuou com terror.
— Oh! — exclamou. — Está louco!
E, como se temesse que os muros da casa maldita desmoronassem sobre ele, correu para a rua, pela primeira vez desconfiando do seu direito de fazer o que fizera.
— Oh, basta, já é o suficiente — disse ele —, salvemos o último.
Ao chegar em casa, Monte Cristo encontrou Morrel, que perambulava pelo palacete dos Champs-Élysées, silencioso como uma sombra que espera o momento determinado por Deus para voltar ao túmulo.
— Prepare-se, Maximilien — disse-lhe com um sorriso —, deixamos Paris amanhã.
— Não tem mais nada a fazer aqui? — perguntou Morrel.
— Não — respondeu Monte Cristo —, e Deus queira que não tenha feito em excesso.